segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Bispos hipócritas! Serra hipócrita! Católicos hipócritas! Sacrilégio com nossa Mãe Maria!

Estou indignado!

Você assistiu ao debate na noite desse domingo na BAND?

Que vergonha!

Dilma e Serra sem compromisso com os grandes problemas do povo!

Voto Dilma, mas confesso quero vê-la defendendo projetos, ideias, ações

Não voto Serra, mas quero vê-lo homem público, político sério e não esse

HIPÓCRITA CATÓLICO que hoje está estampado nos sites BEIJANDO A CRUZ DE UM TERÇO em
Goiânia.


Bispos que atacaram a Dilma é isso que vocês querem? Hipócritas sois também!!!!


Fizeram e estão fazendo do ministério que ocupam um palanque eleitoral para esse candidato que não representa a Fé Cristã, muito menos o que pensa a doutrina social da Igreja.


Vós Bispos que apoiam o Serra não estais também vós movidos pela burguesia incomodada e inconformada? Não estais inconformados com a derrocada da classe social que vos mantém nos porões das sacristias? É vergonhoso apoiar esse ou aquele candidato, sobretudo dizendo que um é a favor da vida e o outro não. Como sabeis? Não estão eles vestidos de cordeiro? Ou vós vos confundis porque estais vestidos de bispos? O PT nasceu nas sacristias da Igreja, despontou como a solução dos problemas que assolam nosso povo, isso já não foi o suficiente para aprenderem e não apoiarem este ou aquele. Como Igreja sempre fui e sou PT, mas é preciso amadurecer. O PT que conhecemos não é o PT de agora, porém o Serra de agora não será o Serra de amanhã. Quantas vezes vós vistes esse SERRA na Igreja, agora nas duas festas de grandes concentrações marianas o filho da mãe usa o rosário para se promover.... isso é inaceitável!  Católicos brasileiros, enganai-vos!!!!!!!!!!!!!!! Deixai-vos enganar!!!!! Bispos "cabo eleitorais" enganai vossas ovelhas e permanecei nos porões das sacristias. Hipócritas!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Senhora de Aparecida olhai pela Igreja de seu Filho e não permita que ela seja encanada por seus pastores e nem que estes sirvam aos interesses mesquinhos de uma burguesia desinstalada pela ascenção dos mais pobres! Amém!

CARTA ABERTA AO CLERO ARTISTICO, A PAROQUIANOS VITALÍCIOS, AOS CLIENTES DE IGREJA E A PESSOAS COMPROMETIDAS COM A CAUSA DE CRISTO

CARTA ABERTA AO CLERO ARTISTICO, A PAROQUIANOS VITALÍCIOS, AOS CLIENTES DE IGREJA E A PESSOAS COMPROMETIDAS COM A CAUSA DE CRISTO


Renê Roldan*

Saúde e paz é o meu desejo sincero a todos que lerem essa carta. Que o Deus uno e trino professado no credo apostólico romano, que o exemplo de seu único filho e nosso irmão Jesus Cristo e a força do Espírito Santo derramado sobre todos nós pelo batismo, permita que as palavras e pensamentos nela contida sejam corretamente entendidas, afim de todos que a lerem, reflitam à luz da verdade, e assim possa colaborar para corrigir os desvios que afastam do caminho e da causa de Jesus Cristo.

Tenho consciência plena da sociedade que vivo e do papel ou papeis que nela de vo representar, por força do ator social que sou. Sou filho de uma humilde família que de herança deixou-me a fé católica apostólica romana. Após minha primeira eucaristia, durante um período de aproximadamente 15 anos estive ausente de qualquer prática religiosa, e somente em meados de 1976, onde fui convidado para participar de um encontro de casais com Cristo, é que aquela semente de fé recebida no meu batismo começou a germinar. Dois anos após, em 1978, fiz uma segunda etapa daquele encontro, onde ouvi um canto que meu tirou da letargia que eu estava e que até hoje ecoa nos meus ouvidos: “Se ouvires a voz do vento chamando sem cessar, se ouvires a voz do tempo mandando esperar, a decisão é tua. O trigo já se perdeu. Cresceu ninguém colheu. E o mundo passando fome, passando fome de Deus”

Assim como a borboleta sai do casulo eu percebi que o país que onde vivia, que cantava, que sambava e que encantava o mundo com o futebol, passava por um gravíssimo problema social, fruto de uma ditadura militar instalada já a 12 anos. Percebi que nosso pais estava passando fome de Deus e que os poucos que se arriscavam profeticamente em agir em Seu nome, arriscavam-se a si e aos seus.

Conheci lideranças religiosas, verdadeiros profetas, que em nome de Deus se posicionaram sendo voz daqueles que não tinham voz e nem vez. Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Angélico Sândalo Bernardino, Dom Pedro Casaldaliga, Dom Helder Camara, Leonardo Boff, são alguns dos que representavam honrosamente a igreja e a causa de Cristo. Inspirado por eles me desafiei-me a conhecer a palavra de Deus, desafiei-me em ler a Bíblia, desafiei-me a ser cristão no mundo.

