sexta-feira, 4 de junho de 2010

Dislexia

A palavra Dislexia


A palavra dislexia não é agradável de ser pronunciada nem escrita. É complexo e instigante entender seu significado, que é apenas um dos distúrbios de aprendizagem entre tantos outros. É comum "dislexia" ser confundida com "epilepsia", uma doença que provoca repentina convulsão ou perda de consciência momentânea, e, portanto, nada tem haver com a dislexia, que não é uma doença, e sim um distúrbio de aprendizagem que não tem cura.

Talvez seja por este motivo que a palavra cause certo repúdio, quando dita entre a sociedade leiga. Porém, mudar o nome de um distúrbio de leitura e escrita que é estudado e pesquisado há mais de 100 anos na Europa e Estados Unidos, poderia descaracterizar a etimologia da palavra.

A neurociência cada vez mais se empenha em pesquisas para elucidar as disfunções cerebrais, ou seja, os caminhos das informações neuronais. Para cada indivíduo, esses caminhos podem ser exclusivos e nem por isso inadequados. São apenas formas diferentes de decodificar informações. A plasticidade cerebral está aí para comprovar que os caminhos podem chegar a quase normalidade, por meio de treinamentos adequados e específicos. É o caso da intervenção para treinar o cérebro do disléxico a minimizar as dificuldades de aprendizagem.

A palavra dislexia é vista como um fantasma terrível até ser descoberta e compreendida. Não importa o tempo que se leve para descobrir o significado do fantasma, o importante é saber que o fantasma não é tão assustador, basta aprender a respeitar e entender seu funcionamento.

Todo ser humano, para se sentir integrante de um grupo, precisa dar algo de si para o grupo e sentir-se aceito. Sendo assim, para uma criança cuja obrigação única é estudar, se o processo de aprendizagem é inadequado e mal compreendido, causa sérios danos emocionais por toda vida.

Um disléxico adulto, ou até mesmo uma criança, sabe que tem algo acontecendo em relação a sua aprendizagem. Consequentemente, em alguns casos, generaliza que é incapaz de aprender pelos moldes tradicionais da leitura e escrita.

Cerca de 99% das pessoas que chegam para avaliação na Associação Brasileira de Dislexia sentem-se "burras" ou foram chamadas de "burras". Incoerente o rótulo, pois, segundo pesquisas, alguns disléxicos têm o nível intelectual acima da média para sua idade. Este é o primeiro fator de exclusão para diagnosticar a dislexia. Se o nível intelectual não estiver preservado, não é disléxico.

É comum ver que a crítica, na vida dessas pessoas, é tão aceita que cega o indivíduo com relação às suas melhores habilidades, focando-o apenas no seu fracasso escolar.

No ambiente escolar, as crianças são consideradas distraídas, desatentas, imaturas, desajeitadas, às vezes hiperativas ou apáticas. No início da aprendizagem, esses adjetivos são causa de reuniões com os pais, junto à coordenação da escola para solucionar o problema da criança, quando na realidade o que deveria ser discutido é como esta criança poderia aprender adequadamente. A ignorância por parte dos professores provoca preconceitos dentro da sala de aula, desmotivando ainda mais o aluno com dificuldades. Em casa, pode haver um clima de acusações e castigos, chegando até a agressão física por parte dos pais.

Quando na adolescência, os jovens, cansados com as dificuldades de aprendizagem, chegam na fase de busca da identidade. Se ele não tiver um bom acolhimento no ambiente familiar e escolar, fatalmente irá procurar a tribo que lhe aceitar. Neste caso é que vemos a evasão escolar, o caminho da marginalidade, a fuga para a gravidez na adolescência, drogas, depressão e até mesmo o suicídio. Por outro lado, adultos que procuram ajuda para os filhos, no momento em que começam a entender o distúrbio, identificam-se com as dificuldades que também apresentavam quando criança, pois a dislexia é hereditária. Eles são avaliados e descobrem que há a possibilidade de ter uma qualidade de vida melhor. Neste caso, o melhor a fazer é procurar ajuda com um terapeuta para levantar a autoestima. É muito importante ir em busca de seus desejos e principalmente se respeitar.

Texto de Rosemari Marquetti de Mello, presidente da Associação Brasileira de Dislexia (ABD). Email: comunica@dislexia.org.br


Jornal Virtual 168 – 02062010 (envio@floyd.humanaeditorial.com.br)