sábado, 30 de outubro de 2010

A MORTE - todo fim é uma oportunidade para recomeçar - Filme A PARTIDA

Na aula de Psicologia aplicada a Enfermagem II discutimos sobre o sofrimento, a terminalidade e a morte. Tomamos como ponto de partida para a reflexão o texto que segue:


“Os 5 Estágios da Dor da Morte

A reação psíquica determinada pela experiência com a morte foi descrita por Elisabeth Kubler-Ross como tendo cinco estágios (Berkowitz, 2001):

Primeiro Estágio: negação e isolamento

A Negação e o Isolamento são mecanismos de defesas temporários do Ego contra a dor psíquica diante da morte. A intensidade e duração desses mecanismos de defesa dependem de como a própria pessoa que sofre e as outras pessoas ao seu redor são capazes de lidar com essa dor. Em geral, a Negação e o Isolamento não persistem por muito tempo.

Segundo Estágio: raiva

Por causa da raiva, que surge devido à impossibilidade do Ego manter a Negação e o Isolamento, os relacionamentos se tornam problemáticos e todo o ambiente é hostilizado pela revolta de quem sabe que vai morrer. Junto com a raiva, também surgem sentimentos de revolta, inveja e ressentimento.

Nessa fase, a dor psíquica do enfrentamento da morte se manifesta por atitudes agressivas e de revolta; - porque comigo? A revolta pode assumir proporções quase paranóides; “com tanta gente ruim pra morrer porque eu, eu que sempre fiz o bem, sempre trabalhei e fui honesto”...

Transformar a dor psíquica em agressão é, mais ou menos, o que acontece em crianças com depressão. É importante, nesse estágio, haver compreensão dos demais sobre a angústia transformada em raiva na pessoa que sente interrompidas suas atividades de vida pela doença ou pela morte.

Terceiro Estágio: barganha

Havendo deixado de lado a Negação e o Isolamento, “percebendo” que a raiva também não resolveu, a pessoa entra no terceiro estágio; a barganha. A maioria dessas barganhas é feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo.

Como dificilmente a pessoa tem alguma coisa a oferecer a Deus, além de sua vida, e como Este parece estar tomando-a, quer a pessoa queira ou não, as barganhas assumem mais as características de súplicas.

A pessoa implora que Deus aceite sua “oferta” em troca da vida, como por exemplo, sua promessa de uma vida dedicada à igreja, aos pobres, à caridade ... Na realidade, a barganha é uma tentativa de adiamento. Nessa fase o paciente se mantém sereno, reflexivo e dócil (não se pode barganhar com Deus, ao mesmo tempo em que se hostiliza pessoas).

Quarto Estágio: depressão

A Depressão aparece quando o paciente toma consciência de sua debilidade física, quando já não consegue negar suas condições de doente, quando as perspectivas da morte são claramente sentidas. Evidentemente, trata-se de uma atitude evolutiva; negar não adiantou, agredir e se revoltar também não, fazer barganhas não resolveu. Surge então um sentimento de grande perda. É o sofrimento e a dor psíquica de quem percebe a realidade nua e crua, como ela é realmente, é a consciência plena de que nascemos e morremos sozinhos. Aqui a depressão assume um quadro clínico mais típico e característico; desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro, etc.

Quinto Estágio: aceitação

Nesse estágio o paciente já não experimenta o desespero e nem nega sua realidade. Esse é um momento de repouso e serenidade antes da longa viagem.

É claro que interessa, à psiquiatria e à medicina melhorar a qualidade da morte (como sempre tentou fazer em relação à qualidade da vida), que o paciente alcance esse estágio de aceitação em paz, com dignidade e bem estar emocional. Assim ocorrendo, o processo até a morte pôde ser experimentado em clima de serenidade por parte do paciente e, pelo lado dos que ficam, de conforto, compreensão e colaboração para com o paciente.”

Sua leitura e reflexão podem sem ampliadas consultando a fonte do recorte acima, veja: Ballone GJ - Lidando com a Morte - in. PsiqWeb Psiquiatria Geral, Internet, 2010 - disponível em http://sites.uol.com.br/gballone/voce/postrauma.html

Em seguida assistimos ao filme DEPARTURES = A PARTIDA, leia a crítica abaixo e depois faça seu comentário:

CRÍTICA http://www.cranik.com/apartida.html (acesso 30/10/10) - A PARTIDA:

A morte é sempre um tema caro ao cinema. Por mais que procuremos entendê-la, quando ela nos surpreende com a sua "visita" ficamos sem saber o que pensar. Afinal a morte acaba com todas as certezas que supúnhamos ter. O japonês "A Partida" (2008) questiona a morte por outro ângulo, a do preparador de cadáveres.

Daigo (Masahiro Motoki) é um violoncelista que vendo a orquestra onde tocava se desmanchar resolve voltar para sua casa e arrumar outro emprego, recomeçar. Eis que arruma um emprego de preparador de defuntos. Quando a pessoa morre, seus familiares contratam o serviços de Daigo e seu patrão, para deixar o morto mais bonito e mas bem arrumado para a passagem de mundos que a morte propicia.

É muito metafórica e simbólica a morte no filme de Yojiro Takita. O diretor abocanhou o Oscar de melhor filme estrangeiro, pois além da morte seu filme traça paralelos com outros temas como a relação que desenvolvemos com a comida, e porque não com as pessoas mortas , o preconceito com quem trabalha nesse ramo e a necessidade de todo mundo de rever a própria vida, a partir da morte. Talvez essa seja a maior função para os que ficam, rever padrões, atitudes, escolhas.

O filme proporciona ao personagem esse mergulho nos reais significados da vida e vai oferecendo ao expectador uma sensação semelhante. Tudo com muita sutileza e sensibilidade para que se tenha tempo de digerir o ocorrido. Não é choroso o tratamento dado ao tema, é emocional, portanto mais profundo. O filme não deixa de ser uma experiência compartilhada entre Daigo e o público.

Ao se conectar com a morte, Daigo enfrenta o preconceito da mulher, fica só e se dedica a uma profissão desprezada por muitos. As imagens que Takita oferece de Daigo tocando seu violoncelo tendo como fundo a paisagem japonesa reflete como a própria arte do protagonista foi "contaminada" por essa experiência.

A sensação é que a morte é algo belo e que merece ser reverenciada. Afinal não há o que fazer quando ela ocorre. E se a morte é uma passagem de mundos - como defende algumas religiões - porque não preparar o ente querido para que este chegue a outro lugar melhor? A morte revela a matéria dispensável que é nosso corpo.

O diretor não se furta de certa ironia nas cenas onde questiona a relação que estabelecemos com os animais que comemos nas refeições, criando uma associação bizarra - e pertinente – de que também somos como vermes, pronto a devorar um "corpo" morto. Afinal, vacas, bois, galinhas, porcos, frangos e aves em geral servem de alimentos - nutritivos - para os vivos. No Japão onde se come carne crua, imagina o impacto da metáfora? Que serve também para qualquer apreciador de carne.

Por aqui, o corpo também é aparentemente arrumado, maquiado e preparado para que no funeral esteja mais apresentado. O que o filme mostra é uma tradição (o que se supõe pelo filme) japonesa que parece tornar mais bonita e menos impactante a morte, ao propor aos familiares verem o corpo do ente querido manipulado e preparado, supõe-se que o impacto talvez seja menos doloroso.

Simbólico, por vezes engraçado, sensível e emocionante, "A Partida" proporciona diferentes “mergulhos” no conturbado universo da morte. Daigo descobre em sua vida as pequenas mortes inevitáveis no percurso de sua trajetória e a necessidade de renascimento que nos é proporcionado a cada virada de rumo na nossa vida. Oportunidades essas geralmente desperdiçadas, dado a nossa sempre ineficiente disposição a encarar a morte com olhos generosos.

Ficha Técnica -Ano: Japão/2008 - Direção: Yojiro Takita - atores: Masahiro Motoki , Tsutomu Yamazaki , Ryoko Hirosue , Kazuko Yoshiyuki , Kimiko Yo  - Duração: 130 min.


TODO FIM É UMA OPORTUNIDADE PARA RECOMEÇAR

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Marilena Chauí alerta sobre atos de violência para culpar PT

Marilena Chauí alerta sobre atos de violência para culpar PT


Por: Suzana Vier, Rede Brasil Atual

Publicado em 25/10/2010, 20:10

Última atualização em 26/10/2010, 11:26

São Paulo – A filósofa Marilena Chaui denunciou nesta segunda-feira (25) uma possível articulação para tentar relacionar o PT e a candidatura de Dilma Rousseff a atos de violência. Ela afirmou, diante de um público de quase 2 mil pessoas, que soube de uma possível ação violenta que seria montada para incriminar o PT durante comício do candidato José Serra (PSDB) na próxima sexta-feira (29).

Segundo Marilena, a promessa dos participantes da suposta armação seria de "tirar sangue" durante o comício. As cenas seriam usadas sem que a campanha petista tivesse tempo de responder. "Dois homens diziam: 'dia 29, nós vamos acertar tudo, vamos trazer o pessoal vestidos com camisetas do PT, carregando bandeiras do PT e vão atacar pra tirar sangue, no comício do Serra", reafirmou a filósofa, em entrevista à Rede Brasil Atual. "É preciso alertar a sociedade brasileira toda, alertar São Paulo e alertar os petistas", pediu Marilena. A ação estaria em planejamento em um bar de São Paulo, no final de semana.