O tempo passou e aquela igreja também. O que hoje vejo é uma igreja totalmente diferente daquela, descompromissada com as estruturas pecaminosa da sociedade, que não tem mais lideres, mas ídolos que dão audiência, que promovem espetáculos e concorrem com tudo que de pior existe nas igrejas neo pentecostais. Padre preocupado em bater recorde de confissões ao invés das conversões. São modelos e não exemplos.

O ponto forte que determinou essa decisão foram os lamentáveis fatos ocorridos quando da coleta de assinaturas e votos para o plebiscito sobre o limite da propriedade da terra, nos dias 01 a 07 de setembro de 2010, após as missas realizadas na paróquia São João Batista de Vila Carrão. Começo parabenizando o trabalho que o pequeno, mas inquieto grupo de Pastoral de Fé e Política realizou naqueles dias visando à coleta de assinaturas e votos. Tal gesto mostrou de um lado a importância da comunidade quando comprometida no papel de promotora da justiça e do bem comum da população, especialmente para com os mais atingidos pela escandalosa situação agrária em nosso pais, e do outro a inércia e insensibilidade humana de pessoas comuns, lideranças religiosas, clientes de igreja e papa hóstias contumazes.

De nossos ouvidos ainda ressoam considerações daqueles e daquelas que colocaram suas assinaturas nas listas, na saída das 4 missas que estivemos fazendo aquele trabalho. Foram ricos e pobres, jovens e velhos, negros e brancos que se expressaram por palavras, gestos, e trejeitos suas posições para o grave problema da distribuição da terra. Houve famílias que emocionadas testemunharam seus próprios dramas vividos com a expulsão da terra. Contagiaram-nos.

Em contrapartida outros demonstraram total repulsa ao assunto reproduzindo frases do senso comum para qualificar os excluído/as da terra como vagabundos ou invasores. Dessas pessoas que olham unicamente e exclusivamente para si, que vão às igrejas motivadas pelos mesmos impulsos de quando vão às compras, pouco o quase nada se pode esperar em nível de solidariedade para com os mais fracos. São narcisistas que construíram e idolatram um deus que é a imagem e semelhança delas, e fazem da igreja - pois encontram espaço - um shopping de conveniência, e vêem o padre como um ídolo ao invés de servo de Deus. Vi e certamente ainda as verei como sósias de Pilatos e algozes do cruel martírio de Cristo. A súplica que Cristo fez ao Pai do alto da cruz, referindo-se aos responsáveis pela sua crucificação, se reproduziu no meu coração quando vi pessoas totalmente indiferentes a esse gravíssimo clamor. “Oh Pai, Perdoai-lhes, pois eles não sabem o que dizem e nem o que fazem”. Compreender a incompreensão com muita paciência e tolerância talvez seja a saída desafiadora para uma tomada de posição.

Que dizer do Jo Jorge de Farias, cidadão humilde que há anos ganha uns trocadinho tomando conta dos carros dos que vão às missas de domingo? Tocou-nos em muito suas palavras de gratidão a Deus e nós por ainda existir pessoas que ajudam os mais fracos. Sua história, que poucos sabem e porque jamais quiseram saber espelha bem a de muitos irmãos nossos vitimas da falta de amor e do descaso das autoridades. Jo foi vizinho da paróquia por muito tempo. Morou em um dos barracos construído ao redor do fétido córrego Rapadura. Posteriormente, foi morar ao lado da marginal Tiete, na favela próxima à alça de acesso ao viaduto Aricanduva, derrubada recentemente pela prefeitura, por estar como diz o poeta Chico Buarque “na contramão atrapalhando o trafego”. Hoje mora em outro barraco, à margem do início da rodovia Fernão Dias, de onde vêm todos os domingos. “Oh Pai! “Perdoai-nos pela falta de sensibilidade para com os excluídos da mesa comum”

Algumas coisas, ainda que inaceitáveis, são entendidas, sem que signifique concordância. É o caso do modelo de igreja que ai está. Quem são seus clérigos? Que formação receberam? Quem foram seus orientadores? Por que optaram em ser padre? O que sabem do mundo, das raízes e dramas de seus “fregueses” (para quem estranhar essa palavra oriento que faça uma leitura aos documentos históricos que registram o início de uma paróquia e a posse do primeiro vigário)?. O pior é que muitos padres alem de aceitar tudo isso, se deixam levar pela fama colaborando para que a casa de Deus vire casa de espetáculo, e o presbitério vira palco ou palanque. Só com muito espírito de mansidão é que poderemos compreender (isso não significa concordar), esse tipo de atitude. “Oh Pai, Perdoai-lhes, pois eles não sabem nada do que fazem.

Ainda com relação ao Plebiscito, o que dizer daqueles que só assinaram porque o padre pediu, tranqüilizando-os do medo e garantindo de que suas propriedades não correriam nenhum perigo de serem atingidas pela lei.

Imagino que para eles a Palavra de Deus não seja compreendida como sendo de salvação, mas de alienação, confundem o sagrado como sendo um amuleto que dá sorte, proteção, faz milagre e provoca emoções ao ser tocado. Com eles é tudo na base de troca. Isso me faz lembrar aquela pessoa que ao ouvir de um mendigo a súplica “me dê uma esmola pelo amor de Deus”, atende não por compaixão, mas por “temor a Deus”. Chamo a esses de “clientes de igreja”.

Estaria eu exagerando ao dizer que esse tipo de comportamento é o mesmo que leva uma pessoa a procurar uma casa de espetáculo, ou seja, para sentir fortes emoções? Prova disso, foi o triste dialogo que eu ouvi de duas mulheres quando saiam da igreja após a tal missa de cura e libertação. “E ai chorou muito?”. Resposta: “Hoje até que nem tanto”. “Mas valeu”. Puro show. Atrevo em dizer que como elas muitas pessoas que freqüentam tais missas comportam-se como membros de um fã clube ou de torcida organizada, e associam o padre como celebridade famosa, um autêntico ator e sentem-se frustradas quando vão não é ele o celebrante. Nesse contexto os ministros são atores coadjuvantes no burocrático papel de office-boy do artista principal. “Oh Pai! “Perdoai-lhes, os humanos robôs que não percebem o que fazem”.

O efeito colateral desse tipo de religião resulta numa sociedade formada numa boa parte por pessoas egoístas, egocêntricas, individualistas, fascistas, preconceituosas, violentas e indiferentes. Não é por acaso que no nosso pais a coisa pública esta o caos, que a corrupção faz escola com crescente número de alunos, que a justiça só existe para julgar e prender os pobres, que a distribuição de terras é criminosa, e que por pensar só em seus interesses e os de sua família, faz do povo brasileiro um dos mais despolitizado do mundo. Exemplo inconteste disso esta no número de assinaturas e votos coletados, ou seja, em nenhuma das 4 tradicionais missas de final de semana as adesões foram inferiores às obtidas na famosa e concorridíssima missa de cura e libertação que mensalmente superlota a igreja. “Curai-lhes Pai da cegueira do coração que os impede de Reconhecê-lo na figura dos que mais sofrem”.

Até quando nossa sociedade que se identifica como Cristã, que agrega lideres zelosos em orientar os fieis a si identificarem como católico apostólico romano, que tem padres capazes de reunir multidões, continuará a ignorar os pecados estruturais enraizados na nossa cultura e que provoca a brutal desigualdade social em nosso pais? Até quando a cruz ao invés do amor haverá de ser o sinal que identifica o católico? Até quando as imagens de santos serão objeto de adoração e não fontes de inspiração e exemplo de vida?

Foi muito triste ouvir frases carregadas de preconceito contra nossos irmãos nordestinos, que por questão de educação não reproduzo nesta carta. Oriento esses “clientes de igreja”, e a todos que assim pensam a visitar algum dos inúmeros canteiros de obra existente ao nosso redor, e se tiverem coragem bater um papo ainda que seja bem rápido, com aqueles trabalhadores que lá estão. Pergunte a eles sobre suas origens, a razão de ali estarem, como vivem, como e onde vive sua família, quanto ganha, quanto tempo trabalha lá, como trabalha por que esta ali. Caso não queira, vá até o cortiço que existe na avenida próxima da paróquia, ou no final da rua da igreja, ao lado esquerdo. Se tiverem tempo e estomago as margens do córrego Rapadura são “boas” e próximas opções. Depois disso durmam na paz de Cristo, se forem capaz.

Jamais esquecerei cenas de paroquianos fugindo dos locais onde estava o pessoal coletando adesões. Passavam virando o rosto, fazendo caras e bocas, como se aquilo que fosse algo impuro e estivessem profanando o templo. Dias antes, esses mesmos fariseus contemporâneos acolheram na famosa missa show batizada de cura e libertação, em pleno presbitério, com sorrisos, abraços, beijos e fotos um candidato a deputado federal, apresentado pelo padre como um velho amigo. Quanta incoerência. Quanta ignorância.

Não é por acaso que de uns tempos para cá, em todas as missas que participo, tenho uma estranha sensação de que o sentido da oração que antecede o abraço da paz, tem o sentido de subornar a Jesus Cristo para que faça vistas grossas em “não olhar para os nossos pecados, mas a fé que anima a nossa igreja” Que tipo de fé anima hoje as nossas igrejas? Seria igual àquela de ação ativa do paralitico que busca a cura, descrita em Mc. 2, 3-12, ou aquela realizada face ao medo dos discípulos de Cristo, quando Ele acalma a tempestade, conforme narra Mc. 4, 35-41 ? A esses de coração duro dedico o grito do profeta da terra, Dom Pedro Casaldaliga, bispo emérito da prelazia de São Feliz do Araguaia: “Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar! Malditas sejam todas as leis, amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois e fazer a Terra, escrava e escravos os humanos!”

Sinto que há um cansaço crônico na igreja de hoje, principalmente as localizadas próxima ao centro de São Paulo. Grande parte do clero atual dá sinais de doente, não mostra nenhuma inquietude para com a estrutura pecaminosa que permeia as relações interpessoais na nossa sociedade. Boa parte deles cuida do visual, do exterior, atendem àquela demanda do mercado, não pequena, dos que buscam se safar dos seus particulares problemas, ou realizar sonhos custe o que custar..

