domingo, 3 de março de 2013

PEDAGOGIA HUMANISTA - Parte III


Em nosso país como em todos os cantos, o cartesianismo (séc. XVII - René Descartes), como o positivismo (séc XVIII - Augusto Comte) contribuíram com suas filosofias racionalistas, com a supervalorização do progresso material, da ordem e da disciplina desencadeando no século XIX a construção de um homem extremamente preocupado com a funcionalidade, com o utilitarismo, o burocrático e o tecnocrático. Essa filosofia educacional colocou o homem num pedestal seguro, porém negou-lhe a humanidade e o ser social que é.

A negação do que é o homem, de sua capacidade intuitiva, ontológica e imaginativa dá o ponto de partida de Freinet. Como vimos no capitulo dois, Célestin Freinet propõe como base fundamental da pedagogia a atividade experimentada pela criança dentro de seu espaço de vida. É pelos numerosos tateamentos que ela aprende a contar, somar, narrar, comparar, analisar, sintetizar...

A herança do século XVII é a de não perder tempo. Isto é, não perder dinheiro. O Brasil, da ordem e progresso, assume essa mesma filosofia e crava na história da educação alicerces doutrinários e moralistas. Prática evidenciada, por exemplo, na escola nos textos didáticos como afirma AVERBUCK referindo-se à arte e a poesia: “[...] numa organização selada pelo utilitarismo cada criança deve aprender a não perder seu tempo, nem tomar o de seus professores [...] a poesia e a arte, em geral, participam dessas áreas não-lucrativas onde se inserem as atividades prazerosas e lúdicas, excluídas do programa de vida de uma sociedade voltada para o ganho” (1988. p. 66).

Uma ação pedagógica humana não é a da desordem e da indisciplina. Em Freinet, a pedagogia humana é uma ação e reflexão que passa pela experiência, pela cooperação e pelo aprendizado. A atitude de ordenar, de separar, de engavetar e de rotular eternamente as idéias, afetos e sonhos, apenas para os manter com aparente segurança e domínio da realidade, não leva a nenhum crescimento porque impede ao ser humano sua natural abertura ao surgimento do novo. Freinet, ao propor a utilização do meio como eixo central do aprendizado, possibilitou que os alunos se sentissem motivados e agentes do processo. Isso fez com que eles criassem significados, desenvolvessem a crítica, a colaboração e valores sociais.

A educação no Brasil e em muitas partes do planeta, através da escola, nega o humano e reduz o seu potencial criativo como afirma Freinet (1998, p. 9) “[...] persegue os indivíduos obstinados em subir pelos caminhos que não considera normais”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário