Ensinar, antes de tudo, é uma questão de planejamento. Além de possuir total domínio sobre o assunto, o professor projeta como o conteúdo será repassado para se tornar atrativo a todos os estudantes, considerando as diferentes posturas em sala de aula. Há quem seja mais estudioso, outros são menos participativos. O objetivo é alcançar a todos, inclusive os alunos que possuem necessidades especiais. Entretanto, em turmas em que há cadeirantes, será que o docente precisa mudar a preparação para a aula?
De acordo com a pedagoga Carolina Ivone dos Santos, de João Pessoa (PB), nem sempre haverá alterações. “A limitação física não impede que o aluno participe de uma aula expositiva, por exemplo. O professor poderá escrever no quadro enquanto explicar, usar apresentações em datashow, estimular a interação por meio de leitura prévia de textos. Nestes casos, não muda nada”, afirma. O mesmo não acontece com aulas fora da escola. “As visitações pedagógicas precisam ser pensadas no quesito acessibilidade. É preciso garantir que o aluno possa locomover-se com a cadeira de rodas. O professor deve dar preferência aos locais adaptados”, frisa. Caso isso não seja possível, o docente pode chamar a atenção dos alunos sobre a importância de garantir a todos o direito de ir e vir. “É uma questão de sensibilizar o estudante para influenciar o comportamento futuro da sociedade”, salienta. Em sala de aula, todos os alunos precisam receber o mesmo tratamento, mas há detalhes a serem observados. “O ambiente precisa permitir os trabalhos em grupo, que o cadeirante possa circular em qualquer lugar da sala. No atendimento individual, o professor deve preferencialmente sentar numa cadeira para conversar com o cadeirante e não ficar de pé, olhando-o de cima para baixo”, explica o coordenador do Núcleo de Atendimento aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (Napne), do Instituto Federal de Pernambuco, Gustavo Estevão de Azevedo. Ainda há termos que precisam ser evitados. “Na hora de levar os alunos para outra sala para uma atividade específica, nada de dizer ‘não corram’. O cadeirante não poderá mesmo levantar-se e correr”, observa.
As atividades físicas também precisam ser adaptadas. Ana Zélia Belo, professora de Educação Física Adaptada da Faculdade Maurício de Nassau, de Recife (PE), e especialista em atividade motora adaptada e qualidade de vida e atividade física pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), defende que o aluno deve participar ativamente da aula, seja qual for o conteúdo (luta, dança, ginástica, jogo). “Tudo é uma questão de adequação de metodologia, material e espaço físico”, destaca. “E nas avaliações, é importante enfatizar as capacidades e não as deficiências”, completa. Ela ainda acrescenta que os professores de Educação Física precisam estar preparados para dar aulas a cadeirantes. “Qualquer um pode se capacitar. Há cursos e especializações disponíveis no mercado. Não se sentir preparado não se justifica”, critica. Na verdade, a forma como o educador irá lidar com o cadeirante norteará o comportamento dos colegas de classe. “A cultura da convivência e respeito à diversidade deve ser incentivada, mas não somente pelo professor. É uma responsabilidade de toda a comunidade escolar”, enfatiza Azevedo. Isso quer dizer que não adiantará o professor saber como lidar com o aluno que usa cadeira de rodas, se a infraestrutura da escola não estiver adaptada para recebê-lo. “A Norma Brasileira de Acessibilidade 9050 estabelece os parâmetros técnicos para adequação do ambiente público. Todo gestor escolar deve estar atento a isso, porque a barreira física impõe a limitação da escola em receber o cadeirante”, frisa o coordenador do Napne.
Reportagem divulgada na revista Profissão Mestre de maio de 2010
Quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
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