sexta-feira, 2 de maio de 2014

NOSSOS FILHOS NÃO SÃO DEUSES

NOSSOS FILHOS NÃO SÃO DEUSES

A sociedade pós-moderna tem no seu ápice o consumo, o descarte, o prazer, o ter, o poder exercício realizado na vida de nossos filhos no espaço social chamado ESCOLA.
 Como nossos pequenos estão formatados nessa realidade e como essa realidade tem tornado pais idólatras.
Os tempos estão invertidos e os valores reconstruídos. Os pais não são mais referência para os filhos, mas estes são para os pais DEUSES, a quem os pais servem sem medida.  Tudo o que querem, tudo o que pedem, tudo o que exigem, tudo absolutamente tudo nós damos aos nossos filhos, afinal dizem as mães ele saiu de dentro de mim e, eu o conheço e sei quem é meu filho. Não digo o contrário, mas digo que, o que ela conhece não é seu filho, mas o que ela quer que ele seja. Pior é quando o que ela diz conhecer, porque saiu dela, não é o que é, mas o que ele quer que ela acredite que ele seja.
É uma inversão de tudo, do papel paterno, do papel materno, do papel social que queremos para nossos filhos. Tornamos nossos pequenos, seres prontos e soberanos a quem dobramos os joelhos e adoramos. Eles não erram, não são crianças, não adolescem! O que fazem é certo, o que falam é lei, o que mentem é verdade! A palavra de um adulto, diante da palavra do DEUS nosso filho é falsa, é questionada, é desacreditada. Lembro-me dos tempos que ao tomar um castigo na escola em casa era castigo dobrado, mesmo quando a escola não tinha razão. Mas, seria um DEUS desacreditado?
Os tempos passaram e fazemos para nossos filhos o que nossos pais não tiveram condições de nos fazer e, por isso eles são perfeitos, eles não mentem para nós, eles não nos enganam, eles só nos dizem o que é verdade e quando mentem dizem para nós que mentiram. Meu DEUS, que deus forte são nossas crianças. Pior é quando para irem a festinhas, para namorarem, para viajarem com amigos, para irem à baladas, para fazerem nada mentem, nos enganam dizendo que não tem compromissos escolares, dizendo que são os professores os errados, dizendo que .....  que..... que..... são deuses e não fizeram o que está dito que fizeram.
Pais nossos filhos só são nossos filhos, eles não são deuses e precisam que DIGAMOS NÃO, que digamos que mesmo eles estando certos, quando um adulto diz algo dele é preciso que entenda que o que foi dito é para seu bem, é para que possa crescer aprendendo que a vida se desenvolve na contrariedade, nos desafios e enfrentamento do que não é do agrado deles. Nossos filhos não são DEUS!

MISSÕES EM VITÓRIA DO XINGU PA. Peregrinos de Mary Ward envangelizam em terras de conflito!

Em Vitória do Xingu PA, nossa presença será uma presença amiga, serena e evangélica. Que Nossa Senhora Aparecida nos projeta e cuide para que possamos testemunhar seu Filho, Jesus e deixar na comunidade o que em nós ficará: CERTEZA DE QUE A VITÓRIA está para quem CRÊ!

O chamado “Custo Amazônico” é manobrado para aumentar os lucros em todos os ramos.

