Um sacerdote é sempre a presença de Deus para as pessoas. Não se trata de divinizar o padre, mas de reconhecer que ele foi chamado por Deus para servir à Igreja, especialmente entre aqueles que mais necessitam.
Padre Francisco exerceu seu ministério em diversas comunidades, mas foi na Paróquia Santo Antônio de Lisboa, da Arquidiocese de São Paulo – então Setor Carrão-Formosa, hoje Decanato São Lucas, da Região Episcopal Belém – que tive o privilégio de me tornar "um necessitado" e por ele ser acolhido. Enquanto alguns confrades me fecharam as portas – e eu respeitei suas razões – ele me recebeu, apoiou-me e, inclusive, ajudou-me financeiramente. Em momentos de descontração, na padaria Suil, compartilhávamos experiências de vida entre uma conversa e uma cerveja. Sempre misericordioso e com a cabeça erguida, dentro de seus próprios limites e fragilidades, orientava-me, sugeria soluções e apontava caminhos para a reconstrução da minha história. Era mais que um padre; era um homem humano, consciente da nobre missão que assumira na Igreja, mas liberto de chavões e rótulos preconceituosos que, tantas vezes, causam divisões e afastamentos.
Suas celebrações eram dinâmicas e promoviam a participação ativa dos leigos em sua paróquia. Em um período de transição entre uma liturgia ortodoxa e novas possibilidades rituais que aproximavam a assembleia de Deus, sua homilia cativava e evangelizava. Ele proporcionava uma verdadeira catequese, tornando cada missa um momento de aprendizado e encontro com a fé.
Naquele tempo, em que eu reiniciava minha trajetória social, religiosa e profissional, foi ele, entre tantos padres amigos, quem me acolheu. O simples fato de me dizer: "Fiquei feliz que você escolheu participar da Santo Antônio" soou como o abraço do Pai ao filho pródigo. Quanta humanidade!
Na Paróquia Santo Antônio, tive a oportunidade de palestrar para pais e padrinhos, em encontros de casais e de jovens do Grupo Fé. Quando era a vez do padre falar sobre os Sacramentos no curso de noivos, ele me convidava a substituí-lo. Era um privilégio, pois, tradicionalmente, alguns temas eram exclusivos do sacerdote. Contudo, com espírito conciliar, ele promovia uma comunidade mais participativa, afastando a ideia de que tudo deveria ser centralizado no padre.
Sempre modesto no vestir, seus paramentos litúrgicos dispensavam pompa. Muitas pessoas pobres e em situação de vulnerabilidade encontraram nele apoio, refúgio, conforto e consolo. Confessar-se com ele era uma verdadeira graça: um reencontro com Deus e com a comunidade. Sua capacidade de se anular para que o pecador renascesse era impressionante. Obrigado, meu irmão, por tantas vezes ter ouvido meus pecados e me oportunizado o perdão divino. Foram tempos difíceis, mas, como sempre dizia, "a graça de Deus é superabundante".
Quando soube do meu relacionamento com aquela que hoje é minha esposa, nos abraçou e desejou a bênção de Deus. Alguns confrades insinuavam que Ana estava grávida. Ele, com sua sabedoria isenta de julgamentos – característica marcante de sua personalidade – a procurou para esclarecer os rumores. Assim recorda Ana: "Lembro dele me chamando para conversar. 'Aninha, você está grávida?' 'Não!', respondi. 'Eu acredito em você! Seja vitoriosa!'." Mais do que desejar nossa vitória, ele nos ajudou a construí-la.
Nem todos os confrades o conheciam, o que é inadmissível, pois, em uma família, todos se reconhecem. No entanto, na vida religiosa, assim como na história bíblica de Caim e Abel, também há incompreensão e críticas. Mesmo assim, Padre Francisco mantinha sua espiritualidade e visão pastoral sempre alinhadas à de Jesus: "Vem para o meio" (Mc 3, 3-4).
Padre Francisco sempre veio ao nosso encontro. Certa vez, passando rapidamente por Martinópolis, a caminho de São Paulo, ele celebrava missa no hospital. Da porta da sacristia, acenamos e lhe enviamos um beijo. Ele, que já estava sentado para a Liturgia da Palavra, levantou-se e veio ao nosso encontro. Foi um dos abraços mais significativos que recebemos, um verdadeiro alimento para a alma, que nos fortaleceu para seguirmos nossa jornada.
Padre Francisco, nós te amamos e sempre amaremos. Prepara um lugar para nós junto de Deus, e, enquanto aqui estivermos, queremos ser e agir conforme nos ensinaste. Gratidão, meu irmão!
Pres. Prudente, SP - 22/02/2025
José A. Galiani
Recebo este testemunho com emoção e respeito. Padre Francisco foi um verdadeiro exemplo de acolhimento, fé e dedicação à comunidade. Com humildade e amor, orientou, perdoou e impulsionou vidas, tornando-se um reflexo autêntico do Evangelho. Seu legado de misericórdia e compromisso permanecerá vivo em todos que tiveram a graça de conhecê-lo. Gratidão eterna!
ResponderExcluirMais que perfeito Parabéns Zé uma bela dedicatória ao nosso irmao Pe Chico Costetti sem dúvida alguma diante de Deus junto a São Vicente Palloti nossa mãe Rainha dos Apóstolos ele está muito feliz...
ResponderExcluirQue benção de Deus esse testemunho de Deus e de amor a todos os que participaram de sua trajetória nesta jornada.Que Nossa Senhora o leve até Jesus Cristo, amém
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