O louvor a Deus por
meio de Maria, sob o título de Nossa Senhora de Nazaré alimenta a certeza da vitória
de Jesus Cristo na cruz e da vitória de um povo numa região marcada pela
exploração das águas e das florestas. A pequenina imagem de Nossa Senhora de
Nazaré reúne a fé de um povo que luta para sobreviver em terras de florestas
entregues ao desenvolvimento desenfreado das cidades pelo consumo e lucro. Toda
a correria pela sobrevivência do urbano, do ribeirinho, do indígena consagra-se
na “corda” do Círio e faz de Maria, a mãe de Jesus, a Nossa Senhora de Nazaré a
Rainha da Amazônia.
Como Peregrinos de
Mary Ward eu não poderia deixar de visitar nossa Mãe Maria no Santuário de
Belém. Descrever a experiência dessa visita e se por aos pés de Nossa Senhora de
Nazaré é tarefa difícil para minha ignorância nas letras, mas tarefa fácil para
nos olhos as lágrimas rolarem em sintonia com a Igreja e com o povo da Amazônia.
O Santuário encerra um clima de oração, de admiração, de reflexão, de doação e
de proteção. Prostrar-se e poder rezar a Ave-Maria é uma realidade insondável.
Todas as vezes que estive em Belém fui até a Basílica de Nazaré e por alguns
minutos recarreguei minhas energias e com Maria professo “Fiat voluntas tua”.
Aos pés de Nossa Senhora de Nazaré coloquei todos os que me pedem orações, pedi
egoisticamente para que eu seja melhor, supliquei pelas missões que íamos fazer
em Vitória do Xingu e por toda a Igreja para que seja simples e para os
simples.
Dorothy Mae Stang, conhecida como Irmã Dorothy foi uma religiosa
norte-americana naturalizada brasileira. Pertencia às Irmãs de Nossa Senhora de
Namur, congregação religiosa fundada em 1804 por Santa Julie Billiart e
Françoise Blin de Bourdo, nasceu em 7 de julho de 1931 e foi ASSASSINADA em 12
de fevereiro de 2005.
No sangue de Dorothy derramado na floresta está a luta de todos homens e
mulheres que cantam "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens". Se dizer da
visita a imagem de Nossa Senhora de Nazaré não é fácil, muito menos dizer do
que significou o grito de morte dessa religiosa para a Igreja e para os que
acreditam que a terra é Dom de Deus e que está para seus filhos e não para
alguns exploradores. Matar Irmã Dorothy foi um gesto ignorante de um ignorante
pistoleiro que a mando de um ignorante “agiota” ignora a Lei e faz da força da
bala a Lei ignorante. Doe na alma, ecoa no coração e impulsiona a razão a crer
que quem segue Jesus não tem onde reclinar a cabeça, ouvir o padre dizer “a
cabeça da irmã Dorothy valia 50mil e a minha 25mil . . . mataram minha irmã”
doeu profundamente, sobretudo por ver uma Igreja voltada para a Cura e
Libertação, por ver clérigos desfilando em carro zero km, vestindo grife,
gastando o dinheiro do povo porque sua igreja é rica, doeu profundamente saber
que há homens e mulheres lutando pela preservação da floresta e muitos de forma
poética fazendo de conta que defendem a floresta. Doe ver grupos e movimentos
na Igreja, centrados em seu próprio umbigo vestindo uma armadura e escondendo a
podridão de suas vidas. Olhar para a casa de Ir. Dorothy, para seu fusquinha,
pisar em solo que foi sepultada, abrigar-se sob a sombra de uma floresta que
defendeu com seu próprio sangue me tornou pequeno, pequeno demais na fé, no
compromisso com o evangelho de Jesus Cristo, pequeno diante de tanto sofrimento
de filhos e filhas de Deus.
Fazer a Peregrinação às terras sagradas de Anapu - PA e mergulhar no sangue de Ir. Dorothy foi redescobrir o Batismo e despertar para a missão Sacerdotal, Profética e Régia. Celebrar a eucaristia na sepultura, abrigada pela floresta amazônica, ensina a Ser Igreja, a Ser Povo de Deus, a Servir!
Agradeço ao Padre Vicente que animou e levou os Peregrinos de Mary Ward até Anapu, sem essa experiência nossa missão em Vitória do Xingu não teria sentido, afinal a Igreja de Vitória, como de toda prelazia de Altamira fez uma opção e nós, se queremos ser missionários nessas terras devemos fazer a mesma opção: lutar contra a morte da e na floresta. E, para isso peço a Virgem Nossa Senhora de Nazaré, Rainha da Amazônia e pelo sangue da Irmã Dorothy, mãe da Floresta que homens e mulheres que lá testemunham o Evangelho de Jesus Cristo não se deixem vencer pelo medo, não se entreguem ao dinheiro, não tenham medo dos que matam o corpo, não desistam de fazer da Terra, da Floresta e da Vida DOM DE DEUS.