Tenho a mania de quando visito alguma igreja olhar em primeiro lugar para a porta de entrada, aos cartazes ali afixados. Para mim a fachada retrata o tipo de comprometimento social que ela tem. Se não vejamos: assim que a missa do sábado, dia 04, terminou, sem que fosse notado, os cartazes alusivos ao plebiscito foram retirados. Quando percebi a falta fui perguntar a uma líder paroquiana sobre quem teria sido o ator, bem como o porquê. A tímida resposta foi de que era porque iria haver casamentos, onde pude concluir que o “palco” estava recebendo novo cenário, para um espetáculo diferente. Reflexos dessa apatia foram facilmente identificados nas oficinas realizadas no Congresso de Leigos, em pleno andamento aqui na cidade de São Paulo. O predomínio maciço da presença dos senhores e senhoras de cabelos brancos dispensa qualquer comentário. Boa parte dos jovens que hoje freqüentam as igrejas são aqueles que vivem olhando para o céu esperando que ele se abra e de lá saia Deus. Dura realidade. Permita Deus que momentos como esse venham a servir de exemplo para romper bloqueios e preconceitos que historicamente inibem ações cidadãs por parte de leigos, fieis e do clero, bem como, a se engajarem nas pastorais e movimentos sociais, objetivando a construção de uma sociedade mais justa.

Existem assuntos que por ignorância, conhecimento e vontade para conhecê-los tornam-se tabus e acabam gerando preconceitos, alem de criar conflitos, principalmente dentro da própria igreja. Um deles é a palavra política. Aconselho àqueles que ainda insiste em dizer que fé não pode ser misturada com política a percorrerem alguns caminhos apontados pela Sagrada Escritura, especialmente boa parte dos livros que compõem o Antigo Testamento. Procurem saber quais as causas que os profetas abraçaram, depois, se tiverem humildade, peçam perdão a Deus solidarizando-se com os que mais sofrem com a injusta distribuição de terra. Desde Abraão até os nossos dias um enorme grito não para de clamar aos céus. Ele vem de milhões de filhos e filhas de Deus cujo acesso e fruto da terra lhes são negado. Em nosso pais as feridas abertas pela colonização cheiram a podre. Enormes áreas de terra, maiores que alguns municípios inteiro, não produzem absolutamente nada. Essa situação tem colaborado com o inchaço populacional nas áreas urbanas, encostas e áreas de riscos, com o aumento da miséria, fome e a violência. “Oh Pai! Perdoai a todos que estão cansados de não caminhar”

A feliz compensação que eu não poderia deixar de registrar e que jamais esquecerei foi a participação da Bia. Bia é uma criança. Bia é coroinha e seguindo o positivo exemplo de seus pais participou de forma ativa, contribuindo em todos os momentos, debaixo de frio e garoa.

Deu uma verdadeira lição prática do que é ser cristão no mundo de hoje. Sem ter lido e ouvido o saudoso papa João Paulo II ela deu provas pratica de que “o verdadeiro cristão é o homem/mulher da igreja no coração do mundo, e o homem/mulher do mundo no coração da igreja”. Com esse gesto, ela, e o pequeno, mas comprometido grupo da pastoral de Fé e Política de nossa paróquia, ajudaram a ecoar um dos slogans do movimento, qual seja, o de colocar limite em quem não tem limites. A esses últimos que chamo carinhosamente de inquietos e que tenho profunda satisfação de ser parceiro de caminhada, e a todos que anonimamente gastam a vida pela causa dos mais necessitados, desejo que encontrem ainda mais força e coragem no lamento profético em forma de oração, escrito pelo padre espanhol Luiz Espinal, jesuíta, defensor dos direitos do povo e de suas organizações, morto em La Paz na Bolívia com 17 perfurações, em 22 de março de 1980.

“GASTAR A VIDA”

“Jesus Cristo disse: ‘Quem quer economizar a vida, perdê-la=á; e quem a gastar por mim, a recobrará em vida eterna”

Apesar de tudo temos medo de gastar a vida e de entregá-la sem reservas. Um terrível instinto de conservação nos leva ao egoísmo e nos atormenta quando queremos jogar a vida.

Pagamos seguros por todas as partes, para evitar os riscos. E alem de tudo há a covardia. . .

Senhor Jesus Cristo, temos medo de gastar a vida. Porém, a vida, Tu no-la deste, para gastá-la. Não podemos economizá-la num estéril egoísmo.

Gastar a vida é trabalhar pelos demais, mesmo que não nos paguem; fazer um favor àquele que nada nos pode devolver; gastar a vida é arriscar-se, mesmo ao fracasso, inevitável, sem falsas prudências; é queimar as naves em bem do próximo.

Somos tochas e somente temos sentido quando nos queimamos; somente então seremos luz.

Livra-nos da prudência covarde, daquela que nos faz evitar o sacrifício e buscar a segurança.

