terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Saudade que Chama pelo Nome

Era noite.
Trinta de dezembro de dois mil e vinte.
O ano já cansado se despedia,
quando a notícia chegou sem pedir licença.
Padre Pio havia partido.
Não houve barulho, não houve anúncio solene.
Houve silêncio.
E o silêncio doeu mais do que qualquer palavra.
Em Camacan, na Bahia,
a noite parecia mais escura.
Talvez porque ele sempre foi assim:
discreto, recolhido,
presença firme sem precisar se impor.
Até na morte nos ensinou
que a santidade caminha de mansinho,
sem aplausos, sem luzes.
Foi difícil acreditar.
Difícil aceitar.
Difícil compreender como alguém tão presente
podia, de repente, fazer tanta falta.
A ausência de Pio não era apenas física;
era o vazio da escuta atenta,
da palavra que confortava,
do irmão que caminhava junto.
Os corações se encontraram no silêncio.
Rezamos.
Escrevemos.
Compartilhamos lembranças como quem acende velas
para espantar a escuridão.
Ficou atravessado no peito
o abraço que não demos,
o “Feliz Natal” dito tarde demais,
o “Ano Novo” que ele celebrou já no céu.
Na missa do sétimo dia,
entre orações e lágrimas contidas,
veio uma certeza mansa:
a saudade não nascia do vazio,
mas do amor vivido.
Era preciso guardar as memórias,
partilhar as histórias,
manter viva a presença
naquilo que ele semeou em nós.
Cada lembrança traz Pio de volta.
No jeito simples de servir,
na fé sem espetáculo,
na coerência silenciosa
de quem fez do Evangelho um caminho diário.
Seu testemunho continua falando,
não em discursos,
mas no exemplo que permanece.
Pio não foi apenas um padre.
Foi amigo.
Foi irmão.
Foi sinal de que a vocação
é uma vida gasta por amor.
Ele nos provoca ainda hoje
a viver o batismo com verdade,
a servir sem esperar reconhecimento,
a amar a Igreja como quem ama a própria casa.
Entre um homem e um santo,
existe uma sintonia que não se explica,
apenas se sente.
E é nessa sintonia
que a saudade deixa de ser só dor
e se transforma em compromisso.
Padre Pio partiu,
mas não foi embora.
Permanece na memória,
na fé que nos sustenta,
e nesse laço invisível e fraterno
que nem a morte conseguiu desfazer.
J. A. Galiani

Em breve lançamento da 2a. Edição da Antologia que homenageia o Padre Pio.

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