quinta-feira, 24 de julho de 2014

UM TERRENO, AS PULGAS, O MATO, DUAS ÁGUAS, OS BANCOS, A ENERGIA, UMA CELEBRAÇÃO E A COMUNIDADE!

O profeta e mestre padre Vicente lançou um desafio concreto para os Peregrinos de Mary Ward, carpir o terreno de capela. Só há o terreno e uma cobertura de duas águas numa ocupação que está proibido pela prefeitura a construção de casas. De primeira mão soou como “querer mão de obra nossa e o essencial missões ficar em segundo plano”, mas três peregrinos soltaram a voz e disseram: “eu vou”, “eu vou”, “eu vou”. Foi o suficiente para num sorriso o padre dizer: “que bom, vão fazer bem àquela comunidade e quem sabe, acabar com as pulgas”.
 Enquanto os peregrinos visitaram uma comunidade eu fui com o Padre à comunidade das pulgas. Visitamos um jovem casal com uma linda bebezinha em uma casa bem estruturada, uma serraria. Fomos contratá-lo para fazer um gato, ligar clandestinamente a energia no que chamam de capela. Não se preocupem lá todos fazem gato, usam energia sem pagar pelo serviço. O jovem pai deu a lista e metragem de fios e outros acessórios necessários para a ligação.


O padre eu fomos até o terreno, pouco mato, mas o suficiente para em mãos como a minha nascerem bolhas logo na primeira hora de serviço. Depois visitamos algumas famílias convidando-as para a celebração que aconteceria no sábado à noite. Depois fui com o padre fazer uma garimpagem de fios, soquetes, lâmpadas que já tinha na paróquia e compramos outras coisas que faltaram.


 No dia combinado para carpir o terreno, logo na madrugada 5h30 o grande, o Alexandre missionário sorriso, animado, disponível, dedicado bate em nossa porta, Ricardo e eu já havíamos acordado e fomos para a casa paroquial. Queríamos ir o mais cedo possível para não pegar o sol nas costas durante o trabalho. Que maravilha ao chegarmos à casa paroquial, de forma modesta, simples e austera o padre fez conosco uma oração introduzindo-nos à liturgia e ao mesmo tempo serviu um delicioso café feito ali na hora. Um bico de pão murcho para cada um, que satisfação!

Ao chegarmos ao terreno da comunidade fomos logo emprestar mais duas enxadas e iniciamos a derrubada do mato, mas onde estão as pulgas? O padre pediu para um morador passar veneno antes, que maravilha! O missionário, paranaense Ricardo nosso filósofo e diácono, com ânimo iniciou o trabalho baseado em sua experiência camponesa e o melhor: cantando. Eu e o Grande fomos juntos, animados, carpindo e cantando no pulgueiro.
 Não foi tarefa difícil, não foi tarefa fácil foi uma tarefa única em todas as missões que já fiz na vida. O profeta Vicente de Vitória do Xingu, mais uma vez mostrou que na Amazônia missionário não fala, FAZ!
O sol já queimava quando um garoto com um garrafão de 5 litros de água apareceu, que delícia, nós só não podíamos olhar a cor da água, cor de barro e gosto do mesmo. Mas gelada e no calor fez muito bem!
 Por volta das 10h30 já tínhamos carpido todo o terreno, só restava juntar o mato em local adequado. O terreno estava lindo e limpinho.
  Chegaram os demais Peregrinos de Mary Ward foram visitar as famílias e convidá-las para a celebração. Nós continuamos a cuidar da capela. O jovem pai já havia plantado o poste e feito a fiação até a cobertura da capela. O Ricardo além de filósofo, diácono, paranaense “carpidor” é eletricista e terminou de fazer a ligação para que na hora da celebração houvesse iluminação. O Alexandre iniciou a pintura dos bancos, enquanto eu fui pedir madeira para fazermos novos bancos. O Jorge e eu fizemos bancos novos. Tudo pronto, hora de voltarmos, chegam os Peregrinos que foram visitar as famílias, eles vieram cheios de picadas de pulgas: assustador. Nesse dia almoçamos na casa das irmãs, ainda bem, comemos bem (rs), afinal era preciso recuperar as energias.
 No sábado o Ricardo foi com o Padre para a Celebração, não era eucaristia era A Celebração, o Ricardo quem fez. No retorno dos dois o sorriso que o profeta deu quando dissemos sim ao seu pedido para carpir o terreno era dobrado, sorriso testemunhado pelo Ricardo que dizia ‘tinha muita gente, o povo foi, que maravilha, que bonito’. E, nesse contexto a liderança foi escolhida pelo padre, não em reunião, não em eleição, não em pompas e vaidades, mas na simplicidade missionária de um profeta que conhece, vive e caminha com aquele povo.
 A experiência de carpir o “pulgueiro” valeu, ensinou que na palavra convencemos e no exemplo arrastamos. O aprendizado foi enorme: fazer Igreja é ser povo é ser Igreja. Construir um templo pode ser fácil, mas fazer comunidade não. Lá já havia o terreno comprado pela paróquia e duas águas de cobertura, mas não comunidade. A comunidade formou-se, que persevere!
 Nós aprendemos que o conforto de muitos templos não pode ser desprezado, mas na realidade de um calor enorme, de um terreno com pulgas, duas águas e bancos ao redor, dois bicos de luz e uma Cruz o conforto é desprezível e desprezado e na mesa da Palavra e da Eucaristia se faz a comunidade.



