O Papel do professor na Educação a
Distância
Resumo
Refletiremos
sobre o professor no processo ‘ensinar’ com a tecnologia e mediação da Internet.
O método pesquisa foi uma profunda análise bibliográfica. O tema proposto se
justifica em contraposição à ideia de que na Educação a Distância o professor
não tem mais “lugar”. Apresentaremos a educação mediada pela tecnologia e nesse
processo o professor é fundamental. A EaD não exclui, nem tão pouco subestima o
professor, mas dá a ele um diferencial; ele deixa de ser o “transmissor” e torna-se
mediador de situações de aprendizagem. Na EaD ele é o pesquisador, o criador e
motivador de estudantes que na hora, no local e quando desejam interagem na
sala de aula virtual, mediatos por textos didáticos e ferramentas desta sala,
bem como com intertextos disponibilizados pela Internet; isso dá ao professor
autonomia e, o que lhe é essencial: torna o estudante autônomo e autodidata em
seu processo de formação acadêmica.
Palavras-chave: Educação
a Distância, professor, mediador, aluno, autonomia.
Introdução
A
configuração do pensamento e conhecimento humano pelos filósofos gregos e as
respostas mitológicas às buscas humanas não se esgotam nos tempos idos, nem nos
tempos dogmáticos da Idade Média movida pelo crescimento do cristianismo, muito
menos pelo racionalismo da idade moderna. A construção do conhecimento
determinada pela expansão do capitalismo em sociedades definidas pela indústria
cultural centradas em um saber fixo e definido pela classe dominante se auto
destrói e faz emergir uma nova forma de aprender e ensinar.
As
novas tecnologias, mediadas pela Internet, fazem surgir novas configurações de
escola, de professor, de aluno e de sala de aula. O acesso irrestrito e
imediato às informações, aos conceitos e teorias trazem um novo impulso para
quem deseja aprender. Não há mais alguém que estudou e sabe para ensinar, mas o
acesso pela internet, tornou todos e qualquer um, membro produtor do saber.
Guardando as devidas proporções do “CtrlC” / “CrtlV” e, referindo-se aos que
são autores e não copiadores de conhecimento, o tema do papel do professor na
Educação a Distância emerge como desafio sempre reflexivo de uma figura
essencial no processo ensino aprendizagem.
A
superação da concepção de um professor que está a serviço de um conhecimento
definido e engessado pelo poder dominante está na compreensão de seu papel
social e humanizador exercido através de novas Tics.
A
sociedade da tecnologia não só descontrói conceitos e valores, como impõe novas
necessidades para as sociedades e seus membros. O que dependia de tempos longos
de acesso e construção de novas reflexões pelos livros e bibliotecas, hoje se
dá num clique e, em um endereço eletrônico o universo está nas mãos. Tal característica tecnológica da sociedade
faz surgir um novo modo de conhecer, de dar respostas e soluções às buscas
humanas. Nesse cenário o processo ensino aprendizagem faz buscar e construir
uma nova identidade do professor, ele não é mais o que sabe para ensinar, senão
um pesquisador que aprende ensinando a pesquisar e a aprender.
Ao
mesmo tempo que a EaD se caracteriza pela autonomia acadêmica de quem dela se
utiliza, faz dos sujeitos no processo do aprender, professor e aluno,
cocriadores num processo reflexivo e dialógico tornando o conhecimento
patrimônio universal, irrestrito e não manipulado em favor de poucos que se
julgam cultos.
Assim
nos propomos a refletir a partir de referências bibliográficas concepções em
que o professor não é o que ensina os “sem luz”; nos propomos ler e refletir no
processo ensino aprendizagem mediado pela Educação a Distância o papel do professor,
sua presença na educação e as configurações desse ícone pelas exigências das
novas tecnologias e sua importância social em todo e qualquer processo ensino
aprendizagem.
Educação a Distância
A experiência humana se dá pela troca, pela partilha, pela
imposição, pela aceitação e assimilação de um sobre o outro. O relacionamento
entre humanos é o caminho de conhecer, entender, interpretar e agir na relação
consigo e com o universo que o cerca. Esta relação é mediada por elementos, por
ideias ou realidades que estabelecem vínculos.
