Da “baleia azul”e seus 50 desafios
ao tempo de vida da “Balaenoptera musculus”
e nos 27 versículos do Eclesiástico
o tempo da vida dos nossos filhos.
Baleia Azul! Recentemente no show da vida uma
informação entrou em nossas casas, no game midiático o jogo do fantástico nos
desafiou para mais uma “nudez”. Bombardeados pela internet nos vemos, não como
o personagem bíblico Jó, dentro da barriga da baleia, não para nascer de novo,
mas para morrer como excremento dela. Nossas famílias no show da vida se veem
mergulhadas na impotência, na permissividade e “nudez” que revela o quanto
somos ausentes uns dos outros.
Uma febre de 40 graus leva ao delírio educadores e
pais, os primeiros como que se só passasse por eles o caminho da vida e escolha
das crianças e adolescentes, os outros como que se só aos educadores a
responsabilidade de informar e formar seus filhos.
Antes de mais nada o obvio precisa ser dito. Na relação
pais e filhos, os responsáveis pelos filhos são os pais. Na relação educação e
escolarização os responsáveis pela educação são os pais. Na relação escola e
educação, os responsáveis continuam sendo os pais, pois sem a educação que vem
da família a escola e o processo de escolarização nada farão.
Baleia azul, meu Deus, onde chegamos!? Não chegamos porque
não saímos e nem sairemos de onde sempre estivemos; somos vulneráveis hoje e
sempre, isto é condição humana. Não se quer dizer com isso que devemos nos
acomodar e conformar. O game está posto e no show fantástico da vida o que
importa é vencer, mesmo que isto signifique vencer para perder a vida. Que
horror! “Onde já se viu isso”?
Recentemente em conversa com um casal, pais de dois
filhos, um com 10 anos e outro com 13 anos de idade, ouvi falas diversas, o que
me deixou confortável e confiante em relação ao objetivo de nosso diálogo; eles
demonstravam presentes e participantes da vida dos filhos, não obstante uma
fala me mostrou o quanto minha percepção foi equivocada. Disseram “esta semana
demos para ele, um dos filhos, um celular novo, porque o que tinha, perdeu. E,
dissemos para que ele cuide, para que não empreste para os amiguinhos, para que
o guarde no bolso, na mochila e não deixe jogado pela casa, nem sobre a
carteira na escola”. Fiquei admirado com a atitude dos pais e a educação dada
ao filho, com o que de valor ele ganha, mas ao mesmo tempo triste, decepcionado
e em crise: como será que nossos filhos são acolhidos, orientados e educados em
relação ao valor maior que a eles damos: a Vida?
Eles nascem e os “empetecamos” de coisas e mais
coisas, de sapatinhos, meinhas, roupinhas, jóinhas, são tantos diminutivos que
quando nos damos conta perdemos os nossos filhos no ‘aumentativo’ da vida. Os
perdemos por não amá-los de verdade, os perdemos para a medicação “tarja preta”
que ingerimos, os perdemos para a bebida alcóolica que estocamos na geladeira e
no barzinho que mantemos dentro de nossas casas, os perdemos para eles mesmos
que mergulhados no edredom, na mídia e narcísico mundo que os criamos vivem
como se não vivessem à espera de algo que lhes dê sentido, de um pai que lhes
dê atenção e não mesada, de uma mãe que lhes dê compreensão e não só aprovação,
à espera de pais que sabem o que fazem e porquê fazem.
Em minha rotina é comum ouvir: “meu pai não está nem
aí, faço o que quero” e, “minha mãe só grita e recrimina o que faço”. Baleia
azul? Chega de hipocrisia, chega de bazófia, chega de pais disfarçados de pais,
chega de provedores dos filhos. Chega de alardes e alarmes que nos fazem reféns
de nós próprios e omissos em relação aos filhos que geramos. Basta, basta,
basta de uma mídia que entra como dejeto em nossa vida, tornando-nos titica e
ocupando nosso lugar na vida de nossos filhos.
Colocar-se em defesa, cuidado e luta pela vida vai
além de informar e deformar, vai além de alardear e matar. Se hoje estão
preocupados com game baleia azul é porque não se preocuparam com a vida, é
porque não usaram o grande valor que a própria vida deu para lutar, cuidar e
defender os filhos que geraram. Se os pais olharem, tocarem, cheirarem, ouvirem
e sentirem o “gosto” dos filhos não haverá excremento midiático tornado real e
verdadeiro que nos tire o bom senso, tornando-nos objetos manipuláveis e
achatados pelo senso-comum das redes sociais, fazendo-nos heróis sem causa e
defensores dos filhos que temos e matamos, porque cremos que o que está fora
deles e de nós é o que os mata.
