sábado, 28 de agosto de 2010

POLÍTICA E PRÁTICA DE JESUS

POLÍTICA E PRÁTICA DE JESUS


Em ano eleitoral vale a pena pensar em Jesus como um político cuja ação leva em conta a totalidade do ser humano. Há ainda hoje resistências em falar da dimensão político-prática de Jesus. Fala-se que a missão de Jesus foi religiosa, espiritual e que também Jesus veio despolitizar o “messianismo”. Falar da dimensão “política” de Jesus é falar de toda dimensão humana do homem.

A prática política envolve a totalidade da existência humana. A política é um ato de amor, Pio XII diz “a política é a dimensão essencial da caridade”, quer dizer que a Política não é ação de um grupo partidário, ela é o ato pelo qual cresce a comunidade, pelo qual se dá a presença de Deus no mundo. Política é a ação do sujeito coletivo que constrói a aliança, ela é um termo médio, mas significativo para entender a totalidade do mistério de Jesus, sua prática, reações à engrenagem social de seu tempo, conhecer a prática política de Jesus é conhecer a originalidade de sua relação com Deus e com os homens. E conhecer o mistério da pessoa de Jesus é conhecer como Jesus praticou o Amor, prática deixada como testamento para seus seguidores.

A ação política de Jesus tem como base dois pilares: competitivo e pedagógico.
No competitivo é evidente sua prática contra escribas, fariseus, herodianos, etc. Na base pedagógica, Jesus leva sua audiência de uma concentração sobre necessidades básicas para um sentido mais profundo na relação com a natureza, em relações éticas e no sentido da existência humana e do universo.
O conceito de “Prática” (práxis) tem um sentido mais profundo do que o sentido de ação, prática compreende o sujeito coletivo, implica em organicidade, implica em um fim visado. A prática de um sujeito sempre se orienta por uma teoria, uma ideologia e visa a transformação de relações sociais. O sentido total da prática de Jesus aparece em suas ações. Vejamos três níveis da sociedade de Jesus e sua ação.
O primeiro nível é o econômico profundamente relacionado ao TEMPLO. O Templo representava o centro do sistema econômico. O símbolo religioso se tornou meio de fazer riqueza. Circulava pelo templo todo sistema econômico. O templo reunia as bases das contradições judaicas, assim a originalidade da prática de Jesus, irá se definir pela sua posição em relação aquilo que foi para a existência comum. Para todos os Judeus o templo era o lugar, a casa do Pai. Em Jesus o templo é lugar de Deus e não de comercialização (Mt 23,16-22). Jesus se apresenta como substituto do templo, ele vai suprimir o VELHO SISTEMA.

No nível político a ação de Jesus é clara: os pobres. A prática de Jesus retoma o ideal profético. Para Jesus os pobres serão saciados, possuirão a terra, verão a Deus. A realização das promessas de Jesus é sinal da vinda do Reino de Deus. A palavra de Jesus em favor dos pobres é um ponto que fere o SISTEMA, que se fixou em torno do Templo.
O terceiro ponto básico da sociedade de Jesus é a Lei, falamos então do nível ideológico. A Lei se tornou a legitimação do sistema, que se construiu ao redor do Templo. Quanto mais o poder romano se enfraquecia, tanto mais procuravam assegurar o poder, daí a lei do sistema do “puro” e do “impuro”. A Lei se tornou um sistema de opressão (Mc 7,1; Mt 23, 16). E Jesus quer a libertação do homem, desse sistema, por isso sua práxis indica o sentido e núcleo da Lei: o AMOR. Jesus veio para livrar o povo de uma alienação, da separação da consciência e prática à qual o povo era submetido.

Em oposição à estrutura social no tempo de Jesus, nos níveis econômico, político e ideológico está o FILHO DO HOMEM. A palavra de Jesus sobre o Filho do Homem é o centro de sua ideologia (Mc 10,45; 14, 62) e mostra, sua identidade messiânica e o futuro de sua missão. O filho do homem é o homem novo, o homem por excelência.

O homem novo será o centro do mundo novo, isto é: o Reino de Deus. Jesus é o homem significativo, nele se revela o projeto que Deus tem para o homem e para o mundo e se revela o sentido que o homem tem para Deus.
Daí, em ano eleitoral, indagarmos:

1. Quem é POLÍTICO?

2. O que é ser POLÍTICO?

3. A Prática e Política de Jesus auxiliam e sugerem um modelo “POLÌTICO” hoje?







J. A. Galiani

Um comentário:

  1. Amigo Galiani. Mais uma vez obrigado pela clareza de texto. Permita-me acrescentar um outro nível da sociedade de Jesus e sua ação. O nível social. Deus se fez humano na figura de Jesus. Se isso é fato - e nós não temos nenhuma dúvida - Ele viveu num contexto social histórico. Sendo assim, Sua ação conflitou com os poderes constituidos de sua época, poderes esses que geravam exclusões e misérias, com enorme influência e conivência da religião. Havia, como hoje há, um pecado estrutural que clamava ao céu como ofensa a Deus. Será que isso mudou nos nossos dias?

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