Entre o continente e a ilha está a água e mediado pela
navegação, a distância é curta e os vínculos se dão estabelecendo união entre
este e aquele. O encontro com o distante, com o aparente intangível, com o
conhecimento desconhecido, com o que constrói e dá sentido à vida se dá pela
educação. E, o que é Educação? Entenda-se educação como apropriação de
conceitos, de hábitos, de costumes que são vividos e revividos, se necessário
transformados para que o homem possa viver e sobreviver aos desafios que a vida
lhe apresenta. No processo educacional formas primitivas e ultramodernas sempre
caminharam juntas para dar ao homem a apropriação do que busca.
Os diferentes recursos e instrumentos de inter-relação
e mediação, sejam os naturais ou os engenhados pela inteligência humana para
apropriação do que está fora do homem sempre caminharam juntos; assim falar da
experiência humana no século XXI, bem como do processo de apropriação do
conhecimento para resolução dos problemas humanos, sejam intra ou extra-humano,
requer considerar a profunda e estreita relação entre a Educação e a
Tecnologia. Nosso foco tecnológico é a Educação a Distância, como modo de
apropriação e criação de relações entre os homens e destes com o conhecimento.
A escrita na história humana surge pela necessidade de
estabelecer e perpetuar vínculos dando a sociedade oral a possibilidade de
perpetuar sua experiência. Nesse contexto, ao apresentar a História da EaD,
Maia & Mattar (2007, p.21), a comunicação é presencial pressupondo o
emissor e o receptor juntos, no mesmo tempo e espaço, interagindo para
efetivação da educação e comunicação. O surgimento da escrita garante não só o
registro, mas o compartilhamento das experiências humanas sem necessariamente a
presença do emissor e receptor no mesmo lugar. Daí o surgimento da Educação a
Distância e a necessidade de ‘aprender’ os diferentes signos escritos, temos,
portanto, a libertação da comunicação do tempo e do espaço.
Entre os gregos a escrita torna-se instrumento de
comunicação estabelecendo vínculos na polis de forma que o homem vai se
organizando moral e eticamente. (VERNANT, 1999, p. 174)
Significativa importância da escrita temos na
experiência paulina, Paulo em suas cartas apostólicas descreve sua conversão ao
cristianismo e esta força da escrita impera nos continentes tornando o
Evangelho de Cristo conhecido e vividos por milhões de homens e mulheres. A
distância entre a experiência de Paulo com seu Deus e seus interlocutores é
extinta, pela escrita e, todos se apropriam desta verdade de fé e a vivem.
Na experiência grega e nas cartas de Paulo temos os
exemplos iniciais e isolados da Educação a Distância. (MAIA & MATTAR, 2007,
p.21)
Na Idade Média a invenção da Imprensa ultrapassa
definitivamente a concepção presencial, estar no mesmo lugar, da comunicação e
da educação. Se a escrita possibilitou que as pessoas separadas geograficamente
se comunicassem e documentassem informações, obras e registros podemos dizer
que a invenção de Gutenberg aprimorou e facilitou o processo de comunicação
permitindo que as ideias fossem compartilhadas e transmitidas para um maior
número de pessoas intensificando os debates, a produção e a reprodução do
conhecimento teríamos então, um modelo de Educação a Distância.
Tendo apontado os pressupostos básicos do surgimento
da Educação a Distância passamos a descrever, de forma sintética a sua
história.
A primeira geração de Educação a Distância é
compreendida à luz dos cursos por correspondência, sendo o grande vilão o
rádio, por ele as pessoas são informadas e formadas em seu local de vida. Ocupa
expressivo espaço nesta geração a taquigrafia, que passa a ser grande veículo
de divulgação e formação, vemos anúncios em jornais sobre cursos a distância
desde a década de 1720. Efetivamente a Educação a Distância rompe o espaço e
lugar atrelando-se aos meios de transporte, o trem e, ao surgimento do Correio,
em meados do século XIX. Há um número considerável de ofertas de cursos por
correspondência. Várias iniciativas de criação de cursos a distância se
espalharam, com o surgimento de sociedades, institutos e escolas.