Belo Monte: a bofetada na cara

Em síntese, a assistência à saúde aqui, talvez mais que em outras regiões do país, é tratada como um negócio. O chamado “Custo Amazônico” é manobrado para aumentar os lucros em todos os ramos. Uma consulta chega a custar R$ 250,00. Um parto vai à cifra exorbitante de R$ 4.000,00. A não ser quando se dá um jeitinho, o negócio da saúde se mistura ao negócio da politicagem, e um parto é trocado por votos
Hoje (30/04) fecha o Hospital Natália Arraes em Brasil Novo, município atingido por Belo Monte. Sua continuidade impõe um custo mensal de R$ 250.000, sendo R$ 56.000 apenas de aluguel do espaço com a estrutura e, segundo os gestores públicos locais, a Prefeitura não suporta esse gasto.
Essa situação numa área onde se impõe um empreendimento de 30 bilhões de reais lembra a música tão cantada no tempo da Ditadura, ‘esse é um país que vai pra frente’, enquanto lutadores eram exilados, torturados,  e a vida do povo ia para trás.
Definitivamente, por enquanto água e energia são mercadorias! O contrário disso é sonho, que pode materializar-se no Projeto Energético Popular com organização e luta.
O Natália Arraes é uma história grande! Mas não vamos impor ao leitor o sacrifício de conhecê-la toda.
Em síntese, a assistência à saúde aqui, talvez mais que em outras regiões do país, é tratada como um negócio. O chamado “Custo Amazônico” é manobrado para aumentar os lucros em todos os ramos.
O único hospital em Brasil Novo é particular!
Com a chegada de Belo Monte, esse negócio do hospital ficou menos atrativo. Qualquer médico consegue ganhar o dobro com plantões para a barragem, em Altamira, cidade-polo da região.
A população de Brasil Novo vem reclamando do Natália Arraes a um tempão. Capitalismo é capitalismo, ainda quando envolve risco de morte.
Uma consulta chega a custar R$ 250,00. Um parto vai à cifra exorbitante de R$ 4.000,00. A não ser quando se dá um jeitinho, o negócio da saúde se mistura ao negócio da politicagem, e um parto é trocado por votos.
Maria de Jesus, conhecida carinhosamente  por Duda, moradora no Novo Horizonte, acampamento com 93 famílias organizadas no Movimento dos Atingidos por Barragens, tem um caso emblemático. E revela o grau de abandono e  o nível e precariedade da assistência à saúde.
Duda foi internada no Natália com hemorragia interna supostamente por causa de uma hepatite mal curada. Ela precisou de sangue. Duda tem ficado há meses entre a casa e o hospital, nessas idas e vindas intermináveis.
Pois bem! Seu companheiro, Roni, teve que se virar! Por sorte encontrou dois colegas de luta, Elisa e Iury, que levaram o sangue de Altamira para Brasil Novo e, assim, evitou-se o pior.
O incômodo de Duda, com o qual vem se debatendo há tempos, exige uma intervenção cirúrgica ‘fora’. O caminho estava pronto, feito na cobrança, era só trilhá-lo. Hoje ainda, antes que o Natália se fechasse, ela seria transferida para um hospital em Altamira, lá faria consulta com especialista no dia 7 de maio e, em seguida, iria para Belém. Ao invés desse caminho acordado, porém, acabo de saber que Duda fora mandada para casa.
Ela corre risco, e as autoridades (in) competentes são responsáveis se algo pior vier a ocorrer-lhe.
Apesar de tudo, ela ainda encontrou e encontra apoio. Mas não é todo mundo que encontra gente que se mova pela questão humanitária. E  não se consegue, ainda que o quisesse, resolver todas as questões de política pública com a caridade. Por isso a Política Pública, com ‘P’ maiúsculo, é imprescindível.
Assistência à saúde aqui, na região de Belo Monte, é um calvário. Entre o povo se diz que o melhor mesmo é rezar para não adoecer.