Para exemplificar o caso, ela disse que se trata de um novo caso Abílio Diniz. Em 1989, o sequestro do empresário foi usado para culpar o PT e o desmentido só ocorreu após a eleição de Fernando Collor de Melo.

A denúncia foi feita durante encontro de intelectuais e pessoas ligadas à cultura, estudantes e professores universitários e políticos, na USP, em São Paulo. "Não vai dar tempo de explicar que não fomos nós. Por isso, espalhem pelas redes sociais", divulguem.

Ela também criticou a campanha de Serra nestas eleições. "A campanha tucana passou do deboche para a obscenidade e recrutou o que há de mais reacionário, tanto na direita quanto nas religiões."

Em entrevista ao blog Escrevinhador, de Rodrigo Vianna, o jornalista Tony Chastinet já alertava sobre possíveis técnicas utilizadas para associar o PT à violência.

Mais panfletos

Também nesta segunda-feira o PT registrou um Boletim de Ocorrência (BO) no 45º DP contra um grupo que distribuía material irregular contra Dilma Rousseff na Praça Luis Neri, no bairro de Perus, em São Paulo. Aproximadamente 30 pessoas foram identificadas com o uniforme "Turma do Bem"; cinco foram presos em flagrante.


http://www.redebrasilatual.com.br/temas/politica/chaui-tucanos-articulam-violencia-para-culpar-pt

domingo, 24 de outubro de 2010

Liu Xiaobo: Dissidência como "outro" nome da paz

Liu Xiaobo: Dissidência como "outro" nome da paz


Um intelectual chinês de grande estatura ganhou recentemente o premio Nobel da Paz de 2010. Liu Xiaobo tem 55 anos, é professor de literatura e casado. Tem todas as características de uma pessoa com uma vida absolutamente normal. No entanto, a vida de Liu Xiaobo tem esse algo de transgressão que desde que o mundo é mundo e o ser humano se destaca como absolutamente original na criação divina faz com que a história seja escrita com consciência e decisões deliberadas.

Pessoas como Liu Xiaobo revelam que a vida não e uma sucessão fatalista de acontecimentos automáticos, mas depende da atitude que tomarmos diante dela.

Por pensar e viver assim, Liu Xiaobo esta preso, incomunicável e condenado a onze anos de reclusão na prisão chinesa de Jinzhou. Recebe apenas mensalmente a visita de sua esposa que desde que lhe foi outorgado o prêmio Nobel anda com escolta e depois que foi visitá-lo para comunicar-lhe a notícia encontra-se em prisão domiciliar.

Para os que vivemos no Ocidente, o nome do agraciado com a premiação maior do planeta pode soar estranho. Mas para nos refrescar a memória, basta citar um acontecimento do qual todos nos lembramos, ao menos aqueles que acham historia e memória importantes: os acontecimentos ocorridos em 1968 na Praça da paz celestial. Quem não se lembra dos tanques do exército chinês passando por cima de estudantes que manifestavam contra a ditadura e pediam seu fim? Pois Liu Xiaobo ali estava, participando. Discursou pacificamente pedindo calma aos estudantes, embora manifestando seu interesse pela mudança do regime ditatorial sob o qual vivia seu pais para a democracia.

Mas a trajetória de Liu Xiaobo não para ai. Ele foi igualmente o líder da famosa Carta Oito, assinada por mais de três centenas de intelectuais chineses, pedindo o fim do uni partidarismo dentre outras coisas mais. Era um manifesto de intelectuais chineses pela democracia. Era uma semente que ansiava por vir à luz. E veio! Foi plantada com tanto carinho e força que acaba de germinar no mundo todo.

Mas o preço a pagar pela liberdade e pela paz às vezes são altos! E Liu Xiaobo sabe disso. Do fundo da prisão onde esta devido a sua coerência sabe que nada se constrói em um mundo dividido sem ser de alguma maneira salpicado pelo conflito que gerou esse tipo de situação.

O premio Nobel vem referendar sua luta que e a de tantos homens e mulheres no mundo inteiro em vários pontos do planeta.

O governo chinês deixou claro seu descontentamento. A China, através de sua chancelaria, ameaçou boicotar a Noruega pelo fato desse país ter escolhido um preso político para homenagear com a premiação mais alta de todo o mundo. É no mínimo surpreendente que um pais continente, tão poderoso economicamente tenha esse tipo de reação. Se e fato que cada pais tem direito a sua soberania e não deve ser manipulado por interesses outros, sobretudo por potencias estrangeiras e alheias a sua cultura, o reconhecimento de uma vida que coerentemente vem lutando pela liberdade e um valor universal. E e isso que diz a premiação outorgada a Liu Xiaobo.

Liu Xia, a mulher do premiado, revelou após a visita que fez ao marido que o mesmo dedicava o premio aos que morreram durante os protestos pela democracia na Praça da Paz Celestial. Igualmente participante do acontecimento, Liu Xia encontra-se agora vigiada e confinada ao seu domicilio.

No entanto, como dizia outro idealista que conheceu muitas vezes a prisão, no século I de nossa era, Paulo de Tarso, a liberdade não esta acorrentada. Seu sopro continua dilatando os pulmões desta humanidade tão combalida do século XXI para quem o heroísmo do casal Xiaobo e um exemplo edificante e estimulante da grandeza e importância de não ter medo de dissentir, de andar contra a corrente, de lutar pelos grandes valores da humanidade, ainda que com o risco da própria liberdade e da própria vida.

Autor: Maria Clara Lucchetti Bingem

http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=16151&cod_canal=47

acesso 24/10/10

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Por que tanta ira nesta campanha eleitoral?

Por que tanta ira nesta campanha eleitoral?


JB Libânio

Se algum ET aterrissasse entre nós nesta reta final da campanha eleitoral, perguntar-se-ia: que está a acontecer na Terra de Santa Cruz? O povo, que lá habita, tem fama de benevolente, de compreensivo, de não gostar de atitudes radicais, sobretudo de acusações pessoais violentas e indignas. E por que querem movê-lo ao voto precisamente pelo oposto de seu temperamento, de sua índole?

Pena que se percam o equilíbrio e a dignidade no momento em que se tem para discutir o futuro, utopias luminosas para o povo sofrido e que apenas tem recebido migalhas a cair da mesa da privilegiada elite de tantos séculos. A parábola do rico epulão e do pobre Lázaro se faz verdade em nossas terras. E se está em jogo porvir melhor para Lázaro, por que os ricos epulões se enfurecem? Esquecem que precisarão da gota dágua para refrescar a secura da garganta quando lhes atormentar o vazio de sentido de vida levada longe da solidariedade, da justiça, da compreensão e do cuidado pelos irmãos necessitados.

Viver numa sociedade materialista, invadida pela ganância do puro vencer, do derrotar o adversário ao arrepio de toda ética, degrada-nos enormemente. Cercam-nos tristes noticiários. Apresentam-nos as pessoas, não pelo lado de graça e de bondade que Deus semeou em todas elas, mas pelas sombras que por ventura lhes bateram ao longo da vida.

Que diferença de vida social levaríamos, se o primeiro olhar descobrisse no/a outro/a, seja companheiro/a de luta política ou adversário/a, aquilo que ele/a propõe de belo, de criativo, de promissor, em vez de tripudiar sobre reais ou imaginárias acusações. Estamos a afastar-nos do sonho de Platão que anunciava uma cultura a caminhar à luz do sol do bem. Ameaçam-nos, pelo contrário, o eclipse de tal Sol e o implantar-se de luz artificial do interesse individual e corporativo.

E se nos voltamos para o Oriente, símbolo do lugar de onde vem a luz "que ilumina todo aquele que vem a este mundo" (Jo 1, 9), então o fulgor cresce ainda mais em direção oposta da atual campanha, antes eleitoreira que eleitoral. Do Nascente divino veio a lição mais grandiosa que jamais a humanidade ouviu. O poder existe para o serviço e não para o domínio. "Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros" (Jo 13, 14). Assistimos ao oposto. Retornamos ao Antigo Testamento, que conheceu o apedrejamento para certos pecados. Esquecemos a pergunta de Jesus: "Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra" (Jo 8, 7). Não se ouviu o ruído de nenhuma pedra, mas a voz serena do Mestre: "Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?" Respondeu ela: "Ninguém, Senhor!" Então, lhe disse Jesus: "Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais" (Jo 8, 10-11).

Olhando para certos políticos hoje, vem-nos a frase de Virgílio: "Quantum mutatus ab illo"! Como estão diferentes daquele Heitor digno e belo!



Texto do Pe. Joâo Batista Libânio publicado 18/10/10 (?) no jornal O Tempo de Belo Horizonte.

Eleição, agressividade e o Espírito

Eleição, agressividade e o Espírito




Jung Mo Sung



É cristianismo uma religião da proibição, que impõe sobre toda a população (seja cristã ou não) seus valores à base da "espada" ou da lei do Estado? A história nos mostra que em parte foi e continua tentando ser esse tipo de religião da imposição através da proibição. Valores religiosos não podem ser impostos a não ser proibindo alternativas, pois valores religiosos e éticos só são valores para as pessoas que os praticam se assumidos livremente. Como não se pode impor o assumir livremente, o que seria uma contradição, a única forma de realizar o desejo da imposição dos seus valores é proibindo alternativas - através da força, do medo do inferno ou da lei do Estado.

No fundo é isso que está acontecendo nesta eleição, como também ocorreu nas anteriores, em torno da questão do aborto e do casamento ou união civil dos homossexuais (tema que está, entrando agora na polêmica). Setores da igreja católica e das igrejas evangélicas, que fora da época das eleições se vêem como "inimigas", se unem contra um mesmo inimigo proibindo os seus fiéis de votarem na figura que representaria o mal por não querer obedecer às leis de Deus (leis essas reduzidas ao campo da sexualidade humana e na forma interpretada pela sua igreja).

(A teoria do desejo mimético de René Girard nos oferece uma interpretação muito interessante de como esses dois setores rivais do cristianismo estão, no fundo, imitando uns aos outros, sendo iguais, tanto na eleição quando lutam contra o inimigo comum, quanto na luta de um contra o outro na ausência desse inimigo. É por isso que muitos desses setores evangélicos assumem discursos e ritos católicos, como setores católicos -carismáticos ou mais conservadores- imitam as igrejas evangélicas conservadoras e pentecostais.)

Esta imposição traz consigo uma contradição interna. As pessoas que querem impor, em nome de Deus, os seus valores ou crenças religiosas sobre outros grupos sabem, no fundo, que há algo de errado neste processo. Sabem que tentar impor esses valores a toda população através de proibições é no fundo reconhecer que são incapazes de mostrar, através de testemunho e ensino, o valor dessas crenças e valores morais. Ao tentar impor sobre os diferentes os seus valores, reconhecem que estão falhando na sua missão de anunciar a boa-nova (o evangelho) que só pode ser assumido livremente. Por isso, o discurso da proibição vem acompanhado de tanta agressividade contra os ditos "inimigos" de Deus ou das suas igrejas. No fundo é uma agressividade dirigida contra o "inimigo" e ao mesmo tempo contra o seu sentimento de fracasso no que pensa ser a sua missão.

Agressividade e falta de cuidado em verificar a veracidade das informações difundidas (para dizer o mínimo) revelam que há algo de errado no cristianismo vivido e defendido por esses grupos.

Se é verdade que historicamente o cristianismo foi vivido e se expandiu através desses mecanismos de imposição e proibição do alternativo, do diferente, também é verdade que nem toda a história do cristianismo foi e é assim. Mais importante do que isso, não é compatível com o cristianismo primitivo, muito menos com a vida de Jesus de Nazaré.

A boa-nova aos pobres e às vítimas das situações e estruturas opressivas (nisso resume a evangelização, cf. Lc 4) deve ser anunciada e testemunhada de forma propositiva para que seja aceita e vivida em liberdade. Pois como ensinou são Paulo, "onde está o Espírito, está a liberdade" (2Cor 3,17).

Por isso, a atuação dos cristãos na política deve ser fundamentalmente de modo propositivo e não acusatório e agressivo. Pois estamos anunciando e lutando por valores que "valem por si"; e que só são valores na medida em que são vividos com respeito e tolerância aos diferentes, dentro de espírito da liberdade. Devemos apresentar e lutar por propostas sociais e políticas, baseadas em nossa esperança de um mundo mais justo e solidário, onde até os mais pobres possam viver dignamente, com "respeito e mansidão" (cf 1Pe 3,15).

É claro que entre cristãos pode e deve haver diversidade nas linhas de propostas políticas e sociais, pois o evangelho não nos oferece programa político concreto para os nossos dias, mas nos ensina que devemos lutar para que todos e todas tenham vida em abundância (cf Jo 10,10). O que significa que lutar pelo "pão" dos mais pobres e o reconhecimento da dignidade humana de todas as pessoas devem ser uma prioridade na ação social e política dos cristãos e das igrejas.

A forma como se faz a política e atua nas eleições revela o verdadeiro espírito que move os seus agentes. É verdade que no "mundo" há muitos políticos que crêem que tudo é válido para alcançar os seus objetivos. Há muitos que acreditam que a agressividade nas acusações (e calúnias) revela a seriedade do seu compromisso religioso e ético. Mas, eu penso que a agressividade revela outra coisa, um outro espírito, diferente do Espírito do Amor-solidário (ágape)que deveria mover as comunidades e pessoas cristãs.

Publicado em www.adital.com.br

Comparando e votando bem!!!!!!!


Segue uma forma fácil de mostrar "aos que ainda têm dúvidas" o caráter óbvio da escolha presidencial.

Aos que têm a certeza equivocada, o panfleto serve para que, se continuarem com sua opção equivocada, ao menos tenham algum peso na consciência na hora de dormir.

Sem ofensas; pelo Brasil.


--


Marco Haurélio

Fones: (11) 8347 4357

2769 6252

http://marcohaurelio.blogspot.com

http://fotolog.terra.com.br/marcohaurelio

A FILÓSOFA Marilena Chauí diz que SERRA é ameaça à democracia e aos direitos sociais.

Marilena Chaui: Serra é ameaça à democracia e aos direitos sociais




Professora de Filosofia da USP, em 3 minutos:


http://www.youtube.com/watch?v=0j6jgDs7gMQ

domingo, 17 de outubro de 2010

Vicente Pallotti na figura Indiana do Pe. Jacob

Foram eleitos, dia 07 de outubro, os novos conselheiros gerais da Sociedade do Apostolado Católico - Palotinos.

PALESTRA sobre o Projeto Metanóia

Prezado visitante no dia 30 de outubro o grupo Fé e Política da Paróquia S. João Batista realizará mais um encontro da Campanha da Fraternidade  Economia e Vida e, dessa vez contará com a PALESTRA proferida por Ana Lucia Galvão Gomes confira abaixo o teor da proposta e PARTICIPE DA PALESTRA:

30 DE OUTUBRO DE 2010
Paróquia S. João Batista - Carrão. SP
Rua Cel Marques, 174
15h missa
16h Início da Palestra



O que é Metanóia?


Do grego “ετάνοια” que significa: ir além, passar além de, ultrapassar, exceder, elevar-se acima de, transcender. Meta, como acima ou além e nóia, vem de nous, mente. “Mudança profunda de mentalidade”.

O projeto Metanóia – Planeta Sustentável contém sugestões de grande relevância acerca de abertura de frentes estratégicas que visam a inclusão socioambiental mediada pela tecnologia, inclusive das pessoas portadoras de necessidades especiais.


Com base no conceito do triple bottom line1 e no cumprimento da lei de cotas  nº 8213/91 estimula a prática da cidadania frente aos atuais desafios das organizações. Propõem alianças com Instâncias governamentais, Instituições públicas e privadas valendo-se de um serviço integrado que privilegie ações fundamentais de relacionamento, contribuindo para a construção da cidadania, na perspectiva da responsabilidade socioambiental.

Com o objetivo de implantar um sistema de gestão ambiental segundo a norma NBR ISO 14.001 propõe um trabalho integrado e busca parcerias interessadas em fortalecer o modelo empresarial colocando a sustentabilidade como eixo norteador na forma de se fazer negócios, além de promover a diversidade transformando valores em atitudes.

A metodologia visa desenvolver a autonomia profissional reelaborando conceitos que gerem nova mentalidade definindo um perfil profissional que torne essa “pessoa” um agente transformador e apto à nova ordem econômica, social e ambiental.


O projeto Metanóia justifica-se numa alternativa que una num mesmo objetivo um processo de capacitação digital que promova a integração e inclusão social seja de maneira associativa ou de inserção no mercado de trabalho, desafiando para uma ação profissional e comunitária em defesa da vida. Esse profissional deverá constituir-se em agente multiplicador de conhecimentos adquiridos valorizando a bagagem cultural de cada indivíduo.

A sociedade está interligada em redes, motivo pelo qual, a metodologia adotada no projeto assume os avanços da tecnologia da informação valorizando as pessoas como indivíduos e cidadãos.



Metanóia propõe uma forma legal e totalmente nova de inclusão socioambiental mediada pela tecnologia que promove a inserção no mundo do trabalho. A estratégia cria novas frentes de trabalho dando condições para desenvolver diversas atividades de capacitação, treinamentos e ciclo de oficinas. As oficinas são: de pães, de costura, de artesanato, de doces, salgados e de reciclagem. Além das oficinas terá as funções: administrativas, cadastro, vendas, eventos, comunicação, marketing, divulgação, pesquisa, treinamento, captação de recursos e no operacional, a separação de resíduos recicláveis.


Então para se obter sucesso e concretização deste projeto é importante que desenvolva uma interação e parcerias com instituições. As parcerias devem promover e adquirir produtos tanto das oficinas como os resíduos recicláveis.

METANÓIA – PLANETA SUSTENTÁVEL remete a uma profunda mudança de mentalidade em busca de um planeta sustentável. Entende-se que a mudança de mentalidade cria novos hábitos.


Para ter uma palestra sobre METANÓIA - PLANETA SUSTENTÁVEL faça um contato com:


Ana Lúcia Galvão Tel. (11) 96369093
comunicacao.socioambiental@uol.com.br

Mensagem aos professores Ir. Luiza Vans

Querido Professor (a),





Quero neste seu dia, de modo muito especial, manifestar-lhe toda gratidão pela sua dedicação, pedindo a Deus e a Santa Marcelina, Mestra e Educadora, uma bênção toda especial.






