domingo, 15 de novembro de 2015

O professor na Educação a Distância

O Papel do professor na Educação a Distância
Resumo
Refletiremos sobre o professor no processo ‘ensinar’ com a tecnologia e mediação da Internet. O método pesquisa foi uma profunda análise bibliográfica. O tema proposto se justifica em contraposição à ideia de que na Educação a Distância o professor não tem mais “lugar”. Apresentaremos a educação mediada pela tecnologia e nesse processo o professor é fundamental. A EaD não exclui, nem tão pouco subestima o professor, mas dá a ele um diferencial; ele deixa de ser o “transmissor” e torna-se mediador de situações de aprendizagem. Na EaD ele é o pesquisador, o criador e motivador de estudantes que na hora, no local e quando desejam interagem na sala de aula virtual, mediatos por textos didáticos e ferramentas desta sala, bem como com intertextos disponibilizados pela Internet; isso dá ao professor autonomia e, o que lhe é essencial: torna o estudante autônomo e autodidata em seu processo de formação acadêmica.
Palavras-chave: Educação a Distância, professor, mediador, aluno, autonomia.

Introdução
A configuração do pensamento e conhecimento humano pelos filósofos gregos e as respostas mitológicas às buscas humanas não se esgotam nos tempos idos, nem nos tempos dogmáticos da Idade Média movida pelo crescimento do cristianismo, muito menos pelo racionalismo da idade moderna. A construção do conhecimento determinada pela expansão do capitalismo em sociedades definidas pela indústria cultural centradas em um saber fixo e definido pela classe dominante se auto destrói e faz emergir uma nova forma de aprender e ensinar.
As novas tecnologias, mediadas pela Internet, fazem surgir novas configurações de escola, de professor, de aluno e de sala de aula. O acesso irrestrito e imediato às informações, aos conceitos e teorias trazem um novo impulso para quem deseja aprender. Não há mais alguém que estudou e sabe para ensinar, mas o acesso pela internet, tornou todos e qualquer um, membro produtor do saber. Guardando as devidas proporções do “CtrlC” / “CrtlV” e, referindo-se aos que são autores e não copiadores de conhecimento, o tema do papel do professor na Educação a Distância emerge como desafio sempre reflexivo de uma figura essencial no processo ensino aprendizagem.
A superação da concepção de um professor que está a serviço de um conhecimento definido e engessado pelo poder dominante está na compreensão de seu papel social e humanizador exercido através de novas Tics.
A sociedade da tecnologia não só descontrói conceitos e valores, como impõe novas necessidades para as sociedades e seus membros. O que dependia de tempos longos de acesso e construção de novas reflexões pelos livros e bibliotecas, hoje se dá num clique e, em um endereço eletrônico o universo está nas mãos.  Tal característica tecnológica da sociedade faz surgir um novo modo de conhecer, de dar respostas e soluções às buscas humanas. Nesse cenário o processo ensino aprendizagem faz buscar e construir uma nova identidade do professor, ele não é mais o que sabe para ensinar, senão um pesquisador que aprende ensinando a pesquisar e a aprender.
Ao mesmo tempo que a EaD se caracteriza pela autonomia acadêmica de quem dela se utiliza, faz dos sujeitos no processo do aprender, professor e aluno, cocriadores num processo reflexivo e dialógico tornando o conhecimento patrimônio universal, irrestrito e não manipulado em favor de poucos que se julgam cultos.
Assim nos propomos a refletir a partir de referências bibliográficas concepções em que o professor não é o que ensina os “sem luz”; nos propomos ler e refletir no processo ensino aprendizagem mediado pela Educação a Distância o papel do professor, sua presença na educação e as configurações desse ícone pelas exigências das novas tecnologias e sua importância social em todo e qualquer processo ensino aprendizagem.

