sábado, 1 de agosto de 2020

EDUCAÇÃO REMOTA


EDUCAÇÃO REMOTA!
Disrupção na rotina escolar. Um susto, uma catástrofe nas escolas. De um dia para o outro tudo pareceu destruído, aniquilado, às pressas pensar atividades escolares para serem feitas pelas crianças em casa, até que tudo passe. O decreto de Pandemia pelo novo coronavírus -  COVID-19 abriu nas instituições de ensino um buraco, como que se tudo estivesse sem rumo, sem norte, sem o processo rotineiro das escolas. E agora, sem a escola o que e como será? Escola não é sinônimo de estudo e aprendizagem.
O que foi para muitas instituições propaganda para ganhar clientes, agora é desafio e momento de tirar do papel e da gaveta a tão falada tecnologia. A pandemia obrigou as instituições de ensino a mergulharem a educação escolar num processo dinâmico e profundo com recursos tecnológicos.
O uso de plataformas digitais, interligadas pela Internet, impõem um novo formato para o processo ensino aprendizagem. Professor e estudante, distantes e interligados, necessitam se reinventar, ambos são protagonistas no ato do ensinar e do aprender. Com essas novas perspectivas tecnológicas a educação torna-se interativa, participativa, flexível e acontece onde o aluno está, longe da sala de aula e até do livro didático.
Nesse contexto está a provocação a que me proponho: refletir o papel do professor versus estudante. Não como digladiadores, como se fossem opostos devendo um vencer o outro. O professor não está mais posto pelo que estudou, pelo que sabe e ensina, mas pela sua flexibilidade, criticidade, criatividade e capacidade de interagir à distância na construção do conhecimento. (VALENTE, 1996, p. 5-6).
Proponho ideias sobre tão importante e nobre essência, o professor, em tempos que parece ser dispensável e substituível pela máquina e tecnologias.
Hoje mais do que nunca temos no professor a certeza de que o conhecimento e o saber são apropriados pelo homem na medida que ele estabelece relações entre si e com a realidade que o cerca; esta construção do conhecimento se dá mediada por elementos, por ideias ou realidades que estabelecem vínculos e respondem às indagações da vida e história do homem.
Em todos os tempos a relação professor x estudante se processa pela comunicação, hoje mediada pela tecnologia. Estas fizeram surgir novas configurações de escola, de professor, de estudante e de sala de aula, sobretudo o papel do professor. Este emergiu como desafio e sempre reflexivo, como uma figura essencial no processo ensino aprendizagem. Ele não é mais o que sabe para ensinar, senão um pesquisador que aprende ensinando a pesquisar e a aprender. Ao mesmo tempo que a aulas remotas se caracterizam pela autonomia acadêmica de quem dela se utiliza, faz dos sujeitos no processo do aprender, professor x aluno, co-criadores num processo reflexivo e dialógico tornando o conhecimento patrimônio de todos, irrestrito e não manipulado em favor de poucos. Aqui não se pode negar que uma parcela significativa de estudantes não tem acesso à tecnologia e à Internet, o que exige outra reflexão.
As novas tecnologias empregadas no processo ensino aprendizagem exigem do professor e do estudante um perfil e papeis delineados pela autonomia centrada no indivíduo, motivo desta provocação. Ambos, professor e estudante, estão sob o ponto de vista humanista. Assim o papel do professor no processo ensino aprendizagem, na educação remota é exercitar e basear a aprendizagem em conteúdos significativos e na resolução de problemas como reflete Formiga (2009, p.44):
“Aprender é praticar um processo contínuo de opção, que começa pelas fontes dos conteúdos. Nesse processo criativo e inovador do exercício docente, desaparece a hierarquia do saber e a pretensão de superioridade intelectual dos mestres. O aluno/aprendiz passa a dispor de acesso generalizado ao conhecimento, facilitado pelos meios de comunicação e tecnologias inteligentes, que se apresentam sob a forma de uma equalização de oportunidade, igualmente oferecidas e disponíveis aos professores”.
Pelo humano que são, professor e estudante, na educação remota agregam ao seu perfil a identidade de sabedor do que ensina e tornam-se aprendentes. Se professor e estudante não estiverem no nível de similaridade no processo remoto escolar, tornam-se irrisórios reproduzindo uma experiência inócua e vazia, para ele próprio e para seus estudantes.
O professor é o mediador na construção do conhecimento pelo aluno. Hannah Arendt, em seu livro Entre o passado e o futuro, faz uma afirmativa que corrobora a identidade do professor na educação remota e, ao mesmo tempo, lança para nós um desafio, diz ela: “a essência da educação é a natalidade, o fato de que seres humanos nascem para o mundo”, daí o professor de educação remota não ser reprodutor, senão o ‘parturiente’ que dá ao mundo do estudante e faz do mundo, objeto de estudo e espaço para realização do ser humano, que é o estudante, que nasce pelo conhecimento. Assim a educação remota desafia o professor e contribui para que abra novos horizontes em sua prática pedagógica na aprendizagem dos estudantes.
Consciente de seu papel em tempos de pandemia, o professor pode dizer, como disse o grande educador Paulo Freire (1996, p.126):
“Se a educação não é a chave das transformações sociais, não é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante. O que quero dizer é [...] O educador e educadora críticos não podem pensar que, a partir do curso que coordenam ou do seminário que lideram, podem transformar o país. Mas podem demonstrar que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância de sua tarefa político-pedagógica”.
Fica, pois, a provocação para o presente e futuro: investir, refletir e contribuir para que a prática do professor, mesmo que remoto, seja um espaço de confiança, de diálogo, de respeito, de tolerância, de zelo, de liberdade, de compromisso, de autoria, de autonomia e reponsabilidade. Prática esta que torna o estudante confiante, autônomo, livre, comprometido, autor, responsável por si e pelos outros.
              
Sugestão para leitura:
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro (Between past and future - 1954) Tradução de Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000.
DEMO, Pedro. Educação hoje: “novas” tecnologias, pressões e oportunidades. São Paulo: Atlas, 2009.
FORMIGA, M. M. M. e Fredric Michael Litto (orgs.), Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
RUMBLE, Greville. A gestão dos sistemas de ensino a distância. Tradução de Marília Fonseca. – Brasília: Editora Universidade de Brasília: Unesco, 2003.
VALENTE, J.A. (1996). O papel do professor no ambiente Logo. In: Valente, J.A. (Org.) O professor no ambiente Logo: formação e atuação. Campinas, Gráfica da UNICAMP. p. 01-34.


Nenhum comentário:

Postar um comentário