sábado, 12 de junho de 2010

último depoimento de Pedro Fukuyei Yamaguchi Ferreira, 27 anosO missionário integrava o Projeto Missionário Sul 1 (São Paulo) e Norte 1 (Amazonas e Roraima) e faleceu no dia 1º de junho

Grande desafio: o depoimento de um missionário
Publicamos o último depoimento de Pedro Fukuyei Yamaguchi Ferreira, 27 anos, concedido ao Informativo, do Regional Sul 1 poucos dias antes da sua morte em São Gabriel (AM). O missionário integrava o Projeto Missionário Sul 1 (São Paulo) e Norte 1 (Amazonas e Roraima) e faleceu no dia 1º de junho após ser atingido por uma correnteza na Amazônia.
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Logo que cheguei em Manaus conheci o pessoal do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e alguns índios do povo Suruaha, que vivem ao sul da Amazônia e lá estavam para tratar da saúde, na Funai (Fundação Nacional do Índio). Eles não vestem roupas e ainda vivem sem influência branca. Por entenderem que os idosos não vão ao paraíso, os Suruaha morrem jovens pela ingestão nasal de uma substância venenosa. Sua população é de cerca de 140 pessoas. Esse foi meu primeiro contato com os povos indígenas, pessoas de cultura diferente e com outras idéias e tradições. Emocionante e inesquecível!

Sobrevoando a selva Amazônia a caminho de São Gabriel da Cachoeira (AM), percebi a imensidão dessa região. São quilômetros infindáveis de matas e de rios. Logo que cheguei em São Gabriel, fui recebido por uma chuva e um vendaval que arrancaram o telhado do prédio ao lado de nossa casa. Era a natureza me dando boas-vindas...

Tenho feito o meu trabalho na cadeia da cidade, onde a maioria dos cerca de 30 presos cumpre pena por homicídio. São jovens indígenas que, alcoolizados, cometeram crimes. Pó aqui, o alcoolismo é o grande problema nas famílias. Além das drogas, também encontradas em abundância. Visitamos os familiares dos presos e procuramos atender às suas necessidades materiais mais imediatas. Essas visitas nos possibilitam conhecer mais profundamente a realidade social.

Visitei ainda uma comunidade do povo Baniwa, no rio Içana. Eles vivem da pesca e da roça, indo à cidade somente quando necessário. Os problemas surgem aí, quando a necessidade de adaptação ao novo lhes subtrai o orgulho de sua origem, de sua língua, de seus costumes, sobretudo entre os jovens. Os Baniwa ainda vivem sua cultura e suas tradições.

Tenho participado de muitos encontros e de reuniões com o Conselho Tutelar, o Conselho de Direitos Humanos, a Pastoral da Juventude com as Polícias Civil e Militar, juízes de Direito e órgãos da prefeitura para entender melhor as particularidades da região. Mas já percebi que, aqui, o filme é igual ao de outras regiões do País. A lei privilegia os poderosos que comandam a cidade, subjugam os indígenas e agem à margem da lei. Muitas das autoridades são coniventes a situação. O desafio para atuar neste contexto é grande e exige paciência.

Espero manter a fé e buscar sabedoria para enfrentar os percalços. Conto com a oração de vocês!

João Pedro Fukuyei Yamaguchi Ferreira, advogado

Publicado na edição de junho, nº 187 do Informativo Regional Sul 1 da CNBB

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