Leia o texto:
A
Escola Sabiá tem duas classes de 3º ano de Ensino Médio, que tem como professores
de Biologia: o Sr. Carlos e a Sra. Soraia. Ao trabalhar o assunto Ecologia,
esses professores decidiram estudar a realidade local e usar o texto "A
caminho do mar", que extraíram do site "Alô Escola". Ambos os professores
estavam preocupados em discutir o tema Ecologia e principalmente a destruição
dos manguezais (agora respeitado!!) de sua cidade (Maragogipe, a 200
quilômetros de Salvador). Boa parte da população dessa cidade vive dos caranguejos,
peixes e mariscos que tira desse manguezal que circunda a cidade. Esse
manguezal era tratado com desdém pela população (servia de depósito de lixo,
suas árvores cortadas e a profissão do pescador, tratada como uma atividade sem
importância), até que os professores Carlos e Soraia resolveram mobilizar os
alunos e professores da cidade de Maragogipe: estudaram o manguezal e passaram
a frequentá-lo com seus alunos. Juntos, todos limparam a área, semearam árvores
e passaram a controlar seu crescimento e o dos animais que voltaram a viver na
lama. As aulas, começaram a ser dadas diretamente no local e hoje todos se
empenham em preservar sua paisagem natural. Terminaram o trabalho (em sala de
aula), com a discussão do texto "A caminho do mar".
Situação
1: Apesar de a professora
Soraia e do professor Carlos terem desenvolvido o mesmo trabalho com seus
alunos, cada um encaminhou de maneira diferente o processo de avaliação. A
professora Soraia, após a discussão do texto "A caminho do mar",
solicitou uma prova escrita a partir do mesmo, cobrando conceitos do texto.
Após a correção, a professora Soraia separou as provas pelas notas A, B, C, D,
E, e entregou-as para a sala, enfatizando somente os erros de seus alunos.
Situação
2: O professor Carlos, antes
da ida para o mangue, solicitou que os alunos falassem a respeito da destruição
do local e o que poderiam fazer para recuperá-lo. A cada ida para o manguezal,
pedia que seus alunos relatassem suas experiências e o que já estavam fazendo
para a melhoria do grande espaço. Aproveitava esses relatos como parte da
avaliação da aprendizagem de seus alunos, (como, por exemplo, o depoimento da
aluna Thaís, "hoje eu sei que o manguezal não é lixo, mas um lugar de onde
tiramos nosso alimento"). Com esses relatos, o professor Carlos podia
avaliar os alunos que tinham mais ou menos facilidade no entendimento do
conteúdo Ecologia. Quanto voltaram para a sala, fizeram como a professora Soraia
e discutiram oralmente o texto "A caminho do mar". A partir das
discussões, o professor Carlos pode anotar as impressões, ideias e atitudes dos
alunos quanto à Ecologia e o Manguezal (este foi mais um instrumento de
avaliação utilizado). Terminado todo o trabalho, o professor ainda pediu que os
alunos escrevessem em um papel as dúvidas que tinham a respeito do assunto
tratado. Muitos teceram elogios às aulas do professor e outros alunos, além dos
elogios, colocaram as dúvidas que restaram. O professor Carlos combinou com a
turma que estava apresentando dúvidas, um momento de recuperação (iria propor
uma pesquisa em livros e revistas sobre o assunto aos alunos), no horário
contrário às aulas.
Com base na situação
educativa apresentadas, segue uma análise das situações
avaliativas apresentadas.
A base provocativa da atividade está no
conceito de avaliação, tema relevante no processo de aprendizagem e objeto de
estudo na disciplina em curso. Estamos diante de duas concepções de avaliação,
ambas se identificam como um registro de resultados acerca do desempenho do
aluno em um determinado período, entretanto diferentes na essência e método.
A reflexão é sobre o conceito de
avaliação classificatória e formativa. No primeiro caso temos a avaliação
classificatória, esta por sua vez é caracterizada pela visão de mundo, de
escola e até de professora que a adota.
Consideremos a avaliação como um ato
político e, fica bem claro a intencionalidade da professora, em uma avaliação
classificatória está reproduzida uma estrutura social dividida em classes; ao
classificar os alunos em A, B, ... determina os que serão dirigentes e os que
serão dirigidos, o que causa exclusão. Com uma visão classista e
classificatória, duas outras características estão em evidência nesta concepção
de avaliação. Ela é uma ação individual e competitiva, com o objetivo de
provar, de mostrar o que “aprendeu”; na avaliação classificatória não está em
primeiro lugar a aprendizagem e o saber, mas na seleção dos melhores para
domesticá-los para o sistema. Por último, poderíamos nesta forma
classificatória de avaliar destacar a força da avaliação em decretar uma
sentença: aprovado ou reprovado. A atribuição de uma nota ao que o estudante
aprendeu ou não, é no mínimo desrespeitoso à potencialidade humana de aprender.
Diríamos, que analisando, conforme proposto, que a escola da professora Soraia,
e ela própria, não assume o compromisso com uma aprendizagem efetiva. A
classificação se põe como uma necessidade dentro da estrutura perversa em que a
escola está fundamentada. O ser humano não é para ser aprovado ou reprovado,
ele tem o direito fundamental à existência, à cultura, ao conhecimento, ao
desenvolvimento.
Em contrapartida a atividade proposta
traz um segundo caso, o do professor Carlos. Aqui a avaliação é formativa, ela
é um instrumento de mediação e fornece informações para melhorar o desempenho
do aluno durante o seu processo de aprendizagem. Neste tipo de avaliação o
próprio estudante é construtor da avaliação, pois é sujeito na trajetória de
sua execução, ou seja seus interesses, aspirações, experiências e reais
necessidades são acolhidos.
Professor e
estudante, na avaliação formativa, interagem por meio de análises e feedbacks,
o que faz identificar, sendo a avaliação um raio x da concepção e identidade da instituição de ensino e sua concepção de
educação e de professor, um enfrentamento do paradigma educacional centrado no
ensino, em que o ato de ensinar é linear e uniforme, sendo responsabilidade do
aluno estudar e aprender.
A avaliação formativa é ao mesmo tempo
prognóstica, formadora, mediadora e reguladora. Prognóstica porque busca fundamentar
uma orientação e ao fazer o diagnóstico da realidade, objeto de estudo
apropria-se da realidade e por isso formadora de opinião e do saber. A dimensão
de mediação fica em evidência quando pelo diálogo a reflexão e ação tornam-se
base para a mobilização, para a experiência educativa e para a expressão do
conhecimento.
Portanto, a avaliação formativa
reguladora traz em sua essência a função sociopedagógica e tem como
pressupostos pedagógicos o Projeto Político Pedagógico, é democrática, como:
elemento articulador; um currículo flexível e contextualizado; uma pedagogia
diferenciada, tendo a pesquisa como princípio; a escola é lócus de aprendizagem
e uma aprendizagem significativa.
Assim, a avaliação formativa não é
excludente tornando-se espaço de significar, de dar sentido, de produzir
conhecimentos, valores e competências fundamentais para a formação humana dos
que ensinam e dos que aprendem.
Referência:
TEIXEIRA, L. P. C.,
et al., Avaliação: aspectos
institucionais e da aprendizagem. Batatais, SP: Claretiano, 2016.