domingo, 24 de julho de 2011

Empreendedorismo jovem: qual o seu lugar na escola básica?

Olá gestores e educadores,


Ensinar português, matemática e outras matérias continua sendo a prioridade da escola. No entanto, com um mercado de trabalho cobrando cada vez mais do jovem, será que a escola não deveria se preocupar também em formar um jovem empreendedor, capaz de suprir esta demanda? É isto que a doutora em Educação Targélia de Souza Albuquerque indaga neste texto, produzido exclusivamente para o Jornal Virtual

Empreendedorismo jovem: qual o seu lugar na escola básica?

Iniciamos esse diálogo com uma problematização para a escola, e em especial, para nós, educadores: como os jovens podem fazer a diferença como coautores de uma cidadania planetária e qual o compromisso da escola básica com a formação plena de nossos estudantes?

Nos últimos trinta anos, as transformações sociais vêm se radicalizando e exigindo posicionamentos científicos e tecnológicos cada vez mais inovadores. A sociedade do conhecimento gera poder na medida em que constrói as relações de subordinação. Por essa razão, uma educação emancipadora se torna indispensável cada vez mais cedo. Não se pode esperar mais o término de um curso superior ou o ingresso no primeiro emprego para se pensar em empreender e inovar. A excelente formação acadêmica e tecnológico-profissional de nossos jovens continua a ser uma das exigências de sua educação plena, porém novas demandas estão se impondo como necessárias à inserção crítica e com autonomia no mercado de trabalho e colocando novos desafios à reinvenção da sua empregabilidade. O emprego, na ótica tradicional, já não dá conta das exigências de sobrevivência, de desenvolvimento sustentável, entre outras demandas da produção de uma sociedade digna, fraterna e justa.

Problematizar sobre novas possibilidades de emprego e alternativas criativas de sobrevivência, que contribuam para o desenvolvimento das comunidades locais e de processos mais amplos, passa a ser responsabilidade de todos os educadores e profissionais que direta ou indiretamente participam da vida dos jovens no nosso país. Isso também vai fazendo parte da vida do próprio jovem, na medida em que constrói e/ou conquista autonomia.

Este conceito precisa ser ampliado, relacionando-o principalmente com as categorias de autonomia, criticidade e criatividade, a partir dos ensinamentos de Paulo Freire. Precisamos estar situados no mundo como sujeitos construtores da história, pois viver intensamente o presente e empreender é iniciar a construção de um futuro provavelmente promissor.

Eis um grande desafio a enfrentar! É importante considerar o empreendedorismo como uma oportunidade a mais para a inserção crítica e com autonomia do jovem no mercado de trabalho, como possibilidade de afirmação da sua identidade como ser humano. Isso pode torná-lo capaz de socializar ideias, de trabalhar junto, de inovar num processo colaborativo, de realizar-se em processos criativos de trabalho, rompendo com dependência dos padrões tradicionais de emprego. Empreender é ampliar uma visão de mundo, de si mesmo no mundo do trabalho.

A ideia das novas formas de trabalho e, não exclusivamente de emprego, vem ganhando força entre diversos segmentos da sociedade. Nesse contexto, torna-se cada vez mais necessária a inclusão do tema “empreendedorismo/protagonismo juvenil” nos currículos da escola básica e da universidade, para que o jovem tenha o direito de ser educado para a mudança e não para estabilidade. A responsabilidade e o compromisso com essa formação incluem uma prática educativa dialógica que possibilite aos jovens “uma leitura crítica de mundo” e o reconhecimento de, como sujeitos históricos, podem ousar e intervir com autonomia no mercado de trabalho, participando da construção de um mundo melhor.

Targélia de Souza Albuquerque é Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.


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