sábado, 12 de junho de 2010

dia dos namorados "O sagrado no mistério do namoro, por Marcelo de Barros..."

O sagrado no mistério do namoro, por Marcelo de Barros


Nos meios de comunicação e na vida de muitos jovens, esta semana é dominada pelas comemorações do dia dos namorados. O comércio promove tudo o que pode para lucrar mais. Talvez, por causa disso, muitos eventos em torno desta data recorrem a certo romantismo, com tal apelo emocional que, dificilmente, escapam ao que, popularmente, se classificaria como brega. Entretanto, no mundo da internet rápida, no qual as pessoas namoram virtualmente e há até quem combine casamento sem nunca ter encontrado realmente a pessoa em questão, o namoro clássico pode ser excelente instrumento para uma aproximação gradual da outra pessoa e um útil aprendizado da bela, mas exigente arte de amar. Nos anos 60, a “arte de amar” foi título e tema de um livro do psicólogo norte-americano Erick Fromm. Ele nos ensinava que, embora o amor corresponda a um desejo natural e a um impulso instintivo de todo ser humano, na realidade, amar é mais do que isso. Mesmo se, nas pessoas, o amor parece ser algo espontâneo, supõe um aprendizado, na maioria das vezes, lento e progressivo. Tanto na cultura urbana, como nos ambientes mais rurais, quem namora aprende a lidar com o outro como alguém que é íntimo e, ao mesmo tempo, sempre um mistério sagrado a ser contemplado e assumido como tal, mas nunca totalmente decifrado.

Aparentemente, o namoro nada teria a ver com a fé e a espiritualidade. Entretanto, em várias tradições religiosas, a aproximação amorosa de duas pessoas é vista como sinal e profecia da intimidade de Deus. Na Bíblia, o profeta Jeremias lembra ao povo de Israel a travessia do deserto, como tempo do namoro com o Senhor (Jr 2). Oséias diz que Deus promete ao povo cativo: “Vou de novo conduzi-la ao deserto e falar ao seu coração” (Os 2, 16 ss). No tempo das primeiras comunidades cristãs, o livro do Apocalipse contém uma carta à Igreja de Éfeso, na qual o Cristo apela: “Volta ao primeiro amor da tua juventude”.

Na Bíblia, o deserto é um lugar geográfico que para o povo dos hebreus representou o tempo do aprendizado do amor solidário, da experiência de ser livre e de descobrir mais profundamente a intimidade de Deus. Com a evolução da revelação divina, o termo “deserto” se tornou símbolo de todo caminho para a interioridade. Ninguém precisa de Bíblia para compreender porque quem namora gosta de lugares mais retirados e discretos. O amor precisa de momentos e de espaços assim, não apenas para experimentar a relação sensual. Esta pode ser profundamente espiritual e sagrada, mas a intimidade da relação amorosa serve também para que as pessoas se encontrem de coração a coração. Então, cada um/uma pode estimular a outra pessoa a uma viagem mística até o mais íntimo de si. Ali, como em um jardim secreto, no qual só quem é iniciado penetra, Alguém mais íntimo a nós do que nós mesmos nos espera e nos renova na inefável arte de amar.

Esta arte precisa ser desenvolvida por toda a vida, independentemente de idade e condição social. Há poucos meses, na Itália, partiu para a outra dimensão da vida, uma poetisa que, durante anos, foi candidata a prêmio Nobel de literatura. Através de um amigo comum, conheci e me tornei amigo de Alda Merini. Era uma mulher muito original. Viveu em Milão, quase sempre sozinha, mas, até seus quase 80 anos, era sempre possuída por uma intensa busca do amor apaixonado e romântico. Uma vez, me mostrou vários de seus poemas. Mesmo sem ter a necessária veia poética, traduzi alguns e ouso partilhar com vocês um deles, transcrito como prosa. Faço-o, em memória da querida Alda Merini e o dedico a toda pessoa apaixonada. Chama-se : “O namorado”.

“Todos perguntam quem é meu namorado. Querem saber com quem gosto tanto de, durante o dia, falar e por noites inteiras tagarelar.