Mesmo que a caminhada seja árdua

E a rotina do dia a dia tente a nos desanimar,

Ser para o aluno exemplo e vivência do seu ensinar,

Tendo o Mestre dos Mestres como modelo,

Realiza, certamente, nossa Missão tão linda de Educador:

Ensinando, ajudando o outro a crescer, ser semente de transformação para um mundo melhor!


Obrigada pelo que você é, pelo seu empenho e dedicação. Desejo-lhe um feliz dia do professor e que esta alegria se prolongue para sempre!

Com carinho e gratidão de Ir. Luiza Vanz ( Vice Diretora da Faculdade Santa Marcelina (Unidade de Ensino Itaquera e Diretora da Escola Sophia Marchetti)

Declaração sobre as Eleições CNBB

Declaração sobre as Eleições


Os bispos católicos do Regional Sul 1 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), do Estado de São Paulo, em sintonia com a DECLARAÇÃO SOBRE O MOMENTO POLITICO NACIONAL, da 48ª Assembleia Geral da Conferência (Brasília, maio de 2010), esclarecem que não indicam nem vetam candidatos ou partidos e respeitam a decisão livre e autônoma de cada eleitor.

O Regional Sul 1 da CNBB desaprova a instrumentalização de suas Declarações e Notas e enfatiza que não patrocina a impressão e a difusão de folhetos a favor ou contra candidatos.

Reafirma, outrossim, as orientações quanto a critérios e princípios gerais a serem levados em conta no discernimento sobre o momento político, já oferecidos pela 73ª Assembleia Geral do Regional Sul 1 (Aparecida, junho de 2010), expressos na Nota VOTAR BEM.

Recomenda, enfim, a análise serena e objetiva das propostas de partidos e candidatos, para que as eleições consolidem o processo democrático, o pleno respeito aos direitos humanos, a justiça social, a solidariedade e a paz entre todos os brasileiros.

Indaiatuba (Itaici), SP, 16 de outubro de 2010.

Dom Nelson Westrupp - Presidente do Conselho Episcopal Regional Sul 1

E Bispos do Regional Sul 1 / Publicado em 16/10/2010 - 10:24

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Bispos hipócritas! Serra hipócrita! Católicos hipócritas! Sacrilégio com nossa Mãe Maria!

Estou indignado!

Você assistiu ao debate na noite desse domingo na BAND?

Que vergonha!

Dilma e Serra sem compromisso com os grandes problemas do povo!

Voto Dilma, mas confesso quero vê-la defendendo projetos, ideias, ações

Não voto Serra, mas quero vê-lo homem público, político sério e não esse

HIPÓCRITA CATÓLICO que hoje está estampado nos sites BEIJANDO A CRUZ DE UM TERÇO em
Goiânia.


Bispos que atacaram a Dilma é isso que vocês querem? Hipócritas sois também!!!!


Fizeram e estão fazendo do ministério que ocupam um palanque eleitoral para esse candidato que não representa a Fé Cristã, muito menos o que pensa a doutrina social da Igreja.


Vós Bispos que apoiam o Serra não estais também vós movidos pela burguesia incomodada e inconformada? Não estais inconformados com a derrocada da classe social que vos mantém nos porões das sacristias? É vergonhoso apoiar esse ou aquele candidato, sobretudo dizendo que um é a favor da vida e o outro não. Como sabeis? Não estão eles vestidos de cordeiro? Ou vós vos confundis porque estais vestidos de bispos? O PT nasceu nas sacristias da Igreja, despontou como a solução dos problemas que assolam nosso povo, isso já não foi o suficiente para aprenderem e não apoiarem este ou aquele. Como Igreja sempre fui e sou PT, mas é preciso amadurecer. O PT que conhecemos não é o PT de agora, porém o Serra de agora não será o Serra de amanhã. Quantas vezes vós vistes esse SERRA na Igreja, agora nas duas festas de grandes concentrações marianas o filho da mãe usa o rosário para se promover.... isso é inaceitável!  Católicos brasileiros, enganai-vos!!!!!!!!!!!!!!! Deixai-vos enganar!!!!! Bispos "cabo eleitorais" enganai vossas ovelhas e permanecei nos porões das sacristias. Hipócritas!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Senhora de Aparecida olhai pela Igreja de seu Filho e não permita que ela seja encanada por seus pastores e nem que estes sirvam aos interesses mesquinhos de uma burguesia desinstalada pela ascenção dos mais pobres! Amém!

CARTA ABERTA AO CLERO ARTISTICO, A PAROQUIANOS VITALÍCIOS, AOS CLIENTES DE IGREJA E A PESSOAS COMPROMETIDAS COM A CAUSA DE CRISTO

CARTA ABERTA AO CLERO ARTISTICO, A PAROQUIANOS VITALÍCIOS, AOS CLIENTES DE IGREJA E A PESSOAS COMPROMETIDAS COM A CAUSA DE CRISTO


Renê Roldan*

Saúde e paz é o meu desejo sincero a todos que lerem essa carta. Que o Deus uno e trino professado no credo apostólico romano, que o exemplo de seu único filho e nosso irmão Jesus Cristo e a força do Espírito Santo derramado sobre todos nós pelo batismo, permita que as palavras e pensamentos nela contida sejam corretamente entendidas, afim de todos que a lerem, reflitam à luz da verdade, e assim possa colaborar para corrigir os desvios que afastam do caminho e da causa de Jesus Cristo.

Tenho consciência plena da sociedade que vivo e do papel ou papeis que nela de vo representar, por força do ator social que sou. Sou filho de uma humilde família que de herança deixou-me a fé católica apostólica romana. Após minha primeira eucaristia, durante um período de aproximadamente 15 anos estive ausente de qualquer prática religiosa, e somente em meados de 1976, onde fui convidado para participar de um encontro de casais com Cristo, é que aquela semente de fé recebida no meu batismo começou a germinar. Dois anos após, em 1978, fiz uma segunda etapa daquele encontro, onde ouvi um canto que meu tirou da letargia que eu estava e que até hoje ecoa nos meus ouvidos: “Se ouvires a voz do vento chamando sem cessar, se ouvires a voz do tempo mandando esperar, a decisão é tua. O trigo já se perdeu. Cresceu ninguém colheu. E o mundo passando fome, passando fome de Deus”

Assim como a borboleta sai do casulo eu percebi que o país que onde vivia, que cantava, que sambava e que encantava o mundo com o futebol, passava por um gravíssimo problema social, fruto de uma ditadura militar instalada já a 12 anos. Percebi que nosso pais estava passando fome de Deus e que os poucos que se arriscavam profeticamente em agir em Seu nome, arriscavam-se a si e aos seus.

Conheci lideranças religiosas, verdadeiros profetas, que em nome de Deus se posicionaram sendo voz daqueles que não tinham voz e nem vez. Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Angélico Sândalo Bernardino, Dom Pedro Casaldaliga, Dom Helder Camara, Leonardo Boff, são alguns dos que representavam honrosamente a igreja e a causa de Cristo. Inspirado por eles me desafiei-me a conhecer a palavra de Deus, desafiei-me em ler a Bíblia, desafiei-me a ser cristão no mundo.

O tempo passou e aquela igreja também. O que hoje vejo é uma igreja totalmente diferente daquela, descompromissada com as estruturas pecaminosa da sociedade, que não tem mais lideres, mas ídolos que dão audiência, que promovem espetáculos e concorrem com tudo que de pior existe nas igrejas neo pentecostais. Padre preocupado em bater recorde de confissões ao invés das conversões. São modelos e não exemplos.

O ponto forte que determinou essa decisão foram os lamentáveis fatos ocorridos quando da coleta de assinaturas e votos para o plebiscito sobre o limite da propriedade da terra, nos dias 01 a 07 de setembro de 2010, após as missas realizadas na paróquia São João Batista de Vila Carrão. Começo parabenizando o trabalho que o pequeno, mas inquieto grupo de Pastoral de Fé e Política realizou naqueles dias visando à coleta de assinaturas e votos. Tal gesto mostrou de um lado a importância da comunidade quando comprometida no papel de promotora da justiça e do bem comum da população, especialmente para com os mais atingidos pela escandalosa situação agrária em nosso pais, e do outro a inércia e insensibilidade humana de pessoas comuns, lideranças religiosas, clientes de igreja e papa hóstias contumazes.

De nossos ouvidos ainda ressoam considerações daqueles e daquelas que colocaram suas assinaturas nas listas, na saída das 4 missas que estivemos fazendo aquele trabalho. Foram ricos e pobres, jovens e velhos, negros e brancos que se expressaram por palavras, gestos, e trejeitos suas posições para o grave problema da distribuição da terra. Houve famílias que emocionadas testemunharam seus próprios dramas vividos com a expulsão da terra. Contagiaram-nos.