As estações desse calvário aumentaram, significativamente, com a chegada da barragem. Se são quinze os passos da cruz, em alusão ao caminho trilhado por Jesus de Nazaré, agora se multiplicam, e sem a ressurreição prometida.
Ainda assim, com consultas salgados e algum descaso, a população de Brasil Novo sentiu antecipadamente o impacto do fechamento do Natália: ‘ruim com ele, pior sem ele’, dizem alguns.
É que, bem ou mal, o convênio entre Natália e SUS possibilita algum atendimento emergencial, ambulatorial. Esse sentimento de desamparo total mexe com o psicológico de muita gente, em especial os mais empobrecidos.
Muitos estão indignados!
A bem da verdade, o Natália é recurso público canalizado historicamente para uma iniciativa privada, ainda que seja um hospital. É dinheiro do SUS alimentando um negócio de médicos. É suor da classe trabalhadora, materializado em impostos, sustentando um grupo de mandatários locais, do qual o próprio povo se torna refém.
O peixe morre pela boca! Gente morre pelo medo de perder ou de deixar de ganhar.
A saúde é um setor sensível e rende muitos votos! Mas, no senso comum, ao menos o básico do básico era garantido com o hospital aberto.
Belo Monte chegou com promessas de redenção sem via-sacra. Plantou-se na cabeça de muita gente  que o empreendimento era para melhorar a vida do povo. Houve quem acreditasse. Por isso muita gente o aceitou. Todo mundo quer melhorar de vida! Mas agora a obra e as promessas soam como  uma bofetada na cara. O fechamento do hospital é apenas uma das muitas, diariamente.
A questão é: vamos oferecer a outra face? Vamos? Há teologias que dizem isso. Mas o Evangelho está noutra direção.
O secretário de Saúde local tem se esforçado. Ele reconhece o trabalho dos médicos cubanos (2), do Mais Médico, e afirma que trabalham muito, ganham pouco, e tratam as pessoas com humanidade. Isso é realmente uma exceção!
A proposta do Secretário é uma sala de estabilização em Brasil Novo e contrato com hospital em Altamira para reserva de leitos.
Como não se trata de caridade, a sensibilidade não é suficiente. Sua boa vontade esbarra numa questão estrutural crônica sim, mas agravada por Belo Monte, que provoca uma pressão sobre os equipamentos da já precária assistência à Saúde em Altamira, tanto a pública quanto a privada. E isso tende a piorar com novos pacientes do Natália, agora fechado, desaguando lá.
Do ponto de vista do capital, tudo são negócios. E a regrinha de ouro é a tal lei da oferta e da procura.
O capital, então, está rindo com tudo isso: o negócio da saúde, da educação, da energia, da água, da prostituição, do minério, do alimento, do direito do atingido, da segurança, da multiplicação de igrejas, de ONGs. É um conjunto de negócios que se abre e vai a pleno vapor, alavancado por Belo Monte. A isso os capitalistas dão o nome de desenvolvimento.
É assustadora a inabilidade e o despreparo dos gestores públicos na promoção de políticas públicas. É revoltante ver o capital avançar a galope impondo retrocesso em direitos historicamente conquistados, como o girante que seque pisando formigas.
Mas bom mesmo é ver o povo se mexendo. Amanhã à tarde haverá encontro das (os) lutadores do povo em Altamira. Nos dias dois e três, as mulheres se reúnem. E na sexta-feira, acontece mobilização em Brasil Novo exigindo hospital público.
A crise poderá valer a pena se virar luta. As possibilidades são grandes. Pois não é a beleza do salto que faz o sapo pular. É o aperto!
http://www.mabnacional.org.br/noticia/belo-monte-bofetada-na-cara

