Senhores pais permitam uma intromissão de um educador em processo de educação. Dias desses um amigo pedagogo narrou que passando pela rua onde mora, já noite, ouviu gritarem seu nome. Ficou satisfeito, pois parecia um grito de amizade, de saudades, de alguém que não era visto há muito tempo, e não um alguém qualquer, mas um alguém que lhes tinha sido importante. De repente em alta voz (gritos) seu nome ecoava por entre os prédios da rua, não mais gritos de alegria, de saudades ou de reconhecimento, mas gritos de desabafo (agora posso gritar – fazer o que bem entender) acompanhados com palavrões. Narrou o pedagogo que seu nome ecoava, em todos os cantos, com adjetivos depreciativos.
Tomado pela dor, pela decepção, pela irá voltou. Dirigiu-se à grade do prédio onde estavam os jovens, alguns correram e pra sua decepção outros vieram até a grade e, o saudaram. Estavam bêbados! Esse amigo pedagogo, não exitou e retribuiu os elogios pedindo que um dos bêbados avisasse quem o tinha agredido dando esse recado: “não sou o que disseram, porque não nasci da mãe deles”. Silenciaram!!! Congelaram!!!
Perguntaram: você está falando isso? Eles vão te arrebentar de porrada! E, o amigo pedagogo usou da pedagogia, que muitos pais deveriam usar com seus filhos, chamou-os à responsabilidade e se quisessem, poderiam vir “para a briga”. É claro que pelo que, o conheço isso jamais aconteceria, talvez viriam e, certamente esse amigo apanharia. Os jovens bêbados pediram desculpa pelos outros e, nos olhos tinham a sentença: fizemos besteira!
Senhores pais, até quando vocês verão seus filhos como responsáveis e donos de suas vidas? Como podem crer que jovens embriagados com vosso dinheiro, com a mesada que vocês dão a eles serão homens e mulheres descentes, responsáveis, comprometidos, coerentes, verdadeiros, justos e honestos?
Esses jovens certamente são frutos da pedagogia materna e paterna, pedagogia que não vê a hora dos filhos estar seguindo a vida deles para não mais incomodarem. Parece absurdo dizer isso, dizer que tem pais que pensam assim. Na verdade não pensam isso, o que querem é que seus filhos vivam bem e, que não dêem mais trabalho porque já cresceram. Acordem pais! Eles cresceram, mas não são autônomos vocês estão financiando seus filhos para o mundo do consumo, do prazer sem freio, do beber inconsequente, do desrespeitar a própria vida e, o que esperar que digam e façam pela vida do outro? Não poderíamos esperar outra coisa de jovens assim, senão que maltratassem quem os acolheu e estendeu a mãe enquanto estavam sob sua tutela educacional.
Vejam o recente caso: depois de várias tentativas frustradas de agendar com os responsáveis por um adolescente um atendimento pedagógico, com o intuito de dialogar com eles para interferir de alguma forma na postura do aluno, para que se comprometa com os estudos, o agendamento foi feito. Arranquei um sofrido bom dia dos responsáveis e imediatamente um deles olhou o relógio e disse “vamos logo, seja objetivo que tenho o que fazer”. Bom, não tive dúvidas, minha educação não permitiu que fizesse a mesma coisa, mas não fiz vista grossa a tão absurda postura, de um adulto que se diz pai. Apresentei um documento que está registrado o dia a dia do aluno e, pedi que os responsáveis assinassem. Agradeci e coloquei-me a disposição para, se necessário, contribuir com a educação escolar do aluno e, num tom irônico o responsável pelo aluno disse “se ele tirar nota ele passa de ano? Então, tá!”.
O que esperar de um filho que tem um pai assim? Bom, cada um é um! Certamente esse filho ficou envergonhado da postura do pai; na sua face ficou dito o que muitos adolescentes querem dizer aos seus pais: é por isso que sou assim. É por isso que a escola chamou vocês! Quero um pai, quero uma mãe! Quero atenção! Quero cuidado! Quero carinho! Quero que se preocupem comigo! Quero que sejam presente na vinha vida!
O que dizer e fazer frente a essas duas narrativas? Não há fórmulas, não há receitas, não há soluções. Os adultos, pais, querem ser diferentes da forma com que foram seus pais, e por isso fazem o que não sabem fazer: educar seus filhos como queriam ter sido educados. Piores aqueles que dão aos filhos a liberdade que não tiveram; dão aos filhos a autonomia que não tiveram e fazem isso conscientes que o mundo está mudado, que as crianças, adolescentes e jovens estão num mundo que exige uma visão e tratamento diferente.
Sim sem sombra de dúvidas que precisam ser compreendidos dentro do contexto em que vivem, porém a EDUCAÇÃO deve estar sobre toda e qualquer realidade vivida.
Pais percebam que seus filhos cresceram na estatura e não no juízo. Percebam que o anonimato social impera dentro de cada um de nós e nos faz cegos dentro de nossa própria casa. Sejam verdadeiros com vocês e façam não o que vossos pais não fizeram por vocês, mas façam o que vocês devem fazer: é o olho do dono que engorda o porco. Sim pais, sejam os primeiros a estudar, para exigir dos filhos o estudo; é preciso que sejam educados, para que seus filhos sejam educados; é preciso que façam boas parcerias para que os seus filhos façam bons amigos; é preciso que desçam do pedestal e pose de “bons pais” para que seus filhos percebam que a vida tem decepções, porém juntos superarão qualquer derrota.
Não pais, não pensem que a escola é inimiga de seus filhos, pelo contrário é lá que eles constroem sonhos, constroem futuro no presente! A escola é para seus filhos o que vocês não são. Os seus filhos são para a escola o que vocês são! Juntos: alunos, pais e escola poderão encontrar caminhos que levem à superação do consumo desenfreado de coisas inúteis, de bebida alcoólica, de prazer sem amor, de felicidade sem dor, de ganhos sem perda.
O texto sagrado judaico-cristão sentencia o futuro de nossos filhos “Onde está o teu coração, aí está o teu tesouro”. Olhem para as prisões: são jovens! Olhem para as mortes no trânsito: são jovens! Olhem para o tráfico: são jovens! Olhem para os dependentes químicos: são jovens! Olhem para a violência: são jovens! Olhem para vocês, vocês não são mais jovens não precisam ser como os vossos filhos, para que eles lhes confessem o que fazem e, com quem andam. Sejam adultos, com os pés no chão sem a necessidade de concorrerem com vossos filhos. Sejam pais, simplesmente pais, capazes de dizer SIM e NÃO! Que vosso SIM seja SIM, que vosso NÃO seja NÃO!
J. A. Galiani