O fingimento da bondade é a mais perigosa das maldades.
Recentemente, li a frase que dá título a esta pequena crônica. Por escolha, sou um bom ouvinte de situações das mais diversas, muitas que envolvem mãe e filha, as quais, muitas vezes, carregam décadas de desencontros. Por isso, ouso, com este texto, contribuir para a reflexão e a superação da competição que, não raramente, ocorre entre mães e filhas.
Desde pequena, Clara percebia que sua relação com a mãe era diferente da dos seus amigos. Enquanto outras mães elogiavam e incentivavam, a dela parecia sempre medir forças. Quando alguém dizia: “Que menina linda!”, a mãe logo completava: “Puxou a mim, claro.” Se Clara aparecia com um vestido novo, a mãe vestia um mais chamativo. Se arrumava o cabelo de um jeito diferente, a mãe corria para o espelho e fazia igual – ou melhor.
O problema era que Clara não queria competir. Queria carinho, queria apoio, queria que sua mãe se orgulhasse dela sem precisar se sentir ameaçada. Mas bastava que ela recebesse um olhar a mais, um elogio sincero, para ver os olhos da mãe se tornarem duros e frios. “Você se acha especial demais, não é?”, dizia, sempre com um sorriso enviesado, carregado de algo que Clara não sabia nomear na infância, mas que, depois, entendeu ser inveja.
Namorar? Nem pensar. A mãe encontrava defeitos em qualquer rapaz que se aproximasse. “Ele não está à sua altura”, dizia, mas o tom não era de proteção, e sim de desdém. E, se por acaso alguém lhe dirigia um olhar de interesse, a mãe rapidamente se colocava entre os dois, como se quisesse absorver toda a atenção para si.
As conquistas de Clara também eram recebidas com desdém. “Conseguiu aquele emprego? Espero que não ache que isso significa alguma coisa, porque no meu tempo era muito mais difícil.” Tudo que ela fazia era diminuído, rebaixado, como se o sucesso da filha representasse uma ameaça pessoal.
Levaram anos para Clara entender que sua mãe não a via como filha, mas como rival. Que por trás dos conselhos severos e das críticas constantes, havia um medo silencioso. MÃE precisa SER MÃE, NÃO TEM A NECESSIDADE DE FINGIR QUE AMA A FILHA!!!
Uma relação de competição entre mãe e filha pode gerar ressentimentos e desgastes emocionais, mas há maneiras de transformar essa dinâmica em algo mais saudável. Aqui estão alguns argumentos e estratégias para ajudá-las a superar esse conflito:
1. Reconhecimento da Individualidade
Cada uma tem sua própria trajetória, talentos e desafios. Comparações são injustas porque cada pessoa tem um conjunto único de experiências e habilidades. Em vez de competir, é essencial reconhecer e valorizar as conquistas individuais.
2. Mudança de Perspectiva: De Rivais para Aliadas
Mãe e filha não precisam competir; podem se apoiar mutuamente. Quando uma cresce e se desenvolve, isso pode ser motivo de orgulho e não de ameaça. Apoiar-se significa crescer juntas, não em oposição.
3. Fortalecimento da Comunicação
Muitas rivalidades surgem por falta de diálogo aberto e honesto. Expressar sentimentos sem medo de julgamento pode evitar mal-entendidos e aliviar tensões. Usar frases como “eu sinto que...” ajuda a evitar tom acusatório.
4. Reconhecimento e Cura de Feridas do Passado
Conflitos antigos podem alimentar a competição. Trabalhar o perdão e compreender que ambas erram e acertam pode ajudar a construir uma relação mais equilibrada. Terapia familiar pode ser um bom caminho se as mágoas forem profundas.
5. Celebrar Conquistas em Conjunto
Ao invés de enxergar o sucesso da outra como uma derrota pessoal, aprender a comemorar as vitórias mútuas fortalece o vínculo. Pequenos gestos de reconhecimento podem mudar a dinâmica da relação.
6. Estabelecer Limites Saudáveis
Cada uma deve ter espaço para viver sua vida sem interferências excessivas. Respeitar as escolhas da outra é fundamental para evitar comparações desnecessárias e ressentimentos.
7. Trabalhar a Autoestima e a Segurança Emocional
Muitas competições vêm de inseguranças individuais. Trabalhar a autoconfiança pode reduzir a necessidade de validação externa e evitar rivalidades desnecessárias.
Se mãe e filha conseguirem substituir a competição pela parceria, podem transformar a relação em algo muito mais forte e significativo.
José A. Galiani (Pedagogo, Teólogo, Filósofo)
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