Em nosso país como em todos os cantos, o
cartesianismo (séc. XVII - René Descartes), como o positivismo (séc XVIII -
Augusto Comte) contribuíram com suas filosofias racionalistas, com a
supervalorização do progresso material, da ordem e da disciplina desencadeando
no século XIX a construção de um homem extremamente preocupado com a
funcionalidade, com o utilitarismo, o burocrático e o tecnocrático. Essa
filosofia educacional colocou o homem num pedestal seguro, porém negou-lhe a
humanidade e o ser social que é.
A negação do que é o homem, de sua capacidade
intuitiva, ontológica e imaginativa dá o ponto de partida de Freinet. Como
vimos no capitulo dois, Célestin Freinet propõe como base fundamental da
pedagogia a atividade experimentada pela criança dentro de seu espaço de vida.
É pelos numerosos tateamentos que ela aprende a contar, somar, narrar,
comparar, analisar, sintetizar...
A herança do século XVII é a de não perder tempo. Isto é, não perder dinheiro. O Brasil, da ordem e progresso, assume essa mesma filosofia e crava na história da educação alicerces doutrinários e moralistas. Prática evidenciada, por exemplo, na escola nos textos didáticos como afirma AVERBUCK referindo-se à arte e a poesia: “[...] numa organização selada pelo utilitarismo cada criança deve aprender a não perder seu tempo, nem tomar o de seus professores [...] a poesia e a arte, em geral, participam dessas áreas não-lucrativas onde se inserem as atividades prazerosas e lúdicas, excluídas do programa de vida de uma sociedade voltada para o ganho” (1988. p. 66).
Uma ação pedagógica humana não é a da desordem
e da indisciplina. Em Freinet, a pedagogia humana é uma ação e reflexão que
passa pela experiência, pela cooperação e pelo aprendizado. A atitude de
ordenar, de separar, de engavetar e de rotular eternamente as idéias, afetos e
sonhos, apenas para os manter com aparente segurança e domínio da realidade,
não leva a nenhum crescimento porque impede ao ser humano sua natural abertura
ao surgimento do novo. Freinet, ao propor a utilização do meio como eixo
central do aprendizado, possibilitou que os alunos se sentissem motivados e
agentes do processo. Isso fez com que eles criassem significados,
desenvolvessem a crítica, a colaboração e valores sociais.
A educação no Brasil e em muitas partes do planeta, através da escola,
nega o humano e reduz o seu potencial criativo como afirma Freinet (1998, p. 9)
“[...] persegue os indivíduos obstinados em subir pelos caminhos que não
considera normais”.
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