terça-feira, 25 de abril de 2023

 







Dia 25 de abril, Clélia Thereza Ciambroni Galiani,

minha mãe 

completou 85 anos de vida.


 Ela tinha só 24 anos e 11 meses quando nasci. Fico a imaginar o que significou para ela, tão jovem ser minha mãe. Certamente uma alegria, afinal dos três outros filhos, sou o caçula, sempre o xodó e “mais bonitinho”. Mas ao mesmo tempo a experiência com os três primeiros, a deixava mais tranquila com meus choros e dengos, não adiantava espernear, tinha que esperar!

Mãe só tenho gratidão para lhe oferecer. Hoje pensei em tantas coisas que a senhora me proporcionou, lembranças das boas, das melhores que até me fizeram chorar de alegria por tê-la como minha mãe.

Vou dizer de duas coisas que hoje refleti bastante: da senhora aprendi a amar a Deus e Nossa Senhora, aprendi a ir à Igreja. Que benção, que grande aprendizado e herança a senhora me deu. Deus lhe retribua por me ensinar a Amar a Igreja Católica Apostólica Romana e o Santo Evangelho de Jesus Cristo!

Um outro aspecto que muito pensei hoje foi sua garra, sua determinação no que diz respeito ao sustento de nossa família: como a senhora trabalhava, como a senhora lutava, como a senhora nos ensinou a ser responsáveis, a colocar comida dentro de casa, a ser responsável com nossas dívidas, a trabalhar, lutar sem desanimar. A senhora me ensinou a trabalhar com responsabilidade e dedicação. Obrigado mãe por ter sido este modelo de trabalhadora, de uma mulher guerreira para manter, sua casa e seus filhos, sempre no caminho do bem.

Estar com a senhora no dia de hoje sempre foi meu desejo, mas minhas escolhas não permitem e olha que já faz tempo isso né? Mas estamos sempre em sintonia pela oração e pelos telefonemas rsrsrs. Louvo e agradeço a Deus pelo dom de sua vida e apesar, de suas dores e sofrimentos Ele a cumula de bênçãos e vida. Que seja sempre assim! Peço a Deus para que seu coração esteja sempre na paz e que não lhe falte sabedoria nos momentos de solidão. Peço a Virgem Maria, Nossa Senhora, que com seu coração de mãe de Deus e nossa, esteja sempre presente em teu coração para que te conforte quando parecer estar sem forças. 

Te amamos minha mãe, talvez não do jeito que a senhora queira, mas do nosso jeito! 

Feliz e abençoados oitenta e cinco anos, NOSSA mãe!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

 

Fé e Política: o resgate do sentido humano de ser

            O Curso Fé e Política da Escola Fé e Política Waldemar Rossi, de 2022, na Região Episcopal Belém, Arquidiocese de São Paulo foi uma escolha que fiz na busca de abrir horizontes de reflexão e ação em uma nova conjuntura de vida: aposentadoria e sem nenhum vínculo com trabalho e remuneração.

            Na história pessoal de Vida, venho de uma realidade vivida em realidades diferentes, com fins/objetivos diferentes: de 1979 a 1991 (12 anos) vivi a formação para a vida religiosa e sacerdotal, deixando o exercício do Ministério Sacerdotal ainda muito jovem. Iniciei uma nova etapa de vida, trabalhar para sobreviver, sem perder a identidade religiosa de viver. Novas experiências, profissão e desafios com moradia, cultura, lazer e prazer. Namoro, noivado e casamento, já há 25 anos. Sempre novas realidades de vida vividas em realidades diferentes. Agora, aposentado, uma nova realidade.

            Seriam as realidades os territórios tão falados na EFPWR?  Nascem novas inquietações para mim, realidades e territórios remetem a espaços definidos, fixos, demarcados e por vezes limitadores. A utopia nascida ainda em 1980, quando o então Papa João Paulo II, hoje São João Paulo II, diante da multidão de jovens em BH disse olhando para os jovens “que belo horizonte”, está ofuscada.

            No percurso das aulas da EFPWR, sempre magnificas nos temas, no desenvolvimento, na participação dos colegas e na condução da Coordenação, luzes cintilam. Dou início a um exercício de “aluno”, sem luz e coloco-me como estudante, como aprendente. Foi um movimento indispensável para crescer.

            Os horizontes que busquei ao me matricular para fazer o Curso, onde fui professor se manifestaram em falas simples nascidas da prática, da vida e não dos livros. Lá pelo meio do curso comecei a organizar meu território, ou seja, minha realidade interna do que buscava e, encontrei na fala da Erundina, em 21 de fevereiro, na aula Magna, a magnitude do que eu buscava: SER HUMANO, nos diferentes territórios de minha existência. Ela disse: NÃO HÁ FÉ SEM POLÍTICA, NÃO HÁ POLITICA DECENTE SE NÃO FOR INSPIRADA EM VALORES HUMANOS.

            Passei então a me esforçar para sair do funil inicial e colocar-me em um movimento dialético, espiral e crescente. Diante de todos os temas abordados ao longo das aulas faço a seguinte síntese, ainda na busca de horizontes, isto porque construo uma constante busca da relação fé e política. Nesta construção e busca constante trago para minha conclusão do Curso na EFPWR de 2022 uma premissa indispensável.

            Em Hannah Arendt, no seu livro Entre o passado e o futuro, publicado em 1954 está a premissa: “[...]a essência da educação é a natalidade, o fato de que seres humanos nascem para o mundo”, aqui encontrei uma luz para minha experiência nos novos territórios que passei a viver. A natalidade a que se refere Arendt é a que brota do conflito vivido em sociedade, uma vez que esta é uma colcha de retalhos de diferentes culturas e é onde se dá o existir humano.

