domingo, 31 de março de 2013

FELIZ PÁSCOA!

FELIZ PÁSCOA!

Os desejos de uma feliz Páscoa são muito mais que sentimentos de paz, de bem, de prosperidade, de amizade e de felicidades. Na noite de hoje desejar Feliz Páscoa é antes de tudo dizer em que acreditamos, dizer qual nosso projeto de vida, dizer o que somos, dizer o que fazemos e o que pela vida testemunhamos.

Meus votos de Feliz Páscoa nascem da oração suscitada nas liturgias pascais que passo a expressar e desejar a você:
1.       Na missa do Santo Crisma pela homilia de D. Edmar (Região Episcopal Belém – quarta feira à noite) e de D. Odilo (Cardeal Arcebispo de São Paulo – quinta feira pela manhã) fomos desafiados a compreender nossa pequenez e passemos a rezar uns pelos outros e que nossa oração diária seja o sustento de nossa caminhada;
2.       Não falte em nossa vida a Eucaristia, pão descido do céu para dar vida ao mundo; a Eucaristia não é um troféu, mas é alimento da vida, por isso faça dela seu alimento diário;

3.       Na quinta feira a noite, na Homilia do Pe. Renato, o fruto da eucaristia é o serviço, é a caridade; sejamos homens e mulheres do amor, não um amor qualquer, mas do amor de Deus por nós. Primeiro porque somos o povo escolhido e jamais esquecido pelo nosso Deus, segundo porque recebemos de nossos pais e antepassados uma aliança, uma aliança eterna entre Deus e nós; vivamos um amor partilha, onde o que temos seja o suficiente, sem excesso de bens e sobra para o desperdício. Que a eucaristia nos proporcione viver em ação de graças por tudo o que temos e somos;

4.       Sexta feira Santa, pela homilia do Pe. Renato rezei: quão grande é nosso Deus! Que amor profundo tem Jesus por nós; na dor e sofrimento, mesmo que sintamos a ausência de Deus – “porque me abandonaste” disse Jesus na cruz,  confiemos e nas mãos d’Ele entreguemos nossa vida.
5.       Noite Santa que irrompe das trevas a luz. Vive Jesus! Vive a luz! Viva Jesus! Viva a Luz! Se cremos na ressurreição, diz Pe. Renato, porque a tristeza, porque a depressão, porque o desânimo, porque não ver que o maior dos obstáculos já vencemos, a morte não tem mais poder sobre nós!  



Isso é o que vos desejo na Páscoa do Senhor! Que vivamos intensamente a vida que Ele nos doou, de maneira que busquemos sempre ser e fazer como Ele nos ensinou e não sintamos medo diante do “nada” que nos ameaça, que nos abala que nos assusta, que nos mata! Para o nada temos o TUDO e, o tudo nos fortalece e nos impulsiona para vivermos tal qual Ele viveu e, nas quedas uma certeza: há alguém rezando por nós; Cristo se dá no pão para nosso alimento diário; a caridade nos impulsiona a acolher, servir e repartir nossa vida e o que temos; o amor de Deus por nós é enorme, imensurável e incondicional que ressuscita seu Filho para nossa Salvação.

“Porque procurais entre os mortos, aquele que está vivo?”

sexta-feira, 29 de março de 2013

Feliz pelo meu aniversário!


Dia 26 de março, dia de meu aniversário. São 50 anos de uma história de vida e uma vida de histórias. Não há como não lembrar a luta e sacrifícios de meus pais para me criar e criar meus irmãos Antonio Carlos, Luiz Antonio e Eliana.  Meu pai funileiro, trabalhador, homem rude e no contexto que vivia e condições financeiras, sociais, econômicas e afetivas de sua época fez o pode. A ele minha gratidão.!
Mãe. Que singeleza! Seu afeto e amor incondicional me fez o homem que sou hoje, a ela toda minha adoração e amor. Sei o quanto a fiz sofrer por escolhas que fiz e faço em minha vida. De minha mãe aprendi o amor a Deus e à Igreja, dela e de sua luta aprendi jamais desistir. Trabalhadora, grande costureira, que de 24 horas de seu suor nos sustentava. 

Minha mãe além de costureira foi pintora, pedreira, cultivadora de uma horta e quantas e quantas mais coisas ela fazia. O fazer tantas coisas a tornou uma mulher de fibra e lutadora. Não me esqueço de que quando criança eu queria um forte apache (índios de plástico), ela com sacrifício e muita costura me deu o brinquedo, que emoção, que alegria! Quantos outros caprichos ela atendeu, muito obrigado mãe! Dizem que Deus é Pai, mas acho mesmo que nossa mãe é Deus! Não há palavras para descrever o quanto você, mãe, é importante para mim e muito menos palavras para dizer o tamanho de minha gratidão.
Aos meus irmãos manifesto minha alegria de tê-los, ou melhor, de eles me terem e me aturarem. Sou o filho caçula, por isso tiveram que me aturar, mas foi e está sendo uma experiência enorme ver o quanto vocês batalharam e batalham na vida. Cada um de vocês trouxe para nossa família mais um filho e filhas, de vocês vieram os sobrinhos, dos sobrinhos os filhos...sou tio avô, quanta alegria vossas famílias me proporcionam.
Não posso deixar de lembrar num dia tão especial para mim de pessoas que fizeram parte de minha história e vida, são muitas e seria injusto mencionar alguns e outros caírem no esquecimento, mas rendo um tributo aos meus avós Luiz Galiani e Domingas Galiani, que saudades da comida avó; avô Luiz como gostava de ir à feira com o senhor e fazer cercas de bambu, dias inesquecíveis. Meu avô Armando fumando seu cigarro de palha, fumo fedido rs, porém era muito bom lhe pedir a benção. Avó Cida que acolhimento, que simplicidade de vida, obrigado! Avó Alzira mulher independente, autônoma que me fazia rir, chorar, correr e pular. Nunca me esquecerei do dia em Adamantina quando caí numa poça d´água de chuva, que correria, mas em seus braços fiquei seguro. E o dia que me deu um revolver de espoleta, era lindo, meus amigos e primos ficaram de boca aberta, era de fazer inveja.
Quero aqui deixar minha gratidão aos meus tios e tias, paternos e maternos, como me acolhiam e cuidavam de mim, obrigado!
Há uma lista enorme de nomes que gostaria aqui registrar, porém cansaria você, por isso vou tentando abreviar minha gratidão. Mas, há uma lista que não posso deixar de citar: Padres João Goetz, Expedito Pereira Cavalcante, José Walter, José Schindler, Vitório, Eduardo Radigonda, Francisco Pio Dantas, Orides Giroldo e José Schwind  a vocês minha eterna gratidão pelo que me ensinaram e apoiaram na escolha pelo sacerdócio. Perdoem-me por eu não ter ouvido vocês!
Aos meus amigos de seminário, foram muitos, mas lembro aqui alguns: Oscar Naufal, Antonio Francisco, Antonio Alves, Edvaldo C Germiniani, Marco Aurélio de M. Castriani; aos amigos seminaristas que se ordenaram padre: Heleno Adnaldo Araújo, Fernando Rossini, Roberto de Paula Silvério, Arlindo, Pedro Ramos e Fadul e coroando essa lista nosso querido e amado irmão Pe. Julio, hoje Dom Julio Endi Akamine. Mudei o rumo de minha vida, mas não tirei da base e alicerce o que vocês me ensinaram e ensinam. Obrigado!

