O Ensino Médio continua ruim, mas
pode melhorar
Há poucos dias, divulgou-se o resultado
do Ideb 2013 e, para o Ensino Médio, obteve-se a nota 3,7, abaixo da meta e bem
aquém do 6,0 – este um bom parâmetro por ser a média dos países desenvolvidos.
Entra ano, sai ano, continuamos
enxugando gelo no Ensino Médio, nível de ensino em que residem as nossas mais
deletérias mazelas. A taxa de reprovação e abandono beira os 30% no 1º ano;
estão fora da escola 1,7 milhão de jovens de 15 a 17 anos e, se alongarmos essa
faixa etária, teremos um resultado ainda mais funesto: 5,3 milhões de jovens
estão na categoria que os demógrafos denominam jocosamente de nem-nem – nem
estudam, nem trabalham.
A escola precisa ser mais atraente. De
acordo com pesquisas, o principal motivo de abandono e reprovação é que a
“escola é chata” e só se preocupa com o vestibular. O programa das disciplinas
é por demais genérico e acadêmico, sem se importar com os diversos tipos de
inteligências e potencialidades do aluno. Há poucas ‘quase unanimidades’ entre
os educadores, e uma delas, que a grade curricular privilegie mais a prática, a
interdisciplinaridade e a contextualização, eliminando-se os penduricalhos
desnecessários. Ensina-se muito – quando se ensina – e aprende-se pouco.
Ao MEC, caberia a tarefa de definir um
programa mais enxuto e único para todo o Brasil. Com a racionalização dos
conteúdos, haverá uma carga horária disponível, cuja utilização passa a ser uma
liberalidade de cada escola, com espaço na grade curricular para implementar
uma diversidade de oficinas e disciplinas – inclusive para os colégios que
pretendam manter um bom preparo para o ingresso nas faculdades mais
concorridas. É o que costuma acontecer em outros países. E todos os concursos e
vestibulares não poderão extrapolar esse programa mínimo. Ao Congresso e ao MEC
foram apresentadas várias propostas para um novo Ensino Médio, entre elas um
estudo de 80 pág., fruto de uma parceria entre o Colégio Bom Jesus e o
Sinepe/PR.
Isto posto, há outras sugestões de
‘quase unanimidades’: oferta intensa de período integral; formação continuada
de professores; carreira docente com valorização pela meritocracia;
investimentos em novas tecnologias educacionais. A ampliação de vagas na
Educação Profissional é um clamor de décadas, e só recentemente implantada. Até
5 anos atrás, apenas 7% dos nossos jovens de 15 a 18 anos estavam matriculados
em cursos técnicos, um enorme descompasso com os países da OCDE, cujo índice
era, e ainda é, de 40% a 60%. O Ensino Técnico tem o condão de reduzir a evasão
e a reprovação, pois o estímulo vem da aplicação prática dos conhecimentos
teóricos ministrados e da sedução do ingresso rápido no mercado de trabalho.
Muito tardiamente, o governo engendrou
uma bem sucedida parceria com o Senai, Senac e escolas privadas, implementada a
partir de 2012. Em 2013, 1,4 milhão de alunos se matricularam no Ensino
Técnico, 52% deles em escolas públicas e o restante nas escolas dessa parceria
público-privada, sob a chancela do Pronatec – pelo qual o governo promove a
renúncia fiscal e, destarte, o custo por aluno nas particulares, Senai e Senac
é bem inferior ao das escolas federais.
O exposto é de uma obviedade ululante e
ipso facto cabe a pergunta: Por que tão tardiamente? Resposta: políticas
públicas equivocadas. As consequências foram perversas para um mercado ávido por
mão de obra qualificada, e certamente para uma parcela dos 5,3 milhões de
jovens nem-nem. Destes, outra parcela deveria assumir o mea culpa. São
hedonistas, acomodados e a 1ª lei a ser revogada é a que impera entre eles: a
lei do mínimo esforço. Em um mundo competitivo, não há como obter conquistas
sem uma intensa disposição e disciplina para o trabalho e para os estudos.
Jacir J. Venturi - Presidente do Sinepe/PR, Coordenador da
Universidade Positivo, foi professor e diretor de escolas do Ensino Médio.
http://www.humus.com.br/news/qualidade19.htm 18/09/14
Nenhum comentário:
Postar um comentário