segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

 

Fé e Política: o resgate do sentido humano de ser

            O Curso Fé e Política da Escola Fé e Política Waldemar Rossi, de 2022, na Região Episcopal Belém, Arquidiocese de São Paulo foi uma escolha que fiz na busca de abrir horizontes de reflexão e ação em uma nova conjuntura de vida: aposentadoria e sem nenhum vínculo com trabalho e remuneração.

            Na história pessoal de Vida, venho de uma realidade vivida em realidades diferentes, com fins/objetivos diferentes: de 1979 a 1991 (12 anos) vivi a formação para a vida religiosa e sacerdotal, deixando o exercício do Ministério Sacerdotal ainda muito jovem. Iniciei uma nova etapa de vida, trabalhar para sobreviver, sem perder a identidade religiosa de viver. Novas experiências, profissão e desafios com moradia, cultura, lazer e prazer. Namoro, noivado e casamento, já há 25 anos. Sempre novas realidades de vida vividas em realidades diferentes. Agora, aposentado, uma nova realidade.

            Seriam as realidades os territórios tão falados na EFPWR?  Nascem novas inquietações para mim, realidades e territórios remetem a espaços definidos, fixos, demarcados e por vezes limitadores. A utopia nascida ainda em 1980, quando o então Papa João Paulo II, hoje São João Paulo II, diante da multidão de jovens em BH disse olhando para os jovens “que belo horizonte”, está ofuscada.

            No percurso das aulas da EFPWR, sempre magnificas nos temas, no desenvolvimento, na participação dos colegas e na condução da Coordenação, luzes cintilam. Dou início a um exercício de “aluno”, sem luz e coloco-me como estudante, como aprendente. Foi um movimento indispensável para crescer.

            Os horizontes que busquei ao me matricular para fazer o Curso, onde fui professor se manifestaram em falas simples nascidas da prática, da vida e não dos livros. Lá pelo meio do curso comecei a organizar meu território, ou seja, minha realidade interna do que buscava e, encontrei na fala da Erundina, em 21 de fevereiro, na aula Magna, a magnitude do que eu buscava: SER HUMANO, nos diferentes territórios de minha existência. Ela disse: NÃO HÁ FÉ SEM POLÍTICA, NÃO HÁ POLITICA DECENTE SE NÃO FOR INSPIRADA EM VALORES HUMANOS.

            Passei então a me esforçar para sair do funil inicial e colocar-me em um movimento dialético, espiral e crescente. Diante de todos os temas abordados ao longo das aulas faço a seguinte síntese, ainda na busca de horizontes, isto porque construo uma constante busca da relação fé e política. Nesta construção e busca constante trago para minha conclusão do Curso na EFPWR de 2022 uma premissa indispensável.

            Em Hannah Arendt, no seu livro Entre o passado e o futuro, publicado em 1954 está a premissa: “[...]a essência da educação é a natalidade, o fato de que seres humanos nascem para o mundo”, aqui encontrei uma luz para minha experiência nos novos territórios que passei a viver. A natalidade a que se refere Arendt é a que brota do conflito vivido em sociedade, uma vez que esta é uma colcha de retalhos de diferentes culturas e é onde se dá o existir humano.

            A concepção de SER HUMANO, por ela trabalhada, é o homem como parte do todo, que prima como um ser político e para tal requer a Fé que desencadeia a ética, os princípios e valores que norteiam as reflexões e ações.

            Nessa perspectiva de crer e “politicar”, podemos questionar sem sombra de dúvidas, as práticas de fé e políticas adotadas no Brasil e, então propor a humanização da Fé e da Política. É preciso deixar nascer caminhos que superem os limites impostos pelo social, pelo econômico, pelo religioso e pelo político de maneira que a arte do bem comum trilhe um caminho constante de construção e desconstrução, assim como o humano é, ideia que ecoa na literatura de Guimarães Rosa ao conceituar o humano: "Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão" (ROSA, 1986, p.21).