De 50 anos de vida, 30 foram dedicados a Igreja e estes últimos 20 anos dedicado a construção de uma família. Gratidão! Gratidão aos que me acolheram na nova cidade, São Paulo, particularmente à Ana, minha esposa que ao longo desses anos tem sido para mim um referencial de crescimento, de doação, de desafios, de dor e alegria, de sofrimento e de libertação, sempre ensinei e defendi que no casamento o amor e perdão devem prevalecer e com ela estou me “alfabetizando” para o exercício do amor e perdão. Aos pais da Ana meu reconhecimento e louvor por terem me apoiado e incentivado na nova vida. Um obrigado aos irmãos da Ana, pela possibilidade de aprender a ganhar o mundo e a vida.
Aos amigos e colegas educadores, obrigado por me acolherem e possibilitarem meu crescimento profissional, vocês me ensinam muito!

Deixei por último, porém é o primeiro! Agradeço a Deus pelo Dom da Vida que me concede e suplico sua misericórdia para que meu coração seja semelhante ao de seu Filho Jesus Cristo. Agradeço e louvo a Trindade Santa pelo dom do Batismo, da Crisma, da Penitência, da Eucaristia, da Unção dos enfermos, da Ordem e do matrimônio sinais que foram cravados em meu coração e me tornaram mais santo, porém na miséria humana sou um grande pecador que estou à disposição de Deus para que Ele faça de mim o que desejar. Rezo para que eu vida de forma que faça a vontade d’Ele, mas sou frágil e peço a você meu amigo e irmão: reze por mim hoje e sempre!

sábado, 23 de março de 2013

Jesus é o Senhor!

Iniciamos a Semana Santa de 2013. Mais uma vez percorremos os textos bíblicos e celebrações litúrgicas que nos colocam no cerne do mistério cristão: a vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus. O domingo de ramos, marca a liturgia nesse final de semana, e vem mostrar que tipo de relações na sociedade Jesus deseja. A aclamação de Jesus Rei resgata o desígnio de Deus para seu Filho e denuncia as estruturas impiedosas e injustas da sociedade humana, que hipócrita  aclama e louva e no mesmo instante cospe, atira pedra e crucifica. Para nós hoje relembrar o episódio da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém é reconhecer que estruturas sociais injustas, relações discriminadoras e excludentes nascem do desejo de PODER MANDAR, de PODER JULGAR, de PODER CONDENAR. Aclamar Jesus Rei é exatamente deixar-se alimentar pelo PODER DO SERVIÇO, pelo PODER ACOLHEDOR, pelo PODER MISERICORDIOSO de Deus em nós. 
As leituras desse domingo de ramos, 22 de março de 2013 fazem um grande convite. No evangelho temos o belíssimo texto da Ceia de Jesus com os seus e o anúncio da ''chegada a hora". A traição se dá na mesa, lugar de encontro, de cara a cara. Jesus reparte o pão e o vinho, que outrora não serão senão sua própria vida e, um dos seus que usou e abusou de toda verdade revelada por Jesus, o trairá. Mas, Jesus segue em frente, e na primeira leitura mostra sua força e poder: 'Deus deu-me a língua para reconfortar com a palavra o que está abatido [...] aos que me feriam apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escarros". Diante da traição de Judas Jesus tem sua força em Deus - "Mas o Senhor Deus vem em meu auxílio". Que trama, que tamanha injustiça para com o Filho de Deus, mas que glória e louvor o Mistério de nossa Salvação, "por isso Deus o exaltou ... lhe deu um nome que está acima de todo nome .... diante d'Ele todo joelho se dobrará e toda língua proclamará: JESUS CRISTO É O SENHOR"
Que convite recebemos nesse domingo de Ramos? Reconhecer que Jesus é nosso Rei e dele aprender a reinar, a construir uma mesa onde todos serão irmãos, onde não haja divisões, onde não haja discórdia, não haja disputa, não haja rancor e, na proclamação de que Ele é o Senhor  sintamos que Ele é nosso auxílio e nossa força.

Leia:
Isaías 50,4-7
Filipenses 2, 6-11
Lucas 22, 14-23,56

domingo, 17 de março de 2013

Que amor! Que misericórdia!

A Liturgia da Palavra da missa hoje é belíssima: anuncia ao mundo sedento por justiça a MISERICÓRDIA! No profeta Isaías 43, 16-21 Deus não é vingança, Deus não é justicinha; Deus é o que "vai fazer obra nova", que abrirá um caminho novo através do mar e manifestará sua predileção, seu amor e misericórdia para com a humanidade. O mundo tem fome de justiça, mas uma justiça humana, marcada pelo "pagar com a mesma moeda". Essa não é a lógica de Jesus, sua lógica é a do amor sem medida, sem juízo, sem preconceito, sem punição e profundamente enraizada no perdão. Assim, no evangelho de João 8, 1-11 a pecadora é por Ele acolhida, curada, perdoada e reintegrada a vida. Esse Jesus misericordioso é o que precisa ser testemunhado, ensinado e vivido por nós. Difícil? Sim, mas como Paulo na carta aos Filipenses 3, 8 -14 devemos mirar, correr e alcançar o que nos alcançou primeiro. Jesus é nossa meta e o nosso caminhar deve ser na direção dessa misericórdia. Tudo desprezamos, tudo se torna esterco: "a fim de ganhar Cristo e estar com ele". Vivamos desarmados do que nos faz juízes dos outros, do que nos torna monstros atiradores de pedras sobre os outros. Sejamos misericordiosos!

