sábado, 28 de agosto de 2010

Conflito: Igreja - Instituição - Carisma.

IGREJA COMUNIDADE DE SERVIDORES


     A Igreja tem em sua constituição o gene de que é para a humanidade a presença de Jesus. Assim assume sua função de seguidora de Jesus e participante de seu “senhorio”. Em Jesus está a fonte da Igreja, por isso a igreja assume de Jesus a qualidade sublime: o serviço. Ele, Jesus deu a vida para a salvação dos homens, assim também a Igreja encerra sua missão no serviço e promoção da humanidade. O relacionamento entre a Igreja e a Humanidade deve estar caracterizado por este espírito de serviço.
     Para a Igreja realizar sua missão de servidora necessita de organização; a organização / estrutura é fundamental para qualquer grupo humano, assim também para a Igreja. Põe-se a questão, Igreja: INSTITUIÇÃO ou CARISMA?
     No Novo Testamento e nas cartas de Paulo encontramos formas de organização das primeiras comunidades cristãs. Esta organização tem o objetivo de manter a comunidade ligada ao testemunho apostólico. O próprio Paulo oferece luzes para o verdadeiro sentido de estrutura manifestado nas primeiras comunidades. Carisma em Paulo tem um sentido diverso do nosso, não é um fenômeno extraordinário. Para Paulo os dons mais ordinários são crismas (cf Rom 12,8; 12,7; 1 Cor 12, 28) e mais ainda são colocados a serviço da comunidade.
     Os carismas, não são dados só a alguns, todos são carismáticos, porém ninguém possui todos os carismas (1 Cor 12, 29). Carisma é toda chamada do Espírito para servir aos outros, é dom de serviço e capacidade de realizá-lo; é a participação no serviço de Jesus Cristo. Esta convocação do Espírito é a partir das circunstâncias históricas e em função das necessidades dos outros.
     Há uma variedade de carismas na comunidade, transitórios e permanentes, ordinários e extraordinários, carisma de organização e espontaneidade, porém todos se unem num serviço comum. O SERVIÇO é o ponto de união de todos os carismas.
     A partir dessa visão neo-testamentária-paulina podemos aclarar uma possível tensão entre instituição e carisma, podendo falar então de Estrutura Carismática da Igreja.
     Sabemos que a cada um é dado a manifestação do Espírito para o bem de todos e que todos tem algo a contribuir para a vida e funcionamento da comunidade cristã, modelo para a humanidade. Porém, os dons têm que convergirem, serem organizados para contribuírem para a realização do bem comum.
     O PONTÍFICE-PRESBÍTERO é o elo de convergência, que coordena estrutura e carismas para que haja harmonia.
     A estrutura aparece, pois, como organização em função da eficácia dos dons, dos serviços suscitados pelo Espírito Santo.
     Em Romanos 12, 4-8 vemos que todos os serviços são importantes e vitais, desaparecendo assim a distinção entre hierarquia e laicato. Os carismas têm o mesmo nível. Esta realidade é experimentada pelas Comunidades Eclesiais de Base hoje quase extintas, cuja estrutura fundamental é a organização dos serviços suscitados pela ação do Espírito Santo, para o bem da Igreja e da humanidade.
     Os serviços são harmonicamente organizados para contribuir para o bem de todo o Corpo-Igreja. Serviço algum será desprezado, mesmo se nem todos carismas tem a mesma repercussão.
     No Documento de Puebla (244) lemos sobre a diversidade como colaboração de cada um para o bem de todos. Na Lúmen Gentium “Deus convocou e constituiu a Igreja – comunidade congregada daqueles que, crendo, voltam seu olhar a Jesus, autor da salvação e princípio da unidade da paz – a fim de que ela seja para todos e para cada um o sacramento visível desta salutífera unidade (LG9). Assim pois, a Igreja enquanto Instituição tem como função indicar os caminhos do amor fraterno.
     A validade da estrutura está em relação à edificação da Igreja. Quando não responde a estes critérios, as estruturas devem ser revistas e modificadas. Por isso, a comunidade deve sentir-se livre frente às estruturas. Quanto mais uma estrutura é importante para a realização de um fim, tanto mais deve ser respeitada e realizada.
     Portanto, um possível conflito entre carisma e instituição é superado pelo próprio espírito da comunidade. A Igreja busca, pois, ser modelo de uma nova humanidade, ser resposta aos conflitos e desigualdades sociais. E o caminho é o mesmo de Jesus: ‘Eu vim para servir... que todos tenham vida e vida em plenitude’.





J. A. Galiani

POLÍTICA E PRÁTICA DE JESUS

POLÍTICA E PRÁTICA DE JESUS


Em ano eleitoral vale a pena pensar em Jesus como um político cuja ação leva em conta a totalidade do ser humano. Há ainda hoje resistências em falar da dimensão político-prática de Jesus. Fala-se que a missão de Jesus foi religiosa, espiritual e que também Jesus veio despolitizar o “messianismo”. Falar da dimensão “política” de Jesus é falar de toda dimensão humana do homem.