Belo Monte, os sorrisos de Jatobá e o dia seguinte


O sorriso de ambos os lados (empresa e família) não significa garantia do direito e das políticas públicas ainda que as mais elementares. Não significa também que as coisas estejam tranquilas. É um barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento.
Por Claret Fernandes, militante do MAB e missionário na Prelazia do Xingu
A velocidade imposta pelo capital nas suas prioridades atropela tudo que encontre pela frente, desde gatinhos que miam de medo até tigres consideráveis. Engole-os, chuta-os com as balas de chumbo ou os engambela com migalhas de balas de açúcar ou apenas com promessas vazias.
A barragem de Belo Monte é um caso típico dessa atrocidade desde o início do seu processo de implantação, sem as oitivas indígenas como manda a Constituição brasileira, com uma Licença de Instalação parcial, coisa totalmente exótica no licenciamento ambiental, e, agora, com a construção de casinhas de concreto em Altamira e começo da expulsão de famílias das baixadas, onde moram atualmente.
A velocidade vai a jato! Constrói-se a casa num dia e, em alguns segundos, destrói-se a antiga moradia, no ritmo da sede de antecipação do lucro pela geração e comercialização de energia numa hidrelétrica cuja construção foi decidida por impérios econômicos transnacionais imiscuídos no Estado brasileiro e financiada com dinheiro público.
Na abertura da II Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, iniciada em Havana ontem (28), Raul Castro defende que ‘os países da América Latina e Caribe devem ser soberanos na prerrogativa de exploração dos recursos naturais’. Essa advertência de Castro calha bem em especial para o setor energético no Brasil, nas mãos do capital financeiro internacional.
Mas o dia da expulsão do alagado em Altamira é como um oásis em meio a esse padrão histórico de violação ao direito humano na construção de barragens. Só na aparência, o que o torno ainda pior. É como um porco do qual você cuida com ração de primeira qualidade para abatê-lo em tempo recorde e transformá-lo numa carne apetitosa. É como o bandido que, tendo enfiado a faca na sua vítima até as entranhas, sem dó nem piedade, lhe promete morte indolor, sedando-a, arranjando um último argumento para a sua própria defesa no tribunal.
O dia da expulsão das famílias das baixadas em Altamira é um oásis no deserto, uma espécie de morte sem dor, que durará até que seque a pouca fonte de água ou até terminar o efeito do anestésico.
A dor sedada fica incubada, e vai incomodar muito no dia seguinte. Importante dizer que essa dor, se for doída demais, incomoda o atingido; mas, também, podem sobrar umas caneladas para os que hoje se acham em cima da carne seca, impondo a hidrelétrica com arrogância e sendo, eles mesmos, critério absoluto do certo e da verdade.
A dor, quando é sentida demais no estômago e na cabeça, não respeita limites. E qualquer império pode desfazer-se em fração de segundos.
Os golpes primeiros foram dados há muito através de relatórios e mais relatórios encaminhados ao IBAMA, com decisões de bastidores. Destinos traçados em documentos sigilosos! Hoje a empresa ‘sabe’ mais do atingido do que ele próprio. É claro que isso o põe numa situação vulnerável.
Claro ainda que no início muita gente gosta dessa ‘solução’ por forças ocultas, crendo que alguém vai resolver o seu problema crônico. Esse é um dos vícios de nossa sociedade: crer que um salvador da pátria ou que alguém puro de espírito altruísta vai resolver o nosso problema! Mas essa fé vai diminuindo, diminuindo, até afunilar-se por completo no dia seguinte à expulsão transmudada em favor.
A dor da expulsão é traumática demais, por isso o dia precisa ser tão especial! E faz do dia seguinte um tempo tão arriscado, conflitivo, com potencial de desencadear um processo libertador.
A pessoa é tirada de sua casa e colocada numa outra em cuja construção não pôde dar nenhum ‘pitaco’: a família não escolheu o local, não decidiu o tamanho da casa, a sua planta, nem se deveria ser de alvenaria ou de concreto. Isso equivale à pessoa ser obrigada a saltar num abismo sobre os braços de um estranho.
O aparato montado para cercar a família de todos os cuidados é admirável. Uma equipe lá dos escritórios com ar condicionado, sob a batuta da Norte Energia, cuida de selecionar a família e de agendar o dia de sua mudança. A família é escolhida a dedo, após estudo minucioso, e avisada com dois dias de antecedência para preparar-se. Não é qualquer família que pode ir quando bem quer.
A expulsão sumária, nessa circunstância, soa como prêmio. Aquela família, antes que as outras, vai pisar na nova área. Aquela, que sempre tivera o direito negado pelos governos e pelo Estado brasileiro, é agora contemplada por uma empresa privada, numa espécie de privatização da política pública. Aquela, justamente aquela, é premiada, com tantas outras que, igualmente morando no alagado, também por causa dos direitos históricos negados, vão sair sem casa (ainda) que de concreto e sem nenhuma indenização porque estão fora da lista de atingidos pela barragem.