 Agradeço ao Padre Vicente pelo convite e desafio, ao Ricardo e Alexandre pela partilha de um trabalho suado e amizade compartilhada, e aos Peregrinos que visitaram as famílias convidando-as para a Celebração. Faço minha suplica a Deus: que fortaleça nossa caridade, aumente nossa fé e mantenha nossa Esperança de ser Igreja Missionária e persistente como as pulgas.
















sexta-feira, 18 de julho de 2014

Nas terras da Rainha da Amazônia o sangue derramado da mãe da Floresta: Irmã Dorothy Mãe Stang

 Nas terras paraenses não visitar a singela  Virgem de Nazaré, na imensa Basílica edificada em 1852 é não compreender a dinâmica de vida daquele povo que aglomera-se no Ver-o-Peso para a satisfação de suas necessidades vitais. O movimento nas ruas é expressão do grande movimento do povo amazônico na Festa do Círio de Nazaré. Milhões de peregrinos saem às ruas de Belém para o Círio, festa que ocorre no segundo domingo do mês de outubro.
O louvor a Deus por meio de Maria, sob o título de Nossa Senhora de Nazaré alimenta a certeza da vitória de Jesus Cristo na cruz e da vitória de um povo numa região marcada pela exploração das águas e das florestas. A pequenina imagem de Nossa Senhora de Nazaré reúne a fé de um povo que luta para sobreviver em terras de florestas entregues ao desenvolvimento desenfreado das cidades pelo consumo e lucro. Toda a correria pela sobrevivência do urbano, do ribeirinho, do indígena consagra-se na “corda” do Círio e faz de Maria, a mãe de Jesus, a Nossa Senhora de Nazaré a Rainha da Amazônia.
Como Peregrinos de Mary Ward eu não poderia deixar de visitar nossa Mãe Maria no Santuário de Belém. Descrever a experiência dessa  visita e se por aos pés de Nossa Senhora de Nazaré é tarefa difícil para minha ignorância nas letras, mas tarefa fácil para nos olhos as lágrimas rolarem em sintonia com a Igreja e com o povo da Amazônia. O Santuário encerra um clima de oração, de admiração, de reflexão, de doação e de proteção. Prostrar-se e poder rezar a Ave-Maria é uma realidade insondável. Todas as vezes que estive em Belém fui até a Basílica de Nazaré e por alguns minutos recarreguei minhas energias e com Maria professo “Fiat voluntas tua”. Aos pés de Nossa Senhora de Nazaré coloquei todos os que me pedem orações, pedi egoisticamente para que eu seja melhor, supliquei pelas missões que íamos fazer em Vitória do Xingu e por toda a Igreja para que seja simples e para os simples. 

 Na força do ‘fiat voluntas tua” peregrinamos até o SANTUÁRIO DE ANAPU, um município, santuário porque nessa cidade nasceu para o mundo a Irmã Doroty. Quem foi?
Dorothy Mae Stang, conhecida como Irmã Dorothy foi uma religiosa norte-americana naturalizada brasileira. Pertencia às Irmãs de Nossa Senhora de Namur, congregação religiosa fundada em 1804 por Santa Julie Billiart e Françoise Blin de Bourdo, nasceu em 7 de julho de 1931 e foi ASSASSINADA em 12 de fevereiro de 2005.

