terça-feira, 5 de março de 2019

Avaliação Classificatória e Formativa.


Leia o texto:

A Escola Sabiá tem duas classes de 3º ano de Ensino Médio, que tem como professores de Biologia: o Sr. Carlos e a Sra. Soraia. Ao trabalhar o assunto Ecologia, esses professores decidiram estudar a realidade local e usar o texto "A caminho do mar", que extraíram do site "Alô Escola". Ambos os professores estavam preocupados em discutir o tema Ecologia e principalmente a destruição dos manguezais (agora respeitado!!) de sua cidade (Maragogipe, a 200 quilômetros de Salvador). Boa parte da população dessa cidade vive dos caranguejos, peixes e mariscos que tira desse manguezal que circunda a cidade. Esse manguezal era tratado com desdém pela população (servia de depósito de lixo, suas árvores cortadas e a profissão do pescador, tratada como uma atividade sem importância), até que os professores Carlos e Soraia resolveram mobilizar os alunos e professores da cidade de Maragogipe: estudaram o manguezal e passaram a frequentá-lo com seus alunos. Juntos, todos limparam a área, semearam árvores e passaram a controlar seu crescimento e o dos animais que voltaram a viver na lama. As aulas, começaram a ser dadas diretamente no local e hoje todos se empenham em preservar sua paisagem natural. Terminaram o trabalho (em sala de aula), com a discussão do texto "A caminho do mar".

Situação 1: Apesar de a professora Soraia e do professor Carlos terem desenvolvido o mesmo trabalho com seus alunos, cada um encaminhou de maneira diferente o processo de avaliação. A professora Soraia, após a discussão do texto "A caminho do mar", solicitou uma prova escrita a partir do mesmo, cobrando conceitos do texto. Após a correção, a professora Soraia separou as provas pelas notas A, B, C, D, E, e entregou-as para a sala, enfatizando somente os erros de seus alunos.

Situação 2: O professor Carlos, antes da ida para o mangue, solicitou que os alunos falassem a respeito da destruição do local e o que poderiam fazer para recuperá-lo. A cada ida para o manguezal, pedia que seus alunos relatassem suas experiências e o que já estavam fazendo para a melhoria do grande espaço. Aproveitava esses relatos como parte da avaliação da aprendizagem de seus alunos, (como, por exemplo, o depoimento da aluna Thaís, "hoje eu sei que o manguezal não é lixo, mas um lugar de onde tiramos nosso alimento"). Com esses relatos, o professor Carlos podia avaliar os alunos que tinham mais ou menos facilidade no entendimento do conteúdo Ecologia. Quanto voltaram para a sala, fizeram como a professora Soraia e discutiram oralmente o texto "A caminho do mar". A partir das discussões, o professor Carlos pode anotar as impressões, ideias e atitudes dos alunos quanto à Ecologia e o Manguezal (este foi mais um instrumento de avaliação utilizado). Terminado todo o trabalho, o professor ainda pediu que os alunos escrevessem em um papel as dúvidas que tinham a respeito do assunto tratado. Muitos teceram elogios às aulas do professor e outros alunos, além dos elogios, colocaram as dúvidas que restaram. O professor Carlos combinou com a turma que estava apresentando dúvidas, um momento de recuperação (iria propor uma pesquisa em livros e revistas sobre o assunto aos alunos), no horário contrário às aulas.

Com base na situação educativa apresentadas, segue uma análise das situações avaliativas apresentadas. 
A base provocativa da atividade está no conceito de avaliação, tema relevante no processo de aprendizagem e objeto de estudo na disciplina em curso. Estamos diante de duas concepções de avaliação, ambas se identificam como um registro de resultados acerca do desempenho do aluno em um determinado período, entretanto diferentes na essência e método.
A reflexão é sobre o conceito de avaliação classificatória e formativa. No primeiro caso temos a avaliação classificatória, esta por sua vez é caracterizada pela visão de mundo, de escola e até de professora que a adota.
Consideremos a avaliação como um ato político e, fica bem claro a intencionalidade da professora, em uma avaliação classificatória está reproduzida uma estrutura social dividida em classes; ao classificar os alunos em A, B, ... determina os que serão dirigentes e os que serão dirigidos, o que causa exclusão. Com uma visão classista e classificatória, duas outras características estão em evidência nesta concepção de avaliação. Ela é uma ação individual e competitiva, com o objetivo de provar, de mostrar o que “aprendeu”; na avaliação classificatória não está em primeiro lugar a aprendizagem e o saber, mas na seleção dos melhores para domesticá-los para o sistema. Por último, poderíamos nesta forma classificatória de avaliar destacar a força da avaliação em decretar uma sentença: aprovado ou reprovado. A atribuição de uma nota ao que o estudante aprendeu ou não, é no mínimo desrespeitoso à potencialidade humana de aprender. Diríamos, que analisando, conforme proposto, que a escola da professora Soraia, e ela própria, não assume o compromisso com uma aprendizagem efetiva. A classificação se põe como uma necessidade dentro da estrutura perversa em que a escola está fundamentada. O ser humano não é para ser aprovado ou reprovado, ele tem o direito fundamental à existência, à cultura, ao conhecimento, ao desenvolvimento.
Em contrapartida a atividade proposta traz um segundo caso, o do professor Carlos. Aqui a avaliação é formativa, ela é um instrumento de mediação e fornece informações para melhorar o desempenho do aluno durante o seu processo de aprendizagem. Neste tipo de avaliação o próprio estudante é construtor da avaliação, pois é sujeito na trajetória de sua execução, ou seja seus interesses, aspirações, experiências e reais necessidades são acolhidos.
Professor e estudante, na avaliação formativa, interagem por meio de análises e feedbacks, o que faz identificar, sendo a avaliação um raio x da concepção e identidade da instituição de ensino e sua concepção de educação e de professor, um enfrentamento do paradigma educacional centrado no ensino, em que o ato de ensinar é linear e uniforme, sendo responsabilidade do aluno estudar e aprender.
A avaliação formativa é ao mesmo tempo prognóstica, formadora, mediadora e reguladora. Prognóstica porque busca fundamentar uma orientação e ao fazer o diagnóstico da realidade, objeto de estudo apropria-se da realidade e por isso formadora de opinião e do saber. A dimensão de mediação fica em evidência quando pelo diálogo a reflexão e ação tornam-se base para a mobilização, para a experiência educativa e para a expressão do conhecimento.
Portanto, a avaliação formativa reguladora traz em sua essência a função sociopedagógica e tem como pressupostos pedagógicos o Projeto Político Pedagógico, é democrática, como: elemento articulador; um currículo flexível e contextualizado; uma pedagogia diferenciada, tendo a pesquisa como princípio; a escola é lócus de aprendizagem e uma aprendizagem significativa.
Assim, a avaliação formativa não é excludente tornando-se espaço de significar, de dar sentido, de produzir conhecimentos, valores e competências fundamentais para a formação humana dos que ensinam e dos que aprendem.

Referência:
TEIXEIRA, L. P. C., et al., Avaliação: aspectos institucionais e da aprendizagem. Batatais, SP: Claretiano, 2016.

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