            A concepção de SER HUMANO, por ela trabalhada, é o homem como parte do todo, que prima como um ser político e para tal requer a Fé que desencadeia a ética, os princípios e valores que norteiam as reflexões e ações.

            Nessa perspectiva de crer e “politicar”, podemos questionar sem sombra de dúvidas, as práticas de fé e políticas adotadas no Brasil e, então propor a humanização da Fé e da Política. É preciso deixar nascer caminhos que superem os limites impostos pelo social, pelo econômico, pelo religioso e pelo político de maneira que a arte do bem comum trilhe um caminho constante de construção e desconstrução, assim como o humano é, ideia que ecoa na literatura de Guimarães Rosa ao conceituar o humano: "Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão" (ROSA, 1986, p.21).

            Os dias atuais exigem um movimento constante de construção de horizontes e estes não podem incorporar regras estáticas como no passado próximo que engessou o SER HUMANO pelos dualismos vividos – razão/fé, corpo/alma, direita/esquerda. A superação dualística de ser nos faz mais humanos ainda.      Nasce o compromisso de todos que acreditam no tesouro humano que é a humanidade: é preciso saber que a Fé e a Política é o antídoto contra a banalização e a mediocridade; porém, é também necessário cuidar para que o cotidiano não nos engane, disfarçando-se de bem comum e bom para todos.

            O resgate do sentido humano de ser, pela Fé e pela Política está nas práticas de solidariedade, humanização, justiça, respeito ao diferente, na resiliência, na empatia, no acolhimento e na ruptura com as estruturas sociais e até individuais, que alienam e nos fazem cegos diante de tanta dor e sofrimento humano.

            O olhar pela Fé e pela Política, quando não passa pela NATALIDADE, com diz Arendt, perde sua humanidade e consequentemente nos faz incapazes de reconhecer Deus e seus atributos, impossibilita-nos de saber o HUMANO QUE SOMOS e com isso negamos a alteridade e na diversidade não respeitamos os diferentes.

            Um olhar pela Fé e pela Política que privilegia a promoção da vida e do bem para todos, nos aproxima de Deus e da construção de uma sociedade de iguais na diversidade. Desta forma, como SER HUMANO que somos, a Fé e a Política promovem uma busca incansável pelo sentido do existir que não se esgota em SER, em TER mas em FAZER feliz, fruto do “conflito em sociedade”, como diz Hannah.

            O Curso Fé e Política, da Escola Fé e Política Waldemar Rossi, proporcionou refletirmos sobre a importância da Fé como iluminadora dos desafios no território que estamos, e esta ação, que é Política, nos faz “Ser Humano”, ou seja somos o sujeito de nós mesmos e estamos em processo de realização, e, responsáveis pelo território em que vivemos. O exercício da fé e da política é mais que cumprir direitos e deveres é acima de tudo, o interesse pelo bem do todo.

            Gratidão a todos os gestores da Escola Fé e Política Waldemar Rossi, aos docentes e aos colegas que ao longo de 2022 me desafiaram pela fé e política a resgatar o sentido humano de ser, contribuindo na construção da CASA COMUM, com suas diferentes estruturas sociais, porém politicamente correta: ser uma CASA PARA TODOS.

 

Referências

 

ALMEIDA, Custódio Luís S. “O cotidiano”, in: Revista de Educação da AEC, p. 7-15, ano 29, nº 117, out/dez 2000 – Brasília 2000.

 

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro (Between past ande future – 1954) Tradução de Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000.

 

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

 

José Antonio Galiani

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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Sinto um alívio!

 

Sinto um alívio! O dia, após as Eleições Gerais, amanheceu em meu País:

1.       O resultado da Eleição me impõe fazer um tributo a dois amigos, entre tantos, que foram mortos pelo Covid-19. Trago à memória o Líder Flávio Castro e o Padre Francisco Pio Dantas, SAC e com eles todos os mortos pela omissão e negacionismo imperado pelo Governante em nosso país!

2.       Lembro-me de todos os professores, sofremos todos! Se ter professores “atrapalha” um governo, digo: TENHO ORGULHO DE SER UM PROFESSOR. Durante a pandemia nós professores não ficamos em casa para não trabalhar ou para atrapalhar o aprendizado das crianças, ficamos em casa para proteger e por defendermos a VIDA!

3.       Estou satisfeito com o resultado das eleições, ao menos não terei que ouvir do Presidente do meu País, absurdos em relação ao GRANDE EDUCADOR Brasileiro: PAULO FREIRE!

4.       Sinto um alívio, como cristão Católico, de ver derrotado os grupos e movimentos nascidos para defender um Catolicismo desconexo do tempo que está, um Catolicismo reacionário, um Catolicismo moralista contra os próprios Católicos. Que vergonha ver “lideres católicos” defendendo e propagando mentiras em defesa de “falsos políticos e cristãos”.

5.       Meus irmãos cristãos Evangélicos, sempre os admirei pela assídua leitura da Palavra de Deus, mesmo os fundamentalistas, mas me envergonha ver vossos “líderes” se candidatando, não preocupados com o bem de todos, mas preocupados em compor bancadas e defender interesses econômicos. Tenho vergonha de vê-los manchando a Fé em Jesus Cristo pela troca de barras de ouro.

6.       Estou aliviado pelo basta dado aos MORALISTAS, homens e mulheres de bem, defendendo princípios sem princípios. Defendem a Vida, são contra o aborto, mas apoiam uma política armamentista. Armas matam!!!

