Caro amigo, querida amiga.
No momento em que escrevo, os meios de comunicação noticiam com grande surpresa o anúncio da renúncia do nosso amado Papa Bento XVI. Não tive tempo sequer de ler o comunicado oficial. Certamente, a partir de agora, começarão a surgir as já costumeiras especulações sobre a eleição do novo Papa: as velhas notícias sobre lutas internas no Colégio Cardinalício, as repetidas teorias de conspiração, de acordos e de negociações entre as tendências progressistas e tradicionalistas. Sei que tentar afirmar que tudo isso é a mais triste conjectura sem base na realidade equivale a um “pregar no deserto”. Por isso, partilho com vocês uma experiência pessoal na tentativa de oferecer outro ponto de partida para entender o que é a eleição de um Papa. Em 2010, participei da Assembleia Geral da Sociedade do Apostolado Católico (padres e irmãs palotinos) em Roma. Foram 25 dias de trabalhos e de deliberações. Essa Assembleia tinha como uma das tarefas principais a eleição do novo Superior da nossa Congregação. Era a primeira vez que tomava parte de uma eleição desse tipo, por isso estava bastante inseguro. Não conhecia todos os membros da Assembleia, não tinha recebido nenhuma lista de candidatos, não havia ninguém que se apresentava para postular o cargo. Como escolher? Quem escolher? Enquanto a Assembleia seguia os seus trabalhos, minha inquietação aumentava. Quando chegou o momento de iniciar o processo de eleição, começamos um retiro. Confesso que achei que um retiro não era a melhor forma de começar uma eleição. Achava que seria mais proveitoso se pudéssemos fazer reuniões por grupos para tentarmos definir uma lista de candidatos ao cargo. O retiro exige silêncio e oração. Seria esse o momento mais adequado para um retiro? O pregador do retiro então nos exortou a confiar nessa dinâmica. A escolha de um superior não deveria seguir a mesma lógica das eleições políticas que todos nós conhecemos. Ele nos desafiou a fazer da eleição do nosso futuro superior um exercício de discernimento espiritual comunitário e eclesial. A nossa eleição deveria ser guiada pelo Espírito Santo e por isso não poderia seguir as mesmas práticas das campanhas políticas: formação de grupos de apoio, propaganda de programa de governo, alianças, negociações de interesses partidários. Fiquei surpreso com a simplicidade das regras que devíamos seguir. Ei-las. 1. Ninguém podia se apresentar como candidato. 2. Ninguém podia fazer campanha em favor ou contra alguém. 3. Era proibido formar grupos de apoio. 4. Os eleitores podiam quebrar o silêncio para fazer suas consultas. 4. Nessas consultas devíamos procurar alguém que conhecesse bem o eventual candidato e perguntar sua opinião sobre a idoneidade dele. 5. Quando alguém fosse indagado sobre um eventual candidato, deveria responder objetivamente e em base ao seu conhecimento pessoal, descrevendo as qualidades que o habilitavam a assumir o cargo ou a falta delas. Durante o retiro notei que todos os eleitores rezaram muito. Na capela, durante todo o tempo, os eleitores se revezavam na adoração ao Santíssimo. Como o lugar que estávamos tinha outras capelas, aproveitei também para visitá-las. Em todas elas havia gente rezando. Fiz algumas consultas e fui também consultado. Tais consultas eram sempre precedidas e seguidas de oração. Percebi que os eleitores se preocupavam em buscar o conhecimento da vontade de Deus. O critério de escolha, portanto, não era o da conveniência dos interesses ou da ideologia política. No dia seguinte, o primeiro escrutínio abriu os trabalhos do dia. Depois da missa, da oração da manhã e da invocação ao Espírito Santo, os eleitores caminharam, um a um, para depositar seu voto na urna. O silêncio da Assembleia estendia o clima de oração do dia anterior para dentro da primeira sessão de votação. Estavam previstas outras sessões de votação, uma vez que só podia ser eleito para superior o membro que alcançasse a maioria absoluta. Quando foram apurados os votos, veio a surpresa: tínhamos um superior na primeira sessão de votação! A presidência da Assembleia teve que apressar os preparativos para a cerimônia de posse do novo superior, uma vez que não esperava uma eleição tão rápida. Até hoje tenho viva a memória dessa experiência de discernimento espiritual. Ela é para mim uma prova de que para eleger um papa o mais decisivo é a busca da vontade de Deus na oração. Cada dia me convenço mais de que a forma de nossa eleição foi acertada. Acompanhando o trabalho do Superior que nós elegemos, percebo que, de fato, era ele a pessoa querida por Deus para guiar a nossa congregação. Caro irmão, querida irmã, existe uma alternativa! A eleição de um Papa é sobretudo o exercício de um discernimento espiritual eclesial. Por isso, gostaria de convidá-lo(la) a participar desde já da eleição do próximo papa rezando muito. Essa é a forma mais eficaz, participativa e decisiva da eleição na Igreja. Convido também a rezarmos juntos pelo Papa Bento XVI. Deus o abençoe por todo o bem que ele fez e continuará fazendo para nossa Igreja.
Dom Julio Endi Akamine - Região Episcopal LAPA - Arquidiocese de São Paulo, post no Facebook 11/02/13.