Educação a Distância

A experiência humana se dá pela troca, pela partilha, pela imposição, pela aceitação e assimilação de um sobre o outro. O relacionamento entre humanos é o caminho de conhecer, entender, interpretar e agir na relação consigo e com o universo que o cerca. Esta relação é mediada por elementos, por ideias ou realidades que estabelecem vínculos.
Entre o continente e a ilha está a água e mediado pela navegação, a distância é curta e os vínculos se dão estabelecendo união entre este e aquele. O encontro com o distante, com o aparente intangível, com o conhecimento desconhecido, com o que constrói e dá sentido à vida se dá pela educação. E, o que é Educação? Entenda-se educação como apropriação de conceitos, de hábitos, de costumes que são vividos e revividos, se necessário transformados para que o homem possa viver e sobreviver aos desafios que a vida lhe apresenta. No processo educacional formas primitivas e ultramodernas sempre caminharam juntas para dar ao homem a apropriação do que busca.
Os diferentes recursos e instrumentos de inter-relação e mediação, sejam os naturais ou os engenhados pela inteligência humana para apropriação do que está fora do homem sempre caminharam juntos; assim falar da experiência humana no século XXI, bem como do processo de apropriação do conhecimento para resolução dos problemas humanos, sejam intra ou extra-humano, requer considerar a profunda e estreita relação entre a Educação e a Tecnologia. Nosso foco tecnológico é a Educação a Distância, como modo de apropriação e criação de relações entre os homens e destes com o conhecimento.
A escrita na história humana surge pela necessidade de estabelecer e perpetuar vínculos dando a sociedade oral a possibilidade de perpetuar sua experiência. Nesse contexto, ao apresentar a História da EaD, Maia & Mattar (2007, p.21), a comunicação é presencial pressupondo o emissor e o receptor juntos, no mesmo tempo e espaço, interagindo para efetivação da educação e comunicação. O surgimento da escrita garante não só o registro, mas o compartilhamento das experiências humanas sem necessariamente a presença do emissor e receptor no mesmo lugar. Daí o surgimento da Educação a Distância e a necessidade de ‘aprender’ os diferentes signos escritos, temos, portanto, a libertação da comunicação do tempo e do espaço.
Entre os gregos a escrita torna-se instrumento de comunicação estabelecendo vínculos na polis de forma que o homem vai se organizando moral e eticamente. (VERNANT, 1999, p. 174)
Significativa importância da escrita temos na experiência paulina, Paulo em suas cartas apostólicas descreve sua conversão ao cristianismo e esta força da escrita impera nos continentes tornando o Evangelho de Cristo conhecido e vividos por milhões de homens e mulheres. A distância entre a experiência de Paulo com seu Deus e seus interlocutores é extinta, pela escrita e, todos se apropriam desta verdade de fé e a vivem.
Na experiência grega e nas cartas de Paulo temos os exemplos iniciais e isolados da Educação a Distância. (MAIA & MATTAR, 2007, p.21)
Na Idade Média a invenção da Imprensa ultrapassa definitivamente a concepção presencial, estar no mesmo lugar, da comunicação e da educação. Se a escrita possibilitou que as pessoas separadas geograficamente se comunicassem e documentassem informações, obras e registros podemos dizer que a invenção de Gutenberg aprimorou e facilitou o processo de comunicação permitindo que as ideias fossem compartilhadas e transmitidas para um maior número de pessoas intensificando os debates, a produção e a reprodução do conhecimento teríamos então, um modelo de Educação a Distância.  