Em contrapartida outros demonstraram total repulsa ao assunto reproduzindo frases do senso comum para qualificar os excluído/as da terra como vagabundos ou invasores. Dessas pessoas que olham unicamente e exclusivamente para si, que vão às igrejas motivadas pelos mesmos impulsos de quando vão às compras, pouco o quase nada se pode esperar em nível de solidariedade para com os mais fracos. São narcisistas que construíram e idolatram um deus que é a imagem e semelhança delas, e fazem da igreja - pois encontram espaço - um shopping de conveniência, e vêem o padre como um ídolo ao invés de servo de Deus. Vi e certamente ainda as verei como sósias de Pilatos e algozes do cruel martírio de Cristo. A súplica que Cristo fez ao Pai do alto da cruz, referindo-se aos responsáveis pela sua crucificação, se reproduziu no meu coração quando vi pessoas totalmente indiferentes a esse gravíssimo clamor. “Oh Pai, Perdoai-lhes, pois eles não sabem o que dizem e nem o que fazem”. Compreender a incompreensão com muita paciência e tolerância talvez seja a saída desafiadora para uma tomada de posição.

Que dizer do Jo Jorge de Farias, cidadão humilde que há anos ganha uns trocadinho tomando conta dos carros dos que vão às missas de domingo? Tocou-nos em muito suas palavras de gratidão a Deus e nós por ainda existir pessoas que ajudam os mais fracos. Sua história, que poucos sabem e porque jamais quiseram saber espelha bem a de muitos irmãos nossos vitimas da falta de amor e do descaso das autoridades. Jo foi vizinho da paróquia por muito tempo. Morou em um dos barracos construído ao redor do fétido córrego Rapadura. Posteriormente, foi morar ao lado da marginal Tiete, na favela próxima à alça de acesso ao viaduto Aricanduva, derrubada recentemente pela prefeitura, por estar como diz o poeta Chico Buarque “na contramão atrapalhando o trafego”. Hoje mora em outro barraco, à margem do início da rodovia Fernão Dias, de onde vêm todos os domingos. “Oh Pai! “Perdoai-nos pela falta de sensibilidade para com os excluídos da mesa comum”

Algumas coisas, ainda que inaceitáveis, são entendidas, sem que signifique concordância. É o caso do modelo de igreja que ai está. Quem são seus clérigos? Que formação receberam? Quem foram seus orientadores? Por que optaram em ser padre? O que sabem do mundo, das raízes e dramas de seus “fregueses” (para quem estranhar essa palavra oriento que faça uma leitura aos documentos históricos que registram o início de uma paróquia e a posse do primeiro vigário)?. O pior é que muitos padres alem de aceitar tudo isso, se deixam levar pela fama colaborando para que a casa de Deus vire casa de espetáculo, e o presbitério vira palco ou palanque. Só com muito espírito de mansidão é que poderemos compreender (isso não significa concordar), esse tipo de atitude. “Oh Pai, Perdoai-lhes, pois eles não sabem nada do que fazem.

Ainda com relação ao Plebiscito, o que dizer daqueles que só assinaram porque o padre pediu, tranqüilizando-os do medo e garantindo de que suas propriedades não correriam nenhum perigo de serem atingidas pela lei.

Imagino que para eles a Palavra de Deus não seja compreendida como sendo de salvação, mas de alienação, confundem o sagrado como sendo um amuleto que dá sorte, proteção, faz milagre e provoca emoções ao ser tocado. Com eles é tudo na base de troca. Isso me faz lembrar aquela pessoa que ao ouvir de um mendigo a súplica “me dê uma esmola pelo amor de Deus”, atende não por compaixão, mas por “temor a Deus”. Chamo a esses de “clientes de igreja”.

Estaria eu exagerando ao dizer que esse tipo de comportamento é o mesmo que leva uma pessoa a procurar uma casa de espetáculo, ou seja, para sentir fortes emoções? Prova disso, foi o triste dialogo que eu ouvi de duas mulheres quando saiam da igreja após a tal missa de cura e libertação. “E ai chorou muito?”. Resposta: “Hoje até que nem tanto”. “Mas valeu”. Puro show. Atrevo em dizer que como elas muitas pessoas que freqüentam tais missas comportam-se como membros de um fã clube ou de torcida organizada, e associam o padre como celebridade famosa, um autêntico ator e sentem-se frustradas quando vão não é ele o celebrante. Nesse contexto os ministros são atores coadjuvantes no burocrático papel de office-boy do artista principal. “Oh Pai! “Perdoai-lhes, os humanos robôs que não percebem o que fazem”.

O efeito colateral desse tipo de religião resulta numa sociedade formada numa boa parte por pessoas egoístas, egocêntricas, individualistas, fascistas, preconceituosas, violentas e indiferentes. Não é por acaso que no nosso pais a coisa pública esta o caos, que a corrupção faz escola com crescente número de alunos, que a justiça só existe para julgar e prender os pobres, que a distribuição de terras é criminosa, e que por pensar só em seus interesses e os de sua família, faz do povo brasileiro um dos mais despolitizado do mundo. Exemplo inconteste disso esta no número de assinaturas e votos coletados, ou seja, em nenhuma das 4 tradicionais missas de final de semana as adesões foram inferiores às obtidas na famosa e concorridíssima missa de cura e libertação que mensalmente superlota a igreja. “Curai-lhes Pai da cegueira do coração que os impede de Reconhecê-lo na figura dos que mais sofrem”.

Até quando nossa sociedade que se identifica como Cristã, que agrega lideres zelosos em orientar os fieis a si identificarem como católico apostólico romano, que tem padres capazes de reunir multidões, continuará a ignorar os pecados estruturais enraizados na nossa cultura e que provoca a brutal desigualdade social em nosso pais? Até quando a cruz ao invés do amor haverá de ser o sinal que identifica o católico? Até quando as imagens de santos serão objeto de adoração e não fontes de inspiração e exemplo de vida?

Foi muito triste ouvir frases carregadas de preconceito contra nossos irmãos nordestinos, que por questão de educação não reproduzo nesta carta. Oriento esses “clientes de igreja”, e a todos que assim pensam a visitar algum dos inúmeros canteiros de obra existente ao nosso redor, e se tiverem coragem bater um papo ainda que seja bem rápido, com aqueles trabalhadores que lá estão. Pergunte a eles sobre suas origens, a razão de ali estarem, como vivem, como e onde vive sua família, quanto ganha, quanto tempo trabalha lá, como trabalha por que esta ali. Caso não queira, vá até o cortiço que existe na avenida próxima da paróquia, ou no final da rua da igreja, ao lado esquerdo. Se tiverem tempo e estomago as margens do córrego Rapadura são “boas” e próximas opções. Depois disso durmam na paz de Cristo, se forem capaz.

Jamais esquecerei cenas de paroquianos fugindo dos locais onde estava o pessoal coletando adesões. Passavam virando o rosto, fazendo caras e bocas, como se aquilo que fosse algo impuro e estivessem profanando o templo. Dias antes, esses mesmos fariseus contemporâneos acolheram na famosa missa show batizada de cura e libertação, em pleno presbitério, com sorrisos, abraços, beijos e fotos um candidato a deputado federal, apresentado pelo padre como um velho amigo. Quanta incoerência. Quanta ignorância.

Não é por acaso que de uns tempos para cá, em todas as missas que participo, tenho uma estranha sensação de que o sentido da oração que antecede o abraço da paz, tem o sentido de subornar a Jesus Cristo para que faça vistas grossas em “não olhar para os nossos pecados, mas a fé que anima a nossa igreja” Que tipo de fé anima hoje as nossas igrejas? Seria igual àquela de ação ativa do paralitico que busca a cura, descrita em Mc. 2, 3-12, ou aquela realizada face ao medo dos discípulos de Cristo, quando Ele acalma a tempestade, conforme narra Mc. 4, 35-41 ? A esses de coração duro dedico o grito do profeta da terra, Dom Pedro Casaldaliga, bispo emérito da prelazia de São Feliz do Araguaia: “Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar! Malditas sejam todas as leis, amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois e fazer a Terra, escrava e escravos os humanos!”

Sinto que há um cansaço crônico na igreja de hoje, principalmente as localizadas próxima ao centro de São Paulo. Grande parte do clero atual dá sinais de doente, não mostra nenhuma inquietude para com a estrutura pecaminosa que permeia as relações interpessoais na nossa sociedade. Boa parte deles cuida do visual, do exterior, atendem àquela demanda do mercado, não pequena, dos que buscam se safar dos seus particulares problemas, ou realizar sonhos custe o que custar..

Tenho a mania de quando visito alguma igreja olhar em primeiro lugar para a porta de entrada, aos cartazes ali afixados. Para mim a fachada retrata o tipo de comprometimento social que ela tem. Se não vejamos: assim que a missa do sábado, dia 04, terminou, sem que fosse notado, os cartazes alusivos ao plebiscito foram retirados. Quando percebi a falta fui perguntar a uma líder paroquiana sobre quem teria sido o ator, bem como o porquê. A tímida resposta foi de que era porque iria haver casamentos, onde pude concluir que o “palco” estava recebendo novo cenário, para um espetáculo diferente. Reflexos dessa apatia foram facilmente identificados nas oficinas realizadas no Congresso de Leigos, em pleno andamento aqui na cidade de São Paulo. O predomínio maciço da presença dos senhores e senhoras de cabelos brancos dispensa qualquer comentário. Boa parte dos jovens que hoje freqüentam as igrejas são aqueles que vivem olhando para o céu esperando que ele se abra e de lá saia Deus. Dura realidade. Permita Deus que momentos como esse venham a servir de exemplo para romper bloqueios e preconceitos que historicamente inibem ações cidadãs por parte de leigos, fieis e do clero, bem como, a se engajarem nas pastorais e movimentos sociais, objetivando a construção de uma sociedade mais justa.

