segunda-feira, 9 de junho de 2025

Irmã Querubina, a Rocha da Esperança!

    Em tempos em que a esperança parece ser artigo de luxo, há pessoas que a carregam como se fosse bagagem leve, essencial, diária. Assim era Irmã Querubina, Filha de São José do Caburlotto, uma dessas almas raras que caminham pela terra deixando rastros de luz onde só havia lama.



Conheci Irmã Querubina em meio ao caos que se tornava rotina: enchentes frequentes nos arredores do Rio Aricanduva, ali pelos territórios da Paróquia São João Batista, na Vila Carrão. Um cenário desolador — ruas submersas, móveis encharcados, cadernos boiando em águas barrentas, e junto de tudo isso, um povo cansado. Mas bastava olhar para ela, de pé entre as perdas, para lembrar que recomeçar era possível.

    Ela não vinha com promessas vazias. Vinha com as mangas arregaçadas e o coração inteiro. Era como aquela manhã em que as mulheres encontraram a pedra removida do sepulcro — um espanto silencioso e santo. Irmã Querubina também removia pedras: as da desesperança, da indiferença, da desistência.

Movida por uma educação que brotava do coração  e apenas do coração, ela arrebanhava as crianças como quem junta flores num jardim escondido. Chamava cada uma pelo nome. Um nome, um mundo. Tinha a alma grande o suficiente para acolher todos esses mundos. E era isso que fazia: acolhia, incentivava, acreditava.

    Seu vínculo com a comunidade era como se ela tivesse sido semeada ali. Sabia estar em comunhão com as pastorais, com o Pároco, com cada fiel que encontrava no caminho. Era uma presença que gerava ação, uma simbiose de fé e serviço, que dava frutos na evangelização e no cuidado com os mais vulneráveis.

    Nas celebrações da novena de São José, ela estava lá como presença firme, serena, viva. A piedade fervorosa daquelas noites ganhava brilho com a doçura de seu sorriso e com a leveza com que conduzia tudo à glória de Deus. Não havia nela nada de grandioso no sentido mundano, mas tudo de sublime no sentido do Reino.

    E era impossível não se contagiar com seu humor sereno, com sua alegria que não ignorava a dor, mas a transformava. Como se dissesse: “Sim, dói, mas vamos em frente. Deus está aqui.”

    Hoje, ao lembrar de Irmã Querubina, não posso evitar a imagem de alguém que andou de mãos dadas com o Ressuscitado alguém que olhava a lama e via possibilidade, que enfrentava enchentes e via oportunidade de recomeço.

    Ela não só testemunhou a fé. Ela foi fé em forma de gente. Uma verdadeira Filha de São José, aquele carpinteiro silencioso e justo, que constrói mesmo no escuro, que protege mesmo no anonimato.

    Fica aqui meu tributo, não como encerramento, mas como eco. Porque Irmã Querubina continua no nome que ela nunca esquecia de chamar, nas mãos que ela segurava, nas lições que ela plantou em terra molhada.

Obrigada, Irmã Querubina. 

Sua vida foi Evangelho vivido e jamais se perderá.

Galiani. J. A.