domingo, 17 de janeiro de 2010

REcebi por e-mail do amigo Renê Roldan e partilho com voces

CONVENÇÕES


LUIZ FERNANDO VERISSIMO



A classe média é uma terra estranha.

A Mirtes não se agüentou e contou para a Lurdes:

- Viram teu marido entrando num motel.

A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua do espanto, durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes. Quando? Onde? Com quem?

- Ontem. No Discretíssimu’s.

- Com quem? Com quem?

- Isso eu não sei.

- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?

- Não sei, Lu.

- O Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.

Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Lurdes anunciou que iria deixá-lo. E contou por que?

- Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel. Era você.

- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. Discretíssimu’s! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.

- Pois então?

- Pois então que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.

- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!

- Mas elas não sabem disso!

- Eu não acredito, Lurdes. Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?

- Vou.

Mais tarde quando a Lurdes estava saído de casa, com as malas, o Carlos Alberto a interceptou. Estava sombrio.

- Acabo de receber um telefonema – disse – Era 0 Dico.

- O que ele queria?

Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar.

- O que?

- Você foi vista saindo do motel Discretíssimu’s ontem, com um homem.

- O homem era você.

- Eu sei, mas eu não fui identificado.

- Você não disse que era você?

- O que? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?

- E então?

- Desculpe, Lurdes, mas . . .

- O que?

- Vou ter que te dar um tiro.

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=.=.=

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