O VASO CAIU E QUEBROU
Mais um ano termina e OUTRO JÁ começou. Como tantas outras situações diárias que vivemos tudo passa como num piscar de olhos. O tempo presente é tão passageiro que já não o sabemos mais. Lembranças? Algumas! Talvez as que fizeram sofrer, talvez porque “as filosofias” atuais de vida negam que sofrer seja uma experiência para se lembrar. Como tudo passa inclusive o sofrimento, porque queremos ser felizes. A própria felicidade é um momento, como se nunca tivesse acontecido. As mudanças todas pelas quais a humanidade passa indicam que não podemos ficar parados porque senão, passaremos também e em coro diremos “em nosso tempo não era assim”. O homem e a mulher nunca estiveram tão afinados na luta pelos seus direitos, como também nunca estiveram tão desafinados no cumprimento dos seus deveres. A produção acelerada de coisas produz também, um ser humano acelerado que não tem tempo para nada. Termina um feriado prolongado e estão todos exaustos de “nada”. E assim caminha a humanidade!
O término do ano leva a uma revisão de vida, de princípios, de valores e provoca uma tempestade de propósitos: pais reconhecem seus limites na educação dos filhos e se propõem a fazer melhor no ano que se inicia; filhos assumem que não estudaram, mas que no próximo ano não deixarão para estudar no final; as religiões se penitenciam e fazem alianças para que no próximo ano cumpram com sua missão; os políticos lavam sua alma da lama da corrupção e garantem que nas próximas eleições haverá ética na política; profissionais diversos reconhecem que não se atualizaram, mas que farão cursos buscando melhorar sua qualificação profissional. Todos, absolutamente todos fazem juras de que farão coisas novas e melhores para si e para os outros, inclusive para o planeta.
Mas o “vaso caiu e quebrou”, como quebrou a esperança de Maria e José que exaustivamente procuraram um lugar para que Jesus menino viesse ao mundo; como também quebrou a expectativa do que pediu aos magos que procuravam o rei para adorar, que voltassem e o informasse onde, havia nascido o menino Deus, para que também ele fosse adorá-lo. A queda e o despedaçar do vaso ecoa em todos os cantos e denuncia que jamais o vaso será o mesmo, como o tempo que passou, jamais voltará. Foi preciso as portas fechadas para que o Menino Jesus nascesse, foi preciso magos vindos de longe, para que o rei Herodes soubesse que em seu reinado O Rei nasceu! O “vaso quebrado” jamais será o mesmo, porém nossas ações podem não ser as mesmas e assim o vaso não se quebrará. Como? Podemos abrir as portas para que Jesus menino nasça e cresça em força e sabedoria em nosso coração, em nossas palavras e, sobretudo em nossas ações.
Nossa comunidade educativa entre acertos e erros tem consciência de que “... a essência da educação é a natalidade, o fato de que seres humanos nascem para o mundo” (Hannah Arendt). A natalidade a que se refere Arendt é a que brota do conflito vivido em sociedade, uma vez que esta é uma colcha de retalho de diferentes culturas, e é onde se dá o existir humano.
Educar humanamente é deixar nascer caminhos que superem a “queda e quebra do vaso” impostos pelo social, pelo econômico e pelo político de maneira que a arte de educar trilhe um caminho constante de construção e desconstrução, assim como o humano é, ideia que ecoa na literatura de Guimarães Rosa ao conceituar o humano: “Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão”.
“O vaso caiu e quebrou” é eco de “migalhas de leituras, caídas de uma obra que ignoramos e que tem gosto de pão que ficou ressecando nas gavetas e nos sacos. Migalhas de história, umas bolorentas, outras mal cozidas, e cujo amálgama é um problema insolúvel. Migalhas de matemática e migalhas de ciências, como peças de máquinas, sinais e números que uma explosão tivesse dispersado e que nos esforçamos para montar como um quebra-cabeça. Migalhas de moral, como gavetas que mudamos de lugar, no complexo de uma vida de infinitas combinações. Migalhas de arte (...) Migalhas de aula, migalhas de horas de trabalho, migalhas de pátio de recreio (...) Migalhas de homens!” (Freinet).
O “vaso caiu e quebrou” e quando deixaremos de falar e não fazer o que falamos? Cremos e pautamos nossa prática educacional num espaço democrático com o objetivo de ensinar os alunos a respeito do que é viver em uma sociedade justa e humana independente da raça, classe, sexo ou idade. Para o “vaso não cair e quebrar” é preciso que a escola seja um espaço de confiança, de diálogo, de respeito, de tolerância, de zelo, de liberdade, de compromisso e responsabilidade.
O ano termina e começa de novo, que a natalidade de Jesus Menino nos faça um “vaso novo”!!!