Existem assuntos que por ignorância, conhecimento e vontade para conhecê-los tornam-se tabus e acabam gerando preconceitos, alem de criar conflitos, principalmente dentro da própria igreja. Um deles é a palavra política. Aconselho àqueles que ainda insiste em dizer que fé não pode ser misturada com política a percorrerem alguns caminhos apontados pela Sagrada Escritura, especialmente boa parte dos livros que compõem o Antigo Testamento. Procurem saber quais as causas que os profetas abraçaram, depois, se tiverem humildade, peçam perdão a Deus solidarizando-se com os que mais sofrem com a injusta distribuição de terra. Desde Abraão até os nossos dias um enorme grito não para de clamar aos céus. Ele vem de milhões de filhos e filhas de Deus cujo acesso e fruto da terra lhes são negado. Em nosso pais as feridas abertas pela colonização cheiram a podre. Enormes áreas de terra, maiores que alguns municípios inteiro, não produzem absolutamente nada. Essa situação tem colaborado com o inchaço populacional nas áreas urbanas, encostas e áreas de riscos, com o aumento da miséria, fome e a violência. “Oh Pai! Perdoai a todos que estão cansados de não caminhar”

A feliz compensação que eu não poderia deixar de registrar e que jamais esquecerei foi a participação da Bia. Bia é uma criança. Bia é coroinha e seguindo o positivo exemplo de seus pais participou de forma ativa, contribuindo em todos os momentos, debaixo de frio e garoa.

Deu uma verdadeira lição prática do que é ser cristão no mundo de hoje. Sem ter lido e ouvido o saudoso papa João Paulo II ela deu provas pratica de que “o verdadeiro cristão é o homem/mulher da igreja no coração do mundo, e o homem/mulher do mundo no coração da igreja”. Com esse gesto, ela, e o pequeno, mas comprometido grupo da pastoral de Fé e Política de nossa paróquia, ajudaram a ecoar um dos slogans do movimento, qual seja, o de colocar limite em quem não tem limites. A esses últimos que chamo carinhosamente de inquietos e que tenho profunda satisfação de ser parceiro de caminhada, e a todos que anonimamente gastam a vida pela causa dos mais necessitados, desejo que encontrem ainda mais força e coragem no lamento profético em forma de oração, escrito pelo padre espanhol Luiz Espinal, jesuíta, defensor dos direitos do povo e de suas organizações, morto em La Paz na Bolívia com 17 perfurações, em 22 de março de 1980.

“GASTAR A VIDA”

“Jesus Cristo disse: ‘Quem quer economizar a vida, perdê-la=á; e quem a gastar por mim, a recobrará em vida eterna”

Apesar de tudo temos medo de gastar a vida e de entregá-la sem reservas. Um terrível instinto de conservação nos leva ao egoísmo e nos atormenta quando queremos jogar a vida.

Pagamos seguros por todas as partes, para evitar os riscos. E alem de tudo há a covardia. . .

Senhor Jesus Cristo, temos medo de gastar a vida. Porém, a vida, Tu no-la deste, para gastá-la. Não podemos economizá-la num estéril egoísmo.

Gastar a vida é trabalhar pelos demais, mesmo que não nos paguem; fazer um favor àquele que nada nos pode devolver; gastar a vida é arriscar-se, mesmo ao fracasso, inevitável, sem falsas prudências; é queimar as naves em bem do próximo.

Somos tochas e somente temos sentido quando nos queimamos; somente então seremos luz.

Livra-nos da prudência covarde, daquela que nos faz evitar o sacrifício e buscar a segurança.

Gastar a vida não se faz com gestos espalhafatosos e falsa teatralidade. A vida se entrega simplesmente, sem publicidade, como a água da fonte, como a mãe que dá o peito ao seu filhinho, como o suor humilde do semeador.

Treina-nos Senhor, a lançarmo-nos ao impossível, porque por detrás do impossível está tua graça e tua presença; não podemos cair no vazio.

O futuro é um enigma, nosso caminho penetra na névoa, contudo, queremos continuar dando-nos, porque Tu estás esperando na noite, com mil olhos humanos, transbordando de lágrimas”

* Economista e membro da Pastoral Fé e Política

Viva o Brasil ! PARA QUE O POVO BRASILEIRO SE PONHA DE PÉ

O Conversa Afiada se orgulha de publicar artigo de Fábio Konder Comparato (*), de titulo “Para que o povo brasileiro se ponha de pé”.


O amigo navegante observará que esta campanha presidencial não tratou de nada do que Comparato discute.

Viva o Brasil !
PARA QUE O POVO
BRASILEIRO SE PONHA DE PÉ

Dentro de poucos dias realizaremos, mais uma vez, eleições em todo o país. Elas coincidirão com o 22º aniversário da promulgação da atual Constituição. Quer isto dizer que já vivemos em plena democracia?

Nada mais ilusório. Se o regime democrático implica necessariamente a atribuição de poder soberano ao povo, é forçoso reconhecer que este continua, como sempre esteve, em estado de menoridade absoluta.

Povo, o grande ausente

Quando Tomé de Souza desembarcou na Bahia, em 1549, munido do seu famoso Regimento do Governo, e flanqueado de um ouvidor-mor, um provedor-mor, clero e soldados, a organização político-administrativa do Brasil, como país unitário, principiou a existir. Tudo fora minuciosamente preparado e assentado, em oposição ao descentralismo feudal das capitanias hereditárias. Notava-se apenas uma lacuna: não havia povo. A população indígena, estimada na época em um milhão e meio de almas, não constituía, obviamente, o povo do novel Estado; tampouco o formavam os 1.200 funcionários – civis, religiosos e militares – que acompanharam o Governador Geral.

Iniciamos, portanto, nossa vida política de modo original: tivemos Estado, antes de ter povo. Quando este enfim principiou a existir, verificou-se desde logo que havia nascido privado de palavra.

Foi assim que o Padre Antonio Vieira o caracterizou, no Sermão da Visitação de Nossa Senhora, pregado em Salvador em junho de 1640. Tomando por mote a palavra latina infans, assim discorreu o grande pregador:

“Bem sabem os que sabem a língua latina, que esta palavra, infans, infante, quer dizer o que não fala. Neste estado estava o menino Batista, quando a Senhora o visitou, e neste permaneceu o Brasil muitos anos, que foi, a meu ver, a maior ocasião de seus males. Como o doente não pode falar, toda a outra conjectura dificulta muito a medicina. (…) O pior acidente que teve o Brasil em sua enfermidade foi o tolher-se-lhe a fala: muitas vezes se quis queixar justamente, muitas vezes quis pedir o remédio de seus males, mas sempre lhe afogou as palavras na garganta, ou o respeito, ou a violência; e se alguma vez chegou algum gemido aos ouvidos de quem o devera remediar, chegaram também as vozes do poder, e venceram os clamores da razão”.

Quase às vésperas de nossa Independência, esse estado de incapacidade absoluta do povo afigurava-se, paradoxalmente, não como um defeito político, mas como uma exigência de ordem pública. Em maio de 1811, o nosso primeiro grande jornalista, Hipólito José da Costa, fez questão de lançar nas páginas do Correio Braziliense, editado em Londres, uma severa advertência contra a eventual adoção no Brasil do regime de soberania popular:

“Ninguém deseja mais do que nós as reformas úteis; mas ninguém aborrece mais do que nós, que essas reformas sejam feitas pelo povo; pois conhecemos as más conseqüências desse modo de reformar; desejamos as reformas, mas feitas pelo governo; e urgimos que o governo as deve fazer enquanto é tempo, para que se evite serem feitas pelo povo.”

A nossa independência, que paradoxalmente não foi o resultado de uma revolta do povo brasileiro contra o rei de Portugal, mas, ao contrário, do povo português contra o rei no Brasil, não suscitou o menor entusiasmo popular. O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire pôde testemunhar: “A massa do povo ficou indiferente a tudo, parecendo perguntar como o burro da fábula: – Não terei a vida toda de carregar a albarda ? ”

A mesma cena, com personagens diferentes, é repetida 67 anos depois, na proclamação da república. “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava“, lê-se na carta, tantas vezes citada, de Aristides Lobo a um amigo. “Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada.”

O disfarce partidário-eleitoral

Mas afinal, era preciso pelo menos fazer de conta que o povo existia politicamente. Para tanto, os grupos dominantes criaram partidos e realizaram eleições. Mas tudo sob forma puramente teatral. O povo tem o direito de escolher alguns atores, mas nunca as peças a serem exibidas. Os atores não representam o povo, como proclamam as nossas Constituições. Eles tampouco representam seu papel perante o povo (sempre colocado na platéia), mas atuam de ouvidos atentos aos bastidores, onde se alojam os “donos do poder”.

No Império, Joaquim Nabuco qualificava a audácia com que os partidos assumiam suas pomposas denominações como estelionato político. Analogamente no início da República, o fato de a lei denominar oficialmente eleições as “mazorcas periódicas”, como disse Euclides da Cunha, constituia “um eufemismo, que é entre nós o mais vivo traço das ousadias de linguagem”.