Tendo apontado os pressupostos básicos do surgimento da Educação a Distância passamos a descrever, de forma sintética a sua história.
A primeira geração de Educação a Distância é compreendida à luz dos cursos por correspondência, sendo o grande vilão o rádio, por ele as pessoas são informadas e formadas em seu local de vida. Ocupa expressivo espaço nesta geração a taquigrafia, que passa a ser grande veículo de divulgação e formação, vemos anúncios em jornais sobre cursos a distância desde a década de 1720. Efetivamente a Educação a Distância rompe o espaço e lugar atrelando-se aos meios de transporte, o trem e, ao surgimento do Correio, em meados do século XIX. Há um número considerável de ofertas de cursos por correspondência. Várias iniciativas de criação de cursos a distância se espalharam, com o surgimento de sociedades, institutos e escolas.
Os casos mais bem-sucedidos foram os cursos técnicos de extensão universitária.  Havia, entretanto, grande resistência com relação a cursos universitários a distância, por isso poucas foram as experiências duradouras, mesmo nos países mais desenvolvidos. (MAIA & MATTAR, 2007, p.22)
A segunda fase da educação a distância, como descreve Maia & Mattar, emerge com as novas mídias e as universidades abertas. Estas “influenciadas pelo modelo da Open University Britânica, fundada em 1969, que se utiliza intensamente das novas mídias, rádio, TV, vídeos, fitas cassetes e centros de estudo, onde se realizaram diversas experiência pedagógicas à distância”. (2007, p.22)
Outra fase no processo da Educação a Distância se dá via online. Com o desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação fica posto uma diversidade de mídias integradas pelo computador via Internet. Vídeo texto, microcomputador, multimídia, hipertexto, redes de computadores vão dar à educação a distância novas características e exigir novas configurações dos criadores e geradores do conhecimento mediado pela tecnologia.
Com o desenvolvimento explosivo da Internet em 1995 temos uma ruptura na história da educação à distância. Surge um novo território para a Educação, o espaço virtual da aprendizagem digital baseado na rede de computadores. (MAIA & MATTAR, 2007, p.22)
O novo espaço virtual baseado em rede de computadores interligados pela Internet impõe um novo formato para o processo ensino aprendizagem à distância, um formato que tem no aluno o protagonismo da educação. Com essas novas perspectivas tecnológicas a educação torna-se interativa, participativa e flexível que acontece onde o aluno está, em casa, no trabalho e “na rua”.
Temos aí a necessidade de um novo modo de educação; o rompimento com a tradição de educação e educação a distância até então, exige o enfrentamento de novos desafios que venha a atender, hoje, os milhões de pessoas que tem acesso à educação a distância oferecidos pelas instituições educacionais através de cursos presenciais e a distância, há inclusive universidades virtuais. De 1970 a 1980 temos um crescimento da oferta de EaD pelas universidades abertas europeias, estas oferecem só cursos à distância, como também pela International Correspondence Schools (ICS) dos EUA. (MAIA & MATTAR, 2007, p. 23)
Nesse processo temos, pois, a destacar conforme nosso propósito neste artigo o papel do professor e reconhecê-lo como um ser tecnológico, sim, muita tecnologia, toda tecnologia possível... mas com um coração que faça brilhar na noite, ou seja o professor na Educação a Distância é como que luz cuja ação não é movida pela técnica ou maquinalmente, mas é uma ação do coração que chama, que desafia, que media, que compromete o estudante e o faz brilhar e realizar seus propósitos na busca e construção do conhecimento.

