terça-feira, 5 de abril de 2011

Aprovar ou reprovar, eis a questão!

Aprovar ou reprovar, eis a questão!
O que nos faz aprender é a aprovação, a reprovação ou a educação de qualidade? A aprovação automática, praticada nas escolas paulistas, em face do baixo rendimento dos alunos, agora está em vias de revisão. Em lugar dela a proposta é a de reprovar no terceiro, quinto e nono anos do ensino fundamental, caso isso seja necessário. A cada ano, sete milhões de estudantes brasileiros são reprovados, segundo o Relatório de Monitoramento da Educação para Todos, de 2010, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Mas, se é verdade que a repetência traz problemas para a nação brasileira, uma vez que exclui por forçar a evasão, por outro lado, não é seguro que a aprovação automática previna contra esses problemas. Além disso, o argumento de que a repetência onera o erário com custos repetidos com o mesmo estudante também não justifica a aprovação automática: gasto com educação não é custo, mas, sim, investimento – e investimento da cidadania nela mesma, diga-se de passagem.

O debate sobre esse assunto me parece pecar por não ser desenvolvido sob a perspectiva ideológica. Quando muito, ele tem sido proposto sob a luz da economia. E pronto.

Nessa perspectiva, o que pode garantir o aprendizado significativo são as medidas político-educacionais combinadas com decisões pedagógicas em sala de aula. O estudante tem de contar com condições de acesso e permanência dignas na escola, já que, para isso, recolhe uma infinidade cotidiana de impostos – bom lembrar que a escola pública é socialmente mantida.

A par do acesso e permanência dignos, os professores precisam ser melhor preparados, teórica, metodológica, ética e salarialmente para o exercício do magistério, sob pena de não terem ferramentas para perceberem quando o aluno em sala precisa da intervenção pedagógica adequada e de qualidade.

É por isso que a aprovação automática pode significar exclusão ao jogar para o mercado o serviço sujo de não incluir socialmente os brasileiros, nas esferas produtivas e de apropriação de bens materiais, sociais e culturais – uma olhada no setor de recrutamento e seleção para o ingresso no tal mercado de trabalho, para ficar apenas numa dimensão dessa inclusão, evidencia sobejamente como essa exclusão se efetiva.

Ideologicamente, pois, o ato de aprovar, em si mesmo, não garante aprendizado. O meio indicado é a educação de qualidade e o apoio educativo preciso e qualificado ao estudante naquilo que ele precisar para compreender um conteúdo e poder usá-lo significativamente em sua vida cotidiana.

Mas isso, segundo os liberais, “custa”. E custo é tudo o que os adeptos da economia de mercado tentam evitar, confundindo bem comum administrado pelo Estado com empreendimento privado.

Deve ser por isso que os liberais de todas as cores fogem do debate sobre as questões ideológicas que atravancam a melhoria da educação escolar do nosso País: eles não querem dar o braço a torcer ao terem que admitir o manejo ideológico com que operam os assuntos educacionais.

Texto de Wilson Correia – professor adjunto de Filosofia da Educação, no Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – enviado ao Jornal Virtual.

E-mail: wilfc2002@yahoo.com.br

JORNAL VIRTUAL - Ano 9 - Nº 207-25/03/2011
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