A MORTE
Falar sobre esta
experiência parece tão impossível quanto falar da experiência Vida. O que é a
morte? O que é a vida? Sinônimo e antônimo andam de mãos dadas, uma não existe
sem a outra, as duas são condições indispensáveis para todo ser vivo.
Só há uma
certeza, só se sabe que está morto aquele que está vivo. Todo Vivo sabe que morrerá?
Todo morto tem consciência que não está mais vivo? A consciência da condição de
que se está vivo ou morto é exclusivo do ser pensante? O ser pensante é só a
espécie humana? Uma semente, antes de ser semente foi uma árvore, uma flor, um
fruto e no seu ciclo uma semente, que morre, nasce, se torna árvore, com
flores, frutos e outras sementes que nascem que.... teria a semente consciência
de seu clico?
O conceito morte
no dicionário Houaiss aparece como um substantivo feminino e significa fim da
vida, interrupção definitiva da vida humana, animal ou vegetal. Sendo isso, a
consciência, própria da espécie humana, não seria a determinante para se
conhecer e dizer da experiência da morte, nem mesmo da vida.
Viver e morrer
são condições inexplicáveis do existir. Perguntas inumeráveis nascem na
tentativa de conceituar as infinitas possibilidades de vida e de morte que há
para o homem, para o animal e para o vegetal. Na cadeia da vida e da sobrevivência
matar e morrer no reino animal é condição para se ter a vida.
Mas o que dizer
da experiência e da dor da morte que humanos vivem? O que dizer das buscas
intermináveis de superação da dor e da morte, da busca do rejuvenescimento, de
vida saudável e morte bem morrida?
A negação da
morte nos dias de hoje seria o ponto de justificativa para tantos humanos sem
ética, sem escrúpulos, sem coração à dor e sofrimento do outro? Entre nossos
primatas a experiência da morte, lhes deu a experiência da vida e,
consequentemente a necessidade do cuidado do outro, principio fundante da ética.
É na morte que se descobre a importância da vida, assim sendo, não seriam as
religiões as detentoras do saber e explicações sobre o viver e o morrer?
Afinal, são elas, na sua maioria, que se ocupam com as respostas acerca da vida
e da morte. Indagações sobre o começo, o nascimento, a origem e o fim. O homem
sem religião teria uma resposta sobre o fim da vida? O que para ele seria
morrer? O final do viver?
As intermináveis
dúvidas nascem de outras dúvidas que intermináveis questionamentos trazem sobre
a experiência do morrer e viver e, a MORTE o que é?
Olhando para o
reino animal e vegetal é ciclo do existir, para o reino animal racional é mais
que ciclo, que ir e vir, que morrer e viver. A morte no humano é a experiência
profunda de dor, de desligamento, de desaparecimento e de total e definitiva
eliminação de seu semelhante como parceiro, como caminhante e companheiro de
jornada na vida. Talvez aqui more a resposta às dores que brotam quando alguém
próximo morre. A notícia de que alguém que conhecemos morreu faz-nos impactados
com um sentimento de vazio e de tristeza. Se este alguém tem vínculos afetivos
mais profundos nasce em nós a lágrima, a dor, a saudades, a tristeza, o
desespero.
A morte é, pois,
uma experiência última de ruptura entre um ser e outro, que faz nascer um outro
referencial que sustente o que está vivo, até que esteja também morto.
Respostas são encontradas nas mais diversas teorias filosóficas e religiosas
para a superação da perda pela morte.
Afinal, sendo a
morte, o fim da vida, só nos resta a própria vida para ser vivida intensamente
enquanto a morte não a interrompa. Seria este o princípio mais egoísta do ser
humano? Talvez, afinal no afã do existir, viver sempre foi e sempre será busca
incansável dos humanos, mesmo que para isto tenham, como que os animais
irracionais, tirar a vida do outro. Assim a vida e a morte mergulham o homem no
abismo de seu ser egoísta, egocêntrico, excêntrico e o torna o tudo e o nada, o
pleno e cheio de sentido e significado, o vazio, o sem sentido, o mísero de
todos os míseros. É esta a consciência que tem consciência da valor e
importância da Vida e da Morte, que na dor da morte encontra o sentido da mesma
e por isso vive consciente que sua condição não é morrer, mas viver e, viver
bem para morrer com dignidade, seja pelo motivo que for.
Se a morte nos
coloca diante do mais profundo sentido da vida seria ela também o mais nobre
momento a ser desejado pela vida. Assim o que vive, morre e, o que morre faz
viver o que em vida fica.
Vida e morte -
começo e fim, nascimento e falecimento - são pontos de partida e de chegada,
uma sem a outra não significam, não fazem sentido, não tem finalidade, não tem
porque existir. Se são condições para a existência, cabe-nos coexistir e fazer
com que elas tenham significado e sentido, caso contrário antes mesmo de viver
já estamos mortos e mortos não vivemos.
Que o dia de
finados, celebração dos fiéis defuntos, dia dos mortos seja vivido de forma
consciente de que uma única verdade e certeza temos: só morre o que veio a vida
e, que vive bem a vida quem reconhece e aceita que morre!
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