Os casos mais bem-sucedidos foram os cursos técnicos
de extensão universitária. Havia,
entretanto, grande resistência com relação a cursos universitários a distância,
por isso poucas foram as experiências duradouras, mesmo nos países mais
desenvolvidos. (MAIA & MATTAR, 2007, p.22)
A segunda fase da educação a distância, como descreve
Maia & Mattar, emerge com as novas mídias e as universidades abertas. Estas
“influenciadas pelo modelo da Open
University Britânica, fundada em 1969, que se utiliza intensamente das novas
mídias, rádio, TV, vídeos, fitas cassetes e centros de estudo, onde se
realizaram diversas experiência pedagógicas à distância”. (2007, p.22)
Outra fase no processo da Educação a Distância se dá
via online. Com o desenvolvimento das tecnologias da informação e da
comunicação fica posto uma diversidade de mídias integradas pelo computador via
Internet. Vídeo texto, microcomputador, multimídia, hipertexto, redes de
computadores vão dar à educação a distância novas características e exigir
novas configurações dos criadores e geradores do conhecimento mediado pela
tecnologia.
Com o desenvolvimento explosivo da Internet em 1995
temos uma ruptura na história da educação à distância. Surge um novo território
para a Educação, o espaço virtual da aprendizagem digital baseado na rede de
computadores. (MAIA & MATTAR, 2007, p.22)
O novo espaço virtual baseado em rede de computadores
interligados pela Internet impõe um novo formato para o processo ensino
aprendizagem à distância, um formato que tem no aluno o protagonismo da
educação. Com essas novas perspectivas tecnológicas a educação torna-se
interativa, participativa e flexível que acontece onde o aluno está, em casa,
no trabalho e “na rua”.
Temos aí a necessidade de um novo modo de educação; o
rompimento com a tradição de educação e educação a distância até então, exige o
enfrentamento de novos desafios que venha a atender, hoje, os milhões de
pessoas que tem acesso à educação a distância oferecidos pelas instituições
educacionais através de cursos presenciais e a distância, há inclusive
universidades virtuais. De 1970 a 1980 temos um crescimento da oferta de EaD
pelas universidades abertas europeias, estas oferecem só cursos à distância,
como também pela International Correspondence Schools (ICS) dos EUA. (MAIA
& MATTAR, 2007, p. 23)
Nesse processo temos, pois, a destacar conforme nosso
propósito neste artigo o papel do professor e reconhecê-lo como um ser
tecnológico, sim, muita tecnologia, toda tecnologia possível... mas com um coração
que faça brilhar na noite, ou seja o professor na Educação a Distância é como
que luz cuja ação não é movida pela técnica ou maquinalmente, mas é uma ação do
coração que chama, que desafia, que media, que compromete o estudante e o faz
brilhar e realizar seus propósitos na busca e construção do conhecimento.
O professor na EaD
O século XXI mergulhou a educação num
processo dinâmico e profundo com recursos de comunicação jamais vistos pela
humanidade. O racionalismo clássico deu lugar ao totalitarismo midiático,
tornando a sala de aula/escola obsoletos para uma geração que tem sua gênesis
na indústria cultural que achata e torna sábio, não aquele que é capaz de
refletir e tomar decisões, mas o que absorve e responde mumificado ao que é
ditado pela mídia produzida pela classe dominante. Num contexto determinado
pelo poder de convencimento para o consumo do que aparentemente satisfaz, o
processo ensino aprendizagem necessita redescobrir-se e, neste está o professor
e o aluno. Na atual sociedade o homem não é mais rural e agrário com produção
artesanal de bens para sua sobrevivência, ele está interposto entre natureza,
máquinas e tecnologia. Tal realidade faz emergir uma estrutura social
determinada pela tecnologia, mais complexa do que a estrutura social
tradicional. Assim também o papel do professor não está mais posto pelo que
estudou, pelo que sabe e ensina, mas pela sua flexibilidade, criticidade e
capacidade de interagir à distância na construção do conhecimento. (VALENTE,
1996, p. 5-6)
O homem explora a natureza, domina-a e
utiliza-a para seus fins, sobretudo para lucrar e não mais como forma de
subsistência. Essas e todas as mudanças ocorridas na sociedade pelo avanço da
tecnologia em atendimento aos apelos do consumismo interferiram nos diferentes
papeis sociais dos homens, e nesse aspecto está nossa preocupação, o novo papel
do professor.
Dentro de um contexto tecnológico em que a
educação passou a ser objeto de consumo para produção e atendimento às
necessidades do mercado, o papel da escola, da sala de aula e de seus atores,
professor e aluno, está associado ao progresso em contraposição à estática
sociedade tradicional onde prevalece a verdade inerte de costumes e valores.