J. A. Galiani

sexta-feira, 8 de março de 2013

Características da comunidade palotina




Uma das características da comunidade palotina é a de criar unidade na diversidade, e para isso se pede uma sensibilidade para saber olhar e ver, conhecer e reconhecer, ler e discernir. Outra característica palotina é de ser, na Igreja, um ponto de união entre o clero regular e o clero secular, apto para animar um e outro, numa ligação sagrada com todas as obras de caridade e de zelo.

O chamado e a insistência de Pallotti para o espírito de caridade é um convite para que cada um examine suas próprias motivações; de perguntar-se a si mesmo, de maneira contínua, sobre aquilo que move o seu coração, sobre aquilo que é o motor da sua atividade, do seu ser palotino, do seu apostolado. Por isso, ele nos deixou como modelo Nazaré e o Cenáculo. Nazaré é a união das três pessoas na convivência da vida cotidiana, ao passo que Cenáculo é a união da comunidade da Igreja em oração que recebe o dom do Espírito Santo, o dom da unidade. Portanto, o palotino deveria ser o homem da comunidade, da relação, da comunhão e da unidade. Qualquer ideia de individualismo e isolamento é a negação da obra palotina.

Portanto, um “cavaleiro solitário” e cada “cantor solista” deveria sentir-se mal entre os palotinos, fora de sua casa. Outro aspecto muito importante acentuado por nosso Santo Fundador é o espírito de caridade fraterna, com o qual são permeados tanto Nazaré como o Cenáculo. Pallotti insiste muito para que, na comunidade, seja dominante e reinante o espírito de caridade e dirá, explicitamente, que todos devem ser sempre animados pelo verdadeiro espírito de mais perfeita caridade (OOCC I, 107-109). Para ele, caridade é ser serviçal, cheio de paciência e de benignidade.

Para que haja o verdadeiro espírito de caridade, é preciso empenhar-se com coragem e santa indústria, e por isso ele adverte sobre tudo o que pode destruir o espírito de caridade, como por exemplo, o espírito de domínio, o espírito de egoísmo, isto é, o de procurar as próprias coisas, o espírito de ambição. Quando adverte sobre o perigo do espírito de domínio, o chama de “a peste da comunidade” (OOCC I, 106). Portanto, a espiritualidade palotina nasce da coexistência e interdependência de Nazaré e do Cenáculo; é uma escola de autêntica formação apostólica; uma escola de santidade e de apostolado. A espiritualidade palotina olha para o crescimento constante na santidade para o apostolado, isto é, precisa tornar-se santo para ajudar e tornar outros a serem santos. “Não é o apostolado que gera a santidade, mas é a santidade profunda que faz grande apostolado” (Pe. F. Amoroso).

O filho Pródigo!


Estamos diante de um clássico texto do Evangelho, o texto do Filho Pródigo, de Lucas Lc 15,1-3.11-32. Vários aspectos chamam nossa atenção no texto, porém quero propor uma reflexão e oração sobre o Ícone. Leia o Evangelho e depois contemple:

 Em 1662, o pintor Rembrandt, velho e arrependido de seus muitos pecados e desperdícios, retratou o Pai como um velho, cego, tendo uma mão feminina e outra masculina: poderoso e frágil, pai e mãe, amor puro. O filho é retratado sem cabelos na cabeça, como que retornando ao ventre de seu Pai/Mãe. É impossível não se emocionar ao ver Deus Pai retratado com tanta misericórdia. Ele está sofrido, mas conserva a dignidade de filho: carrega o rolo com seus documentos e calçados aos pés. Apesar de tudo, não tinha esquecido sua filiação, razão pela qual retornou. (A volta do filho pródigo – Rembrandt – Detalhe)

quinta-feira, 7 de março de 2013

A promoção dos direitos humanos, com ênfase nos direitos das pessoas com deficiência.

No dia 02 de março, no Instituto de Educação Beatíssima Virgem Maria, promovido pelo Sistema de Ensino Mary Ward participei de um rico encontro sobre a inclusão de pessoas com deficiência na escola.

Visite o site:
http://sorri.com.br/missao_visao_valores

e conheça conceitos que fortalecem a busca por caminhos inclusivos.
J. A. Galiani

domingo, 3 de março de 2013

PEDAGOGIA HUMANISTA - Parte VI


Para Freinet, educar humanamente é, sobretudo, aprimorar-se da cultura e da cidadania, dimensões norteadas na Lei de Diretrizes de Base da Educação Nacional no Título I, Artigo 1° e parágrafos 1° e 2°:

Art. 1°.A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

§ 1º. Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.

§ 2º. A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.

O século nascente exige, pois, que a prática educativa seja humana, democrática, pluralista, aberta e crítica e, a exemplo das técnicas aplicadas por Freinet, descritas no capítulo terceiro dessa monografia, seja sensível e atenta às diferenças e necessidades culturais e até mesmo individuais do aluno. A prática adotada por Freinet propõe a libertação dos alunos, libertação da ignorância, do preconceito, do capricho, da alienação e da falsa consciência de sua pertença ao mundo. Na proposta freinetiana, a visão humana de educar, aqui dissertada, leva em conta a autenticidade pessoal, a auto-realização e o ambiente democrático que é construído no espaço escolar e no espaço em que vive o aluno.

Uma proposta humana de educar conta, sobretudo, com o respeito à natureza interior do aluno, assim fez Freinet e criou meios para que tal natureza desabrochasse de forma saudável e plena. Em sua natureza interior, o aluno é livre e pensante, por isso a educação deve respeito ao que é o aluno e não obrigá-lo a aceitar verdades alheias, mas sim dar a ele a opção de escolha, dando-lhe oportunidades de criar sua própria identidade e traçar os seus projetos de vida.

A dimensão política da pedagogia de Freinet engendra para o século XXI o desafio de trabalhar o cotidiano do aluno, para isso o educador deve ter uma visão emancipada de todos os problemas sócio-culturais, transmitindo e criando oportunidades para que os alunos estejam capacitados criticamente, tendo consciência e autocontrole de suas próprias vidas, assim poderiam interferir no espaço social em que vivem. Nesse contexto, a escola passa a ser um espaço democrático com o objetivo de ensinar os alunos a respeito do que é viver em uma sociedade justa e humana independente da raça, classe, sexo ou idade. Para tanto, da prática freinetiana de educar concluímos que a escola precisa ser um espaço de confiança, de diálogo, de respeito, de tolerância, de zelo, de liberdade, de compromisso e responsabilidade.
 