A Revolução de 1930 foi feita justamente para pôr cobro às fraudes eleitorais. Mas desembocou, alguns anos depois, na ditadura do “Estado Novo”, que suprimiu as eleições, sem no entanto dispensar a clássica formalidade da outorga à nação (já não se falava em povo) de uma nova “Constituição”.

Após o término da Segunda Guerra Mundial, em que muitos dos nossos pracinhas tiveram suas vidas ceifadas na luta contra o nazifascismo, fomos moralmente constrangidos a iniciar uma nova vida política, sob o signo da democracia representativa. Mas a legitimidade desta durou pouco tempo. Já em 7 de março de 1947, ou seja, menos de cinco meses depois de promulgada a nova Constituição, o Partido Comunista foi extinto por decisão judicial ( nesta terra, a balança da Justiça sempre cedeu aos golpes da espada). Em fevereiro de 1954, com o “manifesto dos coronéis”, teve início a preparação do golpe militar de 1964. O estopim para deflagrá-lo foi a iminência de que as forças de esquerda chegassem eleitoralmente ao poder e executassem o programa das “reformas de base”, com o desmantelamento econômico da oligarquia.

Obviamente, para os nossos grupos dominantes, os cidadãos podem votar como quiserem nas eleições, mas desde que se lembrem de que “nasceram para mandados e não para mandar”, segundo a saborosa expressão camoniana.

O regime autoritário, instaurado em 1964 pela caserna, com o apoio do empresariado, dos latifundiários e da Igreja Católica, sob a proteção preventiva do governo norte-americano, reconheceu que a assim chamada “Revolução Democrática” não poderia suprimir as eleições e os partidos. Manteve-os, portanto, mas reduzidos à condição de simples fantoches. Era a “democracia à brasileira”, como a qualificou o General que prendeu o grande Advogado Sobral Pinto. Ao que este retrucou simplesmente: “General, eu prefiro o peru à brasileira”.

O regime de terrorismo de Estado foi devidamente lavado pelo Poder Judiciário, que decidiu anistiar, com as lamentações protocolares, os agentes públicos que mataram, torturaram e estupraram milhares de oponentes políticos.

Chegamos à fase atual, em que as eleições já não incomodam os oligarcas, porque mantém tudo exatamente como dantes no velho quartel de Abrantes. O povo pode até assistir, indiferente ou risonho, uma campanha presidencial, em que os principais candidatos dão-se ao luxo de não discutir um só projeto ou programa de governo, preferindo ocupar todos os espaços da propaganda oficial com chalaças ou sigilos.

Tudo parece, assim, ter entrado definitivamente nos eixos. Um olhar atento para a realidade política, porém, não deixará de notar que a nossa tão louvada democracia carece exatamente do essencial: a existência de um povo soberano.

Iniciamos nossa vida política, sem povo. Alcançamos agora a maturidade, como se o povo continuasse politicamente a não existir.

Sem dúvida, a Constituição oficial declara, solenemente, que “todo poder emana do povo”, acrescentando que ele o exerce “por meio de representantes eleitos ou diretamente” (art. 1º, parágrafo único). Mas toda a classe política sabe – e o Poder Judiciário finge ignorar – que na realidade “todo poder emana dos grupos oligárquicos, que o exercem em nome do povo, por meio dos representantes por este eleitos”.

Daí a questão inevitável: o que fazer para mudar esse triste estado de coisas?
A emancipação política do povo brasileiro
É preciso atacar desde logo o ponto principal.

A soberania, na Idade Moderna, consiste, antes de tudo, em aprovar a Lei das Leis, isto é, a Constituição. Trata-se de uma prerrogativa que só pode ser exercida diretamente. Quem delega o seu exercício a outrem está, na realidade, procedendo à sua alienação. O chamado “poder constituinte derivado” é, portanto, um claro embuste.

Ora, neste país, Constituição alguma, em tempo algum, jamais foi aprovada pelo povo. Todas elas foram votadas e promulgadas por aqueles que se diziam, abusivamente, representantes do povo; quando não foram simplesmente decretadas pelos ocupantes do governo.

O mesmo ocorre com as emendas constitucionais. A Constituição Federal em vigor, por exemplo, já foi emendada (ou remendada) 70 (setenta) vezes em 22 anos; o que perfaz a apreciável média de mais de 3 emendas por ano. Em nenhuma dessas ocasiões, o povo foi convocado para dizer se aceitava ou não tais emendas.

Isto, sem falar no fato absurdo de que a Constituição Federal, ao contrário de várias Constituições Estaduais, não admite a iniciativa popular de emendas ao seu texto.

É preciso, pois, começar a reforma política (alguns preferem dizer a “Revolução”), reservando ao povo o poder nuclear de toda soberania. No nosso caso, ele consiste em aprovar, diretamente, não só a Constituição Federal, como também as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas Municipais, bem como suas subsequentes alterações respectivas.

Em segundo lugar, é indispensável reconhecer ao povo o direito de decidir, por si mesmo, mediante plebiscitos e referendos, as grandes questões que dizem respeito ao bem comum de todos. A Constituição Federal declara, em seu art. 14, que o plebiscito e o referendo, tal como o sufrágio eleitoral, são formas de exercício da soberania popular. Mas determina, no art. 49, inciso XV, que “é da competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar plebiscitos e convocar referendos”. Ou seja, o mandante somente pode manifestar validamente a sua vontade, se houver concordância dos mandatários. Singular originalidade do direito brasileiro!

Para corrigir esse despautério, a Ordem dos Advogados do Brasil, por proposta do autor destas linhas, apresentou anteprojetos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal (transformados no projeto de lei nº 4.718/2004 na Câmara dos Deputados e projeto de lei nº 001/2006 no Senado), pelos quais o plebiscito e o referendo podem ser realizados mediante iniciativa do próprio povo, ou por requerimento de um terço dos membros da Câmara ou do Senado.

A proposta da OAB procurou harmonizar os dispositivos antagônicos da Constituição Federal, interpretando a autorização e a convocação de plebiscitos e referendos, pelo Congresso Nacional, como atribuições meramente formais e não de mérito.

Previram ainda os anteprojetos da OAB novos casos de obrigatoriedade na realização de plebiscitos e referendos.

Assim é que, para impedir a repetição da “privataria” do governo FHC, passaria a ser obrigatório o plebiscito para “a concessão, pela União Federal, a empresas sob controle direto ou indireto de estrangeiros, da pesquisa e da lavra de recursos minerais e do aproveitamento de potenciais de energia hidráulica”; bem como para a concessão administrativa, pela União, de todas as atividades ligadas à exploração do petróleo.

Quanto aos referendos, a fim de evitar o absurdo da legislação eleitoral em causa própria, determinam os projetos de lei citados a obrigatoriedade de serem referendadas pelo povo todas as leis sobre matéria eleitoral, cujo projeto não tenha sido de iniciativa popular.

Inútil dizer que tais projetos de lei acham-se devidamente paralisados e esquecidos em ambas as Casas do Congresso.

Para completar o quadro de transformação da soberania popular retórica em poder supremo efetivo, tive também ocasião de propor duas medidas indispensáveis em matéria eleitoral. De um lado, o financiamento público das campanhas; de outro lado, a introdução do recall ou referendo revocatório de mandatos eletivos, proposta também pela OAB e objeto da emenda constitucional nº 073/2005 no Senado Federal. Assim, o povo assumiria plenamente a posição de mandante soberano: ele não apenas elegeria, mas também teria o direito de destituir diretamente os eleitos. Para os que se assustam com tal “excesso”, permito-me lembrar que o recall já existe e é largamente praticado em 19 Estados da federação norte-americana.

Não sei se tais medidas tornar-se-ão efetivas enquanto eu ainda estiver neste mundo. O que sei, porém, com a mais firme das convicções, é que sem elas o povo brasileiro continuará a viver “deitado eternamente em berço esplêndido”, sem condições de se pôr de pé, para exigir o respeito devido à sua dignidade.

(*) Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra.
 
http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2010/09/19/comparato-para-que-o-povo-brasileiro-se-ponha-de-pe/

Bispos... cabo eleitorais......

Carta aberta a Dom Demétrio - José Comblin


Quinta-feira, 7 de outubro de 2010 - 14h29min
Querido dom Demétrio,

Quero publicamente agradecer-lhe as suas palavras esclarecedoras sobre a manipulação da religião católica no final da campanha eleitoral pela difusão de uma mensagem dos três bispos da comissão representativa do regional Sul I da CNBB condenando a candidata do atual governo e proibindo que os católicos votem nela. Graças ao senhor, sabemos que essa divulgação do documento da diretoria de Sul 1 não foi expressão da vontade da CNBB, mas contraria a decisão tomada pela CNBB na sua ultima assembléia geral, já que esta tinha decidido que os bispos não iam intervir nas eleições. Sabemos agora que o documento dos bispos da diretoria do regional Sul 2 foi divulgado no final de agosto, e durante quase um mês permaneceu ignorado pela imensa maioria do povo brasileiro. Agora, dois dias antes das eleições, um grupo a serviço da campanha eleitoral de um candidato, numa manobra de evidente e suja manipulação, divulgou com abundantes recursos e muito barulho esse documento, criando uma tremenda confusão em muitos eleitores. Pela maneira como esse documento foi apresentado, comentado e divulgado, dava-se a entender que o episcopado brasileiro proibia que os católicos votasse nos candidatos do PT e, sobretudo na sua candidata para a presidência. Dois dias antes das eleições os acusados já não podiam mais reagir, apresentar uma defesa ou uma explicação. Aos olhos do público a Igreja estava dando o golpe que sempre se teme na véspera das eleições, quando se divulga um suposto escândalo de um candidato. Era um golpe sujo por parte dos manipuladores, já que dava a impressão de que o golpe vinha dessa feita da própria Igreja.

