Para muitos, o poder é a susprema ambição. É a perversa maneira de se comparar a Deus. Vido os políticos que gastam somas bilionárias em campanhas eleitorais e, mesmo derrotados, voltam à cena, como se a sede de poder fosse proporcional à fortuna que dilapidam.
Há homens que, fora do poder, sentem-se terrivelmente humilhados, expulsos do Olimpo dos deuses. Caem em depressão e, passada a ressaca, voltam à disputa pelo espaço de poder ocm mais garra e menos escrúpulos.
Modificado o modo de viver de quem ocupa o poder, em pouco tempo altera-se tambémo modo de pensar. Pois o poder faz girar a toda da fortuna e opera na pessoa uma mudança de lugar social e ucltural. Ela se vê cercada de bajuladores, recebe convites ehomenagens, ganha presentes, dispõe de assessores e, sobretudo, passa dispor de uma infra-estrutura que a reveste de uma aura especial. Se não tiver princípios sólidos, troca de guarda-roupas, de casa, de amigos e de mulher ou marido.
Aos olhos do comum dos mortais, aquela autoridade possui as chaves da felicidade alheia. Tem o poder de aprovar projetos, liberar verbas, autorizar obras, permitir viagens, distribuir cargos, promover pessoas, conceder bolsas, e transformar seus gestos em fatos políticos.
Quem se apega ao poder, mira-se todas as manhãs no espelho da bruxa da Branca de Neve e não suporta críticas, pois minam sua auto-imagem e exibem suas contradições aos olhos de outrem. Daí porque se isola, fecha-se num círculo hermético ao qual só têm acesso os que cumprem suas ordens, dizem "amém" às suas ideias e palavras.
São rasos aqueles que fazem do poder, como ensinou Jesus, um dever de serviço à justiça, à solidariedade e à paz.
In: Frei Betto Gosto de Uva - Escritos Selecionados Ed. Garamond RJ 2003.
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