7.       Quantas novenas à Nossa Senhora pela Pátria. Quantos terços rezados pedindo a proteção do Brasil. Só se esqueceram que Maria, a Nossa Senhora, está do lado dos humildes, por que o “fiat voluntas tua” dela, é para o Deus que derruba dos tronos os poderosos e exalta os humildes. O Deus dela é o EMANUEL, Ele está no meio de nós e não “acima de todos”.

8.       Quantos Católicos de joelhos dobrados diante do Santíssimo Sacramento Eucarístico, não para adorá-lo, mas para usá-lo politicamente. Que vergonha ver freis, freiras, padres, bispos percorrendo as Igrejas com o ostensório e os fiéis pedindo a cura do Brasil, na verdade pediam que o “Dragão” vencesse esquecendo-se que a Eucaristia é o “Pão Vivo descido do Céu para dar Vida ao Mundo”. Que vergonha ver a profanação do Círio de Nazaré e a Casa da Mãe Aparecida; vergonha maior é ver Católicos “cegos e surdos”, porém não “mudos” falando e defendendo uma política excludente, preconceituosa, desrespeitosa, fascista!

9.       Sinto um alívio por ver que o País pode renascer, não pelo líder eleito, mas pela oportunidade que teremos de exercer a cidadania, de termos acesso à cultura, ao lazer. A eleição de um NOVO PRESIDENTE, coloca o Brasil num patamar de diálogo internacional jamais visto, voltaremos a ter crédito, voltaremos a dar crédito com nossa riqueza científica, cultural, econômica e natural, sem necessariamente privatizar nossas riquezas. Alegria em ter um Governo que governa para os menos favorecidos, o que não exclui os que tem mais.

10.   Envergonhava-me ouvir, referências aos venezuelanos e outros que encontraram aqui uma alternativa para aliviar seu sofrimento, que o Brasil caminha para a mesma situação destes países. Sim, caminharíamos se o fascismo continuasse a frente do Brasil. Como sinto vergonha de eleitores do derrotado, dizer que o melhor é sair do Brasil, tentar a vida lá fora, perderam o amor pela camisa amarelinha? Ou nunca vestiram esta camisa?

 

                Passaria horas escrevendo pontos de vista que me fazem feliz no amanhecer de hoje, um dia após a eleição geral no meu país; mas vou parando, até porque ideias e palavras são como palhas ao vento e minhas opiniões podem ser bem lidas, vistas e interpretadas, mas conforme o vento serão objetos de desrespeito, de preconceito e taxação.  

                Termino fazendo uso da Declaração da minha Igreja na voz da CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL:

“Todos possam caminhar unidos para a construção da política melhor, aquela que está a serviço do bem comum, conforme define o nosso amado Papa Francisco. São os votos da CNBB. É o que suplicamos em preces para o nosso país”.

(https://www.cnbb.org.br/presidencia-da-cnbb-o-exercicio-da-cidadania-nao-se-esgota-com-o-fim-do-processo-eleitoral/; acesso em 31/10/22)

 

31/10/2022

José Antonio Galiani

(Professor Galiani)