Um exemplo são os carroceiros. Eles somam 130 pais de família e garantem a subsistência de aproximadamente 600 pessoas. O trabalho de carroça é histórico em Altamira, com mais de 70 anos. Com o processo de implantação de Belo Monte, a vida deles ficou complicada: os fretes diminuíram, o trânsito virou um caos (apenas em 2013 houve 13 acidentes com carroça). O carroceiro que chegava a tirar R$ 200 por dia hoje ganha R$ 400 por mês. Apesar disso, não são reconhecidos como atingidos pelo IBAMA.
No dia da expulsão, com tantos cuidados, alguma família pensa que há outras tantas fora da lista e se sente privilegiada.
Não é por coincidência que as primeiras treze famílias retiradas dos alagados, do dia 15 de janeiro até hoje, são as famílias mais lascadas, às quais mais se negou direito.
Isso faz parte de uma grande orquestra, que ensaiou durante muito tempo e, agora, precisa tocar em tom suave. A música que rola no senso comum e na imprensa é que a família do alagado está melhorando de vida.
Selecionada a família, o dia fatídico com gosto de prêmio é agendado. Aí uma segunda equipe e duas empresas terceirizadas, a Granero e a CNEC, entram em ação.
A equipe vai até o endereço indicado no documento. São números, não pessoas! São objetos, não gente! Mas são objetos preciosos, que demandam, ao menos nesse dia, cuidados especiais. A área do alagado precisa ser limpa para a elite ocupá-la em nome do lago.
Os funcionários da empresa ajeitam tudo. Há móveis que se desmontam com um toque de nada. Colchão, fogão, um sofá, uma rede, tudo vai sendo colocado no caminhão. Cachorro, gato, tudo pode ir junto. Crianças, que são muitas no alagado, vão num carro à parte, muitas vezes sem a presença de um pai. Quantas nem sabem quem é o pai!
O dia da mudança é o dia da mudança! O pedido da família é (quase) uma ordem! Se um menino espirra, vem logo alguém com um remedinho para livrar-lhe até do sintoma da gripe. No dia seguinte, essa gente dos remedinhos e dos cuidados vai toda embora.
Como é tudo uma questão de aparência, muita coisa preciosa no sentimento, ainda que carcomida do tempo, desaparece nesse dia.
Lembra-me Maria Amélia, atingida pela barragem de Emboque, em Minas Gerais. Sua casa também fora derrubada, com muita prepotência, sem poder levar nada. ‘Queria pegar ao menos a janela, ela era madeira boa’, disse.
A agressão aos sentimentos das pessoas deixa marcas profundas, que se revelam no dia seguinte.
A mudança da família expulsa do alagado segue para ajeitar-se na moradia nova. Uma equação difícil! Como colocar móveis numa casa que não foi preparada para recebê-los? Como colocar as crianças, que em geral são muitas, nos poucos quartos apertados? É como a mão grande que precisa enfiar-se numa luva pequena. As casas são todas iguais, na planta e no tamanho (63 m²) e as famílias são diferentes umas das outras. Por isso é uma equação difícil!
Nessa hora o coração acelera, e dá sinais de alguma angústia, e começa a bater o sentimento de que gente é feita para a liberdade na luta. Aqui entra uma nova equipe para tentar apagar qualquer semente de rebeldia, qualquer ‘razão’ para reclamo: a equipe de acolhida, especialmente preparada para sorrir. Então o coração aflito prefere calar-se. Sobrepõe-se, ao menos por enquanto, o sentimento de que ‘vale mais um pássaro preso do que dois voando’.  
A equipe de acolhida até ajuda numa coisa e noutra. Sua função mais importante, porém, é não fazer absolutamente nada. Apenas sorrir!
Famílias habituadas a levar cascudos do sistema todos os dias por ser empobrecidas, agora, ao menos no dia da mudança, recebem largos sorrisos. Isso mexe com elas por dentro.
O alimento chega a tempo e à hora. É dia de mudança! Vem o lanche, o almoço e, se precisar, também o jantar. A criança recebe atenção, talvez um brinquedinho. Tudo fica às mil maravilhas!
À entrada da nova casa, a família recebe a chave e um manual de instrução.
A chave lhe dá uma sensação de poder, de posse, de decidir quando abre e fecha a porta de sua moradia. Dá também uma sensação de privacidade. Mas esconde o fato de que a morada está numa área totalmente controlada pela empresa. É um ‘poder’ submisso a uma força imperialista, com cancela na entrada do loteamento e com a Força Nacional dentro do canteiro das casas, que está apenas no início das obras.
A família recebe um manual de instrução e nem lhe dá tanta importância, pois sua vida até então não precisava desse papel. Certamente o deixará depositado em um lugar qualquer!