Se os bispos que assinaram o documento de agosto, não protestam contra a manipulação que se fez do seu documento, serão cúmplices da manipulação e aos olhos do público serão vistos como cabos eleitorais.

Se a CNBB não se pronuncia publicamente com muita clareza sobre essa manipulação do documento por grupos políticos sem escrúpulos, será cúmplice de que dezenas de milhões de católicos irão agora, no segundo turno votar pensando que estão desobedecendo aos bispos. Seria uma primeira experiência de desobediência coletiva imensa, um precedente muito perigoso. Além disso, certamente afetará a credibilidade da Igreja Católica na sociedade civil, o que não gostaríamos de ver nesta época em que ela já está perdendo tantos fiéis.

Se o episcopado católico deixa a impressão de que a divulgação desse documento nessa circunstância representa a voz da Igreja com relação às eleições deste ano, muitos vão entender que isso significa uma intervenção dos bispos católicos para defender o candidato das elites paulistanas contra a candidata dos pobres. Os pobres têm muita sensibilidade e sentem muito bem o que há na consciência dessas elites. Sabem muito bem quem está com eles e quem está contra eles. Vão achar que a questão do aborto é apenas um pretexto que esconde uma questão social, o desprezo das elites, sobretudo de São Paulo pela massa dos pobres deste país. Milhões de pobres votaram e vão votar na candidata do governo porque a sua vida mudou. Por primeira vez na história do país viram que um governo se interessava realmente por eles e não somente por palavras. Não foi somente uma melhoria material, mas antes de tudo o acesso a um sentimento de dignidade. "Por primeira vez um governo percebeu que nós existimos". Isso é o que podemos ouvir da boca dos pobres todos os dias. Um povo que tinha vergonha de ser pobre descobriu a dignidade. Por isso o voto dos pobres, este ano, é um ato de dignidade. As elites não podem entender isso. Mas quem está no meio do povo, entende.

Os bispos podem lembrar-se de que a Igreja é na Europa o que é, porque durante mais de 100 anos os bispos tomaram sempre posição contra os candidatos dos pobres, dos operários. Sempre estavam ao lado dos ricos sob os mais diversos pretextos. E no fim aconteceu o que podemos ver. Abandonaram a Igreja. Cuidado! Que não aconteça a mesma coisa por aqui! Os pobres sabem, são conscientes e sentem muito bem quando são humilhados. Não esperavam uma humilhação por parte da Igreja. Por isso, é urgente falar para eles.

Uma declaração clara da CNBB deve tranqüilizar a consciência dos pobres deste país. Sei muito bem que essa divulgação do documento na forma como foi feita, não representa a vontade dos bispos do regional Sul 1 e muito menos a vontade de todos os bispos do Brasil. Mas a maioria dos cidadãos não o sabe e fica perturbados ou indignados por essa propaganda que houve.

Não quero julgar o famoso documento. Com certeza os redatores agiram de acordo com a sua consciência. Mas não posso deixar de pensar que essa manipulação política que foi a divulgação do seu documento na véspera das eleições, dava a impressão de que estavam reduzindo o seu ministério à função de cabo eleitoral. O bispo não foi ordenado para ser cabo eleitoral. Se não houver um esclarecimento público, ficará a imagem de uma igreja conivente com as manobras espúrias

Dom Demétrio, o senhor fez jus à sua fama de homem leal, aberto, corajoso e comprometido com os pobres e os leigos deste país. Por isso, o senhor merece toda a gratidão dos católicos que querem uma Igreja clara, limpa, aberta, dialogante. Demonizar a candidata do governo como se fez, baseando-se em declarações que não foram claras, é uma atitude preconceituosa totalmente anti evangélica. Queremos continuar confiando nos nossos bispos e por isso aguardamos palavras claras. Obrigado, dom Demétrio.



José Comblin, padre e pecador. 5 de outubro de 2010
 
http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=5&noticiaId=1498

Marina... Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos.

Amiga/o, eis, abaixo e em anexo, um pequeno texto -"Marina, ... você se pintou?"- de Maurício Abdalla, professor de filosofia da UFES, assessor do Movimento Fé e Política, de Comunidades Eclesiais de Base, um intelectural orgânico, além de ser grande amigo nosso e companheiro de lutas por justiça social e pela construção de uma sociedade sustentável. Maurício Abadalla escreveu o texto que eu estava pensando em escrever. Assino embaixo do inspirador texto que Maurício Abdalla endereçou a Marina Silva. Cf. abaixo ou em anexo. Se gostar, divulgue!


Marina,... você se pintou? (Maurício Abdalla [1][1])

“Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos pobres”, como diz Leonardo Boff.

Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?

Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as “famiglias” que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.

Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.

Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.

Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.

“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.

Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.


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[1][1] Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros.

domingo, 3 de outubro de 2010

Meu voto

Muitos me perguntaram em quem eu votaria.... não respondi....HOJE É O DIA

Meu voto vai para:

PRESIDENTE =  13 Dilma
GOVERNADOR = 13 Mercadante
SENADOR 1 = 133 Marta
SENADOR 2 = 430 Young
DEP. FEDERAL = 4021 Erundina
DEP. ESTADUAL = 13222 Adriano Diogo

O importante não é votar, mas conhecer em quem se vota e, sobretudo, acompanhar a trajetória do conditado votado. Esses eu conheço!!!!!!


Abreijos,

sábado, 2 de outubro de 2010

Bullyng: onde é a saída?

Bullyng: onde é a saída?


Dia desses, ao passar pelo quarto da minha filha, de 16 anos, que vai prestar vestibular no final do ano, assustei-me com a quantidade de apostilas que ela acumulou até agora, com conteúdos que serão cobrados nesta prova. O volume é muito grande, talvez duas mil páginas, ou mais, entre exercícios, conceitos, fórmulas, listas e mais listas de nomes estranhos. Passa-se muito tempo aprendendo coisas que não serão necessárias. Mas a juventude não tem por parte destas instituições de ensino, nem de nenhum outro lugar, o favorecimento da aprendizagem de habilidades que deveriam ser consideradas básicas. Isto acontece por que fazemos parte de uma cultura que manifesta profunda ignorância no que diz respeito ao trato com o ser humano.

De maneira geral, não se sabe lidar com suas questões humanas, como o medo, a insegurança, a raiva, a solidão. E o bullyng está aí sinalizando esta ignorância. Em vez de se empenhar tanto tempo na absorção de conhecimentos descartáveis, a sociedade deveria se debruçar diante deste sintoma que é o bullyng e aceitar o desafio de solucionar este triste quadro. Não adianta culpar o jovem sem limites ou a família despreparada. Precisamos mais do que isto. A nossa sociedade ocidental, com sua ênfase no racional e na lógica, se vê indefesa diante da própria natureza humana, que se mostra violenta e caótica, agressiva e ilógica, na maior parte do tempo. Precisamos aprender a lidar com esta humanidade, com o desenvolvimento humano, para podermos atender com eficiência as demandas deste desenvolvimento.

Jovens que praticam bullyng estão manifestando um impulso biológico de autoafirmação. Estão vivendo a hegemonia do mais forte perante o mais fraco. E o mais forte fisicamente, o mais forte no aspecto da liderança, é o que acaba se impondo perante o mais fraco, utilizando este mais fraco como saco de pancadas, como forma de fortalecer a sua autoconfiança e seu domínio perante o grupo. A vítima do bullyng é invariavelmente fraca em quesitos sociais como sociabilidade e força física, o que a deixa vulnerável ao ataque dos jovens em desenvolvimento e que não encontram outra forma de provar o seu valor, de desenvolver o seu potencial humano. Ninguém os está direcionando para que a animalidade não se estabeleça como principal forma de relacionamento com o mundo. Ninguém os está instruindo para que a humanidade vença e domine a animalidade, que o equipamento físico, o corpo e seus recursos, sejam utilizados para a construção, para o bem, e não para a destruição e o mal.

A ignorância a respeito do ser humano e suas necessidades na fase de desenvolvimento permitem que nos concentremos em conhecimentos inúteis, enquanto uma grande gama de informações úteis é deixada de lado. Não adianta simplesmente punir e reprimir, pois são estas somente soluções fáceis e paliativas, que não resolvem o verdadeiro problema. É como tratar um tumor no cérebro com analgésicos para dor de cabeça. As ciências sociais precisam desenvolver este campo de pesquisa e aprimoramento para que soluções possam surgir, para que a indignação e o levantamento dos culpados deixem de ser as únicas medidas tomadas como prática diária daqueles que se propõem a ensinar, formar e civilizar.

Texto de Mariliz Vargas, psicóloga e autora dos livros A Sabedoria do Não e Você É Mais Forte Que a Dor. Site: www.marilizvargas.com.br

(Jornal Virtual Ano 8 - Nº 185 -01/10/2010)