POSSUIR!
Seis sentidos para dizer de minha
indignação, de minha revolta, de minha vergonha
e incapacidade de não possuir.
Possuir no sentido de TER POSSE me
impulsiona a APRESENTAR uma experiência que vivi na manhã desse domingo, quando
depois de separar peças de roupas fui até o Centro São Martinho, sob o viaduto
Guadalajara- Belém, para fazer uma doação. Já nas proximidades é visível o
número grande de homens que vivem nas ruas de São Paulo. Em uma praça, bem próximo
do Centro S. Martinho, estava um grupo distribuindo café, leite e pão com
manteiga. Chegando ao Centro S. Martinho vi um número grande de homens vendo
televisão, outros na higiene pessoal, outros sentados ainda na calçada da rua. Na
porta do Centro S. Martinho três homens vestindo calça preta e camisa de manga
longa branca, com um Jornal nas mãos e abordavam os homens que vivem na rua.
Possuir no sentido de CONTER remete
a COMPREENDER. Compreender uma realidade desafiadora para as cidades grandes e
pequenas, pois em todas há homens e mulheres por todos os lados como que lixo
pelas sarjetas. Como COMPREENDER o motivo que leva a todos estes ficarem
perambulando pela cidade em busca da sobrevivência. Como COMPREENDER o grupo
que oferecia café, leite e pão. Como compreender aqueles voluntários do Centro
S. Martinho monitorando os homens assistindo a TV, fazendo higiene e aguardando
um cheiroso almoço: arroz, salada e frango.
Possuir no sentido de DOMINAR
remete à ação dos que na porta do Centro S. Martinho, alinhados em uma calça
social preta, camisa de manga longa branca e um “jornaleco” regiam ao
apresentar o jornal um discurso que dá ao POSSUIR o sentido de SUBJUGAR. Na cruel
realidade da VIDA NA RUA estes representantes da Igreja Universal do Reino do Dólar
persuadiam tais homens, para com certeza SUBJULGÁ-LOS a uma doutrina da
prosperidade.
Desse sentido, SUBJUGAR, POSSUIR remete
COPULAR, ou como dizem alguns TRAÇAR. Aqui está minha indignação! A
promiscuidade da Igreja Universal do Reino do Dólar que enquanto alguns
solidários promovem a vida de homens em situação de rua, lá estavam eles como
lobos na porta do Centro S. Martinho a espera de frágeis ovelhas para
convencê-las que lá é melhor do que aqui. É ou não um COPULAR, um TRAÇAR, um
transar? Isso tem nome: desrespeito, proselitismo, manipulação, prostituição!
Os que ofereciam café, leite e pão;
os que monitoravam o Centro S. Martinho; os vestidos de lobo que entregavam um “jornaleco”
e, eu. Todos! A todos POSSUIR, no sentido de DESFRUTAR é USUFRUIR da desgraça
alheia para satisfação e gozo pessoal.
Seria insensatez a minha não
reconhecer a seriedade do trabalho desenvolvido pelo Centro S. Martinho, afinal
há anos trabalham com seriedade, dedicação, respeito e reintegração social,
humana, pessoal e religiosa de muitos homens e mulheres que vivem na rua. Ao
Centro S. Martinho cabe um tributo da cidade paulistana pelo trabalho feito com
os cidadãos paulistanos que não tem voz nem vez na metrópole. A mim e aos lobos
da Igreja Universal do Reino do Dólar cabe a indignação pela nossa incapacidade
de fazer para que eles, homens da rua, tenham vida, tenham oportunidades,
tenham acesso, tenham respeito, tenham carinho, tenham atenção. Aos que
ofereciam café, leite e pão o verbo POSSUIR no sentido de ENCHER-SE lança um
desafio: IMBUIR-SE do Evangelho de Cristo e, então parar de FALAR e se por a FAZER.
J.A Galiani03/02/13
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