O manual de instrução serve mais à própria empresa do que à família. Ele é a bacia de Pilatos, onde a Norte Energia lava as suas mãos. A prova do crime, pois ele só existe por causa da fragilidade da nova moradia, vira uma espécie de salvo-conduto da própria empresa.
A partir desse ato, através do qual a empresa informa à família a necessidade de cuidados especiais da casa de concreto, a responsabilidade cai nas costas da família.
É uma diferença grande que ocorre, embora no dia da mudança seja imperceptível, quando tudo fica sob a tinta fresca e os sorrisos ensaiados. Na morada antiga, alguém da própria família ou um parente fazia um puxado, ajeitava uma tábua solta, colocava água, ligava uma luz, tudo sem nenhum custo. Agora não! O manual de instrução é que ‘manda’. A pessoa não pode fazer nenhuma intervenção sem a contratação de mão de obra qualificada. E isso fica caro!
Mas com tanto chamego, com profissionais adestrados nos bancos de universidades preparados para agradar e vender carinho para quem, talvez, não o tenha recebido de graça, o dia da mudança é dia de glória, quase a realização de antigas promessas de Belo Monte como a redenção dos povos do Xingu.
A trama toda é muito bem montada, e engana até bons espíritos.Uma representante do governo federal conta que viu, pessoalmente, a família recém-expulsa sorrindo na nova casa, enfiada numa casa de concreto. A família sorri mesmo, com tudo que a rodeia nesse momento. Em um dia. Mas, conforme afirma o ditado, ‘angu de um dia não engorda cachorro’.  E há muita gente no alagado que não está disposta a trocar sua moradia ampla, bem construída, até de 120 m², por aquelas casinhas. Por isso, o dia seguinte é incerto, mas traz também a possibilidade da organização.
O sorriso de ambos os lados (empresa e família) não significa garantia do direito e das políticas públicas ainda que as mais elementares. Não significa também que as coisas estejam tranqüilas. É um barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento.
Até aqui a Norte Energia e governo federal têm atuado como corpo de bombeiros, apagando pequenos incêndios. E tocando as obras lá embaixo, na Volta Grande do Xingu. Mas esses apaziguamentos ensaiados e forçados negam o direito e só adiam o conflito, que poderá caminhar para a completa barbárie ou para um processo organizado, esse sim, capaz de garantir a liberdade soberana até agora negado.
Enquanto a Norte Energia entretém umas poucas famílias extremamente empobrecidas no Jatobá, como o bandido que alicia o cão-vigia com um pedaço de carne para saltar o muro do outro lado da casa, outra equipe se encarrega de destruir tudo no local da ‘antiga’ moradia, não deixando tábua sobre tábua.
É recorde sobre recorde! Gasta-se em média um dia para construção de uma casinha de concreto, que tem vida útil de cinco anos, e se destrói uma casa de madeira, que pode durar algumas dezenas de anos, em poucos segundos.
No alagado não há sorriso! O trator entra e, com seu bufado, leva tudo ao chão. Os operários de empresa terceirizada da Norte Energia despregam tábuas, retiram madeiras, encostam o caminhão e, o que era uma casa, agora entulho, vai tudo para o lixão para ser incinerado.
Com os destroços, é muita história que vira cinza e fumaça. Mas fica a semente da indignação, o combustível da mudança.
Três cenários, assim, se descortinam. No Jatobá, sorrisos e amabilidades cercam as famílias no dia da mudança, mas, no dia seguinte, no mês seguinte, no ano seguinte, só Deus sabe. Casas, ruas, contenção de encostas em tempo de inverno, tudo feito às pressas, na velocidade exigida pelo capital de olho na obra civil da barragem, é coisa sem futuro. Além de insegura, a vida no Jatobá vai ficar cara, com a conta de água, de luz e outros gastos. Além da vida insegura e cara, faltam equipamentos de políticas públicas elementares como saúde e educação.
No alagado, de onde as famílias são expulsas, o dia da mudança é marcado pela destruição. Uma área historicamente abandonada pelas autoridades, porque ali moram empobrecidos, agora será tratada como a menina dos olhos, e muito cobiçada. Ali haverá bosques, ciclovias, cais, área nobre de bacanas.
A expulsão pelo lago, em si dramática, tem a motivação subjetiva de limpeza social, de preconceito. O mesmo sistema político e econômico neoliberal que sobrevive do trabalho da classe trabalhadora e dos bens naturais destrói a natureza e expulsa os trabalhadores empobrecidos. 
O primeiro cenário vai do sorriso ao abandono no Jatobá. O segundo cenário vai da destruição nos alagados à pretensão de construção de espaço para bacanas. Mas o terceiro cenário é o dia seguinte. O mais importante! Se ele for se materializando em rebeldia organizada, pois nenhum povo é bobo, a prepotência terá seus dias contados. O povo triunfará!
http://mabnacional.org.br/noticia/belo-monte-os-sorrisos-jatob-e-dia-seguinte

