quinta-feira, 10 de julho de 2014

Câmara de Vereadores de Vitória do Xingu PA










Que vergonha!

No peregrinar, dos Peregrinos de Mary Ward, em Vitória do Xingu-PA fiquei envergonhado em ver tão triste realidade do Poder Legislativo. Vereadores existem em função dos desmandos do Prefeito. Não estou fazendo uma acusação, mas reproduzindo o que ouvi de aliados do prefeito e dos opositores.
Dos aliados ouvi que não há outro jeito, ou votamos o que o prefeito quer ou nossos familiares e amigos são demitidos, pois o emprego que têm foi por benesse do prefeito. Dos opositores o grito gutural de quem não tem força diante de tão monstruosa que é a situação. Dizem que o município de Vitória do Xingu tem tanto dinheiro que recusaram verbas do Governo Federal, por não terem como prestar contas.
Estive a pedido de meu Mestre Vitoriense, Padre Vicente, na sessão da câmara dos vereadores que tinha como pauta a aprovação de Lei Orgânica. Que coisa feia! Estavam presentes alguns líderes da comunidade que fizeram algumas intervenções, sobretudo no que diz respeito à biodiversidade, aos povos ribeirinhos, quilombolas e indígenas, entre outras questões essenciais numa região tão violenta em que o capital/lucro predomina sobre uma multidão influenciada pelo consumo, pelo prazer e pelo poder e em praça pública se embriagam até morrer.
A sessão não começou no horário, depois do tempo regimental os “cabras” ocuparam suas cadeiras e a sessão teve início. Observei um por um dos vereadores. Um jovem vereador ao se aproximar de sua bancada jogou um bloco de papel que tinha nas mãos, como se dissesse “o que to fazendo aqui”. Outro ao seu lado, jovem também, o tempo todo no celular devia estar no FACE ou em algum game. Mas, esse ainda saiu no lucro seu projeto de construção de Canil e sacrifício dos cachorros da cidade foi aprovado, aliás o único discutido e aprovado no dia. Um terceiro não conseguiu chegar! Uma outra, vereadora, também não! Outros dois, um certamente mudo só digitava no celular, outro serviu para elogiar a aprovação do canil. Na mesa o presidente ladeado por outros dois, sendo um deles atrapalhado, foi falar sobre o canil, reportou-se à ocupação, invasão de terras e foi cortado pelo presidente. O outro, ao lado do presidente, elogiou o canil e cuidado com a saúde, sobretudo com a saúde dos motoqueiros que trombam em cachorros pela rua e até morrem.  Esse depois que a sessão foi suspensa porque o advogado assessor da ABRACAM não compareceu, “seu avião furou o pneu”, não me lembro mais qual foi a desculpa dada. Depois da suspensão da sessão um dos vereadores, o ..., disse para a platéia que poderiam ficar tranquilos que a Lei Orgânica não seria votada e, que tudo o que a comunidade pediu, 90% foi acolhido na nova redação, cujo advogado da ABRACAM estava trazendo. Fomos para casa almoçar e por volta das 14h os “bandidos” retomaram a sessão, alguns líderes permaneceram e na discussão perceberam que fomos enganados. O tal advogado chegou com o texto e o que diz respeito aos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e biodiversidade não constava no novo texto. A sessão terminou e nada resolvido.
No dia seguinte, o mestre Vicente disse que teria nova sessão, lá fui para a câmara. Apareceu o vereador R...., nos cumprimentou e informou que não teria sessão, que seria uma reunião interna.  Outros líderes chegaram, questionaram o cancelamento da sessão, os argumentos não convenciam. Veio o tal advogado da ABRACAM falou, falou, falou! Não convenceu. O Renildo falou, falou, falou! Não convenceu. Ficamos aguardando, até que o Vereador R..... retornou dizendo que a reunião não seria para votar a Lei Orgânica, comprometeu-se a informar, através de seu gabinete, o dia da sessão de votação da Lei Orgânica. Fomos embora!
Que vergonha narrar esse episódio! Que vergonha ver sete dos nove vereadores do município enganando-se e enganando o povo em favor dos interesses do prefeito. É o que todos dizem!
Minha vergonha se agravou, quando num jogo do Brasil em praça pública, montaram um telão para a população assistir ao jogo e no intervalo o Senhor Prefeito presente, coitado vem de Altamira, isso mesmo, o prefeito da cidade não mora na cidade. Foi para entregar prêmios para população:Tv e cesta básica de férias para as famílias que tem crianças na escola; depois crianças eram chamadas para responder a perguntas e ganharem prêmios. Que manipulação! As crianças antes de responderem as perguntas precisavam dizer o nome da primeira dama, do prefeito e do vice-prefeito. A primeira dama será candidata a deputada, certamente o vice também! Depois era feita uma pergunta medíocre sobre o resultado do jogo que assistíamos na praça e os nomes da primeira dama e outros eram ditos, reditos e gritados no microfone como que quisessem gravá-los nas nossas mentes.
Assim se encerra o meu retrato da política numa cidade que está atingida, 90%, pela Belo Monte. Senhores vereadores e senhor prefeito não me envergonhem, sou inocente demais para ver tanta gente com o “rabo preso” no poder que exercem na cidade. Vossos munícipes têm medo de vós!
Comunidade de Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos não se rendam e não se vendam ao poder podre de vossos representantes municipais. Confiem em vós, na vossa comunidade e no evangelho de Jesus Cristo e não se deixem abater pelo medo dos que matam o corpo, mas não matam o sonho de uma cidade igualitária onde, indígenas, negros, ribeirinhos e urbanos possam conviver na paz e bem!

J. A. Galiani