domingo, 5 de junho de 2011

Um ano de contagem!

A todos que visitam meu blog, muito obrigado!

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Galiani

O Português são dois. Ou vários

Olá gestores e educadores,


Na semana passada, o livro didático “Por uma Vida Melhor” virou motivo de polêmica nacional ao incluir frases com erros de concordância em uma das lições presentes na publicação, trecho este que aborda as diferenças entre a norma culta e a falada. O texto abaixo, escrito pela professora de Português e doutoranda em Letras pela Universidade Mackenzie-SP, Carmen Valle, afirma que a discussão não deve ser a respeito da comparação feita pelo livro e sim a respeito do método de ensino das escolas atualmente. E você, o que pensa sobre isso? Será que o livro está certo em abordar estas diferenças? Veja mais detalhes no texto a seguir, produzido especialmente para os leitores do Jornal Virtual.

Boa leitura!

O Português são dois. Ou vários

Uma enorme e complexa polêmica foi criada em torno do livro Por uma Vida Melhor, distribuído pelo MEC. A importância desse debate, no entanto, está na oportunidade de clarear questões linguísticas e pedagógicas capazes de promover uma mudança positiva no ensino de língua. E não nas críticas aferradas.

É sabido que a universalização do ensino trouxe aos bancos escolares as classes populares que antes não tinham acesso à educação. Quem frequentou a escola pública dos anos 70 deve se lembrar de que a escola era para a elite e era a elite que ensinava nessas escolas. Naquela época, vínhamos de casa já falantes da norma padrão. O cenário, hoje, é outro; e os atores vêm de famílias compostas por, muitas vezes, nenhum ente alfabetizado. É obrigação da escola ensinar a norma padrão? Indubitavelmente, continua sendo. O fato é que Drummond estava certíssimo: “O português são dois: o outro, mistério.” É nessa constatação que nós, professores de português e linguistas, nos baseamos para defender a ideia de que há várias línguas portuguesas, ou brasileiras, habitando o mesmo espaço.

Para um aluno que chega à escola, falante de uma variante linguística de ordem diastrática (nível social), e que faz uso, para se comunicar, de frases como “nóis pega os peixe”, é improdutivo exigir que compreenda e apreenda as regras da gramática normativa de uma hora para a outra. Parece simples, “Você fala errado! Não importa que seus amigos e sua família se entendam nessa língua. O certo é ‘nós pegamos os peixes’”. Isso não funciona. Basta verificar a atuação pífia de nossos alunos nos instrumentos de avaliação. Esses alunos integram o imaginário coletivo de que a educação é a única ponte possível para se chegar à tão sonhada e necessária mobilidade social. E, de fato, deveria ser.

É compreensível que o olhar daqueles que não enfrentam o dia a dia da sala de aula e tomam por base os resultados vergonhosos do Brasil, em exames como o PISA, seja mesmo de indignação. Mas a questão é bem outra.

A verdade é que o aluno precisa, sim, saber que a variante de que ele faz uso não é “errada”, que essa língua de que ele se utiliza, sistematizada e interiorizada por seu grupo social, é válida. Mas é apenas uma das tantas modalidades linguísticas que um país deste tamanho possui. A norma padrão também era uma variante e foi escolhida como padrão por ser a variante linguística do grupo que gozava de melhor condição socioeconômica. Coexistiam as variantes e ainda coexistem. Não há necessidade de eliminar uma para que a outra seja única. É um olhar míope sobre nossa realidade linguística.

Enfim, ensinar, de início, norma padrão a alunos cuja biografia linguística abarca outra variante é o mesmo que, grosso modo, ensinar as regras da língua francesa a falantes de espanhol. Ninguém entende ninguém. E o resultado é o que temos, o fracasso do ensino da língua. O conceito está corretíssimo. Equivocado é o caminho percorrido. A norma padrão, cujo ensino é, sim, obrigação da escola, deve ser o ponto de chegada e não de partida. Essa é a grande questão. O ensino da língua deve partir da observação e do entendimento da variante do aluno para a reflexão e a apreensão das normas da língua padrão.

Esse livro não é o absurdo que parece ser. Absurdo é cortar a voz de um povo e classificá-lo como melhor ou pior pela variante que usa. Absurdo é o professor, que professa diariamente nos mais diversos rincões deste país, não ter formação e valorização necessárias para a reinvenção de suas práticas pedagógicas e dos caminhos a serem percorridos para o ensino efetivo da língua. Isso, sim, é um crime!

Texto de Carmen Valle, professora mestre de Português e doutoranda em Letras pela Universidade Mackenzie-SP. E-mail: clbvalle@uol.com.br

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http://www.profissaomestre.com.br/swf/2010/revista_pm.html