O papel do professor no processo ensino
aprendizagem tem sido e será sempre tema recorrente no universo educacional,
sobretudo na era tecnológica da educação. Transpor os limites de uma concepção
de educação presencial para uma educação a distância exige um novo professor,
uma nova maneira de educar mediante a busca de novas competências e novas
práticas pedagógicas, o cartesianismo não tem espaço. Inserir o ser humano na
sociedade que vive e ser ele, o protagonista das soluções para os problemas
surgidos é a essência da educação hoje e papel do professor.
Muitos têm se dedicado a refletir sobre
tão importante e nobre essência, o professor, o que nos obriga a construir uma
reflexão sobre o ele, em tempos que parece ser dispensável e substituível pela
máquina e tecnologias. Os recursos midiáticos não dispensam o professor, ele se
faz presente pela voz e imagem reproduzidas por softwares que através da rede
mundial de comunicação, a Internet, está presente em todos os cantos e recantos
onde há o desejo de apropriação do conhecimento; está presente na elaboração do
material didático mediacional, cujo texto é provocativo, investigador,
desafiador para tornar o aluno crítico, reflexivo e autônomo na sua produção
acadêmica.
O professor ocupa na EaD papel essencial na
produção do conhecimento, não um conhecimento fruto do estático e definido por
ele, mas construído entre ele, o estudante e o objeto a ser conhecido. Conhecer
não está aqui entendido como capacidade de reter saberes, senão como habilidade
de aprender para saber fazer, como concebem Giordan & Del Vecchi:
“ Conhecer não é apenas reter
temporariamente uma multidão de noções anedóticas ou enciclopédicas para
“regurgitá-las”, como pede o ensino atual. “Saber” significa, primeiro, ser
capaz de utilizar o que se aprendeu, mobilizá-lo para resolver um problema ou
aclarar e analisar uma situação. (...) Saber é poder construir modelos,
combinar e integrar conceitos oriundos de disciplinas diferentes (...) Saber é
ser ator de sua própria formação, poder colocar-se num processo de formação
permanente que não se limita à escola (...)” (1996, p. 11-12)
Esse conceito do conhecimento desafia a
concepção de ensino-aprendizagem a construir-se não mais tendo como referencial
a escola, a sala de aula ocupadas por professor e aluno, mas a entender que o
processo de apropriação do conhecimento se dá pela construção do mesmo pelo
aluno, mediado pelo professor que não só ensina, mas aprende ao ensinar. Assim
não há um “sabedor”, nem mesmo um conhecedor do objeto a ser conhecido, mas sim
um mediador que ao mediar a aprendizagem torna-se aprendente, há uma troca e
nessa experiência está inevitavelmente o novo perfil de professor nascido da
EaD.
O conceito platônico de educação como arte
corresponde perfeitamente à concepção de professor na EaD. Em A República (VII: 518-519) temos:
“A educação é a arte (téchne) que consiste
em fazer a alma voltar-se de modo mais expedito a si mesma. Não se trata de lhe
dar a faculdade de ver, que ela já possui (por natureza); somente seu órgão não
está bem dirigido, não se volta para onde se deve voltar, e isto é o que cumpre
corrigir. ”
Assim o professor não é o que faz
acontecer, mas o que suscita no aluno o tornar-se o que é, não como expressão
de definição científica, mas como e com particularidades próprias, dotados de
potencialidades específicas, é como afirma Tardiff sobre o educador e o processo
de formação:
“O educador não é um técnico nem um artista, no
sentido moderno desses termos: sua ação não é baseada num saber rigoroso sobre
fenômenos necessários que precisam ser organizados num sistema de causas e
efeitos; também não é uma atividade criadora que impõe a uma matéria uma forma
arbitrária saída de imaginação do artista. Ao contrário, o processo de formação
visa aqui o “desenvolvimento” de uma forma humana de vida que tem em si mesma
sua própria finalidade, noção que engloba, a um só tempo, os fins naturais,
sociais e individuais do ser humano”. (2008, p. 159)
Pensar o professor é conceber a arte e o
artista no processo de produção de sua obra, por ela sua alma torna-se
concreta, real e histórica incidindo sobre a realidade que a cerca e transformando-a.
Na EaD o professor tem papel mediador e está próximo, pedagogicamente, de seus
alunos e dos diferentes mundos que envolvem os sujeitos do processo ensino
aprendizagem. Uma metodologia dialógica, necessária em EaD, pressupõe que o
processo aprendizagem decorra de uma comunhão mediatizada pelo professor no universo
que cerca os envolvidos: o professor, o aluno e todo o contexto que os cerca.
