IGREJA COMUNIDADE DE SERVIDORES
A Igreja tem em sua constituição o gene de que é para a humanidade a presença de Jesus. Assim assume sua função de seguidora de Jesus e participante de seu “senhorio”. Em Jesus está a fonte da Igreja, por isso a igreja assume de Jesus a qualidade sublime: o serviço. Ele, Jesus deu a vida para a salvação dos homens, assim também a Igreja encerra sua missão no serviço e promoção da humanidade. O relacionamento entre a Igreja e a Humanidade deve estar caracterizado por este espírito de serviço.
Para a Igreja realizar sua missão de servidora necessita de organização; a organização / estrutura é fundamental para qualquer grupo humano, assim também para a Igreja. Põe-se a questão, Igreja: INSTITUIÇÃO ou CARISMA?
No Novo Testamento e nas cartas de Paulo encontramos formas de organização das primeiras comunidades cristãs. Esta organização tem o objetivo de manter a comunidade ligada ao testemunho apostólico. O próprio Paulo oferece luzes para o verdadeiro sentido de estrutura manifestado nas primeiras comunidades. Carisma em Paulo tem um sentido diverso do nosso, não é um fenômeno extraordinário. Para Paulo os dons mais ordinários são crismas (cf Rom 12,8; 12,7; 1 Cor 12, 28) e mais ainda são colocados a serviço da comunidade.
Os carismas, não são dados só a alguns, todos são carismáticos, porém ninguém possui todos os carismas (1 Cor 12, 29). Carisma é toda chamada do Espírito para servir aos outros, é dom de serviço e capacidade de realizá-lo; é a participação no serviço de Jesus Cristo. Esta convocação do Espírito é a partir das circunstâncias históricas e em função das necessidades dos outros.
Há uma variedade de carismas na comunidade, transitórios e permanentes, ordinários e extraordinários, carisma de organização e espontaneidade, porém todos se unem num serviço comum. O SERVIÇO é o ponto de união de todos os carismas.
A partir dessa visão neo-testamentária-paulina podemos aclarar uma possível tensão entre instituição e carisma, podendo falar então de Estrutura Carismática da Igreja.
Sabemos que a cada um é dado a manifestação do Espírito para o bem de todos e que todos tem algo a contribuir para a vida e funcionamento da comunidade cristã, modelo para a humanidade. Porém, os dons têm que convergirem, serem organizados para contribuírem para a realização do bem comum.
O PONTÍFICE-PRESBÍTERO é o elo de convergência, que coordena estrutura e carismas para que haja harmonia.
A estrutura aparece, pois, como organização em função da eficácia dos dons, dos serviços suscitados pelo Espírito Santo.
Em Romanos 12, 4-8 vemos que todos os serviços são importantes e vitais, desaparecendo assim a distinção entre hierarquia e laicato. Os carismas têm o mesmo nível. Esta realidade é experimentada pelas Comunidades Eclesiais de Base hoje quase extintas, cuja estrutura fundamental é a organização dos serviços suscitados pela ação do Espírito Santo, para o bem da Igreja e da humanidade.
Os serviços são harmonicamente organizados para contribuir para o bem de todo o Corpo-Igreja. Serviço algum será desprezado, mesmo se nem todos carismas tem a mesma repercussão.
No Documento de Puebla (244) lemos sobre a diversidade como colaboração de cada um para o bem de todos. Na Lúmen Gentium “Deus convocou e constituiu a Igreja – comunidade congregada daqueles que, crendo, voltam seu olhar a Jesus, autor da salvação e princípio da unidade da paz – a fim de que ela seja para todos e para cada um o sacramento visível desta salutífera unidade (LG9). Assim pois, a Igreja enquanto Instituição tem como função indicar os caminhos do amor fraterno.
A validade da estrutura está em relação à edificação da Igreja. Quando não responde a estes critérios, as estruturas devem ser revistas e modificadas. Por isso, a comunidade deve sentir-se livre frente às estruturas. Quanto mais uma estrutura é importante para a realização de um fim, tanto mais deve ser respeitada e realizada.
Portanto, um possível conflito entre carisma e instituição é superado pelo próprio espírito da comunidade. A Igreja busca, pois, ser modelo de uma nova humanidade, ser resposta aos conflitos e desigualdades sociais. E o caminho é o mesmo de Jesus: ‘Eu vim para servir... que todos tenham vida e vida em plenitude’.
J. A. Galiani