Gastar a vida não se faz com gestos espalhafatosos e falsa teatralidade. A vida se entrega simplesmente, sem publicidade, como a água da fonte, como a mãe que dá o peito ao seu filhinho, como o suor humilde do semeador.

Treina-nos Senhor, a lançarmo-nos ao impossível, porque por detrás do impossível está tua graça e tua presença; não podemos cair no vazio.

O futuro é um enigma, nosso caminho penetra na névoa, contudo, queremos continuar dando-nos, porque Tu estás esperando na noite, com mil olhos humanos, transbordando de lágrimas”

* Economista e membro da Pastoral Fé e Política

Viva o Brasil ! PARA QUE O POVO BRASILEIRO SE PONHA DE PÉ

O Conversa Afiada se orgulha de publicar artigo de Fábio Konder Comparato (*), de titulo “Para que o povo brasileiro se ponha de pé”.


O amigo navegante observará que esta campanha presidencial não tratou de nada do que Comparato discute.

Viva o Brasil !
PARA QUE O POVO
BRASILEIRO SE PONHA DE PÉ

Dentro de poucos dias realizaremos, mais uma vez, eleições em todo o país. Elas coincidirão com o 22º aniversário da promulgação da atual Constituição. Quer isto dizer que já vivemos em plena democracia?

Nada mais ilusório. Se o regime democrático implica necessariamente a atribuição de poder soberano ao povo, é forçoso reconhecer que este continua, como sempre esteve, em estado de menoridade absoluta.

Povo, o grande ausente

Quando Tomé de Souza desembarcou na Bahia, em 1549, munido do seu famoso Regimento do Governo, e flanqueado de um ouvidor-mor, um provedor-mor, clero e soldados, a organização político-administrativa do Brasil, como país unitário, principiou a existir. Tudo fora minuciosamente preparado e assentado, em oposição ao descentralismo feudal das capitanias hereditárias. Notava-se apenas uma lacuna: não havia povo. A população indígena, estimada na época em um milhão e meio de almas, não constituía, obviamente, o povo do novel Estado; tampouco o formavam os 1.200 funcionários – civis, religiosos e militares – que acompanharam o Governador Geral.

Iniciamos, portanto, nossa vida política de modo original: tivemos Estado, antes de ter povo. Quando este enfim principiou a existir, verificou-se desde logo que havia nascido privado de palavra.

Foi assim que o Padre Antonio Vieira o caracterizou, no Sermão da Visitação de Nossa Senhora, pregado em Salvador em junho de 1640. Tomando por mote a palavra latina infans, assim discorreu o grande pregador:

“Bem sabem os que sabem a língua latina, que esta palavra, infans, infante, quer dizer o que não fala. Neste estado estava o menino Batista, quando a Senhora o visitou, e neste permaneceu o Brasil muitos anos, que foi, a meu ver, a maior ocasião de seus males. Como o doente não pode falar, toda a outra conjectura dificulta muito a medicina. (…) O pior acidente que teve o Brasil em sua enfermidade foi o tolher-se-lhe a fala: muitas vezes se quis queixar justamente, muitas vezes quis pedir o remédio de seus males, mas sempre lhe afogou as palavras na garganta, ou o respeito, ou a violência; e se alguma vez chegou algum gemido aos ouvidos de quem o devera remediar, chegaram também as vozes do poder, e venceram os clamores da razão”.

Quase às vésperas de nossa Independência, esse estado de incapacidade absoluta do povo afigurava-se, paradoxalmente, não como um defeito político, mas como uma exigência de ordem pública. Em maio de 1811, o nosso primeiro grande jornalista, Hipólito José da Costa, fez questão de lançar nas páginas do Correio Braziliense, editado em Londres, uma severa advertência contra a eventual adoção no Brasil do regime de soberania popular:

“Ninguém deseja mais do que nós as reformas úteis; mas ninguém aborrece mais do que nós, que essas reformas sejam feitas pelo povo; pois conhecemos as más conseqüências desse modo de reformar; desejamos as reformas, mas feitas pelo governo; e urgimos que o governo as deve fazer enquanto é tempo, para que se evite serem feitas pelo povo.”

A nossa independência, que paradoxalmente não foi o resultado de uma revolta do povo brasileiro contra o rei de Portugal, mas, ao contrário, do povo português contra o rei no Brasil, não suscitou o menor entusiasmo popular. O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire pôde testemunhar: “A massa do povo ficou indiferente a tudo, parecendo perguntar como o burro da fábula: – Não terei a vida toda de carregar a albarda ? ”

A mesma cena, com personagens diferentes, é repetida 67 anos depois, na proclamação da república. “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava“, lê-se na carta, tantas vezes citada, de Aristides Lobo a um amigo. “Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada.”

O disfarce partidário-eleitoral

Mas afinal, era preciso pelo menos fazer de conta que o povo existia politicamente. Para tanto, os grupos dominantes criaram partidos e realizaram eleições. Mas tudo sob forma puramente teatral. O povo tem o direito de escolher alguns atores, mas nunca as peças a serem exibidas. Os atores não representam o povo, como proclamam as nossas Constituições. Eles tampouco representam seu papel perante o povo (sempre colocado na platéia), mas atuam de ouvidos atentos aos bastidores, onde se alojam os “donos do poder”.