sábado, 1 de agosto de 2020

EDUCAÇÃO REMOTA


EDUCAÇÃO REMOTA!
Disrupção na rotina escolar. Um susto, uma catástrofe nas escolas. De um dia para o outro tudo pareceu destruído, aniquilado, às pressas pensar atividades escolares para serem feitas pelas crianças em casa, até que tudo passe. O decreto de Pandemia pelo novo coronavírus -  COVID-19 abriu nas instituições de ensino um buraco, como que se tudo estivesse sem rumo, sem norte, sem o processo rotineiro das escolas. E agora, sem a escola o que e como será? Escola não é sinônimo de estudo e aprendizagem.
O que foi para muitas instituições propaganda para ganhar clientes, agora é desafio e momento de tirar do papel e da gaveta a tão falada tecnologia. A pandemia obrigou as instituições de ensino a mergulharem a educação escolar num processo dinâmico e profundo com recursos tecnológicos.
O uso de plataformas digitais, interligadas pela Internet, impõem um novo formato para o processo ensino aprendizagem. Professor e estudante, distantes e interligados, necessitam se reinventar, ambos são protagonistas no ato do ensinar e do aprender. Com essas novas perspectivas tecnológicas a educação torna-se interativa, participativa, flexível e acontece onde o aluno está, longe da sala de aula e até do livro didático.
Nesse contexto está a provocação a que me proponho: refletir o papel do professor versus estudante. Não como digladiadores, como se fossem opostos devendo um vencer o outro. O professor não está mais posto pelo que estudou, pelo que sabe e ensina, mas pela sua flexibilidade, criticidade, criatividade e capacidade de interagir à distância na construção do conhecimento. (VALENTE, 1996, p. 5-6).
Proponho ideias sobre tão importante e nobre essência, o professor, em tempos que parece ser dispensável e substituível pela máquina e tecnologias.
Hoje mais do que nunca temos no professor a certeza de que o conhecimento e o saber são apropriados pelo homem na medida que ele estabelece relações entre si e com a realidade que o cerca; esta construção do conhecimento se dá mediada por elementos, por ideias ou realidades que estabelecem vínculos e respondem às indagações da vida e história do homem.
Em todos os tempos a relação professor x estudante se processa pela comunicação, hoje mediada pela tecnologia. Estas fizeram surgir novas configurações de escola, de professor, de estudante e de sala de aula, sobretudo o papel do professor. Este emergiu como desafio e sempre reflexivo, como uma figura essencial no processo ensino aprendizagem. Ele não é mais o que sabe para ensinar, senão um pesquisador que aprende ensinando a pesquisar e a aprender. Ao mesmo tempo que a aulas remotas se caracterizam pela autonomia acadêmica de quem dela se utiliza, faz dos sujeitos no processo do aprender, professor x aluno, co-criadores num processo reflexivo e dialógico tornando o conhecimento patrimônio de todos, irrestrito e não manipulado em favor de poucos. Aqui não se pode negar que uma parcela significativa de estudantes não tem acesso à tecnologia e à Internet, o que exige outra reflexão.
As novas tecnologias empregadas no processo ensino aprendizagem exigem do professor e do estudante um perfil e papeis delineados pela autonomia centrada no indivíduo, motivo desta provocação. Ambos, professor e estudante, estão sob o ponto de vista humanista. Assim o papel do professor no processo ensino aprendizagem, na educação remota é exercitar e basear a aprendizagem em conteúdos significativos e na resolução de problemas como reflete Formiga (2009, p.44):
“Aprender é praticar um processo contínuo de opção, que começa pelas fontes dos conteúdos. Nesse processo criativo e inovador do exercício docente, desaparece a hierarquia do saber e a pretensão de superioridade intelectual dos mestres. O aluno/aprendiz passa a dispor de acesso generalizado ao conhecimento, facilitado pelos meios de comunicação e tecnologias inteligentes, que se apresentam sob a forma de uma equalização de oportunidade, igualmente oferecidas e disponíveis aos professores”.
Pelo humano que são, professor e estudante, na educação remota agregam ao seu perfil a identidade de sabedor do que ensina e tornam-se aprendentes. Se professor e estudante não estiverem no nível de similaridade no processo remoto escolar, tornam-se irrisórios reproduzindo uma experiência inócua e vazia, para ele próprio e para seus estudantes.
O professor é o mediador na construção do conhecimento pelo aluno. Hannah Arendt, em seu livro Entre o passado e o futuro, faz uma afirmativa que corrobora a identidade do professor na educação remota e, ao mesmo tempo, lança para nós um desafio, diz ela: “a essência da educação é a natalidade, o fato de que seres humanos nascem para o mundo”, daí o professor de educação remota não ser reprodutor, senão o ‘parturiente’ que dá ao mundo do estudante e faz do mundo, objeto de estudo e espaço para realização do ser humano, que é o estudante, que nasce pelo conhecimento. Assim a educação remota desafia o professor e contribui para que abra novos horizontes em sua prática pedagógica na aprendizagem dos estudantes.
Consciente de seu papel em tempos de pandemia, o professor pode dizer, como disse o grande educador Paulo Freire (1996, p.126):
“Se a educação não é a chave das transformações sociais, não é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante. O que quero dizer é [...] O educador e educadora críticos não podem pensar que, a partir do curso que coordenam ou do seminário que lideram, podem transformar o país. Mas podem demonstrar que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância de sua tarefa político-pedagógica”.
Fica, pois, a provocação para o presente e futuro: investir, refletir e contribuir para que a prática do professor, mesmo que remoto, seja um espaço de confiança, de diálogo, de respeito, de tolerância, de zelo, de liberdade, de compromisso, de autoria, de autonomia e reponsabilidade. Prática esta que torna o estudante confiante, autônomo, livre, comprometido, autor, responsável por si e pelos outros.
              
Sugestão para leitura:
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro (Between past and future - 1954) Tradução de Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000.
DEMO, Pedro. Educação hoje: “novas” tecnologias, pressões e oportunidades. São Paulo: Atlas, 2009.
FORMIGA, M. M. M. e Fredric Michael Litto (orgs.), Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
RUMBLE, Greville. A gestão dos sistemas de ensino a distância. Tradução de Marília Fonseca. – Brasília: Editora Universidade de Brasília: Unesco, 2003.
VALENTE, J.A. (1996). O papel do professor no ambiente Logo. In: Valente, J.A. (Org.) O professor no ambiente Logo: formação e atuação. Campinas, Gráfica da UNICAMP. p. 01-34.


domingo, 24 de maio de 2020

Na calada da noite as mataram!

Iniciamos o ano da Encíclica Papal Laudato Si (2015) e trago como pano de fundo a fala do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que defendeu em reunião ministerial no final de abril (22/04/2020) que o governo federal aproveite a crise sanitária do novo coronavírus para aprovar reformas infralegais, incluindo alterações ambientais.

Nesse cenário de desmonte, por este Governo aí posto, das conquistas e acordos internacionais em defesa da Vida Humana e da Casa Comum a Igreja convoca homens e mulheres de boa vontade e exorta: é necessária uma “revolução cultural corajosa” que mantenha em primeiro plano o valor e a proteção de toda vida humana, porque a defesa da natureza “é incompatível com a justificativa do aborto” e “o abuso de qualquer criatura é contrário à dignidade humana”.


O Papa também reitera a necessidade de tutelar o trabalho, parte do significado da vida nesta terra, e pede o diálogo entre política e economia, em nome do bem comum. No âmbito internacional, o Pontífice não poupa um julgamento severo sobre as cúpulas mundiais relativas ao ambiente que decepcionaram as expectativas por falta de decisão política. No âmbito nacional, no entanto, Francisco exorta a política a sair da lógica do lucro imediato e da corrupção, em nome de processos de tomada de decisão honestos e transparentes. Em essência, o que é necessário é uma nova economia, mais atenta à ética.


A nova Cultura pedida pela Laudato Si se faz de dentro de cada um, para o bem próprio, para o bem do outro e da casa comum. Esta nova Cultura requer mudanças de dentro para fora, do micro para o macro, do eu para o nós, do lucro para o bem de todos. 

