Estamos incorporando de tal forma o ritmo do mundo ultramoderno que fazemos tudo com superficialidade, sejam as tarefas mais corriqueiras ou as mais profundas desta vida. Estudamos, conseguimos até ser aprovados; mas, pouco aprendemos. Oramos, temos até muitos compromissos religiosos; mas, pouco nos aprofundamos na experiência com Deus. Se não é assim, como explicar o fato de sermos ao mesmo tempo pessoas tão religiosas e às vezes tão egoístas e insensíveis frente à realidade dos pobres? São pobres de bens e pobres de atenção. Não lhes garantimos o pão cotidiano e muito menos uma palavra, um minuto de presença solidária, a eles que são os excluídos do sistema. Estamos por demais ocupados para refletir sobre esta urgente questão.
Há movimentos eclesiais cujos membros efetuam visitas missionárias que costumam ser muito válidas, mas este tipo de iniciativa não pode ficar restrito às atividades meramente religiosas que às vezes tendem ao proselitismo.
Acredito que nossa juventude seja bastante influenciada pela cultura dos grandes centros urbanos, disseminada país afora principalmente através da televisão e, por isso, não pensa a vida em comunidade, a não ser aquelas comunidades do Orkut, que têm lá seu valor, mas são o que são: virtuais.
Nesse sentido, já não temos tempo para os outros nem para nós mesmos, de maneira ideal. Pensamentos se sucedem na velocidade dos desejos instigados pela mídia. O que não está no filme, o que não é visto pela tevê nem se acha implícito na letra das músicas vulgares parece antiquado, démodé. Então, segue-se a busca imprudente da felicidade, que não raro termina em estresse e depressão.
Com isso, não pretendo negar a importância genuína do prazer nem vou esperar por uma geração de jovens beatos, como sonham alguns líderes conservadores que pronunciam sermões caducos em nossas igrejas modernas. Às vezes são, inclusive, jovens padres que falam como velhos conservadores. A intenção é boa, mas a eficácia do método é duvidosa.
Parece-me mais proveitoso ajudar as pessoas a integrar suas dimensões afetivas, religiosas e profissionais. Para tanto, é oportuno contar com psicólogos, educadores e artistas, mas principalmente com o próprio indivíduo. Enquanto não houver um reconhecimento íntimo de que estamos trilhando um caminho certo para o estresse, não vamos conseguir melhorar nem fazer melhor também a sociedade.
Tanta ansiedade por fazer e por vencer profissionalmente, afetivamente, traz os nervos à flor da pele, gera medo vago, que pode desembocar em distúrbio do pânico, um pânico que já se faz coletivo, até nestas cidades encravadas naquilo que um dia se chamou de sertão.
O sertão modernizou-se. Recebe os sinais das parabólicas e das antenas de internet, gigabytes de muita pressa, de modismos e pouco tempo dedicado à educação, inclusive à educação dos próprios hábitos. Mas, quem de nós estará imune às novidades boas e ruins de nosso século?
O estresse deve ser individualmente considerado, remoído, orado no silêncio de nosso quarto, e coletivamente discutido para que as pessoas não se tornem escravas de um estilo de vida que traz em uma das mãos o encantamento tecnológico e na outra a aflição da saúde física e mental ameaçada pela pressa, pelo julgamento superficial das coisas e das outras pessoas.
Não é assim que temos atravessado nossas existências? Pouca leitura, meditação quase nula, roupas apertadas e contas a pagar e mais aquela comum ilusão de que os anos já não passam devagar, como acontecia em nossa infância. "Viu como esta semana passou voando?" É o que todos dizem. Nada disso!
É verdade. O planeta está ameaçado, mas ainda não foi alterado o curso do tempo, a não ser dentro de cada um. Portanto, compete a cada um cuidar dos próprios pensamentos; controlar melhor o próprio tempo, conforme já observou Pe. Roque Schneider. Segundo ele, o tempo é como uma mala. Bem arrumada, cabe mais. Um "mais" que bem pode ser "menos", na medida em que escolhemos o que é realmente importante e desprezamos o que é superficial para a jornada. Este é um cuidado que hoje se faz necessário, até mesmo aqui, no sertão.
José Avelange Oliveira é Animador da Fraternidade Ecumênica Sal & Luz, licenciado em Letras (Univ. Estadual da Bahia), com qualificação em Psicologia Social (Univ. Aberta do Brasil) e em Teologia (Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana)
http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=163993