No Império, Joaquim Nabuco qualificava a audácia com que os partidos assumiam suas pomposas denominações como estelionato político. Analogamente no início da República, o fato de a lei denominar oficialmente eleições as “mazorcas periódicas”, como disse Euclides da Cunha, constituia “um eufemismo, que é entre nós o mais vivo traço das ousadias de linguagem”.

A Revolução de 1930 foi feita justamente para pôr cobro às fraudes eleitorais. Mas desembocou, alguns anos depois, na ditadura do “Estado Novo”, que suprimiu as eleições, sem no entanto dispensar a clássica formalidade da outorga à nação (já não se falava em povo) de uma nova “Constituição”.

Após o término da Segunda Guerra Mundial, em que muitos dos nossos pracinhas tiveram suas vidas ceifadas na luta contra o nazifascismo, fomos moralmente constrangidos a iniciar uma nova vida política, sob o signo da democracia representativa. Mas a legitimidade desta durou pouco tempo. Já em 7 de março de 1947, ou seja, menos de cinco meses depois de promulgada a nova Constituição, o Partido Comunista foi extinto por decisão judicial ( nesta terra, a balança da Justiça sempre cedeu aos golpes da espada). Em fevereiro de 1954, com o “manifesto dos coronéis”, teve início a preparação do golpe militar de 1964. O estopim para deflagrá-lo foi a iminência de que as forças de esquerda chegassem eleitoralmente ao poder e executassem o programa das “reformas de base”, com o desmantelamento econômico da oligarquia.

Obviamente, para os nossos grupos dominantes, os cidadãos podem votar como quiserem nas eleições, mas desde que se lembrem de que “nasceram para mandados e não para mandar”, segundo a saborosa expressão camoniana.

O regime autoritário, instaurado em 1964 pela caserna, com o apoio do empresariado, dos latifundiários e da Igreja Católica, sob a proteção preventiva do governo norte-americano, reconheceu que a assim chamada “Revolução Democrática” não poderia suprimir as eleições e os partidos. Manteve-os, portanto, mas reduzidos à condição de simples fantoches. Era a “democracia à brasileira”, como a qualificou o General que prendeu o grande Advogado Sobral Pinto. Ao que este retrucou simplesmente: “General, eu prefiro o peru à brasileira”.

O regime de terrorismo de Estado foi devidamente lavado pelo Poder Judiciário, que decidiu anistiar, com as lamentações protocolares, os agentes públicos que mataram, torturaram e estupraram milhares de oponentes políticos.

Chegamos à fase atual, em que as eleições já não incomodam os oligarcas, porque mantém tudo exatamente como dantes no velho quartel de Abrantes. O povo pode até assistir, indiferente ou risonho, uma campanha presidencial, em que os principais candidatos dão-se ao luxo de não discutir um só projeto ou programa de governo, preferindo ocupar todos os espaços da propaganda oficial com chalaças ou sigilos.

Tudo parece, assim, ter entrado definitivamente nos eixos. Um olhar atento para a realidade política, porém, não deixará de notar que a nossa tão louvada democracia carece exatamente do essencial: a existência de um povo soberano.

Iniciamos nossa vida política, sem povo. Alcançamos agora a maturidade, como se o povo continuasse politicamente a não existir.

Sem dúvida, a Constituição oficial declara, solenemente, que “todo poder emana do povo”, acrescentando que ele o exerce “por meio de representantes eleitos ou diretamente” (art. 1º, parágrafo único). Mas toda a classe política sabe – e o Poder Judiciário finge ignorar – que na realidade “todo poder emana dos grupos oligárquicos, que o exercem em nome do povo, por meio dos representantes por este eleitos”.

Daí a questão inevitável: o que fazer para mudar esse triste estado de coisas?
A emancipação política do povo brasileiro
É preciso atacar desde logo o ponto principal.

A soberania, na Idade Moderna, consiste, antes de tudo, em aprovar a Lei das Leis, isto é, a Constituição. Trata-se de uma prerrogativa que só pode ser exercida diretamente. Quem delega o seu exercício a outrem está, na realidade, procedendo à sua alienação. O chamado “poder constituinte derivado” é, portanto, um claro embuste.

Ora, neste país, Constituição alguma, em tempo algum, jamais foi aprovada pelo povo. Todas elas foram votadas e promulgadas por aqueles que se diziam, abusivamente, representantes do povo; quando não foram simplesmente decretadas pelos ocupantes do governo.

O mesmo ocorre com as emendas constitucionais. A Constituição Federal em vigor, por exemplo, já foi emendada (ou remendada) 70 (setenta) vezes em 22 anos; o que perfaz a apreciável média de mais de 3 emendas por ano. Em nenhuma dessas ocasiões, o povo foi convocado para dizer se aceitava ou não tais emendas.

Isto, sem falar no fato absurdo de que a Constituição Federal, ao contrário de várias Constituições Estaduais, não admite a iniciativa popular de emendas ao seu texto.