TCC - Licenciatura em Pedagogia, Gestão e Orientação Educacional - 2008
José Antonio Galiani

PEDAGOGIA HUMANISTA - Parte V


O século XXI desabrocha no contexto em que as coisas se destroem, a anarquia pura anda à solta pelo mundo, espalha-se a maré de tons sanguinolentos, e por toda parte a cerimônia da inocência se afoga, os melhores carecem de toda convicção, enquanto os piores estão cheios de apaixonante intensidade. Frente a esse quadro da humanidade perguntamos: o que fazer?

Recorrendo ao grande educador brasileiro Paulo Freire (1996 p. 126-127), temos: “Se a educação não é a chave das transformações sociais, não é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante. O que quero dizer é que a educação nem é uma força imbatível a serviço da transformação da sociedade, porque assim eu queira, nem tampouco é a perpetuação do ‘status quo’ porque o dominante decrete. O educador e a educadora críticos não podem pensar que, a partir do curso que coordenam ou do seminário que lideram, podem transformar o país. Mas podem demonstrar que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância de sua tarefa político-pedagógico”.

Podemos afirmar então, que a tarefa político-pedagógico do educador/educadora de Freire é em Freinet (1989, p. 280) a capacidade “para continuar na escuta misteriosa da vida” ou seja, respeitar o intuitivo do aluno. “Este sentido intuitivo não tem senão um inconveniente para os demagogos, o de não ser mensurável com o padrão material, indigente e falso da escola”.

Esse sentido intuitivo que nos conecta à escuta misteriosa da vida é também o que nos impulsiona a acreditar numa proposta educativa humana que desperte o ser humano que  todos temos dentro de nós. Trata-se, afinal, de aprender a viver como seres humanos, de aprender a amar e ser livres, de despertar uma nova consciência encaminhada para a transformação de uma sociedade humana e racional, na qual os homens sejam capazes de determinar livremente qual é o sentido de suas vidas, como querem viver.

A superação de uma educação produtivista e utilitarista, do homem maquinizado encontra uma ruptura na percepção globalizante de Freinet (1985 p.104)  sobre a educação e a totalidade do ser humano, quando afirma “ [...] As crianças têm necessidade de pão, do pão do corpo e do pão do espírito, mas necessitam ainda mais do seu olhar, da sua voz, do seu pensamento e da sua  promessa. Precisam sentir que encontraram, em você e na sua escola, a ressonância de falar com alguém que as escute, de escrever a alguém que as leia ou as compreenda, de produzir alguma cosia de útil e belo que é a expressão de tudo o que trazem nelas de generoso e de superior”. Com isso a pedagogia freinetiana transformou as dificuldades em desafios e criou um novo cenário que potencializou os alunos para a auto-aprendizagem. O diferencial de Freinet foi valorizar a função do meio de forma a abrir os canais de comunicação através da socialização dos produtos da aprendizagem transformando o aluno em comunicador permitindo, assim ao aluno, a descoberta da projeção social de sua palavra quando comunicada.

A proposta de uma pedagogia humanista é entre tantas visões uma prática social de educar e é por ela que estamos caminhando. Há, pois nessa perspectiva, novos relacionamentos ou modos mais consistentes de nos relacionarmos com as pessoas e com o mundo. A pedagogia de Freinet representa um modo peculiar de ver e de realizar a prática educativa na escola, contraposta à “pedagogia tradicional”. Diferentes visões decorrem da leitura dessa teoria, numa perspectiva liberal, a pedagogia de Freinet, enfatiza o desenvolvimento da liberdade e da criatividade pessoal. Na perspectiva marxista reforçaria a dimensão do trabalho como princípio educativo. Nessa monografia o enfoque é o caráter revolucionário da proposta pedagógica de Freinet, que chamamos de Pedagogia Humana, no sentido já descrito de uma educação que interfira na vida pessoal e, em conseqüência, no espaço de vida desse aluno.

Uma educação humana em Freinet é desenvolver plenamente no aluno o potencial que possui, aprimorando suas características, tendo como concepção o bem estar e a dignidade do aluno como ser humano. A trajetória de vida de Célestin Freinet, como já vimos nos capítulos anteriores, testemunha essa dimensão: seu envolvimento político e as perseguições sofridas desencadearam, por exemplo, a criação de cooperativas por onde ensinava a solidariedade dentro da escola. Experiência coroada como uma educação democrática, onde todos tinham voz para opinar, construía-se assim o significado de justiça e, acima de tudo, ensinava os alunos a serem mais humanos. Com essa postura ganha crédito e amplia seus horizontes, através de uma educação preocupada em aperfeiçoar e desenvolver as potencialidades de cada um, como um ser livre e crítico apropriando-se da sua vida humana por completo, assimilando a cultura em que vive e a cidadania.

 

PEDAGOGIA HUMANISTA - Parte IV


O pensamento racionalista que divide, subdivide, agrupa, reagrupa, fragmenta, ausculta, analisa, pesa, mede e avalia oferece uma educação em migalhas, “migalhas de pão espremidas e enroladas” (FREINET, 1998, p. 31) e na mesma obra citada, a pedagogia humana aqui defendida, Freinet, o pedagogo do bom senso, sobrenaturalmente profetiza:

“Migalhas de leituras, caídas de uma obra que ignoramos e que tem gosto de pão que ficou ressecando nas gavetas e nos sacos.
Migalhas de história, umas bolorentas, outras mal cozidas, e cujo amálgama é um problema insolúvel.
Migalhas de matemática e migalhas de ciências, como peças de máquinas, sinais e números que uma explosão tivesse dispersado e que nos esforçamos para montar, como um quebra-cabeça.
Migalhas de moral, como gavetas que mudamos de lugar, no complexo de uma vida de infinitas combinações.
Migalhas de arte [...]
Migalhas de aula, migalhas de horas de trabalho, migalhas de pátio de recreio [...]
Migalhas de homens!” (op. cit., p. 31)

Assim como a história da Educação no Brasil, as práticas pedagógicas nos diferentes tempos foram fragmentadas e reproduziram os interesses políticos dos governantes. Estes assumiram o controle do ato de educar, fizeram, pois da educação um instrumento de manipulação a partir dos interesses próprios em vistas dos próximos pleitos eleitorais, ou pior, em vista de interesses militares e antidemocráticos, como no período Governamental Militar vivido no Brasil. Frente a esses desmandos e a fragmentação da educação há que se perguntar:

“[...] se essa ‘ciência da escada’, compartimentos obscuros do saber, do sentir e do sonhar, degrau por degrau, com o mesmo ritmo e a mesma distância niveladora de toda individualidade, não seria uma falsa ciência e se não haveria caminhos mais rápidos e mais salutares, em que se avançasse por saltos e longas passadas. Se não haveria, segundo a imagem de Vitor Hugo, uma pedagogia das águias que não sobem pelas escadas” (ibidem, ibidem, grifo do autor).