Compartilho fotos de algo doloroso na Selva de Pedras, capital paulista. No mês de novembro de 2019 tentaram matá-las com instrumentos discretos, como pede o Ministro, não conseguindo, na calada da noite, maio de 2020 as mataram. Se assim se faz com árvores, o que não serão capazes de fazer com os humanos!














José A. Galiani
24 maio 2020

sábado, 25 de abril de 2020

Feliz e abençoado aniversário minha mãe.

Hoje a mulher cuja beleza não tem igual, faz 82 anos de vida; minha mãe Clélia T. Ciambroni Galiani. Que coração de mãe, que personalidade de mulher! Garra, fibra, força, coragem e tudo o que existe de positivo em uma mulher ela possuí. Chega aos 82 anos com as dores, que o tempo lhe proporcionou. Vive em sua casa enorme, só, como sempre diz: eu e Deus. Casa limpa, cheirosa, cada peça, cada objeto um valor imensurável, até mesmo o potinho de plástico guardado; se assim faz com as pequenas coisas imagine como guarda em seu coração cada um dos seus.
Gerou uma filha mulher e três filhos homens, estes lhe deram mais cinco filhos: um genro e quatro noras. A família cresceu vieram 8 netos que casando deram a ela mais cinco netos e desses nasceram 8 bisnetos que alegram a família! Gratidão ao Deus da vida tamanha bênção.


Minha mãe sabe e sabemos que sua vida para nos educar e criar não foi fácil. Costureira, plantava hortaliças e as vendia para não nos faltar nada. Sua dedicação aos filhos e netos não conheceu barreiras, quantas alegrias proporcionou para todos. Lembro-me de muitas coisas de nossa história, mas duas se faz necessário destacar: a Fé e a responsabilidade com o trabalho. Muito obrigado mãe por nos ensinar a amar a Igreja e o Evangelho de Jesus Cristo, a você somos gratos porque desde pequeninos nos colocou para trabalhar, hoje somos e chegamos onde chegamos, porque como Maria, ao pé da cruz, você esteve ao nosso lado. OBRIGADO mãe por tudo que deixastes de fazer e ser, para que pudéssemos ser e fazer.


Hoje, como sempre, há 47 anos, estou longe sem poder te abraçar, te olhar e te dizer: obrigado por me amar tanto. Posso dizer que não sou forte o suficiente para te amar como me ama, mas você é minha mãe e não há amor maior que esse. Feliz e abençoado aniversário mãe!




quarta-feira, 8 de abril de 2020



Confiante Esperança!

Quem diria que seríamos pegos de surpresa por aquilo que não vemos? Que nossas próprias mãos introduziriam, o não visível a olho nu, em nosso aparelho respiratório a ponto de causar nosso óbito. Quem com bola de cristal teria visto uma China, pelo COVID-19 parar sua produção e ter o céu limpo, aberto para as nuvens e as estrelas? Quem com um microscópio teria visto o COVID-19 e se calado? Há respostas verdadeiras sobre a Pandemia? Como explicar a dor dos milhões mortos pelo coronavírus? Dizer o que console os que perderam e não puderam cuidar e velar pelos seus mortos? Você que é contra o isolamento poderia apresentar uma solução para a não proliferação do vírus? Como contribuir para que o mundo capitalista não entre em colapso e não haja perdas ainda maiores? Alguém poderia elucidar o mistério do que não vemos destruindo o que enxergamos? Vamos criar soluções para que empregadores não ficarem no prejuízo, por conta o isolamento social, e empregados possam ganhar seus salários? Você poderia alimentar os que dependem da venda ambulante para sobreviver? Filhos e netos poderiam cuidar dos idosos que já vivem sozinhos e agora em isolamento social? Onde estão os gurus e líderes religiosos com a sabedoria suprema para responder a todas as perguntas nascidas pelo CODIV-19?
       A resposta evidentemente é simples: você! Simples e mais evidente ainda, é a droga controladora da transmissão: você! Simplesmente isso, você é o único e absoluto responsável para que o estado pandêmico passe e, rapidamente possamos voltar ao frenético mundo do produzir.
       Produzir para gerar emprego, produzir para que a vida volte ao normal, produzir para que acabe esta histeria midiática, produzir para que o trabalho informal não mate de fome os ambulantes, produzir para que os que vivem de esmola tenham como pagar sua comida nos refeitórios populares, produzir para que homens e mulheres em situação de rua possam receber as sobras de alimentos dos restaurantes e bares, produzir para que a cadeia do lucro a qualquer custo não quebre, produzir porque preciso viajar, produzir porque não dá para ficar 24h com meu filho e família em casa, produzir porque o trabalho home office é bom, mas já não aguento mais trabalhar, cuidar da casa e ver televisão o dia todo, produzir para que os templos religiosos possam continuar sua missão e manter as doações que insuflam suas aplicações financeiras, produzir para que possamos comprar o que é necessário, produzir para que haja EPI para os profissionais da saúde, produzir para que não tenhamos desemprego, produzir para que a economia não pare!
      Sim se faz necessário produzir, sem a produção nossa espécie está ameaçada, subjugada ao flagelo. Necessitamos voltar ao normal. A mídia não pode continuar a intoxicar a sociedade. Os templos necessitam voltar a atender espiritualmente seus fiéis, que precisam ser curados e continuarem a fazer suas doações e ofertas. As famílias necessitam mandar seus filhos para a Escola, lá são educados. Precisamos ir ao Shopping, aos hipermercados para comprar nosso alimento. Necessitamos voltar à empresa e cumprir as 40h semanais de trabalho, garantindo assim nosso salário e emprego. Governantes necessitam da pandemia para serem vistos, uns para fazerem comício, outros para mostrarem sua incompetência governamental. Sim vamos voltar a produzir, mas o que realmente a espécie humana precisa para ser útil e continuar produzindo e comprando?

      O humano perdeu sua essência. Deletou de seu repertório de produção os “húmus” que é! Tudo está relativizado. Nada mais tem sustentação em si mesmo. Ele se basta. A verdade se restringiu ao que cada um pensa. O relacionamento perdeu afeto e ganhou aplicativos. A distância social antes saudável, geradora de saudades, hoje corrompida pela aproximação nas redes sociais. A fé expressão da relação humana com Deus, hoje fonte de lucro. Educar, papel da família transferida para as instituições de ensino. Panelas cozendo substituídas pelo Delivery iFood, a refeição ao redor da mesa pela televisão como ponto de encontro. O brincar das crianças pelo Smartfhone e jogos virtuais. Substituímos tudo, o caminhar pelo controle remoto, o vertical pelo horizontal, porque estamos exaustos. Que essência tem a nossa? Viver para produzir. Viver, produzir e ganhar. Viver, produzir, ganhar e comprar. Quer coisa melhor que poder comprar? Comprar para ter, ter para ser. Pronto aí está a solução tanto essencial para os “húmus” que o humano é, ter para ser!

      Não, porém, entretanto, talvez, provavelmente, tampouco, nunca, jamais, de maneira alguma, apenas, salvo, só, somente uma necessidade sermos: SER HUMANO.
Que o momento histórico que vivemos, provocado pela Pandemia COVID-19, nos proporcione a confiante esperança de recuperarmos nossa essência humana de ser.



Que não nos falte a confiança em nós, que sejamos seguros,
firmes e despreocupados no palco da vida.
Sejamos crédulos e nada nos abalará!
Que pela esperança e com fé realizemos aquilo que desejamos!
Que ancorados em nós mesmos sejamos resilientes e não nos falte a
CONFIANTE ESPERANÇA!

domingo, 8 de setembro de 2019

Sistema de Ensino no Brasil, uma base conceitual a partir das LDBs 61, 71 e 96.


Os conceitos de qualidade/quantidade, centralização e descentralização e público/privado perpassam as LDBs de 61; 71 e 96..


De acordo com Libâneo, Oliveira e Toschi (2007), a história da estrutura e da organização do sistema de ensino no Brasil pode ser analisada com base em pares conceituais, que expressam as tensões econômicas, políticas, e sociais e educacionais de cada período como qualidade / quantidade, centralização/descentralização e público/privado. Considerando essa afirmação, analisei as Leis nº 4024/61, 5692/71 e 9394/96 e, apresento um quadro síntese, explicitando como os conceitos de qualidade/quantidade, centralização e descentralização e público/privado perpassam essas leis.


Lei 4024/61
Lei 5692/71
Lei 9394/96
Qualidade/quantidade
- Em relação ao processo anterior a 1961, a LDB representou um grande avanço, era vertical e conservador.
- Regulamentar formação mínima exigida para os professores.
- Educação de excepcionais.
- Instituiu-se a flexibilidade curricular e a liberdade de métodos e de procedimentos de avaliação
- Possibilitou processo de recuperação e dependência, para os que “não aprendiam”.
- Educação de portadores de deficiência.
- Currículo comum para 1º e 2º e diversificado em função das diferenças regionais. 2º grau torna-se Técnico.

- Valorização dos professores.
- Educandos portadores de necessidades especiais (necessidades educacionais especiais).
- 2007 criação do Plano de Desenvolvimento da Educação.
- BNCC
Centralização/descentralização
- Regulamentar o Sistema de Ensino/ Conselhos Estaduais de Educação.
- Até 1960 Sistema Ensino centralizado no MEC, com a LDB os estados e munícios tem mais autonomia.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação 5.692 de 1971, construída sob o domínio dos governos militares, nasce com intenções bem-definidas para a época, em conformidade com as metas que pretendiam atender à demanda gerada pelo progressismo brasileiro5
- Democratização, participação popular, da família e comunidade educativa.
Público/privado
- Teve, em sua égide, a luta política entre a educação pública e a privada, resultando como produto uma lei de caráter conciliador e agregador.

- Obrigatoriedade de educação dos 7 aos 14 anos.
- A garantia de uma educação pública para todos, prevista em lei, tem se mostrado uma tarefa complexa.
A lei não proporcionou grandes conquistas referentes à questão dos recursos públicos = falta de verba para a Educação – criação do FUNDEF, depois FUNDEB.

A leitura da Lei de Diretrizes e Base de 61, 71, e 96 mostra que em cada tempo a educação foi legislada conforme as necessidades econômicas/políticas. A obrigatoriedade, por exemplo da educação física, se dá pela necessidade de desenvolver as capacidades físicas do trabalhador que tem uma intenção pedagógica que é promover o esporte, estando por traz a política neoliberal. 
Na Lei de Diretrizes e Bases 9.394 de 1996, as propostas de descentralização, tais como a definição de responsabilidades às quais Estados e municípios conseguem autonomia relativa nas questões de planejamento e avaliação das ações, deixando de ser simplesmente executores das propostas da união, as escolas adquirem autonomia para projetar suas ações pedagógicas.
os ajustes neoliberais efetivados no entendimento da lei poderão promover desenhos curriculares em conformidade com as leis de mercado, segundo as quais as disciplinas que possuem maior valor são aquelas de utilidade imediata e instrumental no contexto da sociedade neoliberal. Na análise das leis, entendemos que a centralização das LBDs 4.024 de 1961 e a 5.692 de 1971, foram claramente direcionadas com fins bem-definidos, portanto atendiam à lógica da produção fabril. ”
http://www.gpef.fe.usp.br/teses/eto_neira.pdf - acesso em 15 novembro 2018.