É preciso, pois, começar a reforma política (alguns preferem dizer a “Revolução”), reservando ao povo o poder nuclear de toda soberania. No nosso caso, ele consiste em aprovar, diretamente, não só a Constituição Federal, como também as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas Municipais, bem como suas subsequentes alterações respectivas.

Em segundo lugar, é indispensável reconhecer ao povo o direito de decidir, por si mesmo, mediante plebiscitos e referendos, as grandes questões que dizem respeito ao bem comum de todos. A Constituição Federal declara, em seu art. 14, que o plebiscito e o referendo, tal como o sufrágio eleitoral, são formas de exercício da soberania popular. Mas determina, no art. 49, inciso XV, que “é da competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar plebiscitos e convocar referendos”. Ou seja, o mandante somente pode manifestar validamente a sua vontade, se houver concordância dos mandatários. Singular originalidade do direito brasileiro!

Para corrigir esse despautério, a Ordem dos Advogados do Brasil, por proposta do autor destas linhas, apresentou anteprojetos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal (transformados no projeto de lei nº 4.718/2004 na Câmara dos Deputados e projeto de lei nº 001/2006 no Senado), pelos quais o plebiscito e o referendo podem ser realizados mediante iniciativa do próprio povo, ou por requerimento de um terço dos membros da Câmara ou do Senado.

A proposta da OAB procurou harmonizar os dispositivos antagônicos da Constituição Federal, interpretando a autorização e a convocação de plebiscitos e referendos, pelo Congresso Nacional, como atribuições meramente formais e não de mérito.

Previram ainda os anteprojetos da OAB novos casos de obrigatoriedade na realização de plebiscitos e referendos.

Assim é que, para impedir a repetição da “privataria” do governo FHC, passaria a ser obrigatório o plebiscito para “a concessão, pela União Federal, a empresas sob controle direto ou indireto de estrangeiros, da pesquisa e da lavra de recursos minerais e do aproveitamento de potenciais de energia hidráulica”; bem como para a concessão administrativa, pela União, de todas as atividades ligadas à exploração do petróleo.

Quanto aos referendos, a fim de evitar o absurdo da legislação eleitoral em causa própria, determinam os projetos de lei citados a obrigatoriedade de serem referendadas pelo povo todas as leis sobre matéria eleitoral, cujo projeto não tenha sido de iniciativa popular.

Inútil dizer que tais projetos de lei acham-se devidamente paralisados e esquecidos em ambas as Casas do Congresso.

Para completar o quadro de transformação da soberania popular retórica em poder supremo efetivo, tive também ocasião de propor duas medidas indispensáveis em matéria eleitoral. De um lado, o financiamento público das campanhas; de outro lado, a introdução do recall ou referendo revocatório de mandatos eletivos, proposta também pela OAB e objeto da emenda constitucional nº 073/2005 no Senado Federal. Assim, o povo assumiria plenamente a posição de mandante soberano: ele não apenas elegeria, mas também teria o direito de destituir diretamente os eleitos. Para os que se assustam com tal “excesso”, permito-me lembrar que o recall já existe e é largamente praticado em 19 Estados da federação norte-americana.

Não sei se tais medidas tornar-se-ão efetivas enquanto eu ainda estiver neste mundo. O que sei, porém, com a mais firme das convicções, é que sem elas o povo brasileiro continuará a viver “deitado eternamente em berço esplêndido”, sem condições de se pôr de pé, para exigir o respeito devido à sua dignidade.

(*) Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra.
 
http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2010/09/19/comparato-para-que-o-povo-brasileiro-se-ponha-de-pe/

Bispos... cabo eleitorais......

Carta aberta a Dom Demétrio - José Comblin


Quinta-feira, 7 de outubro de 2010 - 14h29min
Querido dom Demétrio,

Quero publicamente agradecer-lhe as suas palavras esclarecedoras sobre a manipulação da religião católica no final da campanha eleitoral pela difusão de uma mensagem dos três bispos da comissão representativa do regional Sul I da CNBB condenando a candidata do atual governo e proibindo que os católicos votem nela. Graças ao senhor, sabemos que essa divulgação do documento da diretoria de Sul 1 não foi expressão da vontade da CNBB, mas contraria a decisão tomada pela CNBB na sua ultima assembléia geral, já que esta tinha decidido que os bispos não iam intervir nas eleições. Sabemos agora que o documento dos bispos da diretoria do regional Sul 2 foi divulgado no final de agosto, e durante quase um mês permaneceu ignorado pela imensa maioria do povo brasileiro. Agora, dois dias antes das eleições, um grupo a serviço da campanha eleitoral de um candidato, numa manobra de evidente e suja manipulação, divulgou com abundantes recursos e muito barulho esse documento, criando uma tremenda confusão em muitos eleitores. Pela maneira como esse documento foi apresentado, comentado e divulgado, dava-se a entender que o episcopado brasileiro proibia que os católicos votasse nos candidatos do PT e, sobretudo na sua candidata para a presidência. Dois dias antes das eleições os acusados já não podiam mais reagir, apresentar uma defesa ou uma explicação. Aos olhos do público a Igreja estava dando o golpe que sempre se teme na véspera das eleições, quando se divulga um suposto escândalo de um candidato. Era um golpe sujo por parte dos manipuladores, já que dava a impressão de que o golpe vinha dessa feita da própria Igreja.

