05/09/2010 - 10h06 / Bufê para ricos e comida de graça para pobres, os 2 Ramadãs do Egito / Francisco Carrión.
Cairo, 5 set (EFE).- Banquetes exclusivos, ao alcance de bolsos endinheirados, e "mesas da misericórdia" gratuitas são duas das opções para romper o jejum diário que confirmam, durante o Ramadã, o abismo que separa ricos de pobres no Egito.
Uma hora antes do "iftar", a comida que acaba com a abstinência diária do Ramadã, o empresário Hag Salem, um elegante comerciante de 75 anos, controla o ritmo cerimonioso com o qual cinco jovens preparam uma "mesa da misericórdia", um convite que Salem banca com recursos próprios há 30 anos.
As "mesas da misericórdia", que se multiplicam as centenas no Cairo, são banquetes gratuitos para os mais desfavorecidos, custeados por organizações e pessoas físicas, que são realizados a cada tarde do nono mês do calendário muçulmano.
"É um serviço para os pobres que me aproxima de Alá", explica a Agência Efe Salem, proprietário de um negócio de especiarias e bebidas no popular mercado de Khan el Khalili.
Vestido uma túnica e apoiado em um bastão, Salem é o encarregado de encher os pratos de alumínio com a comida preparada por uma de suas filhas: frango com arroz, acompanhado de salada, pão, água e um banana de sobremesa.
São os instantes prévios ao chamado à oração que marca o início do "iftar", quando dezenas de jovens com hiyab (lenço islâmico), idosas de rostos enrugados, pais de família e crianças se reúnem em torno das mesas baixas onde são serviços os alimentos.
Um dos garçons, Mohammed, que prepara a salada, explica que os comensais "são pessoas pobres que não podem voltar para casa no iftar".
Uma vez que o som inunda as ruas vazias do Cairo, os famintos reconfortam seus estômagos no banquete que, cinco minutos depois, começa a registrar as primeiras baixas e em dez minutos já não existe mais.
As "mesas da misericórdia" alimentam durante o Ramadã parte dos 40% da população que sobrevive com menos de US$ 2 por dia, pelas estatísticas oficiais.
A situação que está longe de se reduzir foi agravada neste ano pelo aumento da inflação dos alimentos básicos que disparou os preços e situou "o quilo da carne entre as 80 ou 90 libras egípcias (US$ 15)", queixa-se Mohammed.
Na ilha de Zamalek, a poucos quilômetros do bazar onde fica esta "mesa da misericórdia", luxuosos restaurantes oferecem menus de "iftar" para "a elite egípcia e estrangeiros", assinala Oana Vanciu, relações públicas de um estabelecimento com estética às margens do Nilo.
A proposta culinária deste restaurante inclui um copioso e contundente bufê à base de manjares egípcios como o "kefta" e pratos turcos, mediterrâneos e marroquinos com o acompanhamento de uma ampla variedade de saladas, cafés e doces típicos deste mês sagrado.
"Não é uma boa comparação falar de nosso serviço como o oposto às mesas de misericórdia", opina Oana, que indica que a filosofia deste banquete diário é "adaptar a tradição às exigências da classe alta".
E acrescenta: "o mais fácil após um dia de jejum e rezas é vir até aqui para degustar nosso menu", um convite aceito diariamente por cerca de 200 pessoas.
Apesar de a refeição custar 200 libras egípcias (US$ 35) e ser inalcançável para a maioria da população de um país onde o salário mínimo dos funcionários é de 289 libras mensais, a profissional garante que o sucesso "é total, 90% do salão atende a reservas".
E é por isso que a equipe responsável pelo serviço nesse terraço com vista para o rio cuida dos mínimos detalhes para satisfazer os cinco sentidos da endinheirada clientela.
Em outro restaurante da ilha, as refeições são igualmente abundantes e, segundo um de seus funcionários, o menu além de saciar o apetite oferece a possibilidade de tranquilizar o espírito, pois duas libras de seu preço, 245 libras (US$ 42) são destinadas para programas de erradicação da pobreza infantil.
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2010/09/05/bufe-para-ricos-e-comida-de-graca-para-pobres-os-2-ramadas-do-egito.jhtm
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