O professor na EaD

O século XXI mergulhou a educação num processo dinâmico e profundo com recursos de comunicação jamais vistos pela humanidade. O racionalismo clássico deu lugar ao totalitarismo midiático, tornando a sala de aula/escola obsoletos para uma geração que tem sua gênesis na indústria cultural que achata e torna sábio, não aquele que é capaz de refletir e tomar decisões, mas o que absorve e responde mumificado ao que é ditado pela mídia produzida pela classe dominante. Num contexto determinado pelo poder de convencimento para o consumo do que aparentemente satisfaz, o processo ensino aprendizagem necessita redescobrir-se e, neste está o professor e o aluno. Na atual sociedade o homem não é mais rural e agrário com produção artesanal de bens para sua sobrevivência, ele está interposto entre natureza, máquinas e tecnologia. Tal realidade faz emergir uma estrutura social determinada pela tecnologia, mais complexa do que a estrutura social tradicional. Assim também o papel do professor não está mais posto pelo que estudou, pelo que sabe e ensina, mas pela sua flexibilidade, criticidade e capacidade de interagir à distância na construção do conhecimento. (VALENTE, 1996, p. 5-6)
O homem explora a natureza, domina-a e utiliza-a para seus fins, sobretudo para lucrar e não mais como forma de subsistência. Essas e todas as mudanças ocorridas na sociedade pelo avanço da tecnologia em atendimento aos apelos do consumismo interferiram nos diferentes papeis sociais dos homens, e nesse aspecto está nossa preocupação, o novo papel do professor.
Dentro de um contexto tecnológico em que a educação passou a ser objeto de consumo para produção e atendimento às necessidades do mercado, o papel da escola, da sala de aula e de seus atores, professor e aluno, está associado ao progresso em contraposição à estática sociedade tradicional onde prevalece a verdade inerte de costumes e valores.
O papel do professor no processo ensino aprendizagem tem sido e será sempre tema recorrente no universo educacional, sobretudo na era tecnológica da educação. Transpor os limites de uma concepção de educação presencial para uma educação a distância exige um novo professor, uma nova maneira de educar mediante a busca de novas competências e novas práticas pedagógicas, o cartesianismo não tem espaço. Inserir o ser humano na sociedade que vive e ser ele, o protagonista das soluções para os problemas surgidos é a essência da educação hoje e papel do professor.
Muitos têm se dedicado a refletir sobre tão importante e nobre essência, o professor, o que nos obriga a construir uma reflexão sobre o ele, em tempos que parece ser dispensável e substituível pela máquina e tecnologias. Os recursos midiáticos não dispensam o professor, ele se faz presente pela voz e imagem reproduzidas por softwares que através da rede mundial de comunicação, a Internet, está presente em todos os cantos e recantos onde há o desejo de apropriação do conhecimento; está presente na elaboração do material didático mediacional, cujo texto é provocativo, investigador, desafiador para tornar o aluno crítico, reflexivo e autônomo na sua produção acadêmica.
O professor ocupa na EaD papel essencial na produção do conhecimento, não um conhecimento fruto do estático e definido por ele, mas construído entre ele, o estudante e o objeto a ser conhecido. Conhecer não está aqui entendido como capacidade de reter saberes, senão como habilidade de aprender para saber fazer, como concebem Giordan & Del Vecchi:
“ Conhecer não é apenas reter temporariamente uma multidão de noções anedóticas ou enciclopédicas para “regurgitá-las”, como pede o ensino atual. “Saber” significa, primeiro, ser capaz de utilizar o que se aprendeu, mobilizá-lo para resolver um problema ou aclarar e analisar uma situação. (...) Saber é poder construir modelos, combinar e integrar conceitos oriundos de disciplinas diferentes (...) Saber é ser ator de sua própria formação, poder colocar-se num processo de formação permanente que não se limita à escola (...)” (1996, p. 11-12)

