domingo, 3 de março de 2013

PEDAGOGIA HUMANISTA - Parte V


O século XXI desabrocha no contexto em que as coisas se destroem, a anarquia pura anda à solta pelo mundo, espalha-se a maré de tons sanguinolentos, e por toda parte a cerimônia da inocência se afoga, os melhores carecem de toda convicção, enquanto os piores estão cheios de apaixonante intensidade. Frente a esse quadro da humanidade perguntamos: o que fazer?

Recorrendo ao grande educador brasileiro Paulo Freire (1996 p. 126-127), temos: “Se a educação não é a chave das transformações sociais, não é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante. O que quero dizer é que a educação nem é uma força imbatível a serviço da transformação da sociedade, porque assim eu queira, nem tampouco é a perpetuação do ‘status quo’ porque o dominante decrete. O educador e a educadora críticos não podem pensar que, a partir do curso que coordenam ou do seminário que lideram, podem transformar o país. Mas podem demonstrar que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância de sua tarefa político-pedagógico”.

Podemos afirmar então, que a tarefa político-pedagógico do educador/educadora de Freire é em Freinet (1989, p. 280) a capacidade “para continuar na escuta misteriosa da vida” ou seja, respeitar o intuitivo do aluno. “Este sentido intuitivo não tem senão um inconveniente para os demagogos, o de não ser mensurável com o padrão material, indigente e falso da escola”.

Esse sentido intuitivo que nos conecta à escuta misteriosa da vida é também o que nos impulsiona a acreditar numa proposta educativa humana que desperte o ser humano que  todos temos dentro de nós. Trata-se, afinal, de aprender a viver como seres humanos, de aprender a amar e ser livres, de despertar uma nova consciência encaminhada para a transformação de uma sociedade humana e racional, na qual os homens sejam capazes de determinar livremente qual é o sentido de suas vidas, como querem viver.

A superação de uma educação produtivista e utilitarista, do homem maquinizado encontra uma ruptura na percepção globalizante de Freinet (1985 p.104)  sobre a educação e a totalidade do ser humano, quando afirma “ [...] As crianças têm necessidade de pão, do pão do corpo e do pão do espírito, mas necessitam ainda mais do seu olhar, da sua voz, do seu pensamento e da sua  promessa. Precisam sentir que encontraram, em você e na sua escola, a ressonância de falar com alguém que as escute, de escrever a alguém que as leia ou as compreenda, de produzir alguma cosia de útil e belo que é a expressão de tudo o que trazem nelas de generoso e de superior”. Com isso a pedagogia freinetiana transformou as dificuldades em desafios e criou um novo cenário que potencializou os alunos para a auto-aprendizagem. O diferencial de Freinet foi valorizar a função do meio de forma a abrir os canais de comunicação através da socialização dos produtos da aprendizagem transformando o aluno em comunicador permitindo, assim ao aluno, a descoberta da projeção social de sua palavra quando comunicada.

A proposta de uma pedagogia humanista é entre tantas visões uma prática social de educar e é por ela que estamos caminhando. Há, pois nessa perspectiva, novos relacionamentos ou modos mais consistentes de nos relacionarmos com as pessoas e com o mundo. A pedagogia de Freinet representa um modo peculiar de ver e de realizar a prática educativa na escola, contraposta à “pedagogia tradicional”. Diferentes visões decorrem da leitura dessa teoria, numa perspectiva liberal, a pedagogia de Freinet, enfatiza o desenvolvimento da liberdade e da criatividade pessoal. Na perspectiva marxista reforçaria a dimensão do trabalho como princípio educativo. Nessa monografia o enfoque é o caráter revolucionário da proposta pedagógica de Freinet, que chamamos de Pedagogia Humana, no sentido já descrito de uma educação que interfira na vida pessoal e, em conseqüência, no espaço de vida desse aluno.

Uma educação humana em Freinet é desenvolver plenamente no aluno o potencial que possui, aprimorando suas características, tendo como concepção o bem estar e a dignidade do aluno como ser humano. A trajetória de vida de Célestin Freinet, como já vimos nos capítulos anteriores, testemunha essa dimensão: seu envolvimento político e as perseguições sofridas desencadearam, por exemplo, a criação de cooperativas por onde ensinava a solidariedade dentro da escola. Experiência coroada como uma educação democrática, onde todos tinham voz para opinar, construía-se assim o significado de justiça e, acima de tudo, ensinava os alunos a serem mais humanos. Com essa postura ganha crédito e amplia seus horizontes, através de uma educação preocupada em aperfeiçoar e desenvolver as potencialidades de cada um, como um ser livre e crítico apropriando-se da sua vida humana por completo, assimilando a cultura em que vive e a cidadania.

 

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