Por longos séculos, a educação esteve engessada e engessou gerações que hoje mergulhadas num mundo globalizado não compreendem o que acontece, um mundo capaz de fazer que todos os saberes penetrem em todos os lugares e um mundo onde a lógica do consumo destrói a cultura. Na era da comunicação, a palavra permanece, mas esvaziada de qualquer idéia de formação, de abertura para o mundo e de cuidado da alma “[...] Já não se trata de transformar os homens em sujeitos autônomos, mas de satisfazer seus desejos imediatos, de diverti-los ao menor preço possível” (FINKIELKRAU, 1988 p. 128).

No livro O valor de educar, temos o que poderia encerrar essa reflexão sobre a herança histórica da educação no Brasil, herança de uma proposta que tira o protagonismo do homem, tornando-o um sujeito passivo frente ao mundo que o cerca e, sobretudo, fazendo da educação um instrumento de manipulação em favor de uma minoria mandante na sociedade em detrimento do coletivo. O autor SAVATER citando Russel e Foucault exprime o que significou uma educação centrada no dualismo medieval, no racionalismo e positivismo “Há mais de seis décadas Bertrand Russel advertiu que ‘tem sido costume da educação favorecer o Estado, a própria religião, o sexo masculino e os ricos’. E recentemente Michel de Foucault mostrou as engrenagens segundo as quais todo saber e também sua transmissão estabelecida mantêm uma vinculação com o poder, ou melhor, com os vários poderes difundidos que atuam normalizadora e disciplinarmente no campo social” (SAVATER, 1988, p. 64).

PEDAGOGIA HUMANISTA - Parte III


Em nosso país como em todos os cantos, o cartesianismo (séc. XVII - René Descartes), como o positivismo (séc XVIII - Augusto Comte) contribuíram com suas filosofias racionalistas, com a supervalorização do progresso material, da ordem e da disciplina desencadeando no século XIX a construção de um homem extremamente preocupado com a funcionalidade, com o utilitarismo, o burocrático e o tecnocrático. Essa filosofia educacional colocou o homem num pedestal seguro, porém negou-lhe a humanidade e o ser social que é.

A negação do que é o homem, de sua capacidade intuitiva, ontológica e imaginativa dá o ponto de partida de Freinet. Como vimos no capitulo dois, Célestin Freinet propõe como base fundamental da pedagogia a atividade experimentada pela criança dentro de seu espaço de vida. É pelos numerosos tateamentos que ela aprende a contar, somar, narrar, comparar, analisar, sintetizar...

A herança do século XVII é a de não perder tempo. Isto é, não perder dinheiro. O Brasil, da ordem e progresso, assume essa mesma filosofia e crava na história da educação alicerces doutrinários e moralistas. Prática evidenciada, por exemplo, na escola nos textos didáticos como afirma AVERBUCK referindo-se à arte e a poesia: “[...] numa organização selada pelo utilitarismo cada criança deve aprender a não perder seu tempo, nem tomar o de seus professores [...] a poesia e a arte, em geral, participam dessas áreas não-lucrativas onde se inserem as atividades prazerosas e lúdicas, excluídas do programa de vida de uma sociedade voltada para o ganho” (1988. p. 66).

Uma ação pedagógica humana não é a da desordem e da indisciplina. Em Freinet, a pedagogia humana é uma ação e reflexão que passa pela experiência, pela cooperação e pelo aprendizado. A atitude de ordenar, de separar, de engavetar e de rotular eternamente as idéias, afetos e sonhos, apenas para os manter com aparente segurança e domínio da realidade, não leva a nenhum crescimento porque impede ao ser humano sua natural abertura ao surgimento do novo. Freinet, ao propor a utilização do meio como eixo central do aprendizado, possibilitou que os alunos se sentissem motivados e agentes do processo. Isso fez com que eles criassem significados, desenvolvessem a crítica, a colaboração e valores sociais.

A educação no Brasil e em muitas partes do planeta, através da escola, nega o humano e reduz o seu potencial criativo como afirma Freinet (1998, p. 9) “[...] persegue os indivíduos obstinados em subir pelos caminhos que não considera normais”.

Pedagogia Humanista - Parte II


A natalidade a que se refere Arendt é a que brota do conflito vivido em sociedade, uma vez que esta é uma colcha de retalho de diferentes culturas, e é onde se dá o existir humano. A concepção de uma pedagogia humana, aqui trabalhada, caracteriza-se como a possibilidade de, pela educação, fazer o homem parte do todo, que prima como um ser político e para tal requer uma ética, princípios e valores que norteiem sua reflexão e ação. Essa perspectiva, valorativa de ação e reflexão questiona sem sombra de dúvidas, as práticas e políticas educacionais adotadas no Brasil, descritas nos recortes históricos do capítulo primeiro deste trabalho.

Essa monografia não tem como objetivo analisar os diferentes períodos da educação, mas apontar um caminho pedagógico que construa o homem mais humano; mesmo que perifericamente podemos dizer que até o atual momento, a educação no Brasil viveu e vive uma constante busca, busca de caminhos, busca de soluções, busca de identidade. A busca é sinônimo de crise e a crise é condição para alçar novas conquistas ou, como diz Arendt, a natalidade.

Educar humanamente é deixar nascer caminhos que superem os limites impostos pelo social, pelo econômico e pelo político de maneira que a arte de educar trilhe um caminho constante de construção e desconstrução, assim como o humano é, idéia que ecoa na literatura de Guimarães Rosa ao conceituar o humano: "Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão" (ROSA, 1986, p.21).

O século XXI exige um movimento constante de construção de paradigmas e estes não podem incorporar regras estáticas como no passado próximo que engessou a educação pelos dualismos vividos – razão/imaginação, utilitarismo/lazer, conceptismo/cultismo,      ciências humanas/ciências exatas, Dionísio/Prometeu, Oriente/Ocidente, paranóia/metanóia, corpo/alma.

PEDAGOGIA HUMANISTA - Parte I


CAPÍTULO IV

PEDAGOGIA HUMANISTA

O capítulo que iniciamos e os que o antedeceram despontam como uma possibilidade de orientar posicionamentos que visam quebrar paradigmas do pensamento tradicional do que seja o ato de educar.

Em Célestin Freinet, teórico tomado como base de uma proposta pedagógica humana, o ser humano aprende fazendo e faz aprendendo, no espaço em que vive, através das técnicas descritas no capítulo terceiro. Tal entendimento acha-se em consonância com a compreensão do homem como sujeito de seu aprender e isso se dá pelo tato experimental do que aprende com o que quer aprender e, sobretudo, que o aprender e experimentar se processam de forma cooperativa, conjunta.  Tais dimensões balizam condutas educacionais e filosofias da educação como geradoras de espaços de reflexões e práticas, nos quais os alunos de qualquer nível de escolarização, possam abrigar essas possibilidades de ser com os outros, junto às coisas e consigo mesmo.

Esse capítulo reflete a possibilidade de uma proposta pedagógica humana para o século XXI e tem na premissa apresentada por Hannah Arendt, no seu livro Entre o passado e o futuro, publicado em 1954, “[...]a essência da educação é a natalidade, o fato de que seres humanos nascem para o mundo” (2000, p.223) o principio básico para entender o que nessa monografia se diz por proposta pedagógica humana para o século XXI. Entenda-se como proposta pedagógica humana a educação como prática de inserção das pessoas num dado contexto cultural e histórico.

Pedagogia Humanista


CAPÍTULO IV  /  PEDAGOGIA HUMANISTA

O capítulo que iniciamos e os que o antedeceram despontam como uma possibilidade de orientar posicionamentos que visam quebrar paradigmas do pensamento tradicional do que seja o ato de educar.

Em Célestin Freinet, teórico tomado como base de uma proposta pedagógica humana, o ser humano aprende fazendo e faz aprendendo, no espaço em que vive, através das técnicas descritas no capítulo terceiro. Tal entendimento acha-se em consonância com a compreensão do homem como sujeito de seu aprender e isso se dá pelo tato experimental do que aprende com o que quer aprender e, sobretudo, que o aprender e experimentar se processam de forma cooperativa, conjunta.  Tais dimensões balizam condutas educacionais e filosofias da educação como geradoras de espaços de reflexões e práticas, nos quais os alunos de qualquer nível de escolarização, possam abrigar essas possibilidades de ser com os outros, junto às coisas e consigo mesmo.

Esse capítulo reflete a possibilidade de uma proposta pedagógica humana para o século XXI e tem na premissa apresentada por Hannah Arendt, no seu livro Entre o passado e o futuro, publicado em 1954, “[...]a essência da educação é a natalidade, o fato de que seres humanos nascem para o mundo” (2000, p.223) o principio básico para entender o que nessa monografia se diz por proposta pedagógica humana para o século XXI. Entenda-se como proposta pedagógica humana a educação como prática de inserção das pessoas num dado contexto cultural e histórico.

A natalidade a que se refere Arendt é a que brota do conflito vivido em sociedade, uma vez que esta é uma colcha de retalho de diferentes culturas, e é onde se dá o existir humano. A concepção de uma pedagogia humana, aqui trabalhada, caracteriza-se como a possibilidade de, pela educação, fazer o homem parte do todo, que prima como um ser político e para tal requer uma ética, princípios e valores que norteiem sua reflexão e ação. Essa perspectiva, valorativa de ação e reflexão questiona sem sombra de dúvidas, as práticas e políticas educacionais adotadas no Brasil, descritas nos recortes históricos do capítulo primeiro deste trabalho.

Essa monografia não tem como objetivo analisar os diferentes períodos da educação, mas apontar um caminho pedagógico que construa o homem mais humano; mesmo que perifericamente podemos dizer que até o atual momento, a educação no Brasil viveu e vive uma constante busca, busca de caminhos, busca de soluções, busca de identidade. A busca é sinônimo de crise e a crise é condição para alçar novas conquistas ou, como diz Arendt, a natalidade.

Educar humanamente é deixar nascer caminhos que superem os limites impostos pelo social, pelo econômico e pelo político de maneira que a arte de educar trilhe um caminho constante de construção e desconstrução, assim como o humano é, idéia que ecoa na literatura de Guimarães Rosa ao conceituar o humano: "Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão" (ROSA, 1986, p.21).

O século XXI exige um movimento constante de construção de paradigmas e estes não podem incorporar regras estáticas como no passado próximo que engessou a educação pelos dualismos vividos – razão/imaginação, utilitarismo/lazer, conceptismo/cultismo,      ciências humanas/ciências exatas, Dionísio/Prometeu, Oriente/Ocidente, paranóia/metanóia, corpo/alma.

Em nosso país como em todos os cantos, o cartesianismo (séc. XVII - René Descartes), como o positivismo (séc XVIII - Augusto Comte) contribuíram com suas filosofias racionalistas, com a supervalorização do progresso material, da ordem e da disciplina desencadeando no século XIX a construção de um homem extremamente preocupado com a funcionalidade, com o utilitarismo, o burocrático e o tecnocrático. Essa filosofia educacional colocou o homem num pedestal seguro, porém negou-lhe a humanidade e o ser social que é.

A negação do que é o homem, de sua capacidade intuitiva, ontológica e imaginativa dá o ponto de partida de Freinet. Como vimos no capitulo dois, Célestin Freinet propõe como base fundamental da pedagogia a atividade experimentada pela criança dentro de seu espaço de vida. É pelos numerosos tateamentos que ela aprende a contar, somar, narrar, comparar, analisar, sintetizar...

A herança do século XVII é a de não perder tempo. Isto é, não perder dinheiro. O Brasil, da ordem e progresso, assume essa mesma filosofia e crava na história da educação alicerces doutrinários e moralistas. Prática evidenciada, por exemplo, na escola nos textos didáticos como afirma AVERBUCK referindo-se à arte e a poesia: “[...] numa organização selada pelo utilitarismo cada criança deve aprender a não perder seu tempo, nem tomar o de seus professores [...] a poesia e a arte, em geral, participam dessas áreas não-lucrativas onde se inserem as atividades prazerosas e lúdicas, excluídas do programa de vida de uma sociedade voltada para o ganho” (1988. p. 66).