O professor de EaD assume um novo papel no
processo do “aprender do aluno”, ele não mais ensina senão, orienta atividades,
motiva buscas e incentiva o desenvolvimento de seus alunos, atem-se em mostrar
o progresso dos alunos bem como corrigi-los quando necessário. A mediação se dá
pela interação via ferramentas virtuais entre professor e estudante, onde
ocorrem os ajustes necessários nos deslizes conceituais, científicos,
acadêmicos e à aplicabilidade dos mesmos em sua vida e prática
profissional/acadêmica.
Não é mais o professor o que ensina, senão
o que aprende e motiva os alunos para a aprendizagem. Nessa nova configuração
Pedro Demo diz que o professor é o que aprende bem na medida que se torna autor
e pela autoria ensina a buscar o saber:
“O importante é que o professor se insira no contexto
da web 2.0 como autor visível e criativo,
passando a fazer parte desse tipo de esfera pública. Autoria precisa tornar-se
compromisso cotidiano, porque é o que funda o professor. Não aula. ” (2009, p.
111)
“Na prática, as novas tecnologias não destronaram o
professor; ao invés, encontraram seu lugar mais adequado, realçando a nobreza
da função maiêutica e autopoiética” [...] No fundo, as novas tecnologias
rendem-se à maior tecnologia jamais inventada na espécie humana: aprender bem” (2009, p. 110)
As novas tecnologias empregadas no
processo ensino aprendizagem exigem do professor um perfil e papeis delineados
pela autonomia centrada no indivíduo, o que faz olhar ambos, professor e aluno,
sob o ponto de vista humanista. Assim o papel do professor no processo ensino
aprendizagem pela EaD é exercitar e basear a aprendizagem em conteúdos
significativos e na resolução de problemas como reflete Formiga (2009, p. 44):
“Aprender é praticar um processo contínuo de opção,
que começa pelas fontes dos conteúdos. Nesse processo criativo e inovador do
exercício docente, desaparece a hierarquia do saber e a pretensão de
superioridade intelectual dos mestres. O aluno/aprendiz passa a dispor de
acesso generalizado ao conhecimento, facilitado pelos meios de comunicação e
tecnologias inteligentes, que se apresentam sob a forma de uma equalização de
oportunidades, igualmente oferecidas e disponíveis aos professores”.
Portanto,
na interação professor-aluno/aprendiz mediados pela tecnologia se constrói a
resolução de situações problemas, a resposta não está dada, posta, pronta e
acabada, mas é fruto da busca e construção do saber. Não há uma superioridade
intelectual do professor sobre o aprendiz, mas um movimento constante de
aprender, pela criatividade e inovação, dos sujeitos nesse processo de Educação
à Distância.
Considerações Finais
Considerando as diferentes etapas e concepções de
educação à distância concluímos que cada época configurou uma identidade para o
professor e o que percebemos de comum em seu papel é de que é sujeito neste
caminho e, sua presença é indispensável no processo ensino aprendizagem. O
professor passa de reprodutor de um conhecimento para mediador, de sabedor para
pesquisador, de alguém “pronto” para construtor de sua autonomia e de seus
alunos.
O professor na EaD agrega em sua identidade a
identidade do estudante e como sabedor do que ensina torna-se com o estudante o
grande apreendedor. Sem estas características seu papel e significado tornam-se
irrisórios reproduzindo uma experiência inócua e vazia para ele próprio e para
seus estudantes.
Sendo o professor o mediador de um processo em que o
estudante se torna sujeito autônomo, assim também o professor deve assumir uma
postura autônoma e protagonista, para que possa promover, interagir e estimular
a construção do conhecimento e do sujeito que deseja conhecer.
Hannah Arendt, em seu livro Entre o passado e o futuro, publicado em 1954, faz uma afirmativa
que corrobora a identidade do professor de EaD e ao mesmo tempo lança um
desafio, diz ela: “a essência da educação
é a natalidade, o fato de que seres humanos nascem para o mundo”, daí o
professor de EaD não ser reprodutor, senão o ‘parturiente’ que dá ao mundo do
estudante e faz do mundo, objeto de estudo e espaço para realização do ser
humano, que é o estudante, que nasce pelo conhecimento.