No sangue de Dorothy derramado na floresta está a luta de todos homens e mulheres que cantam "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens". Se dizer da visita a imagem de Nossa Senhora de Nazaré não é fácil, muito menos dizer do que significou o grito de morte dessa religiosa para a Igreja e para os que acreditam que a terra é Dom de Deus e que está para seus filhos e não para alguns exploradores. Matar Irmã Dorothy foi um gesto ignorante de um ignorante pistoleiro que a mando de um ignorante “agiota” ignora a Lei e faz da força da bala a Lei ignorante. Doe na alma, ecoa no coração e impulsiona a razão a crer que quem segue Jesus não tem onde reclinar a cabeça, ouvir o padre dizer “a cabeça da irmã Dorothy valia 50mil e a minha 25mil . . . mataram minha irmã” doeu profundamente, sobretudo por ver uma Igreja voltada para a Cura e Libertação, por ver clérigos desfilando em carro zero km, vestindo grife, gastando o dinheiro do povo porque sua igreja é rica, doeu profundamente saber que há homens e mulheres lutando pela preservação da floresta e muitos de forma poética fazendo de conta que defendem a floresta. Doe ver grupos e movimentos na Igreja, centrados em seu próprio umbigo vestindo uma armadura e escondendo a podridão de suas vidas. Olhar para a casa de Ir. Dorothy, para seu fusquinha, pisar em solo que foi sepultada, abrigar-se sob a sombra de uma floresta que defendeu com seu próprio sangue me tornou pequeno, pequeno demais na fé, no compromisso com o evangelho de Jesus Cristo, pequeno diante de tanto sofrimento de filhos e filhas de Deus.




















Fazer a Peregrinação às terras sagradas de Anapu - PA e mergulhar no sangue de Ir. Dorothy foi redescobrir o Batismo e despertar para a missão Sacerdotal, Profética e Régia. Celebrar a eucaristia na sepultura, abrigada pela floresta amazônica, ensina a Ser Igreja, a Ser Povo de Deus, a Servir!

Agradeço ao Padre Vicente que animou e levou os Peregrinos de Mary Ward até Anapu, sem essa experiência nossa missão em Vitória do Xingu não teria sentido, afinal a Igreja de Vitória, como de toda prelazia de Altamira fez uma opção e nós, se queremos ser missionários nessas terras devemos fazer a mesma opção: lutar contra a morte da e na floresta. E, para isso peço a Virgem Nossa Senhora de Nazaré, Rainha da Amazônia e pelo sangue da Irmã Dorothy, mãe da Floresta que homens e mulheres que lá testemunham o Evangelho de Jesus Cristo não se deixem vencer pelo medo, não se entreguem ao dinheiro, não tenham medo dos que matam o corpo, não desistam de fazer da Terra, da Floresta e da Vida DOM DE DEUS. 

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Câmara de Vereadores de Vitória do Xingu PA










Que vergonha!

No peregrinar, dos Peregrinos de Mary Ward, em Vitória do Xingu-PA fiquei envergonhado em ver tão triste realidade do Poder Legislativo. Vereadores existem em função dos desmandos do Prefeito. Não estou fazendo uma acusação, mas reproduzindo o que ouvi de aliados do prefeito e dos opositores.
Dos aliados ouvi que não há outro jeito, ou votamos o que o prefeito quer ou nossos familiares e amigos são demitidos, pois o emprego que têm foi por benesse do prefeito. Dos opositores o grito gutural de quem não tem força diante de tão monstruosa que é a situação. Dizem que o município de Vitória do Xingu tem tanto dinheiro que recusaram verbas do Governo Federal, por não terem como prestar contas.
Estive a pedido de meu Mestre Vitoriense, Padre Vicente, na sessão da câmara dos vereadores que tinha como pauta a aprovação de Lei Orgânica. Que coisa feia! Estavam presentes alguns líderes da comunidade que fizeram algumas intervenções, sobretudo no que diz respeito à biodiversidade, aos povos ribeirinhos, quilombolas e indígenas, entre outras questões essenciais numa região tão violenta em que o capital/lucro predomina sobre uma multidão influenciada pelo consumo, pelo prazer e pelo poder e em praça pública se embriagam até morrer.
A sessão não começou no horário, depois do tempo regimental os “cabras” ocuparam suas cadeiras e a sessão teve início. Observei um por um dos vereadores. Um jovem vereador ao se aproximar de sua bancada jogou um bloco de papel que tinha nas mãos, como se dissesse “o que to fazendo aqui”. Outro ao seu lado, jovem também, o tempo todo no celular devia estar no FACE ou em algum game. Mas, esse ainda saiu no lucro seu projeto de construção de Canil e sacrifício dos cachorros da cidade foi aprovado, aliás o único discutido e aprovado no dia. Um terceiro não conseguiu chegar! Uma outra, vereadora, também não! Outros dois, um certamente mudo só digitava no celular, outro serviu para elogiar a aprovação do canil. Na mesa o presidente ladeado por outros dois, sendo um deles atrapalhado, foi falar sobre o canil, reportou-se à ocupação, invasão de terras e foi cortado pelo presidente. O outro, ao lado do presidente, elogiou o canil e cuidado com a saúde, sobretudo com a saúde dos motoqueiros que trombam em cachorros pela rua e até morrem.  Esse depois que a sessão foi suspensa porque o advogado assessor da ABRACAM não compareceu, “seu avião furou o pneu”, não me lembro mais qual foi a desculpa dada. Depois da suspensão da sessão um dos vereadores, o ..., disse para a platéia que poderiam ficar tranquilos que a Lei Orgânica não seria votada e, que tudo o que a comunidade pediu, 90% foi acolhido na nova redação, cujo advogado da ABRACAM estava trazendo. Fomos para casa almoçar e por volta das 14h os “bandidos” retomaram a sessão, alguns líderes permaneceram e na discussão perceberam que fomos enganados. O tal advogado chegou com o texto e o que diz respeito aos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e biodiversidade não constava no novo texto. A sessão terminou e nada resolvido.
No dia seguinte, o mestre Vicente disse que teria nova sessão, lá fui para a câmara. Apareceu o vereador R...., nos cumprimentou e informou que não teria sessão, que seria uma reunião interna.  Outros líderes chegaram, questionaram o cancelamento da sessão, os argumentos não convenciam. Veio o tal advogado da ABRACAM falou, falou, falou! Não convenceu. O Renildo falou, falou, falou! Não convenceu. Ficamos aguardando, até que o Vereador R..... retornou dizendo que a reunião não seria para votar a Lei Orgânica, comprometeu-se a informar, através de seu gabinete, o dia da sessão de votação da Lei Orgânica. Fomos embora!
Que vergonha narrar esse episódio! Que vergonha ver sete dos nove vereadores do município enganando-se e enganando o povo em favor dos interesses do prefeito. É o que todos dizem!
Minha vergonha se agravou, quando num jogo do Brasil em praça pública, montaram um telão para a população assistir ao jogo e no intervalo o Senhor Prefeito presente, coitado vem de Altamira, isso mesmo, o prefeito da cidade não mora na cidade. Foi para entregar prêmios para população:Tv e cesta básica de férias para as famílias que tem crianças na escola; depois crianças eram chamadas para responder a perguntas e ganharem prêmios. Que manipulação! As crianças antes de responderem as perguntas precisavam dizer o nome da primeira dama, do prefeito e do vice-prefeito. A primeira dama será candidata a deputada, certamente o vice também! Depois era feita uma pergunta medíocre sobre o resultado do jogo que assistíamos na praça e os nomes da primeira dama e outros eram ditos, reditos e gritados no microfone como que quisessem gravá-los nas nossas mentes.
Assim se encerra o meu retrato da política numa cidade que está atingida, 90%, pela Belo Monte. Senhores vereadores e senhor prefeito não me envergonhem, sou inocente demais para ver tanta gente com o “rabo preso” no poder que exercem na cidade. Vossos munícipes têm medo de vós!
Comunidade de Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos não se rendam e não se vendam ao poder podre de vossos representantes municipais. Confiem em vós, na vossa comunidade e no evangelho de Jesus Cristo e não se deixem abater pelo medo dos que matam o corpo, mas não matam o sonho de uma cidade igualitária onde, indígenas, negros, ribeirinhos e urbanos possam conviver na paz e bem!

J. A. Galiani