Que mares iremos navegar? Onde iremos mergulhar?
Seremos dejetos da baleia azul, da baleia cor de rosa, de todas as “não
verdades” que entram em nossas casas para nos fazer “titicas de galinha” e reféns
de nossos medos?
Diante das provocações acima sem moralismo, sem
pieguismo, sem pretensões dogmáticas, sem querer definir, sem querer ser o pai
da ortodoxia familiar e educacional faço um convite aos pais e educadores.
Leiam e reflitam um texto do livro do Eclesiástico, livro bíblico escrito entre
190 e 124 a.C., que no capitulo 30 e seus versículos indicam sobre a vida que
temos e queremos para nós e para nossos filhos.
"1.Aquele que ama seu filho, castiga-o com frequência,
para que se alegre com isso mais tarde, e não tenha de bater à porta dos
vizinhos.
2.Aquele que dá ensinamentos a seu filho será louvado
por causa dele, e nele mesmo se gloriará entre seus amigos.
3.Aquele que educa o filho torna o seu inimigo
invejoso, e entre seus amigos será honrado por causa dele.
4.O pai morre, e é como se não morresse, pois deixa
depois de si um seu semelhante.
5.Durante sua vida viu seu filho e nele se alegrou;
quando morrer, não ficará aflito; não terá de que se envergonhar perante seus
adversários,
6.pois deixou em sua casa um defensor contra os
inimigos, alguém que manifestará gratidão aos seus amigos.
7.Aquele que estraga seus filhos com mimos terá que
lhes pensar as feridas; a cada palavra suas entranhas se comoverão.
8.Um cavalo indômito torna-se intratável; a criança
entregue a si mesma torna-se temerária.
9.Adula o teu filho e ele te causará medo; brinca com
ele e ele te causará desgosto.
10.Não te ponhas a rir com ele, para que não venhas a
sofrer com isso, e não acabes rangendo os dentes.
11.Não lhe dês toda a liberdade na juventude, não
feches os olhos às suas extravagâncias:
12.obriga-o a curvar a cabeça enquanto jovem,
castiga-o com varas enquanto ainda é menino, para que não suceda endurecer-se e
não queira mais acreditar em ti, e venha a ser um sofrimento para a tua alma.
13.Educa o teu filho, esforça-te (por instruí-lo),
para que te não desonre com sua vida vergonhosa.
14.Mais vale um pobre sadio e vigoroso, que um rico
enfraquecido e atacado de doenças.
15.A saúde da alma na santidade e na justiça vale mais
que o ouro e a prata. Um corpo robusto vale mais que imensas riquezas.
16.Não há maior riqueza que a saúde do corpo; não há
prazer que se iguale à alegria do coração.
17.Mais vale a morte que uma vida na aflição; e o
repouso eterno que um definhamento sem fim.
18.Bens escondidos em uma boca fechada são como
preparativos de um festim colocados sobre um túmulo.
19.De que serve ao ídolo a oferenda que lhe fazem? Não
pode nem comê-la nem lhe respirar o aroma.
20.Assim é aquele que o Senhor repele, e que carrega o
castigo de seu pecado;
21.seus olhos vislumbram (o alimento) e ele suspira,
assim como suspira o eunuco ao abraçar uma virgem.
22.Não entregues tua alma à tristeza, não atormentes a
ti mesmo em teus pensamentos.
23.A alegria do coração é a vida do homem, e um
inesgotável tesouro de santidade. A alegria do homem torna mais longa a sua
vida.
24.Tem compaixão de tua alma, torna-te agradável a
Deus, e sê firme; concentra teu coração na santidade, e afasta a tristeza para
longe de ti,
25.pois a tristeza matou a muitos, e não há nela
utilidade alguma.
26.A inveja e a ira abreviam os dias, e a inquietação
acarreta a velhice antes do tempo.
27.Um coração bondoso e nobre banqueteia-se
continuamente, pois seus banquetes são preparados com solicitude."
Eclesiástico, 30 - Bíblia Católica Online
Leia mais em: http://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/eclesiastico/30/
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J.
A. Galiani – Filósofo, Teólogo e Pedagogo.