Uma ação pedagógica humana não é a da desordem e da indisciplina. Em Freinet, a pedagogia humana é uma ação e reflexão que passa pela experiência, pela cooperação e pelo aprendizado. A atitude de ordenar, de separar, de engavetar e de rotular eternamente as idéias, afetos e sonhos, apenas para os manter com aparente segurança e domínio da realidade, não leva a nenhum crescimento porque impede ao ser humano sua natural abertura ao surgimento do novo. Freinet, ao propor a utilização do meio como eixo central do aprendizado, possibilitou que os alunos se sentissem motivados e agentes do processo. Isso fez com que eles criassem significados, desenvolvessem a crítica, a colaboração e valores sociais.

A educação no Brasil e em muitas partes do planeta, através da escola, nega o humano e reduz o seu potencial criativo como afirma Freinet (1998, p. 9) “[...] persegue os indivíduos obstinados em subir pelos caminhos que não considera normais”.

O pensamento racionalista que divide, subdivide, agrupa, reagrupa, fragmenta, ausculta, analisa, pesa, mede e avalia oferece uma educação em migalhas, “migalhas de pão espremidas e enroladas” (FREINET, 1998, p. 31) e na mesma obra citada, a pedagogia humana aqui defendida, Freinet, o pedagogo do bom senso, sobrenaturalmente profetiza:


“Migalhas de leituras, caídas de uma obra que ignoramos e que tem gosto de pão que ficou ressecando nas gavetas e nos sacos.
Migalhas de história, umas bolorentas, outras mal cozidas, e cujo amálgama é um problema insolúvel.
Migalhas de matemática e migalhas de ciências, como peças de máquinas, sinais e números que uma explosão tivesse dispersado e que nos esforçamos para montar, como um quebra-cabeça.
Migalhas de moral, como gavetas que mudamos de lugar, no complexo de uma vida de infinitas combinações.
Migalhas de arte [...]
Migalhas de aula, migalhas de horas de trabalho, migalhas de pátio de recreio [...]
Migalhas de homens!” (op. cit., p. 31)

Assim como a história da Educação no Brasil, as práticas pedagógicas nos diferentes tempos foram fragmentadas e reproduziram os interesses políticos dos governantes. Estes assumiram o controle do ato de educar, fizeram, pois da educação um instrumento de manipulação a partir dos interesses próprios em vistas dos próximos pleitos eleitorais, ou pior, em vista de interesses militares e antidemocráticos, como no período Governamental Militar vivido no Brasil. Frente a esses desmandos e a fragmentação da educação há que se perguntar:

“[...] se essa ‘ciência da escada’, compartimentos obscuros do saber, do sentir e do sonhar, degrau por degrau, com o mesmo ritmo e a mesma distância niveladora de toda individualidade, não seria uma falsa ciência e se não haveria caminhos mais rápidos e mais salutares, em que se avançasse por saltos e longas passadas. Se não haveria, segundo a imagem de Vitor Hugo, uma pedagogia das águias que não sobem pelas escadas” (ibidem, ibidem, grifo do autor).

Por longos séculos, a educação esteve engessada e engessou gerações que hoje mergulhadas num mundo globalizado não compreendem o que acontece, um mundo capaz de fazer que todos os saberes penetrem em todos os lugares e um mundo onde a lógica do consumo destrói a cultura. Na era da comunicação, a palavra permanece, mas esvaziada de qualquer idéia de formação, de abertura para o mundo e de cuidado da alma “[...] Já não se trata de transformar os homens em sujeitos autônomos, mas de satisfazer seus desejos imediatos, de diverti-los ao menor preço possível” (FINKIELKRAU, 1988 p. 128).

No livro O valor de educar, temos o que poderia encerrar essa reflexão sobre a herança histórica da educação no Brasil, herança de uma proposta que tira o protagonismo do homem, tornando-o um sujeito passivo frente ao mundo que o cerca e, sobretudo, fazendo da educação um instrumento de manipulação em favor de uma minoria mandante na sociedade em detrimento do coletivo. O autor SAVATER citando Russel e Foucault exprime o que significou uma educação centrada no dualismo medieval, no racionalismo e positivismo “Há mais de seis décadas Bertrand Russel advertiu que ‘tem sido costume da educação favorecer o Estado, a própria religião, o sexo masculino e os ricos’. E recentemente Michel de Foucault mostrou as engrenagens segundo as quais todo saber e também sua transmissão estabelecida mantêm uma vinculação com o poder, ou melhor, com os vários poderes difundidos que atuam normalizadora e disciplinarmente no campo social” (SAVATER, 1988, p. 64).

O século XXI desabrocha no contexto em que as coisas se destroem, a anarquia pura anda à solta pelo mundo, espalha-se a maré de tons sanguinolentos, e por toda parte a cerimônia da inocência se afoga, os melhores carecem de toda convicção, enquanto os piores estão cheios de apaixonante intensidade. Frente a esse quadro da humanidade perguntamos: o que fazer?

Recorrendo ao grande educador brasileiro Paulo Freire (1996 p. 126-127), temos: “Se a educação não é a chave das transformações sociais, não é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante. O que quero dizer é que a educação nem é uma força imbatível a serviço da transformação da sociedade, porque assim eu queira, nem tampouco é a perpetuação do ‘status quo’ porque o dominante decrete. O educador e a educadora críticos não podem pensar que, a partir do curso que coordenam ou do seminário que lideram, podem transformar o país. Mas podem demonstrar que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância de sua tarefa político-pedagógico”.

Podemos afirmar então, que a tarefa político-pedagógico do educador/educadora de Freire é em Freinet (1989, p. 280) a capacidade “para continuar na escuta misteriosa da vida” ou seja, respeitar o intuitivo do aluno. “Este sentido intuitivo não tem senão um inconveniente para os demagogos, o de não ser mensurável com o padrão material, indigente e falso da escola”.


Esse sentido intuitivo que nos conecta à escuta misteriosa da vida é também o que nos impulsiona a acreditar numa proposta educativa humana que desperte o ser humano que  todos temos dentro de nós. Trata-se, afinal, de aprender a viver como seres humanos, de aprender a amar e ser livres, de despertar uma nova consciência encaminhada para a transformação de uma sociedade humana e racional, na qual os homens sejam capazes de determinar livremente qual é o sentido de suas vidas, como querem viver.