Se os bispos que assinaram o documento de agosto, não protestam contra a manipulação que se fez do seu documento, serão cúmplices da manipulação e aos olhos do público serão vistos como cabos eleitorais.

Se a CNBB não se pronuncia publicamente com muita clareza sobre essa manipulação do documento por grupos políticos sem escrúpulos, será cúmplice de que dezenas de milhões de católicos irão agora, no segundo turno votar pensando que estão desobedecendo aos bispos. Seria uma primeira experiência de desobediência coletiva imensa, um precedente muito perigoso. Além disso, certamente afetará a credibilidade da Igreja Católica na sociedade civil, o que não gostaríamos de ver nesta época em que ela já está perdendo tantos fiéis.

Se o episcopado católico deixa a impressão de que a divulgação desse documento nessa circunstância representa a voz da Igreja com relação às eleições deste ano, muitos vão entender que isso significa uma intervenção dos bispos católicos para defender o candidato das elites paulistanas contra a candidata dos pobres. Os pobres têm muita sensibilidade e sentem muito bem o que há na consciência dessas elites. Sabem muito bem quem está com eles e quem está contra eles. Vão achar que a questão do aborto é apenas um pretexto que esconde uma questão social, o desprezo das elites, sobretudo de São Paulo pela massa dos pobres deste país. Milhões de pobres votaram e vão votar na candidata do governo porque a sua vida mudou. Por primeira vez na história do país viram que um governo se interessava realmente por eles e não somente por palavras. Não foi somente uma melhoria material, mas antes de tudo o acesso a um sentimento de dignidade. "Por primeira vez um governo percebeu que nós existimos". Isso é o que podemos ouvir da boca dos pobres todos os dias. Um povo que tinha vergonha de ser pobre descobriu a dignidade. Por isso o voto dos pobres, este ano, é um ato de dignidade. As elites não podem entender isso. Mas quem está no meio do povo, entende.

Os bispos podem lembrar-se de que a Igreja é na Europa o que é, porque durante mais de 100 anos os bispos tomaram sempre posição contra os candidatos dos pobres, dos operários. Sempre estavam ao lado dos ricos sob os mais diversos pretextos. E no fim aconteceu o que podemos ver. Abandonaram a Igreja. Cuidado! Que não aconteça a mesma coisa por aqui! Os pobres sabem, são conscientes e sentem muito bem quando são humilhados. Não esperavam uma humilhação por parte da Igreja. Por isso, é urgente falar para eles.

Uma declaração clara da CNBB deve tranqüilizar a consciência dos pobres deste país. Sei muito bem que essa divulgação do documento na forma como foi feita, não representa a vontade dos bispos do regional Sul 1 e muito menos a vontade de todos os bispos do Brasil. Mas a maioria dos cidadãos não o sabe e fica perturbados ou indignados por essa propaganda que houve.

Não quero julgar o famoso documento. Com certeza os redatores agiram de acordo com a sua consciência. Mas não posso deixar de pensar que essa manipulação política que foi a divulgação do seu documento na véspera das eleições, dava a impressão de que estavam reduzindo o seu ministério à função de cabo eleitoral. O bispo não foi ordenado para ser cabo eleitoral. Se não houver um esclarecimento público, ficará a imagem de uma igreja conivente com as manobras espúrias

Dom Demétrio, o senhor fez jus à sua fama de homem leal, aberto, corajoso e comprometido com os pobres e os leigos deste país. Por isso, o senhor merece toda a gratidão dos católicos que querem uma Igreja clara, limpa, aberta, dialogante. Demonizar a candidata do governo como se fez, baseando-se em declarações que não foram claras, é uma atitude preconceituosa totalmente anti evangélica. Queremos continuar confiando nos nossos bispos e por isso aguardamos palavras claras. Obrigado, dom Demétrio.



José Comblin, padre e pecador. 5 de outubro de 2010
 
http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=5&noticiaId=1498

Marina... Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos.

Amiga/o, eis, abaixo e em anexo, um pequeno texto -"Marina, ... você se pintou?"- de Maurício Abdalla, professor de filosofia da UFES, assessor do Movimento Fé e Política, de Comunidades Eclesiais de Base, um intelectural orgânico, além de ser grande amigo nosso e companheiro de lutas por justiça social e pela construção de uma sociedade sustentável. Maurício Abadalla escreveu o texto que eu estava pensando em escrever. Assino embaixo do inspirador texto que Maurício Abdalla endereçou a Marina Silva. Cf. abaixo ou em anexo. Se gostar, divulgue!


Marina,... você se pintou? (Maurício Abdalla [1][1])

“Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos pobres”, como diz Leonardo Boff.

Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?

Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as “famiglias” que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.

Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.

Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.

Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.

“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.

Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.


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[1][1] Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros.