Aluno não gosta de estudar
Embora não fosse uma grande novidade, causou-me preocupação o resultado de uma pesquisa realizada recentemente com estudantes universitários. Ao serem interrogados sobre suas preferências no período de estudos, a grande maioria respondeu que prefere as baladas e as festinhas universitárias. Apenas 16% dos alunos disseram que gostam de estudar.
Dirá o leitor: “O resultado da pesquisa é normal. É lógico que os jovens prefiram as baladas e as festinhas às aulas. Qualquer um responderia dessa forma. Seria mentiroso se não fosse assim.”
Como eu sei que a observação do leitor será essa, fico, ainda, mais preocupado. É que tenho a convicção de que não deveria ser assim. Estou certo de que isso ocorre, porque os estudantes não têm plena certeza de seus reais objetivos. Quando se tem um objetivo em mente, a gente se dedica integralmente a esse objetivo e tem prazer em realizar o que deve ser feito para atingi-lo.
Quando me falam que a escola de antigamente era melhor que a de hoje, que os professores de antes eram muito melhores, sou totalmente contrário. Sempre fui de opinião de que a escola de hoje e os professores atuais são bem melhores que os de antigamente. O que mudou foi a situação, foram as circunstâncias.
O leitor dirá que há um paradoxo entre essa afirmação e os resultados da pesquisa. Como é que a escola e os professores de hoje são melhores, se os alunos não gostam de frequentar essa escola com esses professores? Como é que na escola de antigamente, que, segundo minha opinião, era pior, os alunos manifestavam mais interesse?
Não vejo paradoxo algum. Confirmo que, antigamente, era um orgulho para toda a família quando uma pessoa conseguia frequentar a escola. Imaginem, agora, que sentimento dominava as pessoas, quando alguém da família conseguia matricular-se numa faculdade. Sem dúvida, muito grande. Era motivo de notícia em jornal: “Filho da terra matricula-se na Faculdade de Medicina.” E nem precisavam chegar ao ensino universitário. Os mais velhos hão de lembrar com que orgulho se falava da menina que conseguia formar-se na Escola Normal. Hoje, ao contrário, poucas pessoas desejam a carreira de professor do ciclo I do ensino fundamental (professor primário).
Minha preocupação aumenta, pois vejo que, com escolas melhores, o interesse dos alunos, como a pesquisa confirma, está cada vez menor. A preferência do aluno, ao chegar à universidade, é participar das baladas e das festinhas universitárias, que, evidentemente, não são regadas a suco de laranja. Nos ensinos fundamental e médio, esse desinteresse se confirma, ao vermos o elevado índice de evasão escolar, principalmente no período noturno e as salas de aula às moscas, nas sextas-feiras, em boa parte das escolas, principalmente no período noturno também. Há solução para esse problema? – perguntará o leitor. Evidentemente que há (só não há solução para a morte). Mas a solução não é tão fácil nem se concretizará em curto espaço de tempo. É preciso que haja um trabalho sistemático, envolvendo as escolas, as autoridades, as famílias e a sociedade de uma maneira geral. Deverá ser um trabalho educativo de fôlego, que não se esgotará em alguns meses ou alguns anos. É preciso que haja a conscientização de todos para a importância da educação, que deverá conviver em harmonia com uma nova sociedade, que oferece às pessoas alternativas de vida, mas que nenhuma delas dispensa a educação de boa qualidade.
Texto de Bahige Fadel, de Botucatu (SP), supervisor de ensino aposentado e atualmente professor do Total COC.
Jornal Virtual 164 – 07052010
Ano 8 - Nº 164 - 07/05/2010
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