LIBÂNEO. J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2007.

domingo, 21 de abril de 2019

Feliz Páscoa!


Uma Feliz e Santa Páscoa para você!

Na celebração da Vigília Pascal, na noite do dia 20 de abril, todo o ato litúrgico foi muito rico de símbolos, de mistérios e de manifestações. O Feliz Páscoa com votos de saúde, de paz e até de dinheiro no bolso recebi de fiéis na Igreja. O que realmente é a Páscoa? Em primeiro lugar é dizer que o Cristo inaugura um novo tempo, uma nova experiência, não uma nova vida, mas a VIDA em sua plenitude; é dizer que não morreremos, mas que a morte é o salto para a vida, não uma outra, mas a vida que Deus nos reservou, aqui já e, a que há de vir. Feliz Páscoa é bradar em todos os cantos que a morte não ter poder, que a morte morreu, que a morte foi derrotada por Jesus.
Quero compartilhar um dos momentos ricos que muito me tocou na Celebração da Vigília Pascal, isto porque vejo pessoas buscando caminhos para viver; pessoas em busca do verdadeiro sentido de suas escolhas; pessoas às portas de decisões em busca do que lhe é verdadeiramente desejo da alma. A busca pelo caminho, pela porta, pela solução, pelo desejo de amar, pelo fazer o bem, pela justiça, pelo não fazer o outro sofrer passa pela Páscoa.
Na busca por aquilo que realmente faz alguém feliz, me tocou profundamente o texto bíblico do Gênesis 22, 1-18, a belíssima narrativa do sacrifício de Isaac. Que desafio para Abraão! Sacrificar seu próprio filho, colocar lenha nas costas do cordeiro, Isaac, para que levasse o que lhe destruiria. Que escolha difícil, que decisão crucial para um Pai. Quantos de nós não vivemos estes momentos? Escolher não é fácil, não é simplesmente eliminar o que não se quer e ficar com o que se quer. A escolha pressupõe caminhar, refletir para poder decidir. Uma caminhada árdua, desafiadora, cheia de percalços e tropeços; a reflexão ultrapassa o pensar e mescla-se com o sentir, provocando o decidir com dor e até lágrimas! É a própria PAIXÃO E MORTE de Jesus.
A lenha sobre o altar, o filho amarrado, Abraão empunha a faca para matar seu próprio filho. Que força desse homem. Ouvir a Deus e cumprir o que lhe é pedido. Que dor para este homem ver seu único filho, sendo por ele mesmo sacrificado. Que fé Abraão testemunha. Que vazio lhe causou a indagação de Isaac “temos o fogo e a lenha, mas onde está a vítima para o holocausto? ”. Quantas e quantas vezes nós caminhamos juntos com a vítima, com aquilo que nos é pedido em sacrifício. Quantas e quantas vezes nos fechamos ao pedido de Deus e não sabemos como Abraão responder “ Deus providenciará”.
Aqui está o verdadeiro sentido da Páscoa, na hora de sacrificar o filho, Deus intervém “Abraão! Abraão! ” E, este lhe responde “Aqui estou”! O que você precisa sacrificar? Que holocausto está sendo exigido de você? Que decisões precisa tomar? Seja o que for, faça na confiança em Deus, faça aos olhos de Deus, faça com os ouvidos bem atentos para que ouças o que Deus tem para lhe dizer. Não tenhas medo, precisa caminhar para o sacrifício, precisa levar contigo a vítima do holocausto, senão não haverá Páscoa, não haverá decisão, não haverá benção!
A Páscoa é exatamente a experiência de Deus em nossa vida “uma vez que não me recusaste teu filho único, eu te abençoarei”!

Feliz e Santa Páscoa!!!


terça-feira, 5 de março de 2019

Avaliação Classificatória e Formativa.


Leia o texto:

A Escola Sabiá tem duas classes de 3º ano de Ensino Médio, que tem como professores de Biologia: o Sr. Carlos e a Sra. Soraia. Ao trabalhar o assunto Ecologia, esses professores decidiram estudar a realidade local e usar o texto "A caminho do mar", que extraíram do site "Alô Escola". Ambos os professores estavam preocupados em discutir o tema Ecologia e principalmente a destruição dos manguezais (agora respeitado!!) de sua cidade (Maragogipe, a 200 quilômetros de Salvador). Boa parte da população dessa cidade vive dos caranguejos, peixes e mariscos que tira desse manguezal que circunda a cidade. Esse manguezal era tratado com desdém pela população (servia de depósito de lixo, suas árvores cortadas e a profissão do pescador, tratada como uma atividade sem importância), até que os professores Carlos e Soraia resolveram mobilizar os alunos e professores da cidade de Maragogipe: estudaram o manguezal e passaram a frequentá-lo com seus alunos. Juntos, todos limparam a área, semearam árvores e passaram a controlar seu crescimento e o dos animais que voltaram a viver na lama. As aulas, começaram a ser dadas diretamente no local e hoje todos se empenham em preservar sua paisagem natural. Terminaram o trabalho (em sala de aula), com a discussão do texto "A caminho do mar".

