quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A MORTE

A MORTE
Falar sobre esta experiência parece tão impossível quanto falar da experiência Vida. O que é a morte? O que é a vida? Sinônimo e antônimo andam de mãos dadas, uma não existe sem a outra, as duas são condições indispensáveis para todo ser vivo.
Só há uma certeza, só se sabe que está morto aquele que está vivo. Todo Vivo sabe que morrerá? Todo morto tem consciência que não está mais vivo? A consciência da condição de que se está vivo ou morto é exclusivo do ser pensante? O ser pensante é só a espécie humana? Uma semente, antes de ser semente foi uma árvore, uma flor, um fruto e no seu ciclo uma semente, que morre, nasce, se torna árvore, com flores, frutos e outras sementes que nascem que.... teria a semente consciência de seu clico?
O conceito morte no dicionário Houaiss aparece como um substantivo feminino e significa fim da vida, interrupção definitiva da vida humana, animal ou vegetal. Sendo isso, a consciência, própria da espécie humana, não seria a determinante para se conhecer e dizer da experiência da morte, nem mesmo da vida.
Viver e morrer são condições inexplicáveis do existir. Perguntas inumeráveis nascem na tentativa de conceituar as infinitas possibilidades de vida e de morte que há para o homem, para o animal e para o vegetal. Na cadeia da vida e da sobrevivência matar e morrer no reino animal é condição para se ter a vida.
Mas o que dizer da experiência e da dor da morte que humanos vivem? O que dizer das buscas intermináveis de superação da dor e da morte, da busca do rejuvenescimento, de vida saudável e morte bem morrida?
A negação da morte nos dias de hoje seria o ponto de justificativa para tantos humanos sem ética, sem escrúpulos, sem coração à dor e sofrimento do outro? Entre nossos primatas a experiência da morte, lhes deu a experiência da vida e, consequentemente a necessidade do cuidado do outro, principio fundante da ética. É na morte que se descobre a importância da vida, assim sendo, não seriam as religiões as detentoras do saber e explicações sobre o viver e o morrer? Afinal, são elas, na sua maioria, que se ocupam com as respostas acerca da vida e da morte. Indagações sobre o começo, o nascimento, a origem e o fim. O homem sem religião teria uma resposta sobre o fim da vida? O que para ele seria morrer? O final do viver?
As intermináveis dúvidas nascem de outras dúvidas que intermináveis questionamentos trazem sobre a experiência do morrer e viver e, a MORTE o que é?
Olhando para o reino animal e vegetal é ciclo do existir, para o reino animal racional é mais que ciclo, que ir e vir, que morrer e viver. A morte no humano é a experiência profunda de dor, de desligamento, de desaparecimento e de total e definitiva eliminação de seu semelhante como parceiro, como caminhante e companheiro de jornada na vida. Talvez aqui more a resposta às dores que brotam quando alguém próximo morre. A notícia de que alguém que conhecemos morreu faz-nos impactados com um sentimento de vazio e de tristeza. Se este alguém tem vínculos afetivos mais profundos nasce em nós a lágrima, a dor, a saudades, a tristeza, o desespero.
A morte é, pois, uma experiência última de ruptura entre um ser e outro, que faz nascer um outro referencial que sustente o que está vivo, até que esteja também morto. Respostas são encontradas nas mais diversas teorias filosóficas e religiosas para a superação da perda pela morte.
Afinal, sendo a morte, o fim da vida, só nos resta a própria vida para ser vivida intensamente enquanto a morte não a interrompa. Seria este o princípio mais egoísta do ser humano? Talvez, afinal no afã do existir, viver sempre foi e sempre será busca incansável dos humanos, mesmo que para isto tenham, como que os animais irracionais, tirar a vida do outro. Assim a vida e a morte mergulham o homem no abismo de seu ser egoísta, egocêntrico, excêntrico e o torna o tudo e o nada, o pleno e cheio de sentido e significado, o vazio, o sem sentido, o mísero de todos os míseros. É esta a consciência que tem consciência da valor e importância da Vida e da Morte, que na dor da morte encontra o sentido da mesma e por isso vive consciente que sua condição não é morrer, mas viver e, viver bem para morrer com dignidade, seja pelo motivo que for.
Se a morte nos coloca diante do mais profundo sentido da vida seria ela também o mais nobre momento a ser desejado pela vida. Assim o que vive, morre e, o que morre faz viver o que em vida fica.
Vida e morte - começo e fim, nascimento e falecimento - são pontos de partida e de chegada, uma sem a outra não significam, não fazem sentido, não tem finalidade, não tem porque existir. Se são condições para a existência, cabe-nos coexistir e fazer com que elas tenham significado e sentido, caso contrário antes mesmo de viver já estamos mortos e mortos não vivemos.

Que o dia de finados, celebração dos fiéis defuntos, dia dos mortos seja vivido de forma consciente de que uma única verdade e certeza temos: só morre o que veio a vida e, que vive bem a vida quem reconhece e aceita que morre!

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