A prática política envolve a totalidade da existência humana. A política é um ato de amor, Pio XII diz “a política é a dimensão essencial da caridade”, quer dizer que a Política não é ação de um grupo partidário, ela é o ato pelo qual cresce a comunidade, pelo qual se dá a presença de Deus no mundo. Política é a ação do sujeito coletivo que constrói a aliança, ela é um termo médio, mas significativo para entender a totalidade do mistério de Jesus, sua prática, reações à engrenagem social de seu tempo, conhecer a prática política de Jesus é conhecer a originalidade de sua relação com Deus e com os homens. E conhecer o mistério da pessoa de Jesus é conhecer como Jesus praticou o Amor, prática deixada como testamento para seus seguidores.

A ação política de Jesus tem como base dois pilares: competitivo e pedagógico.
No competitivo é evidente sua prática contra escribas, fariseus, herodianos, etc. Na base pedagógica, Jesus leva sua audiência de uma concentração sobre necessidades básicas para um sentido mais profundo na relação com a natureza, em relações éticas e no sentido da existência humana e do universo.
O conceito de “Prática” (práxis) tem um sentido mais profundo do que o sentido de ação, prática compreende o sujeito coletivo, implica em organicidade, implica em um fim visado. A prática de um sujeito sempre se orienta por uma teoria, uma ideologia e visa a transformação de relações sociais. O sentido total da prática de Jesus aparece em suas ações. Vejamos três níveis da sociedade de Jesus e sua ação.
O primeiro nível é o econômico profundamente relacionado ao TEMPLO. O Templo representava o centro do sistema econômico. O símbolo religioso se tornou meio de fazer riqueza. Circulava pelo templo todo sistema econômico. O templo reunia as bases das contradições judaicas, assim a originalidade da prática de Jesus, irá se definir pela sua posição em relação aquilo que foi para a existência comum. Para todos os Judeus o templo era o lugar, a casa do Pai. Em Jesus o templo é lugar de Deus e não de comercialização (Mt 23,16-22). Jesus se apresenta como substituto do templo, ele vai suprimir o VELHO SISTEMA.

No nível político a ação de Jesus é clara: os pobres. A prática de Jesus retoma o ideal profético. Para Jesus os pobres serão saciados, possuirão a terra, verão a Deus. A realização das promessas de Jesus é sinal da vinda do Reino de Deus. A palavra de Jesus em favor dos pobres é um ponto que fere o SISTEMA, que se fixou em torno do Templo.
O terceiro ponto básico da sociedade de Jesus é a Lei, falamos então do nível ideológico. A Lei se tornou a legitimação do sistema, que se construiu ao redor do Templo. Quanto mais o poder romano se enfraquecia, tanto mais procuravam assegurar o poder, daí a lei do sistema do “puro” e do “impuro”. A Lei se tornou um sistema de opressão (Mc 7,1; Mt 23, 16). E Jesus quer a libertação do homem, desse sistema, por isso sua práxis indica o sentido e núcleo da Lei: o AMOR. Jesus veio para livrar o povo de uma alienação, da separação da consciência e prática à qual o povo era submetido.

Em oposição à estrutura social no tempo de Jesus, nos níveis econômico, político e ideológico está o FILHO DO HOMEM. A palavra de Jesus sobre o Filho do Homem é o centro de sua ideologia (Mc 10,45; 14, 62) e mostra, sua identidade messiânica e o futuro de sua missão. O filho do homem é o homem novo, o homem por excelência.

O homem novo será o centro do mundo novo, isto é: o Reino de Deus. Jesus é o homem significativo, nele se revela o projeto que Deus tem para o homem e para o mundo e se revela o sentido que o homem tem para Deus.
Daí, em ano eleitoral, indagarmos:

1. Quem é POLÍTICO?

2. O que é ser POLÍTICO?

3. A Prática e Política de Jesus auxiliam e sugerem um modelo “POLÌTICO” hoje?







J. A. Galiani

Educação: Caminho para a Mobilização Social

Educação: Caminho para a Mobilização Social


Uma sociedade instruída pressupõe a capacidade de aprendizagem contínua. Educar para a cidadania global é procurar desenvolver a compreensão de que o indivíduo é parte de um todo, um microcosmo dentro de um macrocosmo, parte integrante de uma sociedade. Isso pressupõe uma nova filosofia de vida que exige compreensão da globalidade em que estamos inseridos.

Viver em um mundo globalizado já não é futuro, faz parte de nosso cotidiano, ou seja, as mudanças ocorridas na sociedade implicam em ações para a transformação social. O mundo é dinâmico, independentemente de desejarmos ou não, a evolução ocorre, trazendo a tecnologia, que exige da humanidade não só mudanças na maneira de pensar, mas também na de agir e interagir.