Situação 1: Apesar de a professora Soraia e do professor Carlos terem desenvolvido o mesmo trabalho com seus alunos, cada um encaminhou de maneira diferente o processo de avaliação. A professora Soraia, após a discussão do texto "A caminho do mar", solicitou uma prova escrita a partir do mesmo, cobrando conceitos do texto. Após a correção, a professora Soraia separou as provas pelas notas A, B, C, D, E, e entregou-as para a sala, enfatizando somente os erros de seus alunos.

Situação 2: O professor Carlos, antes da ida para o mangue, solicitou que os alunos falassem a respeito da destruição do local e o que poderiam fazer para recuperá-lo. A cada ida para o manguezal, pedia que seus alunos relatassem suas experiências e o que já estavam fazendo para a melhoria do grande espaço. Aproveitava esses relatos como parte da avaliação da aprendizagem de seus alunos, (como, por exemplo, o depoimento da aluna Thaís, "hoje eu sei que o manguezal não é lixo, mas um lugar de onde tiramos nosso alimento"). Com esses relatos, o professor Carlos podia avaliar os alunos que tinham mais ou menos facilidade no entendimento do conteúdo Ecologia. Quanto voltaram para a sala, fizeram como a professora Soraia e discutiram oralmente o texto "A caminho do mar". A partir das discussões, o professor Carlos pode anotar as impressões, ideias e atitudes dos alunos quanto à Ecologia e o Manguezal (este foi mais um instrumento de avaliação utilizado). Terminado todo o trabalho, o professor ainda pediu que os alunos escrevessem em um papel as dúvidas que tinham a respeito do assunto tratado. Muitos teceram elogios às aulas do professor e outros alunos, além dos elogios, colocaram as dúvidas que restaram. O professor Carlos combinou com a turma que estava apresentando dúvidas, um momento de recuperação (iria propor uma pesquisa em livros e revistas sobre o assunto aos alunos), no horário contrário às aulas.

Com base na situação educativa apresentadas, segue uma análise das situações avaliativas apresentadas. 
A base provocativa da atividade está no conceito de avaliação, tema relevante no processo de aprendizagem e objeto de estudo na disciplina em curso. Estamos diante de duas concepções de avaliação, ambas se identificam como um registro de resultados acerca do desempenho do aluno em um determinado período, entretanto diferentes na essência e método.
A reflexão é sobre o conceito de avaliação classificatória e formativa. No primeiro caso temos a avaliação classificatória, esta por sua vez é caracterizada pela visão de mundo, de escola e até de professora que a adota.
Consideremos a avaliação como um ato político e, fica bem claro a intencionalidade da professora, em uma avaliação classificatória está reproduzida uma estrutura social dividida em classes; ao classificar os alunos em A, B, ... determina os que serão dirigentes e os que serão dirigidos, o que causa exclusão. Com uma visão classista e classificatória, duas outras características estão em evidência nesta concepção de avaliação. Ela é uma ação individual e competitiva, com o objetivo de provar, de mostrar o que “aprendeu”; na avaliação classificatória não está em primeiro lugar a aprendizagem e o saber, mas na seleção dos melhores para domesticá-los para o sistema. Por último, poderíamos nesta forma classificatória de avaliar destacar a força da avaliação em decretar uma sentença: aprovado ou reprovado. A atribuição de uma nota ao que o estudante aprendeu ou não, é no mínimo desrespeitoso à potencialidade humana de aprender. Diríamos, que analisando, conforme proposto, que a escola da professora Soraia, e ela própria, não assume o compromisso com uma aprendizagem efetiva. A classificação se põe como uma necessidade dentro da estrutura perversa em que a escola está fundamentada. O ser humano não é para ser aprovado ou reprovado, ele tem o direito fundamental à existência, à cultura, ao conhecimento, ao desenvolvimento.
Em contrapartida a atividade proposta traz um segundo caso, o do professor Carlos. Aqui a avaliação é formativa, ela é um instrumento de mediação e fornece informações para melhorar o desempenho do aluno durante o seu processo de aprendizagem. Neste tipo de avaliação o próprio estudante é construtor da avaliação, pois é sujeito na trajetória de sua execução, ou seja seus interesses, aspirações, experiências e reais necessidades são acolhidos.
Professor e estudante, na avaliação formativa, interagem por meio de análises e feedbacks, o que faz identificar, sendo a avaliação um raio x da concepção e identidade da instituição de ensino e sua concepção de educação e de professor, um enfrentamento do paradigma educacional centrado no ensino, em que o ato de ensinar é linear e uniforme, sendo responsabilidade do aluno estudar e aprender.
A avaliação formativa é ao mesmo tempo prognóstica, formadora, mediadora e reguladora. Prognóstica porque busca fundamentar uma orientação e ao fazer o diagnóstico da realidade, objeto de estudo apropria-se da realidade e por isso formadora de opinião e do saber. A dimensão de mediação fica em evidência quando pelo diálogo a reflexão e ação tornam-se base para a mobilização, para a experiência educativa e para a expressão do conhecimento.
Portanto, a avaliação formativa reguladora traz em sua essência a função sociopedagógica e tem como pressupostos pedagógicos o Projeto Político Pedagógico, é democrática, como: elemento articulador; um currículo flexível e contextualizado; uma pedagogia diferenciada, tendo a pesquisa como princípio; a escola é lócus de aprendizagem e uma aprendizagem significativa.
Assim, a avaliação formativa não é excludente tornando-se espaço de significar, de dar sentido, de produzir conhecimentos, valores e competências fundamentais para a formação humana dos que ensinam e dos que aprendem.

Referência:
TEIXEIRA, L. P. C., et al., Avaliação: aspectos institucionais e da aprendizagem. Batatais, SP: Claretiano, 2016.