Desafios brotam de uma concepção de professor como
parte da construção do estudo pelo estudante, sobretudo ver e entender o
professor não mais como o que ensina, mas como o que oportuniza caminhos para
que se aprenda.
A identidade do professor, por longo séculos esteve
engessada e engessou gerações, hoje as novas tecnologias e uma educação à
distância por elas mediada oportunizam romper com a ideia de professor em sala
de aula presencial mergulhando-o no universo sem fronteiras e sem limites
inaugurado pela Internet. Nesse novo universo educacional, pela Internet, cabe
ao professor garantir o exercício da palavra, não uma palavra qualquer
esvaziada de qualquer ideia de formação, de abertura para o mundo e de cuidado
da alma.
Ao professor de EaD é exigido uma postura que se
oponha ao trivial e subjetivismo intelectual “[...] já não se trata de transformar os homens em sujeitos autônomos,
mas de satisfazer seus desejos imediatos, de diverti-los ao menor preço
possível” (FINKIELKRAUT, 1988 p. 128). Diríamos que o professor de EaD
torna-se e torna seus estudantes críticos e reflexivos em oposição a uma
cultura acadêmica massificada de um “livro só”.
Assim o professor de EaD é desafiado e contribui para
novos horizontes quando tem consciência de seu papel político-pedagógico, como
diria nosso grande educador Paulo Freire (1996, p. 126-127):
“Se a educação
não é a chave das transformações sociais, não é também simplesmente reprodutora
da ideologia dominante. O que quero dizer é [...] O educador e educadora
críticos não podem pensar que, a partir do curso que coordenam ou do seminário
que lideram, podem transformar o país. Mas podem demonstrar que é possível mudar.
E isto reforça nele ou nela a importância de sua tarefa político-pedagógica”.
Portanto, com este artigo queremos provocar a todos na
busca por uma identidade do professor de EaD. Ampliar horizontes e ver que o
papel do professor de EaD prima por uma educação preocupada em aperfeiçoar e
desenvolver as potencialidades de cada um, como um ser livre e crítico
apropriando-se da sua vida humana por completo, assimilando a cultura em que
vive para que, com os conceitos historicamente construídos e aceitos faça do
espaço que vive um espaço de cidadania e vida.
Ao concluir este artigo fica a provocação para o
presente e futuro, investir, refletir e contribuir para que a prática do
professor em EaD seja um espaço de confiança, de diálogo, de respeito, de
tolerância, de zelo, de liberdade, de compromisso e responsabilidade.
Referências
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o
futuro (Between past and future - 1954) Tradução de
Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000.
DEMO,
Pedro. Educação hoje: “novas”
tecnologias, pressões e oportunidades. São Paulo: Atlas, 2009.
ELIAS, Marisa Del Cioppo. CELESTIN FREINET – Uma pedagogia de atividade e cooperação.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
FINKIELKRAUT, A. A derrota do pensamento. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.
FORMIGA, M. M. M. e Fredric Michael Litto (orgs.),
Educação a distância: o estado da arte. São
Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GIORDAN,
A. & VECCHI, G. As origens do saber:
das concepções dos aprendentes aos conceitos científicos. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1996.
LIMA,
Lauro de Oliveira. Estórias da Educação no
Brasil: de Pombal a Passarinho. 3. Ed. Rio de Janeiro: Brasília.
MAIA,
Carmem. João Mattar. ABC da EaD. 1.
ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
MASETTO,
Marcos Tarciso. Competência pedagógica do
professor universitário. São Paulo: Summus, 2003.
MISUKAMI,
Maria da Graça N., Alline M. M. R. Reali (org.) Formação de professores, práticas pedagógicas e escola. São Carlos:
EdUSFCar, 2002.
PILLETTI,
Nelson. História da educação no Brasil.
6. Ed. São Paulo: Ática, 1996.
RUMBLE,
Greville. A gestão dos sistemas de ensino
a distância. Tradução de Marília Fonseca. – Brasília: Editora Universidade
de Brasília: Unesco, 2003.
TARDIF,
Maurice. Saberes docentes e formação
profissional. 9.ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
VALENTE, J.A. (1996). O papel do professor no
ambiente Logo. In: Valente, J.A. (Org.) O professor no ambiente Logo: formação
e atuação. Campinas, Gráfica da UNICAMP. p. 01-34.
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e sociedade na Grécia Antiga. Tradução Myriam Campello. 2. Ed.
Rio de Janeiro: José Olímpio, 1999.