            Os dias atuais exigem um movimento constante de construção de horizontes e estes não podem incorporar regras estáticas como no passado próximo que engessou o SER HUMANO pelos dualismos vividos – razão/fé, corpo/alma, direita/esquerda. A superação dualística de ser nos faz mais humanos ainda.      Nasce o compromisso de todos que acreditam no tesouro humano que é a humanidade: é preciso saber que a Fé e a Política é o antídoto contra a banalização e a mediocridade; porém, é também necessário cuidar para que o cotidiano não nos engane, disfarçando-se de bem comum e bom para todos.

            O resgate do sentido humano de ser, pela Fé e pela Política está nas práticas de solidariedade, humanização, justiça, respeito ao diferente, na resiliência, na empatia, no acolhimento e na ruptura com as estruturas sociais e até individuais, que alienam e nos fazem cegos diante de tanta dor e sofrimento humano.

            O olhar pela Fé e pela Política, quando não passa pela NATALIDADE, com diz Arendt, perde sua humanidade e consequentemente nos faz incapazes de reconhecer Deus e seus atributos, impossibilita-nos de saber o HUMANO QUE SOMOS e com isso negamos a alteridade e na diversidade não respeitamos os diferentes.

            Um olhar pela Fé e pela Política que privilegia a promoção da vida e do bem para todos, nos aproxima de Deus e da construção de uma sociedade de iguais na diversidade. Desta forma, como SER HUMANO que somos, a Fé e a Política promovem uma busca incansável pelo sentido do existir que não se esgota em SER, em TER mas em FAZER feliz, fruto do “conflito em sociedade”, como diz Hannah.

            O Curso Fé e Política, da Escola Fé e Política Waldemar Rossi, proporcionou refletirmos sobre a importância da Fé como iluminadora dos desafios no território que estamos, e esta ação, que é Política, nos faz “Ser Humano”, ou seja somos o sujeito de nós mesmos e estamos em processo de realização, e, responsáveis pelo território em que vivemos. O exercício da fé e da política é mais que cumprir direitos e deveres é acima de tudo, o interesse pelo bem do todo.

            Gratidão a todos os gestores da Escola Fé e Política Waldemar Rossi, aos docentes e aos colegas que ao longo de 2022 me desafiaram pela fé e política a resgatar o sentido humano de ser, contribuindo na construção da CASA COMUM, com suas diferentes estruturas sociais, porém politicamente correta: ser uma CASA PARA TODOS.

 

Referências

 

ALMEIDA, Custódio Luís S. “O cotidiano”, in: Revista de Educação da AEC, p. 7-15, ano 29, nº 117, out/dez 2000 – Brasília 2000.

 

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro (Between past ande future – 1954) Tradução de Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000.

 

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

 

José Antonio Galiani

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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Sinto um alívio!

 

Sinto um alívio! O dia, após as Eleições Gerais, amanheceu em meu País:

1.       O resultado da Eleição me impõe fazer um tributo a dois amigos, entre tantos, que foram mortos pelo Covid-19. Trago à memória o Líder Flávio Castro e o Padre Francisco Pio Dantas, SAC e com eles todos os mortos pela omissão e negacionismo imperado pelo Governante em nosso país!

2.       Lembro-me de todos os professores, sofremos todos! Se ter professores “atrapalha” um governo, digo: TENHO ORGULHO DE SER UM PROFESSOR. Durante a pandemia nós professores não ficamos em casa para não trabalhar ou para atrapalhar o aprendizado das crianças, ficamos em casa para proteger e por defendermos a VIDA!

3.       Estou satisfeito com o resultado das eleições, ao menos não terei que ouvir do Presidente do meu País, absurdos em relação ao GRANDE EDUCADOR Brasileiro: PAULO FREIRE!