Há muito tempo, a escola deixou de ser um espaço somente para o desenvolvimento cognitivo daqueles que a frequentam, hoje essa instituição deve ser encarada também como um ambiente fundamental para ampliação das relações sociais. Assim, igualdade e diferença devem conviver em harmonia nessa instituição, pois todos, sem exceção, têm o direito à Educação. E, para isso acontecer, precisamos estar preparados para reconhecer e valorizar as diferenças, sem negá-las nem discriminá-las.

Fazer parte dos novos tempos, enquanto professor, não depende apenas de equipamentos de última geração (computadores, lousa eletrônica ...) que permitem uma imensa interação, mas, sobretudo uma revisão da metodologia para alcançar o objetivo e cumprir uma das exigências do nosso século. Interação, integração parecem ser palavras de ordem nas instituições educacionais, entretanto, enquanto o aluno for relegado a um papel receptor, menos diferença a tecnologia fará no aprendizado.

A informática é uma ferramenta que permite compartilhar conhecimento, estimulando o raciocínio e as atividades de pesquisa, propicia a interação, a inclusão de superdotados e portadores de necessidades especiais, para isso é necessário que o profissional domine a ferramenta, tenha boa vontade, receba orientações dos especialistas e seja apoiado pelos gestores da escola, pois oferecer educação de qualidade significa fazer adaptações físicas e pedagógicas, a fim de que ocorra a aprendizagem. Aluno com dificuldade é o desafio do professor, pois faz com que aprendamos mais. Uma escola aberta às diferenças é o desafio deste século: uma escola na qual o princípio da inclusão seja o leme a orientar sua organização.

Sabe-se que para a instituição escolar, seja ela pública ou privada, oferecer a inclusão com foco na aprendizagem, ela precisa promover sua autonomia, ou seja, ter a capacidade de decidir sobre suas ações, atendendo às prioridades dos alunos que fazem parte da educação inclusiva. Uma escola autônoma tem liberdade com responsabilidade, quando se permite julgar pelos seus atos, os quais têm consequências diretamente proporcionais à parcela da sociedade a quem está vinculada.

Uma educação de qualidade é aquela que se manifesta além dos muros da escola, atendendo às necessidades de cada indivíduo.

Enfim, para obter bons resultados com classes multisseriadas, é imprescindível superar os pontos fracos e praticar ativamente os pontos positivos.


“É necessário acreditar que, diferentes, somos todos. Limitados somos sempre em relação a alguma coisa ou a alguém! Misteriosos somos todos, porque insondáveis, inconclusivos e surpreendentes somos como seres humanos.’’    (Gaio, 2006, p.173)


Texto de Fatima Lopes Acar Macedo, mestra em Ciências Sociais, especialista em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica. Email:profatimacar@hotmail.com

Boa leitura!
JORNAL VIRTUAL - Ano 8 - Nº 180 -27/08/2010

O homem é microcosmo, é SER FRONTEIRA, é de ORIGEM DIVINA.

INQUIETAÇÕES!



O ser humano é um risco. Falar do homem é participar de seu mistério. Os predicados utilizados para definir o homem, o descreve em relação ao outro. O homem é microcosmo, é SER FRONTEIRA, é de ORIGEM DIVINA. A humanidade está “em” e “com” Deus, ela é “de” Deus e “para” Deus.

O ser humano está voltado para o futuro que é de uma só vez, evento e decisão para o homem. E como o futuro tem como objeto ‘o que ainda não é’, tem em vista um risco. Risco de querer ser humano. O risco pessoal, de cada ser humano faz parte da grande história da humanidade, que é constantemente contrariada pelo mistério do mal. O risco a que está submetido o homem o coloca em tensão para a plenitude, isto questiona sua atuação política e a vida de toda a comunidade humana.

A fidelidade à felicidade e ao bem deveria forçá-lo a assumir a luta contra o mal e criar condições de vida humana para todos, mas infelizmente a lógica do poder e da dominação leva os homens a dominar e manipular, a serem agressivos.

A fidelidade às exigências do amor e da justiça, é assim ameaçada pela injustiça e pelo mal. A comunidade humana deve perseverar na busca do bem ou o mal predominará; é uma opção a ser vivida com fidelidade, até que todos se tornem sujeitos de libertação.

Numa humanidade que deve ser libertada e se tornar libertadora é necessário que cada grupo assuma sua responsabilidade na história e tentem fazer o que os outros não conseguiram fazer, e isto será possível se o desejo do bem comum se tornar para cada um, fonte de inspiração e doação, contrariar está aspiração é a origem de lutas e discórdias, promover o processo de humanização é uma tarefa da qual ninguém pode fugir, e este é o risco permanente do homem.

J. A. GALIANI