(José Antonio Galiani – Orientador Pedagógico do Col. Mary Ward – jantgal@bol.com.br)
Mais um ano termina e OUTRO JÁ começou. Como tantas outras situações diárias que vivemos tudo passa como num piscar de olhos. O tempo presente é tão passageiro que já não o sabemos mais. Lembranças? Algumas! Talvez as que fizeram sofrer, talvez porque “as filosofias” atuais de vida negam que sofrer seja uma experiência para se lembrar. Como tudo passa inclusive o sofrimento, porque queremos ser felizes. A própria felicidade é um momento, como se nunca tivesse acontecido. As mudanças todas pelas quais a humanidade passa indicam que não podemos ficar parados porque senão, passaremos também e em coro diremos “em nosso tempo não era assim”. O homem e a mulher nunca estiveram tão afinados na luta pelos seus direitos, como também nunca estiveram tão desafinados no cumprimento dos seus deveres. A produção acelerada de coisas produz também, um ser humano acelerado que não tem tempo para nada. Termina um feriado prolongado e estão todos exaustos de “nada”. E assim caminha a humanidade!
O término do ano leva a uma revisão de vida, de princípios, de valores e provoca uma tempestade de propósitos: pais reconhecem seus limites na educação dos filhos e se propõem a fazer melhor no ano que se inicia; filhos assumem que não estudaram, mas que no próximo ano não deixarão para estudar no final; as religiões se penitenciam e fazem alianças para que no próximo ano cumpram com sua missão; os políticos lavam sua alma da lama da corrupção e garantem que nas próximas eleições haverá ética na política; profissionais diversos reconhecem que não se atualizaram, mas que farão cursos buscando melhorar sua qualificação profissional. Todos, absolutamente todos fazem juras de que farão coisas novas e melhores para si e para os outros, inclusive para o planeta.
Mas o “vaso caiu e quebrou”, como quebrou a esperança de Maria e José que exaustivamente procuraram um lugar para que Jesus menino viesse ao mundo; como também quebrou a expectativa do que pediu aos magos que procuravam o rei para adorar, que voltassem e o informasse onde, havia nascido o menino Deus, para que também ele fosse adorá-lo. A queda e o despedaçar do vaso ecoa em todos os cantos e denuncia que jamais o vaso será o mesmo, como o tempo que passou, jamais voltará. Foi preciso as portas fechadas para que o Menino Jesus nascesse, foi preciso magos vindos de longe, para que o rei Herodes soubesse que em seu reinado O Rei nasceu! O “vaso quebrado” jamais será o mesmo, porém nossas ações podem não ser as mesmas e assim o vaso não se quebrará. Como? Podemos abrir as portas para que Jesus menino nasça e cresça em força e sabedoria em nosso coração, em nossas palavras e, sobretudo em nossas ações.
Nossa comunidade educativa entre acertos e erros tem consciência de que “... a essência da educação é a natalidade, o fato de que seres humanos nascem para o mundo” (Hannah Arendt). A natalidade a que se refere Arendt é a que brota do conflito vivido em sociedade, uma vez que esta é uma colcha de retalho de diferentes culturas, e é onde se dá o existir humano.
Educar humanamente é deixar nascer caminhos que superem a “queda e quebra do vaso” impostos pelo social, pelo econômico e pelo político de maneira que a arte de educar trilhe um caminho constante de construção e desconstrução, assim como o humano é, ideia que ecoa na literatura de Guimarães Rosa ao conceituar o humano: “Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão”.
“O vaso caiu e quebrou” é eco de “migalhas de leituras, caídas de uma obra que ignoramos e que tem gosto de pão que ficou ressecando nas gavetas e nos sacos. Migalhas de história, umas bolorentas, outras mal cozidas, e cujo amálgama é um problema insolúvel. Migalhas de matemática e migalhas de ciências, como peças de máquinas, sinais e números que uma explosão tivesse dispersado e que nos esforçamos para montar como um quebra-cabeça. Migalhas de moral, como gavetas que mudamos de lugar, no complexo de uma vida de infinitas combinações. Migalhas de arte (...) Migalhas de aula, migalhas de horas de trabalho, migalhas de pátio de recreio (...) Migalhas de homens!” (Freinet).
O “vaso caiu e quebrou” e quando deixaremos de falar e não fazer o que falamos? Cremos e pautamos nossa prática educacional num espaço democrático com o objetivo de ensinar os alunos a respeito do que é viver em uma sociedade justa e humana independente da raça, classe, sexo ou idade. Para o “vaso não cair e quebrar” é preciso que a escola seja um espaço de confiança, de diálogo, de respeito, de tolerância, de zelo, de liberdade, de compromisso e responsabilidade.
O ano termina e começa de novo, que a natalidade de Jesus Menino nos faça um “vaso novo”!!!
(José Antonio Galiani – Orientador Pedagógico do Col. Mary Ward – jantgal@bol.com.br)