4.       Sinto um alívio, como cristão Católico, de ver derrotado os grupos e movimentos nascidos para defender um Catolicismo desconexo do tempo que está, um Catolicismo reacionário, um Catolicismo moralista contra os próprios Católicos. Que vergonha ver “lideres católicos” defendendo e propagando mentiras em defesa de “falsos políticos e cristãos”.

5.       Meus irmãos cristãos Evangélicos, sempre os admirei pela assídua leitura da Palavra de Deus, mesmo os fundamentalistas, mas me envergonha ver vossos “líderes” se candidatando, não preocupados com o bem de todos, mas preocupados em compor bancadas e defender interesses econômicos. Tenho vergonha de vê-los manchando a Fé em Jesus Cristo pela troca de barras de ouro.

6.       Estou aliviado pelo basta dado aos MORALISTAS, homens e mulheres de bem, defendendo princípios sem princípios. Defendem a Vida, são contra o aborto, mas apoiam uma política armamentista. Armas matam!!!

7.       Quantas novenas à Nossa Senhora pela Pátria. Quantos terços rezados pedindo a proteção do Brasil. Só se esqueceram que Maria, a Nossa Senhora, está do lado dos humildes, por que o “fiat voluntas tua” dela, é para o Deus que derruba dos tronos os poderosos e exalta os humildes. O Deus dela é o EMANUEL, Ele está no meio de nós e não “acima de todos”.

8.       Quantos Católicos de joelhos dobrados diante do Santíssimo Sacramento Eucarístico, não para adorá-lo, mas para usá-lo politicamente. Que vergonha ver freis, freiras, padres, bispos percorrendo as Igrejas com o ostensório e os fiéis pedindo a cura do Brasil, na verdade pediam que o “Dragão” vencesse esquecendo-se que a Eucaristia é o “Pão Vivo descido do Céu para dar Vida ao Mundo”. Que vergonha ver a profanação do Círio de Nazaré e a Casa da Mãe Aparecida; vergonha maior é ver Católicos “cegos e surdos”, porém não “mudos” falando e defendendo uma política excludente, preconceituosa, desrespeitosa, fascista!

9.       Sinto um alívio por ver que o País pode renascer, não pelo líder eleito, mas pela oportunidade que teremos de exercer a cidadania, de termos acesso à cultura, ao lazer. A eleição de um NOVO PRESIDENTE, coloca o Brasil num patamar de diálogo internacional jamais visto, voltaremos a ter crédito, voltaremos a dar crédito com nossa riqueza científica, cultural, econômica e natural, sem necessariamente privatizar nossas riquezas. Alegria em ter um Governo que governa para os menos favorecidos, o que não exclui os que tem mais.

10.   Envergonhava-me ouvir, referências aos venezuelanos e outros que encontraram aqui uma alternativa para aliviar seu sofrimento, que o Brasil caminha para a mesma situação destes países. Sim, caminharíamos se o fascismo continuasse a frente do Brasil. Como sinto vergonha de eleitores do derrotado, dizer que o melhor é sair do Brasil, tentar a vida lá fora, perderam o amor pela camisa amarelinha? Ou nunca vestiram esta camisa?

 

                Passaria horas escrevendo pontos de vista que me fazem feliz no amanhecer de hoje, um dia após a eleição geral no meu país; mas vou parando, até porque ideias e palavras são como palhas ao vento e minhas opiniões podem ser bem lidas, vistas e interpretadas, mas conforme o vento serão objetos de desrespeito, de preconceito e taxação.  

                Termino fazendo uso da Declaração da minha Igreja na voz da CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL:

“Todos possam caminhar unidos para a construção da política melhor, aquela que está a serviço do bem comum, conforme define o nosso amado Papa Francisco. São os votos da CNBB. É o que suplicamos em preces para o nosso país”.

(https://www.cnbb.org.br/presidencia-da-cnbb-o-exercicio-da-cidadania-nao-se-esgota-com-o-fim-do-processo-eleitoral/; acesso em 31/10/22)

 

31/10/2022

José Antonio Galiani

(Professor Galiani)