Esse conceito do conhecimento desafia a concepção de ensino-aprendizagem a construir-se não mais tendo como referencial a escola, a sala de aula ocupadas por professor e aluno, mas a entender que o processo de apropriação do conhecimento se dá pela construção do mesmo pelo aluno, mediado pelo professor que não só ensina, mas aprende ao ensinar. Assim não há um “sabedor”, nem mesmo um conhecedor do objeto a ser conhecido, mas sim um mediador que ao mediar a aprendizagem torna-se aprendente, há uma troca e nessa experiência está inevitavelmente o novo perfil de professor nascido da EaD.
O conceito platônico de educação como arte corresponde perfeitamente à concepção de professor na EaD. Em A República (VII: 518-519) temos:
“A educação é a arte (téchne) que consiste em fazer a alma voltar-se de modo mais expedito a si mesma. Não se trata de lhe dar a faculdade de ver, que ela já possui (por natureza); somente seu órgão não está bem dirigido, não se volta para onde se deve voltar, e isto é o que cumpre corrigir. ”
Assim o professor não é o que faz acontecer, mas o que suscita no aluno o tornar-se o que é, não como expressão de definição científica, mas como e com particularidades próprias, dotados de potencialidades específicas, é como afirma Tardiff sobre o educador e o processo de formação:
“O educador não é um técnico nem um artista, no sentido moderno desses termos: sua ação não é baseada num saber rigoroso sobre fenômenos necessários que precisam ser organizados num sistema de causas e efeitos; também não é uma atividade criadora que impõe a uma matéria uma forma arbitrária saída de imaginação do artista. Ao contrário, o processo de formação visa aqui o “desenvolvimento” de uma forma humana de vida que tem em si mesma sua própria finalidade, noção que engloba, a um só tempo, os fins naturais, sociais e individuais do ser humano”. (2008, p. 159)
Pensar o professor é conceber a arte e o artista no processo de produção de sua obra, por ela sua alma torna-se concreta, real e histórica incidindo sobre a realidade que a cerca e transformando-a. Na EaD o professor tem papel mediador e está próximo, pedagogicamente, de seus alunos e dos diferentes mundos que envolvem os sujeitos do processo ensino aprendizagem. Uma metodologia dialógica, necessária em EaD, pressupõe que o processo aprendizagem decorra de uma comunhão mediatizada pelo professor no universo que cerca os envolvidos: o professor, o aluno e todo o contexto que os cerca.
O professor de EaD assume um novo papel no processo do “aprender do aluno”, ele não mais ensina senão, orienta atividades, motiva buscas e incentiva o desenvolvimento de seus alunos, atem-se em mostrar o progresso dos alunos bem como corrigi-los quando necessário. A mediação se dá pela interação via ferramentas virtuais entre professor e estudante, onde ocorrem os ajustes necessários nos deslizes conceituais, científicos, acadêmicos e à aplicabilidade dos mesmos em sua vida e prática profissional/acadêmica.
Não é mais o professor o que ensina, senão o que aprende e motiva os alunos para a aprendizagem. Nessa nova configuração Pedro Demo diz que o professor é o que aprende bem na medida que se torna autor e pela autoria ensina a buscar o saber:
“O importante é que o professor se insira no contexto da web 2.0 como autor visível e criativo, passando a fazer parte desse tipo de esfera pública. Autoria precisa tornar-se compromisso cotidiano, porque é o que funda o professor. Não aula. ” (2009, p. 111)
“Na prática, as novas tecnologias não destronaram o professor; ao invés, encontraram seu lugar mais adequado, realçando a nobreza da função maiêutica e autopoiética” [...] No fundo, as novas tecnologias rendem-se à maior tecnologia jamais inventada na espécie humana:  aprender bem” (2009, p. 110)
As novas tecnologias empregadas no processo ensino aprendizagem exigem do professor um perfil e papeis delineados pela autonomia centrada no indivíduo, o que faz olhar ambos, professor e aluno, sob o ponto de vista humanista. Assim o papel do professor no processo ensino aprendizagem pela EaD é exercitar e basear a aprendizagem em conteúdos significativos e na resolução de problemas como reflete Formiga (2009, p. 44):
“Aprender é praticar um processo contínuo de opção, que começa pelas fontes dos conteúdos. Nesse processo criativo e inovador do exercício docente, desaparece a hierarquia do saber e a pretensão de superioridade intelectual dos mestres. O aluno/aprendiz passa a dispor de acesso generalizado ao conhecimento, facilitado pelos meios de comunicação e tecnologias inteligentes, que se apresentam sob a forma de uma equalização de oportunidades, igualmente oferecidas e disponíveis aos professores”.
            Portanto, na interação professor-aluno/aprendiz mediados pela tecnologia se constrói a resolução de situações problemas, a resposta não está dada, posta, pronta e acabada, mas é fruto da busca e construção do saber. Não há uma superioridade intelectual do professor sobre o aprendiz, mas um movimento constante de aprender, pela criatividade e inovação, dos sujeitos nesse processo de Educação à Distância.

