Fé e Política: o resgate do sentido humano de ser
O Curso Fé
e Política da Escola Fé e Política Waldemar Rossi, de 2022, na Região Episcopal
Belém, Arquidiocese de São Paulo foi uma escolha que fiz na busca de abrir
horizontes de reflexão e ação em uma nova conjuntura de vida: aposentadoria e
sem nenhum vínculo com trabalho e remuneração.
Na
história pessoal de Vida, venho de uma realidade vivida em realidades diferentes,
com fins/objetivos diferentes: de 1979 a 1991 (12 anos) vivi a formação para a
vida religiosa e sacerdotal, deixando o exercício do Ministério Sacerdotal
ainda muito jovem. Iniciei uma nova etapa de vida, trabalhar para sobreviver,
sem perder a identidade religiosa de viver. Novas experiências, profissão e
desafios com moradia, cultura, lazer e prazer. Namoro, noivado e casamento, já há
25 anos. Sempre novas realidades de vida vividas em realidades diferentes.
Agora, aposentado, uma nova realidade.
Seriam as
realidades os territórios tão falados na EFPWR? Nascem novas inquietações para mim, realidades
e territórios remetem a espaços definidos, fixos, demarcados e por vezes
limitadores. A utopia nascida ainda em 1980, quando o então Papa João Paulo II,
hoje São João Paulo II, diante da multidão de jovens em BH disse olhando para os
jovens “que belo horizonte”, está ofuscada.
No
percurso das aulas da EFPWR, sempre magnificas nos temas, no desenvolvimento,
na participação dos colegas e na condução da Coordenação, luzes cintilam. Dou
início a um exercício de “aluno”, sem luz e coloco-me como estudante, como
aprendente. Foi um movimento indispensável para crescer.
Os
horizontes que busquei ao me matricular para fazer o Curso, onde fui professor se
manifestaram em falas simples nascidas da prática, da vida e não dos livros. Lá
pelo meio do curso comecei a organizar meu território, ou seja, minha realidade
interna do que buscava e, encontrei na fala da Erundina, em 21 de fevereiro, na
aula Magna, a magnitude do que eu buscava: SER HUMANO, nos diferentes territórios
de minha existência. Ela disse: NÃO
HÁ FÉ SEM POLÍTICA, NÃO HÁ POLITICA DECENTE SE NÃO FOR INSPIRADA EM VALORES
HUMANOS.
Passei
então a me esforçar para sair do funil inicial e colocar-me em um movimento
dialético, espiral e crescente. Diante de todos os temas abordados ao longo das
aulas faço a seguinte síntese, ainda na busca de horizontes, isto porque construo
uma constante busca da relação fé e política. Nesta construção e busca
constante trago para minha conclusão do Curso na EFPWR de 2022 uma premissa indispensável.
Em
Hannah Arendt, no seu livro Entre o passado e o futuro, publicado em
1954 está a premissa: “[...]a essência da
educação é a natalidade, o fato de que seres humanos nascem para o mundo”, aqui
encontrei uma luz para minha experiência nos novos territórios que passei a viver.
A natalidade a que se refere Arendt é a que brota do conflito vivido em
sociedade, uma vez que esta é uma colcha de retalhos de diferentes culturas e é
onde se dá o existir humano.
A
concepção de SER HUMANO, por ela trabalhada, é o homem como parte do todo, que
prima como um ser político e para tal requer a Fé que desencadeia a ética, os princípios
e valores que norteiam as reflexões e ações.
Nessa
perspectiva de crer e “politicar”, podemos questionar sem sombra de dúvidas, as
práticas de fé e políticas adotadas no Brasil e, então propor a humanização da
Fé e da Política. É preciso deixar nascer caminhos que superem os limites
impostos pelo social, pelo econômico, pelo religioso e pelo político de maneira
que a arte do bem comum trilhe um caminho constante de construção e
desconstrução, assim como o humano é, ideia que ecoa na literatura de Guimarães
Rosa ao conceituar o humano: "Mire veja: o mais importante e bonito, do
mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas
- mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que
a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão" (ROSA, 1986, p.21).
Os dias
atuais exigem um movimento constante de construção de horizontes e estes não
podem incorporar regras estáticas como no passado próximo que engessou o SER
HUMANO pelos dualismos vividos – razão/fé, corpo/alma, direita/esquerda. A
superação dualística de ser nos faz mais humanos ainda. Nasce o compromisso de todos
que acreditam no tesouro humano que é a humanidade: é preciso saber que a Fé e a
Política é o antídoto contra a banalização e a mediocridade; porém, é também
necessário cuidar para que o cotidiano não nos engane, disfarçando-se de bem comum
e bom para todos.
O
resgate do sentido humano de ser, pela Fé e pela Política está nas práticas de solidariedade,
humanização, justiça, respeito ao diferente, na resiliência, na empatia, no
acolhimento e na ruptura com as estruturas sociais e até individuais, que alienam
e nos fazem cegos diante de tanta dor e sofrimento humano.
O
olhar pela Fé e pela Política, quando não passa pela NATALIDADE, com diz Arendt,
perde sua humanidade e consequentemente nos faz incapazes de reconhecer Deus e
seus atributos, impossibilita-nos de saber o HUMANO QUE SOMOS e com isso
negamos a alteridade e na diversidade não respeitamos os diferentes.
Um
olhar pela Fé e pela Política que privilegia a promoção da vida e do bem para
todos, nos aproxima de Deus e da construção de uma sociedade de iguais na
diversidade. Desta forma, como SER HUMANO que somos, a Fé e a Política promovem
uma busca incansável pelo sentido do existir
que não se esgota em SER, em TER mas em FAZER feliz, fruto do “conflito em
sociedade”, como diz Hannah.
O Curso Fé
e Política, da Escola Fé e Política Waldemar Rossi, proporcionou refletirmos
sobre a importância da Fé como iluminadora dos desafios no território que estamos,
e esta ação, que é Política, nos faz “Ser Humano”, ou seja somos o sujeito de nós
mesmos e estamos em processo de realização, e, responsáveis pelo território em
que vivemos. O exercício da fé e da política é mais que cumprir direitos e
deveres é acima de tudo, o interesse pelo bem do todo.
Gratidão a
todos os gestores da Escola Fé e Política Waldemar Rossi, aos docentes e aos
colegas que ao longo de 2022 me desafiaram pela fé e política a resgatar o
sentido humano de ser, contribuindo na construção da CASA COMUM, com suas diferentes
estruturas sociais, porém politicamente correta: ser uma CASA PARA TODOS.
Referências
ALMEIDA,
Custódio Luís S. “O cotidiano”, in: Revista de Educação da AEC, p. 7-15, ano
29, nº 117, out/dez 2000 – Brasília 2000.
ARENDT,
Hannah. Entre o passado e o futuro (Between past ande future – 1954) Tradução
de Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000.
ROSA,
João Guimarães. Grande Sertão: Veredas.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
José Antonio Galiani
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