Belo Monte PA

O que estão fazendo com nossas riquezas naturais?
De 26 de junho a 8 de julho os Peregrinos de Mary Ward estarão em terras de barragens. O que fazer? Como fazer? O Evangelho de Jesus Cristo nos motiva a dizer: não aos sinais de morte!

BRASIL NOVO PA

Mais uma área ocupada na região de Belo Monte
Publicado em qua, 12/02/2014 - 14:13
Com a implantação da Barragem de Belo Monte, toda a região vem sofrendo forte pressão, com aumento do preço da terra, do aluguel, da comida. Esta é a segunda ocupação na região de Brasil Novo
Nesse domingo (9) oito famílias, que somam vinte pessoas, ocuparam terreno público de mil metros quadrados abandonado há mais de trinta anos na Vila Carlos Pena Filho (Km 40), na divisa de Altamira com Brasil Novo. Eles já limparam toda a área, dividiram os lotes e já começam a plantar e construir suas casas.
Segundo os ocupantes, eles foram ameaçados por familiares de um senhor que se diz proprietário da área. Ainda contaram que a Prefeitura de Altamira pretende abrir uma nova rua na área. Mas eles estão dispostos a lutar pela conquista do direito à moradia.
Com a implantação da Barragem de Belo Monte, toda a região vem sofrendo forte pressão, com aumento do preço da terra, do aluguel, da comida. O casal Soniel Wondinei Bufflebem Nascimento e Aldaione Mendonça da Conceição Bufflebem, que tem um filho de 2 anos e meio, está entre os ocupantes. Soniel afirmou: ‘moro de favor, o dono da casa precisa dela até dia 15 de fevereiro e não temos para onde ir. Olhei uma casa, mas o aluguel é de 400 reais por mês. Por isso fui para a área da ocupação’.
Os ocupantes estão fazendo um trabalho de conscientização em toda a Vila, que tem em torno de 500 famílias. Eles dizem: ‘Queremos ver nosso lugar crescer, progredir, por isso defendemos que as áreas públicas abandonadas desde sejam destinadas a moradia’.
É a segunda ocupação em Brasil Novo em consequência dos impactos negativos da Barragem de Belo Monte. Uma primeira ocorreu no dia 6 de janeiro de 2013 e as 88 famílias que moram na localidade, chamada Novo Horizonte, estão organizadas no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
O MAB e a Comissão Justiça e Paz apoiam essa luta

http://www.mabnacional.org.br/noticia/mais-uma-rea-ocupada-na-regi-belo-monte