Considerações Finais

Considerando as diferentes etapas e concepções de educação à distância concluímos que cada época configurou uma identidade para o professor e o que percebemos de comum em seu papel é de que é sujeito neste caminho e, sua presença é indispensável no processo ensino aprendizagem. O professor passa de reprodutor de um conhecimento para mediador, de sabedor para pesquisador, de alguém “pronto” para construtor de sua autonomia e de seus alunos.
O professor na EaD agrega em sua identidade a identidade do estudante e como sabedor do que ensina torna-se com o estudante o grande apreendedor. Sem estas características seu papel e significado tornam-se irrisórios reproduzindo uma experiência inócua e vazia para ele próprio e para seus estudantes.
Sendo o professor o mediador de um processo em que o estudante se torna sujeito autônomo, assim também o professor deve assumir uma postura autônoma e protagonista, para que possa promover, interagir e estimular a construção do conhecimento e do sujeito que deseja conhecer.
Hannah Arendt, em seu livro Entre o passado e o futuro, publicado em 1954, faz uma afirmativa que corrobora a identidade do professor de EaD e ao mesmo tempo lança um desafio, diz ela: “a essência da educação é a natalidade, o fato de que seres humanos nascem para o mundo”, daí o professor de EaD não ser reprodutor, senão o ‘parturiente’ que dá ao mundo do estudante e faz do mundo, objeto de estudo e espaço para realização do ser humano, que é o estudante, que nasce pelo conhecimento.
Desafios brotam de uma concepção de professor como parte da construção do estudo pelo estudante, sobretudo ver e entender o professor não mais como o que ensina, mas como o que oportuniza caminhos para que se aprenda.
A identidade do professor, por longo séculos esteve engessada e engessou gerações, hoje as novas tecnologias e uma educação à distância por elas mediada oportunizam romper com a ideia de professor em sala de aula presencial mergulhando-o no universo sem fronteiras e sem limites inaugurado pela Internet. Nesse novo universo educacional, pela Internet, cabe ao professor garantir o exercício da palavra, não uma palavra qualquer esvaziada de qualquer ideia de formação, de abertura para o mundo e de cuidado da alma.
Ao professor de EaD é exigido uma postura que se oponha ao trivial e subjetivismo intelectual “[...] já não se trata de transformar os homens em sujeitos autônomos, mas de satisfazer seus desejos imediatos, de diverti-los ao menor preço possível” (FINKIELKRAUT, 1988 p. 128). Diríamos que o professor de EaD torna-se e torna seus estudantes críticos e reflexivos em oposição a uma cultura acadêmica massificada de um “livro só”.
Assim o professor de EaD é desafiado e contribui para novos horizontes quando tem consciência de seu papel político-pedagógico, como diria nosso grande educador Paulo Freire (1996, p. 126-127):
“Se a educação não é a chave das transformações sociais, não é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante. O que quero dizer é [...] O educador e educadora críticos não podem pensar que, a partir do curso que coordenam ou do seminário que lideram, podem transformar o país. Mas podem demonstrar que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância de sua tarefa político-pedagógica”.

Portanto, com este artigo queremos provocar a todos na busca por uma identidade do professor de EaD. Ampliar horizontes e ver que o papel do professor de EaD prima por uma educação preocupada em aperfeiçoar e desenvolver as potencialidades de cada um, como um ser livre e crítico apropriando-se da sua vida humana por completo, assimilando a cultura em que vive para que, com os conceitos historicamente construídos e aceitos faça do espaço que vive um espaço de cidadania e vida.
Ao concluir este artigo fica a provocação para o presente e futuro, investir, refletir e contribuir para que a prática do professor em EaD seja um espaço de confiança, de diálogo, de respeito, de tolerância, de zelo, de liberdade, de compromisso e responsabilidade.

Referências
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro (Between past and future - 1954) Tradução de Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000.
DEMO, Pedro. Educação hoje: “novas” tecnologias, pressões e oportunidades. São Paulo: Atlas, 2009.
ELIAS, Marisa Del Cioppo. CELESTIN FREINET – Uma pedagogia de atividade e cooperação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
FINKIELKRAUT, A. A derrota do pensamento. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.
FORMIGA, M. M. M. e Fredric Michael Litto (orgs.), Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GIORDAN, A. & VECCHI, G. As origens do saber: das concepções dos aprendentes aos conceitos científicos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
LIMA, Lauro de Oliveira. Estórias da Educação no Brasil: de Pombal a Passarinho. 3. Ed. Rio de Janeiro: Brasília.
MAIA, Carmem. João Mattar. ABC da EaD. 1. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
MASETTO, Marcos Tarciso. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: Summus, 2003.
MISUKAMI, Maria da Graça N., Alline M. M. R. Reali (org.) Formação de professores, práticas pedagógicas e escola. São Carlos: EdUSFCar, 2002.
PILLETTI, Nelson. História da educação no Brasil. 6. Ed. São Paulo: Ática, 1996.
RUMBLE, Greville. A gestão dos sistemas de ensino a distância. Tradução de Marília Fonseca. – Brasília: Editora Universidade de Brasília: Unesco, 2003.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 9.ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
VALENTE, J.A. (1996). O papel do professor no ambiente Logo. In: Valente, J.A. (Org.) O professor no ambiente Logo: formação e atuação. Campinas, Gráfica da UNICAMP. p. 01-34.

VERNANT, Jean-Pierre. Mito e sociedade na Grécia Antiga. Tradução Myriam Campello. 2. Ed. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1999.

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