A superação de uma educação produtivista e utilitarista, do homem maquinizado encontra uma ruptura na percepção globalizante de Freinet (1985 p.104)  sobre a educação e a totalidade do ser humano, quando afirma “ [...] As crianças têm necessidade de pão, do pão do corpo e do pão do espírito, mas necessitam ainda mais do seu olhar, da sua voz, do seu pensamento e da sua  promessa. Precisam sentir que encontraram, em você e na sua escola, a ressonância de falar com alguém que as escute, de escrever a alguém que as leia ou as compreenda, de produzir alguma cosia de útil e belo que é a expressão de tudo o que trazem nelas de generoso e de superior”. Com isso a pedagogia freinetiana transformou as dificuldades em desafios e criou um novo cenário que potencializou os alunos para a auto-aprendizagem. O diferencial de Freinet foi valorizar a função do meio de forma a abrir os canais de comunicação através da socialização dos produtos da aprendizagem transformando o aluno em comunicador permitindo, assim ao aluno, a descoberta da projeção social de sua palavra quando comunicada.

A proposta de uma pedagogia humanista é entre tantas visões uma prática social de educar e é por ela que estamos caminhando. Há, pois nessa perspectiva, novos relacionamentos ou modos mais consistentes de nos relacionarmos com as pessoas e com o mundo. A pedagogia de Freinet representa um modo peculiar de ver e de realizar a prática educativa na escola, contraposta à “pedagogia tradicional”. Diferentes visões decorrem da leitura dessa teoria, numa perspectiva liberal, a pedagogia de Freinet, enfatiza o desenvolvimento da liberdade e da criatividade pessoal. Na perspectiva marxista reforçaria a dimensão do trabalho como princípio educativo. Nessa monografia o enfoque é o caráter revolucionário da proposta pedagógica de Freinet, que chamamos de Pedagogia Humana, no sentido já descrito de uma educação que interfira na vida pessoal e, em conseqüência, no espaço de vida desse aluno.

Uma educação humana em Freinet é desenvolver plenamente no aluno o potencial que possui, aprimorando suas características, tendo como concepção o bem estar e a dignidade do aluno como ser humano. A trajetória de vida de Célestin Freinet, como já vimos nos capítulos anteriores, testemunha essa dimensão: seu envolvimento político e as perseguições sofridas desencadearam, por exemplo, a criação de cooperativas por onde ensinava a solidariedade dentro da escola. Experiência coroada como uma educação democrática, onde todos tinham voz para opinar, construía-se assim o significado de justiça e, acima de tudo, ensinava os alunos a serem mais humanos. Com essa postura ganha crédito e amplia seus horizontes, através de uma educação preocupada em aperfeiçoar e desenvolver as potencialidades de cada um, como um ser livre e crítico apropriando-se da sua vida humana por completo, assimilando a cultura em que vive e a cidadania.

Para Freinet, educar humanamente é, sobretudo, aprimorar-se da cultura e da cidadania, dimensões norteadas na Lei de Diretrizes de Base da Educação Nacional no Título I, Artigo 1° e parágrafos 1° e 2°:

Art. 1°.A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
§ 1º. Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.
§ 2º. A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.

O século nascente exige, pois, que a prática educativa seja humana, democrática, pluralista, aberta e crítica e, a exemplo das técnicas aplicadas por Freinet, descritas no capítulo terceiro dessa monografia, seja sensível e atenta às diferenças e necessidades culturais e até mesmo individuais do aluno. A prática adotada por Freinet propõe a libertação dos alunos, libertação da ignorância, do preconceito, do capricho, da alienação e da falsa consciência de sua pertença ao mundo. Na proposta freinetiana, a visão humana de educar, aqui dissertada, leva em conta a autenticidade pessoal, a auto-realização e o ambiente democrático que é construído no espaço escolar e no espaço em que vive o aluno.

Uma proposta humana de educar conta, sobretudo, com o respeito à natureza interior do aluno, assim fez Freinet e criou meios para que tal natureza desabrochasse de forma saudável e plena. Em sua natureza interior, o aluno é livre e pensante, por isso a educação deve respeito ao que é o aluno e não obrigá-lo a aceitar verdades alheias, mas sim dar a ele a opção de escolha, dando-lhe oportunidades de criar sua própria identidade e traçar os seus projetos de vida.

A dimensão política da pedagogia de Freinet engendra para o século XXI o desafio de trabalhar o cotidiano do aluno, para isso o educador deve ter uma visão emancipada de todos os problemas sócio-culturais, transmitindo e criando oportunidades para que os alunos estejam capacitados criticamente, tendo consciência e autocontrole de suas próprias vidas, assim poderiam interferir no espaço social em que vivem. Nesse contexto, a escola passa a ser um espaço democrático com o objetivo de ensinar os alunos a respeito do que é viver em uma sociedade justa e humana independente da raça, classe, sexo ou idade. Para tanto, da prática freinetiana de educar concluímos que a escola precisa ser um espaço de confiança, de diálogo, de respeito, de tolerância, de zelo, de liberdade, de compromisso e responsabilidade.

Vivamos com se tudo dependesse de nós, porém assistidos pela graça de Deus e nossos frutos sejam frutos de Deus, de bondade.


EVANGELHO DO 3º DOMINGO DA QUARESMA -  Lucas 13, 1-9

 Curioso o texto do evangelho de hoje. Curioso no sentido de comparar atuais galileus com os antepassados, e ambos no mesmo nível de acolhimento de Deus.  Por isso, a história da vinha que deve ser cortada por não dar frutos e ocupar a terra inutilmente é para que pensemos em nós. Em contraposição à lógica de que o que não produz não presta, o evangelho sinaliza a possibilidade de oportunidade para adubar a vide para que ela produza, porém se isso não ocorrer sua eliminação é pertinente. Coloquemo-nos no lugar da vide que não produz e sintamo-nos prestes a ser cortados e jogados fora. Quem deseja isso? Não desejamos não produzir frutos, mas a fragilidade humana nos limita e pode nos tornar infrutíferos. Como Moisés devemos responder, ao Deus que nos fala: “Eis-me aqui!” (Ex 3, 1-8. 13-15), e nossa busca deve ser  pela constante presença e vida em Deus e como afirma Paulo 1 Cor 10,1-6.10-12 “a fim de não cobiçarmos coisas más, como eles a cobiçaram”. Vivamos  com se tudo dependesse de nós, porém assistidos pela graça de Deus e nossos frutos sejam frutos de Deus, de bondade.