CONVENÇÕES
LUIZ FERNANDO VERISSIMO
A classe média é uma terra estranha.
A Mirtes não se agüentou e contou para a Lurdes:
- Viram teu marido entrando num motel.
A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua do espanto, durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes. Quando? Onde? Com quem?
- Ontem. No Discretíssimu’s.
- Com quem? Com quem?
- Isso eu não sei.
- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?
- Não sei, Lu.
- O Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.
Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Lurdes anunciou que iria deixá-lo. E contou por que?
- Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel. Era você.
- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. Discretíssimu’s! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.
- Pois então?
- Pois então que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.
- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!
- Mas elas não sabem disso!
- Eu não acredito, Lurdes. Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?
- Vou.
Mais tarde quando a Lurdes estava saído de casa, com as malas, o Carlos Alberto a interceptou. Estava sombrio.
- Acabo de receber um telefonema – disse – Era 0 Dico.
- O que ele queria?
Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar.
- O que?
- Você foi vista saindo do motel Discretíssimu’s ontem, com um homem.
- O homem era você.
- Eu sei, mas eu não fui identificado.
- Você não disse que era você?
- O que? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?
- E então?
- Desculpe, Lurdes, mas . . .
- O que?
- Vou ter que te dar um tiro.
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