EDUCAÇÃO
REMOTA!
Disrupção na rotina escolar. Um susto, uma catástrofe nas escolas. De um
dia para o outro tudo pareceu destruído, aniquilado, às pressas pensar
atividades escolares para serem feitas pelas crianças em casa, até que tudo
passe. O decreto de Pandemia pelo novo coronavírus - COVID-19 abriu nas instituições de ensino um
buraco, como que se tudo estivesse sem rumo, sem norte, sem o processo
rotineiro das escolas. E agora, sem a escola o que e como será? Escola não é sinônimo
de estudo e aprendizagem.
O que foi para muitas instituições propaganda para ganhar clientes, agora
é desafio e momento de tirar do papel e da gaveta a tão falada tecnologia. A
pandemia obrigou as instituições de ensino a mergulharem a educação escolar num
processo dinâmico e profundo com recursos tecnológicos.
O uso de plataformas digitais, interligadas pela Internet, impõem um novo
formato para o processo ensino aprendizagem. Professor e estudante, distantes e
interligados, necessitam se reinventar, ambos são protagonistas no ato do
ensinar e do aprender. Com essas novas perspectivas tecnológicas a educação
torna-se interativa, participativa, flexível e acontece onde o aluno está, longe
da sala de aula e até do livro didático.
Nesse contexto está a provocação a que me proponho: refletir o papel do
professor versus estudante. Não como digladiadores, como se fossem opostos devendo
um vencer o outro. O professor não está mais posto pelo que estudou, pelo que
sabe e ensina, mas pela sua flexibilidade, criticidade, criatividade e
capacidade de interagir à distância na construção do conhecimento. (VALENTE,
1996, p. 5-6).
Proponho ideias sobre tão importante e nobre essência, o professor, em
tempos que parece ser dispensável e substituível pela máquina e tecnologias.
Hoje mais do que nunca temos no professor a certeza de que o conhecimento
e o saber são apropriados pelo homem na medida que ele estabelece relações
entre si e com a realidade que o cerca; esta construção do conhecimento se dá
mediada por elementos, por ideias ou realidades que estabelecem vínculos e
respondem às indagações da vida e história do homem.
Em todos os tempos a relação professor x estudante se processa pela
comunicação, hoje mediada pela tecnologia. Estas fizeram surgir novas
configurações de escola, de professor, de estudante e de sala de aula,
sobretudo o papel do professor. Este emergiu como desafio e sempre reflexivo,
como uma figura essencial no processo ensino aprendizagem. Ele não é mais o que
sabe para ensinar, senão um pesquisador que aprende ensinando a pesquisar e a
aprender. Ao mesmo tempo que a aulas remotas se caracterizam pela autonomia
acadêmica de quem dela se utiliza, faz dos sujeitos no processo do aprender,
professor x aluno, co-criadores num processo reflexivo e dialógico tornando o
conhecimento patrimônio de todos, irrestrito e não manipulado em favor de
poucos. Aqui não se pode negar que uma parcela significativa de estudantes não
tem acesso à tecnologia e à Internet, o que exige outra reflexão.
As novas tecnologias empregadas no processo ensino aprendizagem exigem do
professor e do estudante um perfil e papeis delineados pela autonomia centrada
no indivíduo, motivo desta provocação. Ambos, professor e estudante, estão sob
o ponto de vista humanista. Assim o papel do professor no processo ensino
aprendizagem, na educação remota é exercitar e basear a aprendizagem em
conteúdos significativos e na resolução de problemas como reflete Formiga
(2009, p.44):
“Aprender é praticar um processo contínuo de opção, que começa pelas
fontes dos conteúdos. Nesse processo criativo e inovador do exercício docente,
desaparece a hierarquia do saber e a pretensão de superioridade intelectual dos
mestres. O aluno/aprendiz passa a dispor de acesso generalizado ao
conhecimento, facilitado pelos meios de comunicação e tecnologias inteligentes,
que se apresentam sob a forma de uma equalização de oportunidade, igualmente
oferecidas e disponíveis aos professores”.
Pelo humano que são, professor e estudante, na educação remota agregam ao
seu perfil a identidade de sabedor do que ensina e tornam-se aprendentes. Se
professor e estudante não estiverem no nível de similaridade no processo remoto
escolar, tornam-se irrisórios reproduzindo uma experiência inócua e vazia, para
ele próprio e para seus estudantes.
O professor é o mediador na construção do conhecimento pelo aluno. Hannah
Arendt, em seu livro Entre o passado e o futuro, faz uma afirmativa que
corrobora a identidade do professor na educação remota e, ao mesmo tempo, lança
para nós um desafio, diz ela: “a essência da educação é a natalidade, o fato
de que seres humanos nascem para o mundo”, daí o professor de educação
remota não ser reprodutor, senão o ‘parturiente’ que dá ao mundo do estudante e
faz do mundo, objeto de estudo e espaço para realização do ser humano, que é o
estudante, que nasce pelo conhecimento. Assim a educação remota desafia o professor
e contribui para que abra novos horizontes em sua prática pedagógica na
aprendizagem dos estudantes.
Consciente de seu papel em tempos de pandemia, o professor pode dizer,
como disse o grande educador Paulo Freire (1996, p.126):
“Se a educação não é a chave das transformações sociais, não é também
simplesmente reprodutora da ideologia dominante. O que quero dizer é [...] O
educador e educadora críticos não podem pensar que, a partir do curso que
coordenam ou do seminário que lideram, podem transformar o país. Mas podem
demonstrar que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância de
sua tarefa político-pedagógica”.
Fica, pois, a provocação para o presente e futuro: investir, refletir e
contribuir para que a prática do professor, mesmo que remoto, seja um espaço de
confiança, de diálogo, de respeito, de tolerância, de zelo, de liberdade, de
compromisso, de autoria, de autonomia e reponsabilidade. Prática esta que torna
o estudante confiante, autônomo, livre, comprometido, autor, responsável por si
e pelos outros.
Sugestão para leitura:
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro (Between
past and future - 1954) Tradução de Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo:
Editora Perspectiva, 2000.
DEMO, Pedro. Educação hoje: “novas” tecnologias, pressões
e oportunidades. São Paulo: Atlas, 2009.
FORMIGA, M. M. M. e Fredric Michael Litto (orgs.), Educação
a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil,
2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
RUMBLE, Greville. A gestão dos sistemas de ensino a
distância. Tradução de Marília Fonseca. – Brasília: Editora Universidade de
Brasília: Unesco, 2003.
VALENTE, J.A. (1996). O papel do professor no ambiente Logo.
In: Valente, J.A. (Org.) O
professor no ambiente Logo: formação e atuação. Campinas, Gráfica da UNICAMP.
p. 01-34.
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