Descobriram que não falo com ninguém e com este ninguém intimamente converso. Chamaram-me louca porque eu falava com tua sombra e porque sempre te via, presente no meu aconchego. Eu te via e ainda vejo sobre as paredes, a te mover. Contigo caminho no lento vagar das horas e em meu corpo imprimes o teu sabor. Deitamo-nos como no ar e tu teces em minha alma arabescas posições de amor.

Não vais à Igreja, à devoção, simplesmente para ficares perto de mim, porque eu mesma sou tua prece, tua canção. Eu te vislumbro até na escuridão e de ti não me separo, nem na mais cruel solidão.

Sei que me procuras no umbral da janela, esperando o xeque-mate da minha vida, qual cavaleiro do rei e do bem. Estás presente na casuarina que geme, como na espiral da morte que se pressente e vem.

As vezes, dá-me a sensação de te seguir até o além, quando me levam de novo a um hospital psiquiátrico, somente porque te quero bem”.

http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=15158&cod_canal=86

último depoimento de Pedro Fukuyei Yamaguchi Ferreira, 27 anosO missionário integrava o Projeto Missionário Sul 1 (São Paulo) e Norte 1 (Amazonas e Roraima) e faleceu no dia 1º de junho

Grande desafio: o depoimento de um missionário
Publicamos o último depoimento de Pedro Fukuyei Yamaguchi Ferreira, 27 anos, concedido ao Informativo, do Regional Sul 1 poucos dias antes da sua morte em São Gabriel (AM). O missionário integrava o Projeto Missionário Sul 1 (São Paulo) e Norte 1 (Amazonas e Roraima) e faleceu no dia 1º de junho após ser atingido por uma correnteza na Amazônia.
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Logo que cheguei em Manaus conheci o pessoal do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e alguns índios do povo Suruaha, que vivem ao sul da Amazônia e lá estavam para tratar da saúde, na Funai (Fundação Nacional do Índio). Eles não vestem roupas e ainda vivem sem influência branca. Por entenderem que os idosos não vão ao paraíso, os Suruaha morrem jovens pela ingestão nasal de uma substância venenosa. Sua população é de cerca de 140 pessoas. Esse foi meu primeiro contato com os povos indígenas, pessoas de cultura diferente e com outras idéias e tradições. Emocionante e inesquecível!

Sobrevoando a selva Amazônia a caminho de São Gabriel da Cachoeira (AM), percebi a imensidão dessa região. São quilômetros infindáveis de matas e de rios. Logo que cheguei em São Gabriel, fui recebido por uma chuva e um vendaval que arrancaram o telhado do prédio ao lado de nossa casa. Era a natureza me dando boas-vindas...

Tenho feito o meu trabalho na cadeia da cidade, onde a maioria dos cerca de 30 presos cumpre pena por homicídio. São jovens indígenas que, alcoolizados, cometeram crimes. Pó aqui, o alcoolismo é o grande problema nas famílias. Além das drogas, também encontradas em abundância. Visitamos os familiares dos presos e procuramos atender às suas necessidades materiais mais imediatas. Essas visitas nos possibilitam conhecer mais profundamente a realidade social.

Visitei ainda uma comunidade do povo Baniwa, no rio Içana. Eles vivem da pesca e da roça, indo à cidade somente quando necessário. Os problemas surgem aí, quando a necessidade de adaptação ao novo lhes subtrai o orgulho de sua origem, de sua língua, de seus costumes, sobretudo entre os jovens. Os Baniwa ainda vivem sua cultura e suas tradições.

Tenho participado de muitos encontros e de reuniões com o Conselho Tutelar, o Conselho de Direitos Humanos, a Pastoral da Juventude com as Polícias Civil e Militar, juízes de Direito e órgãos da prefeitura para entender melhor as particularidades da região. Mas já percebi que, aqui, o filme é igual ao de outras regiões do País. A lei privilegia os poderosos que comandam a cidade, subjugam os indígenas e agem à margem da lei. Muitas das autoridades são coniventes a situação. O desafio para atuar neste contexto é grande e exige paciência.

Espero manter a fé e buscar sabedoria para enfrentar os percalços. Conto com a oração de vocês!

