Hoje, enquanto o calendário me sussurra memórias antigas, celebro dois aniversários que se entrelaçam na alma: há 62 anos, fui marcado pelo Batismo, e há 36, recebi o Sacramento da Ordem. A vida, em sua sabedoria escondida, acrescentou ainda outro dom: o Matrimônio, que abracei há 29 anos depois da dispensa do celibato, sem jamais abandonar a essência da vocação primeira — ser cristão.
Cada Sacramento desenhou em mim uma história de amor com Deus e com a Igreja Católica Apostólica Romana, onde o Batismo "nos faz renascer da água e do Espírito" (cf. Jo 3,5) e nos incorpora à comunhão dos santos, colocando em nossos lábios o primeiro "Amém" de uma jornada eterna.
O Sacramento da Ordem, por sua vez, gravou no coração uma marca indelével. Como lembra São Paulo a Timóteo: "Reaviva o dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos" (2Tm 1,6). O ministério, mais do que funções ou títulos, é serviço; é tornar visível o invisível amor do Pastor Eterno. Vivi, servi, preguei e abençoei — não como quem domina, mas como quem lava os pés.
Quando, pela graça e pela necessidade da vida, recebi a dispensa do celibato e me entreguei ao Matrimônio, a promessa batismal e sacerdotal não se apagou. Antes, encontrou novo terreno para florescer. Como diz o Gênesis: "Não é bom que o homem esteja só" (Gn 2,18), e no sacramento do amor conjugal descobri um altar diferente, onde Cristo também se faz presente: na partilha dos dias, nas lutas, nas esperanças que a vida comum cultiva.
A tradição da Igreja ensina que os Sacramentos são sinais eficazes da graça (Catecismo da Igreja Católica, 1131). Mas hoje compreendo: todos eles convergem para algo mais antigo e mais profundo do que a própria história dos homens — a missão de ser cristão. Porque, antes de sermos padres, esposos ou batizados, somos discípulos. E ser discípulo é seguir Aquele que disse: "Ide e fazei discípulos de todas as nações" (Mt 28,19).
Batismo, Ordem, Matrimônio: três caminhos distintos, três luzes que iluminam o mesmo horizonte. O essencial não é a veste que se usa, nem o rito que se celebra. O essencial é ser de Cristo. É viver Nele, por Ele e para Ele.
Hoje, ao recordar minhas datas sagradas, reconheço com gratidão que a grande Missão continua — e ela é simples, como o Evangelho: amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo (cf. Mt 22,37-39).
O tempo passa, os ministérios podem mudar, as circunstâncias se transformam, mas o chamado de Jesus ecoa firme: "Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós" (Jo 15,4).
E assim sigo, na alegria de ser, acima de tudo, cristão.