domingo, 19 de setembro de 2010

Quociente eleitoral favorece "fenômeno Tiririca";

Quociente eleitoral favorece "fenômeno Tiririca"; entenda como funciona 19/09/2010 - 07h00

do UOL Eleições

Diego Salmen - Em São Paulo

POR DENTRO DAS ELEIÇÕES

Com o slogan "pior que tá não fica", o palhaço Tiririca é a aposta do PR para as eleições parlamentares deste ano no Estado de São Paulo. Apesar da polêmica - e dos risos - que seus bordões vêm despertando no horário eleitoral, a presença do humorista na campanha obedece a uma lógica simples: conquistar o maior número de votos possíveis para que eleger a si mesmo e a outros candidatos por meio do quociente eleitoral.

O cientista Rubens Figueiredo, da USP (Universidade de São Paulo), explica como funciona:

"O Estado de São Paulo tem 70 deputados federais. Vamos supor que São Paulo tenha 700 mil votos. Dividindo 700 mil por 70, o quoeficiente seria de 10 mil. O partido vai ter 30 candidatos: soma a votação de todos mais os votos na legenda. Vamos supor que deu 22 mil. Agora divida 22 mil por 10 mil - vai dar 2,2. O partido vai eleger dois deputados", detalha.

Num dos casos mais curiosos, a vaga de Clodovil Hernandes (PTC-SP) na Câmara Federal foi ocupada por Paes de Lira (PTC), coronel da reserva da Polícia Militar, assumidamente conservador e contrário à união homossexual ("a Constituição é clara ao dizer que casamento é entre homem e mulher", afirmou).

Homossexual assumido, o estilista Clodovil, que faleceu no início de 2009, foi eleito com quase 500 mil votos nas eleições de 2006, abrindo as portas para que Lira chegasse a sua suplência após ter recebido cerca de 7 mil votos. "Você tem essa possibilidade de a locomotiva se eleger arrastando o restante", afirma o cientista político David Fleischer, da UnB (Universidade de Brasília).

"O Tiririca [humorista, candidato a deputado federal em São Paulo] é do PR, que era o PL do Valdemar Costa Neto", diz Figueiredo. Dependendo da votação do humorista, Costa Neto, que renunciou em 2006 para escapar de cassação por envolvimento no escândalo do "mensalão", pode ser eleito a tiracolo.

Em outro caso emblemático, o cardiologista Éneas Carneiro elegeu-se deputado federal pelo Prona de São Paulo em 2002. Recorrendo ao bordão "Meu nome é Enéas", obteve votos suficientes para eleger outros cinco candidatos, todos com votações inexpressivas.

O especialista da UnB explica que a "sobra" dos votos só vai para um único partido se ele não estiver coligado com nenhuma outra agremiação - caso do Prona em 2002. "O pessoal fala no PR do Tiririca, mas os votos nele também vão beneficiar o PT", afirma o especialista. Os dois partidos estão coligados no Estado de São Paulo. "Por isso as pessoas se frustram nas eleições: votam em um candidato e acabam contribuindo para eleger alguém que não conhecem", diz.

Vantagens da fama

Na maioria das vezes, há um elemento determinante para que a candidatura das personalidades seja aceita por um partido: a notoriedade.

"No governo militar, Arena e MDB fizeram o maior assédio para o Pelé ser candidato em São Paulo, mas ele recusou", relembra Fleischer. "Na Roma antiga, era proibido ser ator e politico. É muito fácil transferir seu prestigio de um ramo para o outro", conta Luciano Dias, do IBEP (Instituto Brasileiro de Ciências Políticas).

O fenômeno, garantem os analistas, não se restringe as nossas fronteiras.

"Não é tipicamente brasileiro. A participação de celebridades é comum. Ronald Reagan [ex-presidente dos Estados Unidos] era ator, Arnold Schwarzzeneger, ator, é governador da Califórnia, Carlos Reutemann [ex-piloto argentino] foi presidente de província na Argentina, Cicciolina [ex-atriz pornô] se elegeu na Itália", afirma Figueiredo. "É um fenômeno da sociedade moderna", avalia.
http://noticias.bol.uol.com.br/eleicoes/2010/09/19/quociente-eleitoral-favorece-fenomeno-tiririca-entenda-como-funciona.jhtm

Um comentário:

  1. Cabe lembrar para quem mora aqui em São Paulo, que a legenda 22 do então palhaço candidato é a mesma de um certo Valdemar da Costa Neto, que tambêm concorre a uma boquinha na Camara Federal, que em 2005, renunciou ao cargo de deputado federal para evitar a instauração de um processo por quebra de decoro parlamentar por envolvimento no caso conhecido como mensalão, e que esta com a candidatura ameaçada pelo TSE. O triste é ver casas e carros com faixas apoiando candidatos filiados a partidos de aluguel, que estão apostando na vitória do palhaço para ganhar de graça uma cadeira na camara. Alem de uma urgente reforma política precisamos de eleitores conscientes.

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