João Pedro Fukuyei Yamaguchi Ferreira, advogado

Publicado na edição de junho, nº 187 do Informativo Regional Sul 1 da CNBB

artigo da educadora Soraya Lopes, professora de Informática e Robótica Educacional de São Paulo, que apresenta sua visão particular sobre a educação.

Professoras do Século XXI: conflitos que adoecem


Quem não teve em sua vida uma professora que foi seu exemplo? Eu tive algumas que estão, até hoje, em minha memória e no meu coração. Não há muito tempo, encontrávamos apenas mulheres como professoras. Na atualidade, ainda encontramos uma maioria de mulheres como professoras, principalmente na Educação Infantil e Fundamental I. Portanto, dedico esta crônica a essas mulheres maravilhosas!!!

Você já se perguntou por que se tornou professora? Ainda mais... Por que continua na profissão?

Tenho um palpite. Vocês são movidas pela Paixão! Sim... Paixão! A Paixão em Educar!

Pertencemos à geração da busca incessante do conhecimento, mutável, improvável, surpreendente, libertador. Do professor educador, pesquisador, mediador, flexível, irrepreensível... o Professor Show! Das Educações Tecnológica e Inclusiva.

Que magnífico! Os tempos mudaram! Mas você está preparada para ser uma professora do século XXI?

Despenca sobre nós, professoras, uma avalanche de deveres e responsabilidades. Uma carga um tanto pesada, física e emocional. A física, quase sempre, conseguimos superar. Mas, e a emocional?

Encontramos muitos estudos a esse respeito e nada animadores. Quantos conflitos enfrentamos e suportamos dentro e fora da sala de aula? Dentro, quando estamos com nossos alunos, e fora, quando prestamos contas para nossos gestores. Sem mencionar a parte burocrática – como planejamento, diários, reuniões de pais, atividades extracurriculares, relatórios e mais relatórios... e por aí vai...

Muitas vezes, temos ainda jornada dupla... e tripla, quando chegamos em casa. Quando um aluno não se adapta a uma determinada turma, é prontamente transferido para outra a fim de que os objetivos pedagógicos sejam alcançados. E a professora? Tem esta mesma chance de adaptação caso necessite? Na escola particular, que não deixa de ser uma empresa, nossos gestores analisam nosso currículo, nosso perfil e decidem nossa vida pedagógica. Se formos “aprovados” para o próximo ano, muitas vezes nem sabemos para qual turma lecionaremos.

Observo excelentes professoras tolhidas da sua liberdade de ensinar em prol de um sistema educacional pautado em filosofias escritas, mas não praticadas. Um sistema de procedimentos e comportamentos moldados por critérios não esclarecidos e que, por vezes, vão ao desencontro daqueles que acreditamos. “Meninas” recém-formadas são “atiradas” em salas de Educação Infantil, porque não é fundamental ter experiência. Será? E, da noite para o dia, tornam-se “mães” de várias criancinhas (umas 15, sendo bastante otimista). É a prova de Fogo! Somos avaliadas constantemente. O quê é avaliado? Os critérios são bem definidos? O perfil da sua turma é considerado?

É assim a Professora do Século XXI: completa! Portanto, estude... estude... estude... atualize-se.

Realmente... os tempos mudaram! A educação também!

A qualidade, penso eu, não é mais certificada por ser escola pública ou particular, classes A, B ou C... Quem rege a qualidade da educação é a Equipe Pedagógica, toda a equipe, desenvolvendo um trabalho de união, de parceria, de companheirismo e, acima de tudo, de igualdade e respeito.

Professoras, não desanimem! Vocês são o coração da escola. Não um simples coração, mas um coração extremamente apaixonado! Gestores, registro aqui o meu alerta: cuidem de suas professoras porque elas estão doentes! Uma doença invisível, mas que pode matar. A doença da alma!
Texto de Soraya Lopes, pós-graduada em Educação e professora de Informática e Robótica Educacional na rede particular de ensino da cidade de São Paulo e Capacitação de Professores. Email: prof_soraya@yahoo.com.br


Jornal Virtual 169 - 11062010