O profeta e mestre padre Vicente lançou um desafio concreto para os Peregrinos de Mary Ward, carpir o terreno de capela. Só há o terreno e uma cobertura de duas águas numa ocupação que está proibido pela prefeitura a construção de casas. De primeira mão soou como “querer mão de obra nossa e o essencial missões ficar em segundo plano”, mas três peregrinos soltaram a voz e disseram: “eu vou”, “eu vou”, “eu vou”. Foi o suficiente para num sorriso o padre dizer: “que bom, vão fazer bem àquela comunidade e quem sabe, acabar com as pulgas”.
Enquanto os peregrinos visitaram uma comunidade eu fui com o Padre à comunidade das pulgas. Visitamos um jovem casal com uma linda bebezinha em uma casa bem estruturada, uma serraria. Fomos contratá-lo para fazer um gato, ligar clandestinamente a energia no que chamam de capela. Não se preocupem lá todos fazem gato, usam energia sem pagar pelo serviço. O jovem pai deu a lista e metragem de fios e outros acessórios necessários para a ligação.
O padre eu fomos até o terreno, pouco mato, mas o suficiente para em mãos como a minha nascerem bolhas logo na primeira hora de serviço. Depois visitamos algumas famílias convidando-as para a celebração que aconteceria no sábado à noite. Depois fui com o padre fazer uma garimpagem de fios, soquetes, lâmpadas que já tinha na paróquia e compramos outras coisas que faltaram.
No dia combinado para carpir o terreno, logo na madrugada 5h30 o grande, o Alexandre missionário sorriso, animado, disponível, dedicado bate em nossa porta, Ricardo e eu já havíamos acordado e fomos para a casa paroquial. Queríamos ir o mais cedo possível para não pegar o sol nas costas durante o trabalho. Que maravilha ao chegarmos à casa paroquial, de forma modesta, simples e austera o padre fez conosco uma oração introduzindo-nos à liturgia e ao mesmo tempo serviu um delicioso café feito ali na hora. Um bico de pão murcho para cada um, que satisfação!
Ao chegarmos ao terreno da comunidade fomos logo emprestar mais duas enxadas e iniciamos a derrubada do mato, mas onde estão as pulgas? O padre pediu para um morador passar veneno antes, que maravilha! O missionário, paranaense Ricardo nosso filósofo e diácono, com ânimo iniciou o trabalho baseado em sua experiência camponesa e o melhor: cantando. Eu e o Grande fomos juntos, animados, carpindo e cantando no pulgueiro.
Não foi tarefa difícil, não foi tarefa fácil foi uma tarefa única em todas as missões que já fiz na vida. O profeta Vicente de Vitória do Xingu, mais uma vez mostrou que na Amazônia missionário não fala, FAZ!
O sol já queimava quando um garoto com um garrafão de 5 litros de água apareceu, que delícia, nós só não podíamos olhar a cor da água, cor de barro e gosto do mesmo. Mas gelada e no calor fez muito bem!
Por volta das 10h30 já tínhamos carpido todo o terreno, só restava juntar o mato em local adequado. O terreno estava lindo e limpinho.
Chegaram os demais Peregrinos de Mary Ward foram visitar as famílias e convidá-las para a celebração. Nós continuamos a cuidar da capela. O jovem pai já havia plantado o poste e feito a fiação até a cobertura da capela. O Ricardo além de filósofo, diácono, paranaense “carpidor” é eletricista e terminou de fazer a ligação para que na hora da celebração houvesse iluminação. O Alexandre iniciou a pintura dos bancos, enquanto eu fui pedir madeira para fazermos novos bancos. O Jorge e eu fizemos bancos novos. Tudo pronto, hora de voltarmos, chegam os Peregrinos que foram visitar as famílias, eles vieram cheios de picadas de pulgas: assustador. Nesse dia almoçamos na casa das irmãs, ainda bem, comemos bem (rs), afinal era preciso recuperar as energias.No sábado o Ricardo foi com o Padre para a Celebração, não era eucaristia era A Celebração, o Ricardo quem fez. No retorno dos dois o sorriso que o profeta deu quando dissemos sim ao seu pedido para carpir o terreno era dobrado, sorriso testemunhado pelo Ricardo que dizia ‘tinha muita gente, o povo foi, que maravilha, que bonito’. E, nesse contexto a liderança foi escolhida pelo padre, não em reunião, não em eleição, não em pompas e vaidades, mas na simplicidade missionária de um profeta que conhece, vive e caminha com aquele povo.
A experiência de carpir o “pulgueiro” valeu, ensinou que na palavra convencemos e no exemplo arrastamos. O aprendizado foi enorme: fazer Igreja é ser povo é ser Igreja. Construir um templo pode ser fácil, mas fazer comunidade não. Lá já havia o terreno comprado pela paróquia e duas águas de cobertura, mas não comunidade. A comunidade formou-se, que persevere!
Nós aprendemos que o conforto de muitos templos não pode ser desprezado, mas na realidade de um calor enorme, de um terreno com pulgas, duas águas e bancos ao redor, dois bicos de luz e uma Cruz o conforto é desprezível e desprezado e na mesa da Palavra e da Eucaristia se faz a comunidade.
Agradeço ao Padre Vicente pelo convite e desafio, ao Ricardo e Alexandre pela partilha de um trabalho suado e amizade compartilhada, e aos Peregrinos que visitaram as famílias convidando-as para a Celebração. Faço minha suplica a Deus: que fortaleça nossa caridade, aumente nossa fé e mantenha nossa Esperança de ser Igreja Missionária e persistente como as pulgas.